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Deputado Geral

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Capítulo 3 – Trajetória política de Campos Salles

3.6. Deputado Geral

O tempo passa rapidamente, logo em 1884 novas eleições provinciais e gerais ocorreriam. Campos Salles manifesta desinteresse em concorrer novamente para uma vaga na Assembléia Paulista, resolve direcionar todos os seus esforços para a Assembléia Geral.

Novo Congresso Republicano estava marcado para abril de 1884, naquela ocasião os republicanos reunidos em São Paulo deveriam indicar seus candidatos para o próximo pleito eleitoral.

Mesmo antes de serem definidas oficialmente as preferências do partido, Campos Salles inicia sua campanha em busca de apoio para sua candidatura. Tendo seu nome como provável candidato à deputação geral, constando como pretendente do 7º distrito de São Paulo, ele realiza sua primeira conferência em Amparo, no dia 20 de setembro de 1884.

Naquela ocasião, assim como nas demais que ocorreriam durante a campanha de 1884, Campos Salles vo ltaria a afirmar os princípios contidos no “Programa dos Candidatos” de 1881, além de participar de um manifesto aos eleitores produzido juntamente com Prudente de Morais, Cesário Mota, Muniz de Souza, Martinho Prado Júnior, Francisco Glicério e Rangel Pestana, candidatos apresentados no boletim oficial do partido, datado de 27 de setembro de 1884 (DEBES, 1978a, p. 184).

Mais uma vez, o principal ponto da comunicação política de Campos Salles estava centrado na questão da reformulação do trabalho escravo. Principalmente no plano nacional, aquele era um ponto muito polêmico, podendo definir o resultado nas urnas, pois as propostas dos candidatos estavam divididas entre as que apoiavam o projeto Dantas8 e as que o combatiam. O ex-presidente estava obviamente entre os que a defendiam, deixando isso muito claro em todo seu trabalho de propaganda.

Tratando-se de uma eleição com foco nacional, a estratégia de comunicação de Campos Salles deveria ir além dos comícios e conferências, e de fato foi.

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O senador Dantas era chefe do gabinete do Império, político liberal e experiente. Seu projeto de 1884 contava com a habilidosa colaboração de Rui Barbosa, tratava principalmente de fixar em 60 anos o limite de idade dos escravos, além de obrigar novo registro e identificação de escravos, garantindo a aplicação mais efetiva da “Lei do ventre livre” e da proibição do tráfico. Aquela proposta somente seria aprovada em 1885, com menor abrangência e contando como muito menos rigor, através da Lei Saraiva-Cotegipe, conhecida como dos Sexagenários.

Primeiramente, ele fez uma articulação, assim como outros membros do partido, que viria a causar estranhamento e ser tachada de oportunista, inclusive pelo pesquisador José Maria dos SANTOS (1942). O Partido Liberal encontrava-se no poder, portanto conservadores e republicanos estavam na posição de oposicionistas, mesmo contando com propostas e idéias eleitorais essencialmente diferentes (por exemplo, com relação ao projeto Dantas, estavam em lados opostos) consideravam-se na mesma linha de interesse. Não é necessário argumentar que os candidatos não fariam modificações em suas bases, mas o objetivo de Campos Salles, assim como outros republicanos e conservadores, era compor uma aliança para o segundo turno, “favorecendo o candidato dessas agremiações que viesse a concorrer com o liberal. Neste caso, o partido alijado votaria no que se classificara” (DEBES, 1978a, p. 185). Em outras ocasiões, Campos Salles havia repudiado esse tipo de artimanha política, mas tornando-se mais experiente e conhecendo melhor o “jogo” do qual fazia parte, ele teve que ceder. Assim convencido, não mediu esforços para solidificar a coligação.

A prudência e a aceitação das regras do jogo caracterizaram, durante muito tempo, o comportamento dos republicanos paulistas. Prudente de Morais foi eleito deputado em 1877 pelo Partido Liberal. Mais tarde, em 1884, quando foi para a Câmara dos Deputados com seu correligionário Campos Sales, recebeu apoio dos conservadores (LESSA, 1999, p. 59).

Sobre os aspectos que constituem o fenômeno da cooperação, parece conveniente citar a opinião do teórico positivista republicano, Alberto Salles, contida em seu “Catecismo Republicano” (VITA, 1965, p. 175):

Na troca, na permuta constante de esforços e aptidões, que se estabelece necessariamente entre os indivíduos do mesmo agrupamento social, não somente como o meio mais apropriado para obtenção do interêsse comum, mas ainda como o mais eficaz para a consecução dos próprios interêsses particulares. Sem êste auxílio mútuo seria impossível a satisfação dessas duas ordens de interêsses.

Aquele acordo não era suficiente para Campos Salles, em sua opinião o pleito seria definido em torno do projeto Dantas, por conta disso, as cores partidárias assumiriam um plano secundário. Convencido disso, sendo republicano e estando aliado abertamente aos conservadores, recorre também a um importante chefe da facção liberal de Socorro. Na carta

transcrita por Célio DEBES (1978a, p. 185-187), defende sua fidelidade ao projeto de lei executado pelo representante liberal responsável pelo Gabinete Imperial:

Campinas, 19 de novembro de 1884

Ilmo. Major Antônio do Nascimento Gonçalves

Tenho o prazer de apresentar-lhe os meus cumprimentos.

A perfeita solidariedade de idéias acerca da grande questão social predominante na eleição que se aproxima, dá-me um certo direito de refletir por escrito o pedido que já formulei verbalmente em sua presença. Necessito de apoio de todos aqueles que pelo patriotismo e pelo sentimento compreendem a necessidade de fundar a riqueza nacional sobre as bases largas e fecundas do trabalho livre.

Se é lícito aos espíritos incultos votarem pela perpetuidade da escravidão, negando apoio a todas as medidas de emancipação não o é, nem pode sê-lo, aos homens de coração e de inteligência esclarecida que compreendem o mal e possuem uma parcela desta grande força – a soberania da consciência humana – que cedo ou tarde há de contribuir para eliminá-lo.

Eis porque não lhe é permitido confundir o seu voto com o da turba inconsciente. A sua responsabilidade é clara e palpável, porque à sua consciência repugna votar contra o projeto Dantas, porque é essa a única medida de atualidade que tem para si a possibilidade de ser constituída em lei.

Não é uma solução, mas é um progresso enorme comparado com o que existe.

Ora, todos os candidatos monarquistas deste Distrito negam-lhe apoio, ou antes, combatem-no sistematicamente. Só eu emprestei-lhe inteira e completa adesão. O seu critério esclarecido o sanciona. Como, pois, negar-me o seu apoio e assim hostilizar diretamente essa mesma idéia que sua consciência aceita?

Peço que me desculpe, mas permita-me dizer-lhe que o candidato é que deve acompanhar o eleitor, porque o eleitor é que representa a medida exata do sentimento público. Não se invertem portanto os papéis acorrentando o eleitor ao candidato. Quando, pois, o candidato acha-se em antagonismo com o eleitor, este nega-lhe o voto.

Entro nestas considerações porque dirijo-me a um concidadão que medita e pensa e é por isso que animo-me a pedir-lhe francamente o seu apoio.

Queira dar suas ordens a quem é com a maior estima e apreço,

De V. S. Amº Obrº crº M. Ferraz de Campos Salles

Neste sentido, Campos Salles demonstrou um grande avanço em lidar com a opinião pública, conduzindo suas estratégias comunicacionais também nesta direção. Provavelmente, aquela era uma postura influenciada pelos ideais revolucionários franceses. Pois, como aponta CHAMPAGNE (1998, p. 48), além dos formadores da opinião pública conjugarem seus próprios interesses, procuravam também diminuir o poder da monarquia francesa: “‘a opinião pública’ é, assim, uma espécie de máquina de guerra ideológica ‘improvisada’, durante o século XVIII, pelas elites intelectuais e pela burguesia de toga, a fim de legitimar sua próprias reivindicações no campo político e enfraquecer o absolutismo régio”.

Segundo MARQUES DE MELO (1998, p. 206), o conceito da opinião pública também pode ser vista a partir da evolução da imprensa: “Em termos históricos, é possível dizer que a Opinião Pública surge após a revolução burguesa, na Europa, quando a imprensa deixa de ser controlada rigidamente pelo Estado, e adquire o caráter de uma instituição livre, colocada a serviço dos diversos interesses dentro da sociedade”.

Todo o empenho de Campos Salles na campanha de 1884, e sua determinação em vencê- la, ainda seriam fortalecidos por um novo tipo de propaganda eleitoral. Os republicanos introduziam na imprensa uma forma de comunicação inovadora. “As vésperas do pleito, A Província estampa, na primeira página, material de propaganda individual dos candidatos, ilustrado com enorme retrato de cada um deles” (DEBES, 1978a, p. 187). A edição de 16 de novembro de 1884 seria dedicada a Campos Salles.

A Província de São Paulo – 16 de novembro de 1884.

Com retrato de Manuel Ferraz de Campos Salles feito por Jules Martin.

Além da apresentação de suas propostas eleitorais através da imprensa, Campos Salles ainda contava com o apoio de correligionários em artigos e notícias favoráveis à sua candidatura.

A Província de São Paulo divulga, no dia 10 de dezembro de 1884, o resultado do primeiro turno das eleições (DEBES, 1978a, p. 188). Os votos no 7º distrito ficam assim distribuídos:

Campos Salles (republicano) 603

Souza Queirós (liberal) 529 Luís Silvério (conservador) 432

Estando fora do segundo turno e respeitando o acordo firmado, os conservadores manifestam seu apoio ao republicano através do Diário de Campinas, a notícia é comentada através de nota na A Província de São Paulo de 20 de dezembro de 1884 (DEBES, 1978a, p. 188-189): “Consta que a União Conservadora recomendou a seus partidários neste distrito (7º) que apoiem, na votação do 2º escrutínio, a candidatura do Sr. Dr. Manuel Ferraz de Campos Salles”.

Apoio similar recebeu Prudente de Morais em seu distrito. Assim como, em contrapartida, os conservadores Antônio Prado e Rodrigo Silva foram, por sua vez, indicados pelos republicanos em outros distritos.

No dia 31 de dezembro de 1884, Campos Salles foi ele ito Deputado Geral, recebendo 875 votos, contra 670 de seu adversário. Prudente de Morais, por São Paulo, e Álvaro Botelho, por Minas seriam os outros representantes republicanos na Corte.

A Legislatura para a qual Campos Salles havia sido investido foi das mais agitadas. Durante o biênio 1885-1886, o problema com a emancipação dos sexagenários motivou fortes desentendimentos dentro do Partido Liberal, o qual ocupava o poder. Os discursos proferidos pelo representante do 7º distrito paulista sobre aquele assunto e outros, relacionados com a disputa do poder entre os conservadores e liberais, garantiram elogios e críticas por parte da imprensa em geral. Na opinião de Lopes Trovão, reproduzida por DEBES (1978a, p. 199), “o discurso de Campos Salles, simples na forma e esmagador pela base, é uma análise fria, verídica e justa, contra a qual os partidos políticos não ousam reagir”.

A atuação de Campos Salles na Câmara dos Deputados foi lembrada honrosamente pela A Província de São Paulo de 15 de dezembro de 1885, (DEBES, 1978a, p. 203):

Campos Salles não sustentou somente com denodo e valentia a bandeira republicana no Parlamento nacional; ele conseguiu mais: honrou a Província, mantendo-lhe os créditos pelo brilho do seu talento, pelo vigor e correção com que tratou de assuntos importantes, rodeado das simpatias e respeito de uma Câmara adversária. Hoje, em favor de sua candidatura, milita esta consideração: representa ali na Câmara a elevação do nível intelectual da Província de São Paulo.

Entretanto, sua passagem não garantiu automaticamente a reeleição. Além disso, as eleições de 1886 foram travadas em condições bastante diversas das de 1884, os republicanos não encontravam-se tão estruturados como anteriormente, segundo DEBES (1978a, p. 203), não havia programa, não havia bandeira. Como se não bastasse, os conservadores voltavam a se unir aos liberais, Campos Salles e o liberal Martim Francisco foram para o segundo turno. O apoio dos conservadores foi novamente o fiel da balança, mas daquela vez pendeu para o lado liberal (DEBES, 1978a, p. 208):

Votos Campos Salles Martim Francisco

Republicanos 667 --

Liberais 13 620

Conservadores 51 251

Total 731 871

Ao lado de Prudente de Morais, Bernardino de Campos e Martinho Prado, Campos Salles foi eleito Deputado Provincial, em 1888, novamente em São Paulo. Não existem muitos aspectos interessantes para serem anotados sobre aquela campanha de 1888, por isso não foi nem mesmo criado um tópico exclusivo para ela nesta pesquisa. No entanto, após a derrota no pleito de 1886, fatos importantes compuseram a trajetória de Campos Salles, delineando efetivamente suas estratégias de comunicação rumo à Presidência da República.

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