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Momentos finais da Monarquia

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Capítulo 4 – Rumo à Presidência da República

4.1. Momentos finais da Monarquia

Como foi apresentado, Campos Salles voltaria a assumir o cargo de Deputado Provincial em 1888, e assim como Bernardino de Campos, resolveu fixar residência na capital. No dia 15 de abril de 1888, A Província de São Paulo publicou um anúncio com destaque, o qual foi repetido outras dez vezes (DEBES, 1978a, p. 238):

ADVOCACIA

Os advogados Drs. Manoel Ferraz de Campos Salles e Bernardino de Campos abriram o seu escritório nesta capital, à rua de Imperatriz, 47. Podem ser procurados, todos os dias (das) 10 horas da manhã às 3 da tarde.

IO-1

A partir daquele mesmo ano, o movimento republicano paulista faria mudanças nos rumos de sua propaganda, abandonando a linha evolucionista e partindo para uma proposta mais revolucionária (vide Capítulo 2).

Seguindo a nova linha, Campos Salles lançou um panfleto intitulado Pedro II e Isabel I, sob o pseudônimo “Desmoulins”. “São 32 páginas de boa prosa, num estilo claro, conciso, enérgico e valente, que denuncia o grande patriotismo do escritor amestrado, cuja pena as traçou e cujo cérebro as concebeu” (DEBES, 1978a, p. 242). O autor defendeu a necessidade da revolução, criticando o reinado de D. Pedro II como um “largo período da monarquia ditatorial”, e a subida ao trono da princesa e seu marido representariam “uma enorme ameaça”.

Folha de rosto do panfleto escrito por Campos Salles.

Durante o ano de 1889, Campos Salles realizou conferências em diversas cidades, dando continuidade a seu trabalho de propagandista. Assim como outros companheiros do movimento, favoráveis à idéia revolucionária, ele sofreu algumas advertências da Guarda Negra9, na verdade aquela postura autoritária incitou os ânimos dos revolucionários.

Seu irmão, Alberto Salles, sendo um teórico prestigiado, também ministrava conferências republicanas ao seu lado. De acordo com VITA (1965, p. 128-129), a forma de governo foi um dos principais pontos discutidos por Alberto Salles nos debates ideológicos da propaganda e contrapropaganda republicanas. Ele dedicou especialmente duas lições, sobre isso, em seu “Catecismo Republicano”. Na lição VI, argumenta que “a variante do sistema representativo a que corresponde o ideal da melhor forma de govêrno, é necessariamente a República”; e na VII, fazendo uso de conceitos positivistas, escreve que “A República, conseguintemente, é a única forma de govêrno em que é possível estabelecer-se a perfeita conciliação da ordem com o progresso”.

Novo conclave nacional do partido republicano seria realizado em Juiz de Fora, no dia 21 de julho de 1889. Como representantes de São Paulo estariam presentes Américo de Campos, Prudente de Morais e Campos Salles. Não existem relatos significativos sobre o encontro, no entanto, mais uma vez ficou evidenciado a importância dos republicanos paulistas junto ao movimento nacional.

Também em 1889, a queda da Bastilha estava completando cem anos, “para os republicanos, o acontecimento ganhava uma dimensão extraordinária, dada sua vinculação com a queda da monarquia” (DEBES, 1978a, p. 277-278). Paralelamente seriam travadas novas eleições e, mais uma vez, Campos Salles disputaria uma vaga como Deputado Geral. Apesar de toda dedicação, ele sofreu outro revés.

Mesmo saindo derrotado, o ex-presidente não perdeu seu foco principal, mantendo-se alinhado aos planos de derrubada do Império. Em sua autobiografia, ele relata seu envolvimento com o Exército (CAMPOS SALLES, 1998, p. 26-27):

9 Entidade armada criada na Corte. Sob o comando do Conde d’Eu, agia supostamente em defesa da pretendente

do Trono. Atacava, com a complacência da polícia, aqueles que poderiam oferecer algum perigo para a Monarquia, chegando a agredir Silva Jardim, entre outros membros do movimento republicano.

No dia 6 de novembro de 1889, recebi uma carta de Aristides Lobo, entregue com todas as precauções por seu sobrinho, o ardoroso republicano Francisco J. da Silveira Lobo, na qual me dava parte do que se passava no Rio de Janeiro, das confabulações entre os republicanos e algumas altas patentes do Exército, e me prevenia para que dispusesse os elementos paulistas de modo a poderem intervir com eficácia no momento oportuno, visto que, ponderava ele, o movimento revolucionário ganhava terreno e tudo indicava a proximidade da ação decisiva. Procurei imediatamente, como me cumpria, Bernardino de Campos e Rangel Pestana, a fim de inteirá-los de tudo, e sem perda de tempo telegrafei a Francisco Glicério, em Campinas, e a Prudente de Moraes, em Piracicaba, dizendo-lhes que motivos urgentíssimos exigiam, na capital da província, a sua presença para assunto da máxima gravidade.

Glicério chegou em São Paulo e partiu imediatamente para o Rio. Prudente enviou resposta dizendo que só poderia ir no dia seguinte, caso fosse realmente indispensável.

Campos Salles replicou que a presença de Prudente tinha vital importância, fazendo com que o mesmo partisse no dia seguinte.

Resposta de Prudente de Morais.

Como presidente da Comissão Permanente em São Paulo, CAMPOS SALLES (1998, p. 27) argumenta que, entre outras providências, manteve contato com alguns oficiais do 10º Batalhão da Cavalaria do Exército, os quais estavam em guarnição na capital paulista. O ex- presidente era o republicano responsável por manter a troca de informações entre Rio de Janeiro e São Paulo, dedicando-se a fortificar o braço militar em formação para derrubar a monarquia.

De acordo com DEBES (1978a, p. 290-291), Francisco Glicério enviou o seguinte telegrama para Campos Salles: “Banco aceita transação. Mande notícias penhor agrícola”. Fazendo uso da chave telegráfica, na qual “banco, significava exército; transação, revolução; penhor agrícola, 10º de cavalaria”. A resposta não tardou: “Bem recebida solução Banco Penhor agrícola encaminhado mas são apenas 50 no total. Seguiu hoje para ahi credor Adolpho. Espere. Tenho combinado tudo com liquidante, que está bem disposto.”

A adesão do Exército fora bem acolhida. O 10º Batalhão só dispunha de 50 homens alinhados em favor do movimento. O liquidante, ao que parece, seria o chefe militar com quem Campos Salles se entendia. O credor Adolpho era o conspirador Silva Gordo.

Como é bem de ver-se, São Paulo participava da conjuração e Campos Salles assumia papel de destaque na articulação (DEBES, 1978a, p. 291).

Telegrama cifrado enviado por Francisco Glicério.

Resposta de Campos Salles.

Maiores detalhes sobre o envolvimento direto de Campos Salles no processo de Proclamação da República são considerados desnecessários para os objetivos desta pesquisa.

A Província de São Paulo anuncia a queda da Monarquia.

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