Com u n ida de s de blogs e
e spa ços con v e r sa cion a is
Ale x Pr im o
FABI CO/ UFRGS, Rua Ram ir o Bar celos 2705 90035- 007 Por t o Alegr e - RS - BRASI L
Em ail: alex. pr im o@t er r a.com .br
An a Sm a n iot t o
FABI CO/ UFRGS, Rua Ram ir o Bar celos 2705 90035- 007 Por t o Alegr e - RS - BRASI L
Em ail: ana.r eczek@gm ail.com
Re su m o
A discussão sobr e com unidades v ir t uais apar ece logo nos pr im eir os ar t igos sobr e a com unicação m ediada por com put ador . Por out r o lado, o est udo sobr e conver sação e r elações com unit ár ias passa apenas r ecent em ent e a at r air m aior at enção das pesquisas sobr e blogs, em bor a poucos ainda sej am os t r abalhos em pír icos sobr e a m at ér ia. Est e t r abalho apr esent a r esult ados de um a obser v ação qualit at iv a sobr e t ais t em as na com unidade de blogs insanus ( ht t p: / / w w w .insanus.or g) .
1 . O blog com o pr ogr a m a , e spa ço e t e x t o: u m a in t r odu çã o a in da n e ce ssá r ia
Est e t r abalho dá cont inuidade à pesquisa que conduzim os sobr e
conver sação em blogs, analisando dados em pír icos sobr e as
int er ações na com unidade insanus ( ht t p: / / w w w .insanus.or g) . Diant e
da gr ande quant idade de dados levant ados, os r esult ados e
conclusões for am separ ados em dois ar t igos difer ent es, sendo o
pr esent e t r abalho a segunda publicação sobre o t em a e a conclusão
da r efer ida pesquisa. Par a est a segunda fase, novas ent r evist as e
análises for am r ealizadas buscando- se avaliar pr incipalm ent e o uso
de com ent ár ios e r elações com unit ár ias em blogs.
Ainda que blogs j á não sej am nov idade nem na r ede nem na
academ ia, é im por t ant e iniciar est e ar t igo com alguns
esclar ecim ent os. O t er m o “ blog” designa não apenas um t ext o, m as
t am bém um pr ogram a e um espaço. Pr im eir am ent e, blog indica um
se t er um blog, enquant o t ex t o e espaço, ut iliza- se nor m alm ent e um
pr ogr am a de blog1. De qualquer for m a, o blog/ pr ogr am a não é
condição necessár ia, pois o blog/ espaço e blog/ t ext o podem ser
const r uídos at r avés de r ecur sos convencionais par a a publicação de
sit es ( HTML, PHP, MySQL, FTP, et c.) . At ualm ent e, nem um
com put ador pessoal é necessár io par a ler ou escr ever um blog2.
Ant es de pr osseguir est a discussão, os exem plos a seguir
podem clar ear as t rês acepções do t er m o “ blog” : a) com o pr ogr am a:
“ Par ei de usar o Blogger . I nst alei o Movable Type” ; b) com o lugar :
“ Não encont r ei t eu blog no Google. Qual o ender eço dele?” ; c) com o
t ext o: “ Li ont em t eu blog” . A confusão ent r e os difer ent es usos do
m esm o t er m o pode levar a conclusões im pr ecisas. “ Blog” , cont udo,
nor m alm ent e se r efer e a um t ext o. I sso não quer dizer que se est ej a
o r eduzindo à escr it a de palavr as. Com o se encont r a em
Char eaudeau e Maingueneau ( 2004) , um t ext o não é com post o
apenas de signos ver bais3. Em t em po, sem pr e que a palavr a “ blog”
for usada nest e ar t igo sem especificação adicional, ela r efer ir - se- á a
blogs/ t ext o.
Mesm o r econhecendo os condicionam ent os da m at er ialidade do
m eio, é pr eciso enfat izar que o blog/ t ext o não é est r it am ent e
det er m inado pelo blog/ progr am a. As fer r am ent as de blog
nor m alm ent e não det er m inam um lim it e m áxim o de car act er es por
1
O blog/ pr ogr am a é um soft w ar e que facilit a a escr it a e publicação na Web, que apr esent a cada nova inser ção t ext ual ( cuj a unidade m ínim a é o cham ado post ) em ordem cr onológica inver sa ( ainda que se possa alt er ar t al or ganização t em por al) e pode ofer ecer out r os r ecur sos com o ar quivam ent o e r ecuper ação de post s ant eriores, blogroll, com ent ários, perm alink, t r ackbacks ( ser viços esses que serão discut idos em br eve) , ent r e out r os. Par a que se t enha um blog ( enquant o docum ent o e espaço) , não é pr eciso inst alar um pr ogr am a de blog ( com o o MovableType) em um servidor própr io. Ser v iços com o o Blogger ( grat uit o) ou TypePad ( pago) ofer ecem aos int er naut as o m ecanism o sim plificado de publicação e a hospedagem .
2
Para se escrever em um blog ou lê- lo nem m esm o um deskt op ou um not ebook são necessár ios, j á que cer t os palm t ops ou celular es podem ser suficient es.
3
post . Com o o blog/ pr ogr am a não pode com pr eender o que é
publicado ( se t r at a- se de um a poesia, um a fot o, ou um conj unt o
aleat ór io de car act er es) , j á que a sem ânt ica lhe é est r anha, não pode
im por que os post s sej am necessar iam ent e cur t os nem que sigam um
cer t o gêner o discur sivo. Logo, as definições de blogs com o publicação
de m icr ocont eúdo ou com o diár io ínt im o na I nt er net4 r evelam suas
lim it ações, pois r elacionam um t ipo específico de blog/ t ext o ao uso do
blog/ pr ogr am a. Com o se poder á ver no decor r er dest e t r abalho, os
blogs da com unidade insanus apr esent am gr ande var iedade quant o
ao cont eúdo, est ilo e m esm o t am anho dos post s.
O t er m o blog t am bém indica um espaço. Não um pont o
concr et o, de coor denadas geogr áficas. Mas, com o define Cast ells
( 1999) , um espaço de flux os. Vale lem br ar que hoj e, par a se ler um
blog/ t ext o, não se pr ecisa necessar iam ent e visit ar o blog/ espaço em
seu ender eço na Web. Alguns blogs/ pr ogr am a ofer ecem o r ecur so de
“ feed” ( RSS ou XML) que per m it em que os post s sej am lidos em
pr ogr am as cham ados de “ agr egador es de not ícias” . Esse t ipo de
soft w ar e confer e per iodicam ent e se exist e algum post novo naqueles
blogs que for am cadast r ados ( o sist em a funciona com o um sist em a
de “ assinat ur as” ) . Caso haj a algum a novidade, t ais agr egador es
list am t ais post s, que podem ser lidos no pr ópr io soft w ar e. Ou sej a, o
int er naut a não pr ecisa visit ar t odos os blogs/ espaço par a confer ir se
exist e algo novo, j á que os agr egador es de not ícia fazem ist o
aut om at icam ent e. Esse r ecur so pode r esult ar em econom ia de
navegação e, por t ant o, de t em po. Por out r o lado, afast am os post s
de seu cont ext o or iginal, pois eles localizam - se ao lado de out r os
t ext os, links, im agens e do pr ópr io layout da página const r uído
segundo as pr efer ências do blogueir o. Todos esses elem ent os
for m am um t odo significant e que com põem o blog/ t ext o, que acaba
4
sendo filt r ado pelos agr egador es de not ícias. Finalm ent e, dev e- se
com ent ar que m uit os são os int er naut as que est abelecem um
blog/ espaço, m as o blog/ t ext o não é desenvolvido. Com o m uit os
est udos quant it at ivos m ost r am , a quant idade de blogs/ espaço cr iados
m as abandonados dificult am a avaliação da blogosfer a. I st o é, o
núm er o de blogs/ espaço encont r ados na r ede não r epr esent a o
núm er o de blogs/ t ext o em at ividade.
2 . Com u n ida de s de blogs
Os blogs/ t ext o são com fr eqüência definidos com o diár ios
ínt im os na I nt er net ( Lem os, 2002; Schit ine, 2004) , com o um a
nar r at iva pessoal das idéias e sent im ent os do blogueir o ( Efim ova e
Hendr ick, 2005) . De fat o, um a im port ant e parcela dos blogs na Web
t em essa car act er íst ica, e os ar t igos e ensaios que fazem t al análise
t êm ger ado im por t ant es discussões. Por out r o lado, não se pode
r eduzir os blogs/ t ext o a um único gêner o. Recuer o ( 2003) ofer ece
um a t ipologia que ult r apassa o ent endim ent o dos blogs com o um a
m er a t r ansposição dos diár ios ínt im os par a a Web: a) diários, t r at am
basicam ent e da vida pessoal do aut or ; b) publicações, com ent ár ios
sobr e diver sas infor m ações; c) lit er ár ios, os post s t r azem cont os,
cr ônicas ou poesias; d) clippings, agr egam links ou r ecor t es de out ras
publicações; e) m ist os, m ist ur am post s pessoais e infor m at ivos,
com ent ados pelo aut or5. Por t ant o, é pr eciso ult r apassar - se a noção
do blog com o t ext o e espaço individual, com o celebração do ego no
ciber espaço.
Nar di, Schiano e Gum br echt ( 2004) discor dam da equipar ação
ent r e blogs e diár ios ínt im os, pois saudações, conselhos e convit es,
nor m ais em blogs, são ações sociais e j am ais apar ecer iam em diár ios
t r adicionais. “ The blog is not a closed w or ld, but par t of a lar ger
5
com m unicat ion space in w hich diver se m edia, and face t o face
com m unicat ion, m ay be br ought t o bear . Blogs, t hen, ar e unlike
pr ivat e diar ies, being com plet ely social in nat ur e”6 ( p. 225) .
E m ais, m uit os são os blogs que t êm m ais de um blogueir o
( aquele que t em acesso por senha para publicação de post s na r egião
pr incipal do blog) . Além desses blogs colet ivos, pode- se dizer que os
blogs que per m it em que out r os int er naut as publiquem com ent ár ios
t am bém conver t em - se em hiper t ext os cooper at ivos ( Pr im o, 2003) :
“ t odos os envolvidos com par t ilham a invenção do t ext o com um , à
m edida que exer cem e r ecebem im pact o do gr upo, do r elacionam ent o
que const r oem e do pr ópr io pr odut o cr iat ivo em andam ent o” ( Pr im o e
Recuer o, 2003, p. 2) . Ou sej a, o blog/ t ext o não se r eduz ao que o
blogueir o escr eve, m as t am bém aos com ent ár ios escr it os por out r os
int er agent es. Confor m e Nar di, Schiano e Gum br echt , ( 2004) , os
blogs t ant o cr iam a audiência, quant o são cr iados por ela. Tr at a- se,
pois, de um a r elação r ecur siv a.
Blogs t hen, ar e a st udied m inuet bet w een blogger and
audience. Blogger s consider audience at t ent ion, feedback, and
feelings as t hey w r it e. While blogger s do not alw ays j udge t heir
audiences cor r ect ly, and m ay inadver t ent ly w rit e inappr opr iat e or
inj ur ious post s, consciousness of audience is cent r al t o t he blogging
exper ience7 ( p. 225) .
Por out r o lado, não se pode supor que a int er ação em um blog
sej a t ot alm ent e hor izont al e dem ocrát ica, onde inexist em r elações de
poder . O blogueir o publica seus post s no espaço pr incipal da página e
6
Tr adução dos aut or es: O blog não é um m undo fechado, m as par t e de um espaço com unicacional m aior no qual vários m eios, e com unicação face a face t am bém podem ser usados. Blogs, por t ant o, se difer em de diár ios pr ivados, sendo de nat ur eza t ot alm ent e social.
7
pode delet ar ou m oder ar os com ent ár ios, e at é m esm o desabilit ar t al
funcionalidade. Para Nar di, Schiano e Gum br echt ( 2004) , a r elação
ent r e blogueir os e leit or es é not adam ent e assim ét r ica.
De t oda for m a, é pr eciso r econhecer nos blogs um im por t ant e
espaço conver sacional. Efim ova e Hendr ick ( 2005) dest acam as
cr escent es evidências sobr e as est r ut ur as sociais que vêm se
desenvolv endo em t or no dos blogs. Os aut or es avaliam que a pr ópr ia
for m ação de com unidades na “ blogosfer a” não é um pr ocesso
aleat ór io, m as a pr ova da r eunião de blogueir os em t or no de
int er esses com par t ilhados.
Na m esm a dir eção, Mer elo et al ( 2004, p. 1) pr opõem que
blogs são “ on- scr een r ender ings of com m unit ies of r eader s/ w r it er s,
w hich est ablish long- r unning r elat ionships; t hese com m unit ies include
w eblog ow ner s/ w r it er s or edit or s, people t hat post com m ent s t o
w eblog st or ies, and silent but per sist ent r eader s, bot h of w hom m ight
have t heir ow n w eblog8” .
Com o se ver á no decor r er dest e t r abalho, ent endem os que
blogs incor por am car act er íst icas de m eios ant ecedent es e podem
ser vir com o espaços vir t uais par a a const it uição de com unidades.
Cont udo, um a com unidade só se ar t icula e se m ant ém at r avés de
int er ações m ant idas no t em po, sendo que seus par t icipant es
apr esent am um sent im ent o de per t ença ao gr upo e sent em - se
r esponsáv eis pela m anut enção da com unidade.
Na ver dade, a discussão sobr e com unidades vir t uais apar ece
logo nos pr im eir os est udos sobr e a com unicação m ediada por
com put ador . Est e t r abalho pr et ende j ust am ent e invest igar com o
com unidades v ir t uais podem se for m ar e int er agir at r avés de blogs.
Além disso, quer dar pr osseguim ent o ao est udo da conver sação
8
nessas int er faces. Esses dois t em as ( com unidade e conver sação)
com eçam apenas recent em ent e a at r air m aior at enção das pesquisas
sobr e blogs, em bor a poucos ainda sej am os t r abalhos em pír icos
sobr e a m at ér ia. Or a, se pr ocessos com unicat ivos podem ser
m ediados por blogs, é fundam ent al que se obser ve qual o pot encial
int er acional desse m eio, quais lim it ações são im post as aos
int er câm bios online e com o os int er agent es se apr opr iam dessas
car act er íst icas par a int er agir e desenvolver r elacionam ent os ( novos
ou at uais) no ciber espaço. Diant e da dem anda por novos est udos
sobr e t al t em át ica, j ust ifica- se o obj et ivo dest e ar t igo em avaliar
com o os blogs podem ser vir com o espaços par a a conver sação e
m anut enção de r elações com unit ár ias.
A par t ir desses elem ent os, pode- se ult r apassar a visão que
r eduz blogs a páginas individuais na Web. Tam bém apont ado com o
um a fenôm eno adolescent e, hoj e blogs avançam por sobr e essas
definições iniciais. Muit os são os blogs colet ivos hoj e m ant idos na
Web. Além disso, essa int er face vem t am bém sendo ut ilizada em
cont ext os educacionais e or ganizacionais.
Os blogs na educação facilit am , segundo Gum br echt ( 2004) o
int er câm bio aber t o de idéias e a aj uda m út ua. No cont ext o
or ganizacional, os blogs passam a ser ut ilizados com o plat afor m a de
ger enciam ent o do conhecim ent o ( Know ledge Managem ent Sy st em s)
em em pr esas9, confor m e Mer elo et al ( 2004) , j á que v iabilizam um a
“ filt r agem ” de infor m ações disponíveis na Web. Confor m e os aut or es,
a infor m ação flui m ais facilm ent e em com unidades do que for a delas.
Pode- se t am bém acr escent ar que além do uso de blogs em int r anet s
or ganizacionais, par a t r ansfor m ar o conhecim ent o t ácit o em
conhecim ent o explícit o, diver sas em pr esas ( com o o pr ópr io Google10)
9
O uso dos blogs par a esse fim é cham ado de K- log ( Know ledge log) .
10
passam a publicar um blog público com o est r at égia de r elações
públicas.
Por ém , não se pode supor a pr ior i que um blog ou vár ios deles
linkados ent r e si sej am um a com unidade, sem que se obser v e a
qualidade das int er ações ent r e os int er agent es. Ou sej a, não se pode
confundir um a com unidade v ir t ual com seu ciber lugar , confor m e
aler t a Jones ( 1997) . Em out r as palavr as, não se pode pensar que um
blog/ lugar , por t er m uit os visit ant es diár ios, sej a por si só um a
com unidade.
Efim ova e Hendr ick ( 2005) , ao est udar a em er gência de
espaços sociais com par t ilhados que em er gem ent r e blogs ( enquant o
lugar ) , com par am as int er ações aí desenvolvidas à “ vida ent r e
edifícios” . A visibilidade das fr ont eiras dos espaços com unais de blogs
podem ser apar ent es ( com o na com unidade de blogs sobr e t r icô,
est udada por Wei, 2004, que usam o r ecur so de Net Ring par a
conect ar t odos os blogs par t icipant es) ou m uit o sut is, dificult ando t al
per cepção por não- m em br os. Os aut or es com ent am que as fr ont eir as
não são necessar iam ent e óbvias, assim com o um par que não pr ecisa
t er um a placa indicando que ali se r eúne sem analm ent e um a
com unidade de j ogador es de xadr ez.
A m et áfor a de “ vizinhança” t am bém é ut ilizada por Recuer o
( 2004) , par a se r efer ir às r edes de blogs, nas quais em er gem
espaços de discussão e a const r ução de laços sociais. A aut or a ( 2003,
p. 7) denom ina essas r edes de w ebr ings:
...cír culos de bloggeir os ( sic) que lêem seus blogs m ut uam ent e
e int er agem nest es blogs at r avés de fer r am ent as de com ent ár ios. Os
blogs são linkados uns nos out r os e for m am um anel de int er ação
diár ia, at r avés da leit ur a e do com ent ár io dos post s ent r e os vár ios
indivíduos, que chegam a com ent ar os com ent ár ios uns dos out r os ou
Ainda que a ar gum ent ação da aut or a sej a com par t ilhada por
nós, o t er m o suger ido por Recuero pode ger ar confusões, j á que
w ebr ings sur gem pouco t em po depois do lançam ent o da Web, ou
sej a, ant es da popular ização dos blogs. Tr at a- se de um ser viço no
qual se cadast r am sit es sobre um cer t o t em a. Cada um desses sit es
ut iliza um a pequena bar r a de navegação que leva o int er agent e par a
um sit e ant er ior , post er ior ou m esm o de for m a aleat ór ia dent r o t odos
aqueles r egist r ados. Nesse sent ido, poder - se- ia associar o t er m o
“ anel de blogs” à definição da aut or a. Por out r o lado, Recuer o ( 2004)
r econhece que nem t odo anel de blogs const it ui um agr egado de
per fil com unit ár io. Com o ent ão ident ificar se um anel de blogs
const it ui um a com unidade?
A par t ir de est udos sobr e com unidades vir t uais e sobr e a
int er ação ent r e blogs, Efim ova e Hendr ick ( 2005) suger em a
obser vação dos seguint es indicador es par a a definição da exist ência
de um a com unidade de blogs: a) t r ilhas de m em es: r efer ências e
idéias que at r avessam difer ent es blogs dem onst r am a influência da
est r ut ur a social por t r ás deles; b) padr ões de leit ur as de blogs: a
leit ur a cont inuada dos m esm os blogs e m esm o a r elação das
list agens de links ent r e blogs podem indicar laços com unais; c)
padr ões de linkagem : ainda que links possam t er um a gr ande
var iedade de usos e obj et ivos, eles podem m ost r ar o valor e
r ecom endação de out r os blogs a par t ir da per cepção do blogueiro,
com o t am bém a int er conexão ent r e blogs; d) conver sações em blogs:
o conj unt o de feedback que em er ge a par t ir do post em um blog pode
indicar o cont ext o com par t ilhado e um sist em a de r elacionam ent os
ent r e os int er agent es; e) indicador es de event os: a m enção da
par t icipação nos m esm os encont r os facilit am o for t alecim ent o de
r elacionam ent os e m esm o o desenvolvim ent o de novas r elações; f)
m ar cas “ t r ibais” , espaços de gr upo e dir et ór ios de blogs: os blogs
com unidade, com o links par a um m esm o dir et ór io de blogs ou
ut ilização do r ecur so de w ebr ings ( com o discut ido por Wei, 2004) .
Ser á a par t ir dest a pr opost a m et odológica que avaliar em os no
it em 9 se os blogs r eunidos no insanus ( ht t p: / / w w w .insanus.or g)
podem de fat o ser consider ados um a com unidade.
Finalm ent e, é fundam ent al que não se j ulgue apressadam ent e a
exist ência de links de um blog a out r o com o pr ova de conver sação ou
int er ação com unit ár ia. Hoj e, m uit os t r abalhos que ut ilizam m ét odos
de Análise de Redes Sociais ( SNA) acabam por suger ir j ust am ent e t al
par alelo. Moor e Efim ova ( 2004) r econhecem a im por t ância da
em er gent e Ciência das Redes, m as apont am que esse r am o da
m at em át ica aplicada não é suficient e par a a com pr eensão de K- logs e
com unidades vir t uais. Ainda que a SNA t enha sido cr it icada diver sas
vezes com o “ um m ét odo procur ando um a t eor ia” , m uit os são os
r esult ados e gr áficos significat ivos que ela pode ofer ecer , t endo em
vist a que diver sas são as conexões que são explicit am ent e
r egist r adas na Web. Por out ro lado, Lent o, Welser e Gu ( 2006, p. 1)
adver t em :
…m easur ing t ies by sim ply count ing t hem is not enough
because not all t ies ar e equally effect ive indicat or s of a st r ong
connect ion, w hich m ay it self be an indicat or of com m unit y . Mor e
im por t ant t han m easur ing t ies is t o m easur e t ies t hat hav e som e
under lying r eason t o affect behavior , in t his case, t ies t hat w er e lik ely
t o r epr esent pr e- exist ing r elat ionships and t ies t o dedicat ed
par t icipant s11.
11
E confor m e lem bram Lin et al ( 2006, p. 1) , as com unidades na
blogosfer a em er gem não pela navegação casual de qualquer
int er naut a, m as em função da ação individual cont ínua de blogueir os.
To for m a com m unit y, it is cr it ical t hat individual blogger s
becom e aw ar e of each ot her ’s pr esence t hr ough int er act ion. We r efer
t o t his bi- dir ect ional pr oper t y as “ m ut ual aw ar eness” of blogger s. ( …)
I n a Web st r uct ur e analysis, it is com m only assum ed t hat if a page
links t o anot her page, t he t w o ar e r elat ed t o each ot her . A
com m unit y of w eb pages is for m ed based on t his “ r elevance” . On t he
ot her hand, a blog com m unit y is based on m ut ual aw ar eness
am ongst blogger s, w hich is only pr esent as a r esult of bi- dir ect ional
com m unicat ion12.
Em t r abalho ant er ior ( Pr im o e Sm aniot t o, 2006) , ao discut ir m os
o est udo quant it at ivo de Mar low ( 2004) sobr e a conver sação na
blogosfer a, cr it icam os a conclusão de que se um blog apr esent a um
link par a out r o t al fat o poder ia ser consider ado um pr ocesso
conver sacional. Mais um a vez querem os insist ir : a conver sação via
blogs/ t ext o se dá ent r e int er naut as e não ent r e links. Um a
com unidade é const r uída pela int er ação r ecor r ent e e com pr om issada
ent r e int er agent es e não sim plesm ent e pela m er a int er conexão
est át ica de blogs/ espaço.
12 Tr adução dos aut or es: Par a for m ar um a com unidade, é fundam ent al que
3 . Con v e r sa çã o e m blogs
Analisam os ant er ior m ent e ( Pr im o e Sm aniot t o, 2006) a t r adição
de Análise da Conver sação e os pr oblem as que em er gem na
invest igação das conver sações t ext uais no ciberespaço. No pr esent e
ar t igo, pr et endem os apr esent ar nov os elem ent os par a o est udo dos
pr ocesssos conver sacionais em e ent r e blogs.
Conver sações em blogs ocor r em , confor m e Efim ova e de Moor
( 2005) , quando um blog m ot iva o feedback de out r o. Essa r eação
pode ocor r er na int er face de com ent ár ios ou at r avés de post s em
out r os blogs, ut ilizando links apont ando par a pr im eir o blog. Segundo
os aut or es, enquant o os com ent ár ios apr esent am um a dinâm ica
sem elhant e aos debat es em fór uns, as r eações via post s em out r os
blogs encom passa um a nova com plex idade, j á que a conv er sação
espalha- se por difer ent es blogs. Moor e Efim ova ( 2004) lem br am que
Jenkins ( 2003) j á cham ava est e últ im o pr ocesso com o “ hist ór ias da
blogosfer a” ( blogospher e st or ies) . Segundo est e últ im o aut or , quat r o
são os t ipos de post s encont r ados no desenv olv im ent o dessas
hist órias: a) post de opinião, no qual se define um t ópico,
nor m alm ent e incluindo links; b) post de vot o, onde se concor da ou
não com o ant er ior ; c) post de r eação, que t r az um a r espost a a um
post específico em out r o blog; d) e post de r esum o, no qual um
blogueir o r esenha os post s de out ros blogs sobr e o t ópico. A seguir ,
Jenkins13descr eve o pr ocesso:
Blogospher e st or ies m ost oft en st ar t w it h an opinion t ype blog,
usually r eact ing t o som et hing in m ainst r eam m edia. Then, alm ost
w it hin hour s sever al vot er s point t o t hose or iginal opinions giving
eit her a negat ive or posit ive vot e. Ot her opinion w r it er s t hen add
13
No m om ent o da escr it a dest e ar t igo, a página com o ar t igo de Jenkins não est ava m ais disponív el no endereço or iginal. No ent ant o, um arquivo daquela publicação pode ser encont r ado em
ht t p: / / w eb.ar chive.or g/ w eb/ 20030708194456/ ht t p: / / m icr
m or e t o t he st or y w it h r eact ion post s giving m or e t han j ust a vot e.
React ion post s r eact t o an opinion post s, or t o t he vot er s. Aft er
som et im e, a blogger w ill sum m ar ize w hat t he st or y is about and draw
t oget her som e of t he opinions, r eact ions and not e t he vot er s. Vot er s
t hen r eact t o t he sum m ary and creat e anot her r ound of vot ing,
r eact ion and opinion. A st or y usually ends w it h an online per sonalit y
pr oviding a sum m ar y of t he st or y, r easonably even- handedly.
How ever , som e st or ies die w it hout a final sum m at ion occur ring14.
É pr eciso salient ar , cont udo, que nem t oda conver sação em
blogs segue o m odelo descr it o por Jenkins. Na ver dade, t al fluxo
aplica- se pr inciplam ent e par a os blogs cham ados de “ filt r os” , que
r eúnem e discut em not ícias lidas em out r os lugar es.
Além da conver sação com out r os, Moor e Efim ova ( 2004)
afir m am que os blogueir os t am bém desenv olv em um segundo t ipo de
conver sação. A conver sação com self é, em sua for m a m ais sim ples,
um a nar r at iva pessoal que ser ve par a ar t icular e or ganizar o
pensam ent o pr ópr io no blog15. O diálogo consigo m esm o t am bém
ocor r e quando o blogueir o r et om a idéias ant er ior es, podendo
inclusive explicit ar as idéias ant er ior es at r avés de links int er nos par a
post s ant er ior es16.
14
Tr adução dos aut or es: Hist ór ias da blogosfer a nor m alm ent e com eçam em um blog de opinião reagindo a algo na m ídia m assiva. Ent ão, em poucas hor as diver sos v ot ant es apont am para aquelas opiniões originais dando um vot o posit iv o ou negat ivo. Out r os aut or es de opinião acr escent am m ais à hist ór ia com post s de r eação for necendo m ais que um sim ples vot o. Post s de r eação r eagem à post s de opinião, ou aos vot ant es. Depois de algum t em po, um blogueiro resum irá a hist ória e r eunir á algum as opiniões, r eações e m encionar á os vot ant es. Est es ent ão r eagem ao resum o e criam nov a rodada de v ot os, reação e opinião. Um a hist ória norm alm ent e t erm ina com um a personalidade da Web ofer ecendo um resum o r azoável da hist ór ia. Cont udo, algum as hist ór ias m or r em sem um r esum o final.
15 Nar di, Schiano e Gum br echt ( 2004) encont ram na escrit a de m uit os blogs a
pr át ica de “ escr ever enquant o se pensa” . Em bora a reflexão sej a norm alm ent e t om ada com o um a at ividade solit ária, a consciência da pr esença de um a plat éia leva o blogueir o a consider á- la enquant o desenvolve sua ar gum ent ação.
16
At r avés de um a invest igação em pír ica que ut ilizou
pr ocedim ent os quant it at ivos e qualit at ivos, Her r ing et al ( 2005)
puder am obser var que conver sações ocor r em t ant o nos blogs m ais
lidos em t oda a Web ( cham ados de A- list ) quant o naqueles com
poucos leit or es. A fr equência e ext ensão da conver sação além dos
padr ões de linkagem var iam segundo o o t ópico do post17 e gêner o
do aut or . Nos blogs da am ost r a est udada, blogs que t r aziam link s
r ecípr ocos não o faziam apenas dur ant e um a opor t unidade. Tal dado
dem onst r a quant it at ivam ent e a int er conexão ent r e blogs e a
ocor r ência de conver sações na blogosfer a. Cont udo, apesar de m uit os
debat es ser em ocasionalm ent e int ensos, os dados quant it at iv os
avaliados m ost r ar am que conver sações em blogs r epr esent am a
excessão e não a r egr a. Em out r o m om ent o, Her r ing et al ( 2004) j á
haviam defendido que, apesar de um cer t o ent usiasm o t ant o da
im pr ensa quant o da academ ia pelos pr ocessos conver sacionais em
blogs, a int er ação e a for m ação de com unidades a par t ir de blogs é
m enor do que se supunha.
Por out r o lado, Mishne e Glance ( 2006) r elat am que apenas os
com ent ár ios r epr esent am ent r e 15% e 30% da blogosfer a. Segundo
cr it icam os aut or es, os est udos quant it at ivos de blogs vem
dedicando- se, com pouquíssim as excessões, ao est udo dos post s,
deixando de lado os com ent ários. Dessa for m a, ignor am as
conver sações que ocor r em at r avés dessa int er face. Ou sej a, quase
um t er ço dos t ext os pr oduzidos na blogosfer a não são consider ados
por aqueles est udos.
Nest e t rabalho, pr et endem os focar pr incipalm ent e os
com ent ár ios em blogs, ainda que out r os r ecur sos ut ilizados par a a
conver sação na blogosfer a sej am discut idos.
( incluindo- se aí os K- logs) a voz individual se per de, dando lugar a par ecer es m ais est r ut ur ados e or ganizacionais.
17
4 . Re cu r sos pa r a a m e dia çã o de con v e r sa çõe s n a blogosfe r a
Os com ent ár ios em blogs são um a opor t unidade única par a a
exposição pública das r eações dos int er naut as, segundo Mishne e
Glance ( 2006) . Convencionalm ent e, a m aior ia dos sit es r ecebe
feedback at r avés de m ail ou for m ulários online. As pr im eir as hom
e-pages ut ilizavam o lim it ado r ecur so “ livr o de visit as” . Cont udo, os
com ent ár ios ali r egist r ados r efer iam - se a t odo o sit e e não a algum
t ext o em específico. Nos blogs, ao cont r ár io, os com ent ár ios
vinculam - se a um det er m inado post ( sendo r ar as as exceções) e são
visíveis a qualquer visit ant e. Os com ent ár ios são nor m alm ent e
dir et os, pessoais e são publicados sem m oder ação. O núm er o de
com ent ár ios em um blog, concluem os aut or es, r eper cut e em sua
popular idade, podendo at r air m ais leit or es, cit ações e links, além de
ser vir de diagnóst ico sobr e a r eper cussão de um dado post ou do blog
com o um t odo.
Os com ent ár ios a um det er m inado post , cont udo, não
cont inuam sendo publicados indefinidam ent e. Confor m e Her r ing et al
( 2004) , os post s cost um am ser com ent ados apenas enquant o são
r ecent es. Se o blog/ pr ogr am a t em com o padr ão apr esent ar os post s
em um a cr onologia inver sa18, post s m ais ant igos deixam de cham ar a
at enção daqueles que visit am o blog19.
Em um a obser vação em pír ica quant it at iva que analisou um a
gr ande quant idade de com ent ár ios, Mishne e Glance ( 2006) puder am
com pr ovar a co- r elação ent r e a popular idade de blogs e o núm er o de
com ent ár ios. Por out r o lado, algum as exceções encont r adas m er ecem
18
O ordenam ent o segue o seguint e for m at o: do m ais r ecent e ao m ais ant igo. Os post s de sem anas, m eses e anos ant er iores são or ganizados em ar quivos t em por ais que pr ecisam ser cham ados at r avés de um clique no link cor r espondent e, o que em si é um cust o a m ais na navegação.
19
com ent ár ios. Alguns blogs com alt o índice de leit ur a apr esent ar am
baixo núm er o de com ent ár ios. Esse fat o se deve à m oder ação ou
desabilit ação de com ent ár ios, par a que abusos sej am evit ados. Em
cont r ast e, alguns blogs pouco popular es cont inham um gr ande
núm er o de com ent ár ios. Ao obser vá- los, os aut or es r econhecer am
t r at ar - se de blogs m ais ínt im os ( que cost um am ser com par ados com
diár ios) , que at r aiam um pequeno gr upo de am igos, ainda que
bast ant e at ivo. Por ém , nem sem pr e os com ent ár ios r efer iam - se ao
cont eúdo dos post s, podendo t r at ar de out r os assunt os de int er esse
dos int er agent es. Finalm ent e, Mishne e Glance encont r ar am na
am ost r a post s com um núm er o expr essivam ent e alt o de com ent ár ios,
o que ocor r e nor m alm ent e em post s cont r over sos ou naqueles que
for am cit ados pela m ídia m assiva ou em out r as font es que ger am alt o
t r áfego ( com o o sit e de Webj or nalism o Par t icipat ivo Slashdot ) .
Alguns pr oblem as com r elação ao uso ou est udo dos
com ent ár ios podem ser r elat ados. Reconhecendo a im por t ância dos
com ent ár ios com o at ividade social em blogs, Nar di, Schiano e
Gum br echt ( 2004) afir m am que eles encont r am - se t ant o visualm ent e
quant o r et or icam ent e at r ás da cena, por não est ar em im ediat am ent e
disponíveis, sendo que pr ecisam ser aber t os par a ser em visualizados.
Out r a quest ão que deve ser consider ada no est udo da conver sação
em blogs é o fat o de m uit os blogueir os não habilit ar em a int er face de
com ent ár ios. Enquant o em seus pr im eir os t em pos os blogs não
ofer eciam t al r ecur so, sendo por vezes necessár io ut ilizar a
funcionalidade de com ent ár ios for necida por um t er ceir o, at ualm ent e
pr at icam ent e t odos os blogs/ pr ogr am a for necem t al r ecur so. Por ém ,
com o apont am Mishne e Glance ( 2006) , alguns blogueir os pr efer em
desabilit ar a int er face de com ent ár ios par a evit ar flam ing e spam .
Out r os pr efer em m oder á- los, ou sej a, r evisam t odos os com ent ár ios
Com o as conver sações na blogosfer a podem disper sar - se por
post s em out r os blogs e j anelas de com ent ár ios ( não vinculadas ao
post or iginal) , dois são os t ipos de r ecur sos que podem ser ut ilizados
par a int er conect ar20 t ais int er ações: a) t ecnológicos ( links,
per m alinks t r ackbacks e j anelas de com ent ár ios) e b) lingüíst icos
( sum ár ios, cit ações, vocat ivos) .
Os links são os r ecur sos t ecnológicos ut ilizados par a
int er conect ar blogs, post s e m esm o com ent ár ios. Eles podem ser
ext er nos, apont ando par a out r a página na Web, ou m esm o int er nos
( conect ando par a um post pr ópr io ant er ior no m esm o blog) . Além
disso, os blogs/ pr ogr am a ofer ecem link s com funcionalidades
bast ant e específicas. Com o os blogs são at ualizados fr equent em ent e,
o link par a o blog/ espaço pode ser de pouco auxílio, pois o post
r efer enciado pode j á est ar em out ro pont o da página inicial ou
m esm o nos ar quivos do blog. Os perm alinks ( “ links perm anent es” ) ,
port ant o, oferecem um endereço específico par a cada post .
Dependendo da escolha do blogueiro, esse t ipo de link pode est ar
vinculado à dat a ou t ít ulo do post , ou sim plesm ent e à palavr a
“ per m alink” . Já os t r ackbacks per m it em a um a t er ceir a pessoa
r egist r ar o link do post em seu pr ópr io blog, onde est e últ im o
com ent a aquele post . Esse r ecur so facilit a t ant o ao blogueir o quant o
a out r os int er agent es t om ar em conhecim ent o que a conver sação
“ escor r eu” par a out r o blog/ espaço e t ext o. Apesar de ser um r ecur so
bast ant e út il, ele é pouco usado. Poucos são os blogueir os que
conhecem sua funcionalidade. Além disso, por ser um “ pr ot ocolo
social” , um “ acor do de cavalheir os” , ou sej a, não é ger ado
aut om at icam ent e, depende da ação ex plícit a daquele que faz a
r efer ência alhur es. Ou sej a, o t er ceir o pr ecisa t er int er esse em ut ilizar
o r ecur so de t r ackback, se ele est iver disponível no blog cit ado.
20
Já os r ecur sos lingüíst icos de r esum o ( sum m ar y) e cit ações
for am invest igados por Moor e Efim ova ( 2004) . De acor do com esses
aut or es, o uso do r esum o em post s é bast ant e alt o. Essa est r at égia
visa dar um panor am a de um a discussão ant er ior . A r igor , ser ve par a
cont ext ualizar a fala do blogueir o. Já as cit ações t ext uais dir et as
m ost r am um a pr eocupação em dar crédit o a out r os. Confor m e Moor e
Efim ova, nor m alm ent e cit a- se o nom e do aut or daquela opinião e
ut iliza- se it álico, r ecuo ou cor par a dist inguir a cit ação do t ext o do
pr ópr io blogueir o. Finalm ent e, é ainda im por t ant e acr escent ar o uso
de vocat ivos com o r ecur so lingüíst ico par a conect ar conver sações,
pr incipalm ent e na j anela de com ent ár ios. Consider ando que m uit as
são as conver sações que podem aí ocor r er , m esm o que sem
vinculação dir et a com o t ópico do post , e com o diver sas são as
pessoas int er agindo, os vocat ivos ut ilizados no início do t ext o do
com ent ár io t êm a função de indicar a quem se dir ige aquela r espost a.
No lim it e, pode- se consider ar que o vocat ivo funciona com o um “ link
r et ór ico” int er no, m esm o que a r em issão não ut ilize a cr iação de um
link em HTML.
5 . Com o se dife r e n cia m a s con v e r sa çõe s n a blogosfe r a ?
Analisados os r ecur sos t ecnológicos e lingüíst icos que dão
supor t e às conversações em e ent r e blogs/ t ext o, cabe agor a
cont r ast ar esses pr ocessos int er at ivos com aqueles m ant idos em
out r os cont ext os e at r avés de out r as t ecnologias.
Enquant o em encont r os face a face as r espost as ( incluindo
aquelas não- ver bais) são per cebidas inst ant aneam ent e, em blogs não
exist e a expect at iva de que as r eações sej am r ecebidas em um
t em po próxim o ao da publicação de um post ou com ent ário. Além
disso, é pr eciso visit ar o blog par a se acom panhar a conver sa
ant es de ser publicado, o que confer e at r asos à conver sação. Out ros
int er agent es pr efer em desabilit ar a funcionalidade de com ent ár ios.
Enquant o par a alguns esses expedient es ser iam lim it ações im post as
à int er ação, par a cer t os blogueir os isso ser ia j ust am ent e a vant agem
dessa int er face. Baseando- se em dados qualit at ivos, Nar di, Schiano e
Gum br echt ( 2004) r elat am que alguns ent r evist ados consider ar am os
debat es em blogs “ m ais civilizados” que em list as de discussão, nas
quais flam es são fr eqüent es. Tais blogueir os t am bém dest acar am o
fat o de poder em ser m enos “ r esponsivos” do que ser iam em
m ensageir os inst ant âneos ( com o MSN, I CQ) , no t elefone ou em
encont r os face a face — sit uações em que as respost as im ediat as são
esper adas. Diant e desse fat o, Gum brecht ( 2004) consider a os blogs
com o “ espaços pr ot egidos” , que podem r esguar dar os blogueir os da
int er ação social im ediat a e necessár ia.
Moor e Efim ova ( 2004) , analisando em pir icam ent e os pr ocessos
ar gum ent at ivos nas int er ações em blogs, cont r ast am a for m a
dist r ibuída das conver sações em blogs àquelas m ant idas em list as de
discussão. No pr im eir o cont ext o, a conver sação pode dist r ibuir - se
at r avés de difer ent es blogs. Em m uit os casos, o blogueir o pr ecisa
buscar r eações a um post seu em out r os blogs at r avés de t r ackbacks,
por exem plo. Com o cada post t em seu pr ópr io t ít ulo, nem sem pr e
per cebe- se pr ont am ent e que t r at a- se de r espost a a algum t ext o
publicado em out r o lugar . Em um a list a de discussão, por out r o lado,
a conversação ocor r e at r avés da dist r ibuição de m ensagens por um
m esm o m ecanism o. Os t ít ulos das m ensagens de um dado debat e
são nor m alm ent e m ant idos. Enquant o list as de discussão e fór uns
apr esent am um a est r ut ur a em ár vor e, at r avés da qual t hr eads
podem ser facilm ent e r ecuper ados, as int er ações dist r ibuídas em
blogs, segundo Moor e Efim ova, const it uem “ conver sações
Quant o ao t em po que separ a cada int er venção, os m esm os
aut or es afir m am que t ais int er valos são nor m alm ent e m enor es em
list as de discussão por seguir em o m odelo push, ou sej a, cada
m ensagem é “ em pur r ada” a t odos os assinant es. Nos blogs, por out r o
lado, o m odelo é pull, ist o é, deve- se visit ar a página par a a leit ur a
dos t ext os21, em bor a os debat es em blogs possam ganhar dinam ism o
diant e de polêm icas, por exem plo.
Apesar desse cont r ast e, não se pode supor que o blog sej a um
m eio com plet am ent e inovador , que não incor por a her ança de m eios e
gêner os que o ant eceder am . Na análise das int er ações em blogs
pode- se r econhecer o fenôm eno m idiát ico de “ rem ediação” . Confor m e
pr opõe Bolt er ( 2001) , a r em ediação ocor r e quando um novo m eio
t om a em pr est ado car act er íst icas de um ant erior . É com o se fosse
um a com pet ição cult ur al ent r e t ecnologias22. A par t ir desse
ent endim ent o, pode- se apont ar que t ant o os gêner os de blogs/ t ext o
quant o os r ecur sos dos blogs/ progr am a são devedor es de for m as
m idiát icas ant er ior es.
Com o se com ent ou, m uit os aut or es defendem que blogs podem
lem br ar diár ios ínt im os. Mas est e não é o único ant ecedent e que pode
ser apont ado, segundo Her r ing et al ( 2004) . Confor m e os aut or es,
blogs “ filt r o” com com ent ár ios pessoais sobr e event os at uais lem br am
edit or iais ou car t as do leit or publicados em per iódicos im pr essos;
K-logs at ualizam o ex pedient e de m ant er r elat ór ios com obser vações e
r efer ências sobr e um a cer t a ár ea do conhecim ent o; blogs de viagens,
ainda que m enos popular es, par ecem - se com diár ios de viagem ou
álbuns de fot ogr afias; e m em or y blogs, onde o aut or colet a
infor m ações par a uso fut ur o, são usados com o blocos de post - it ; j á
21
O uso de RSS ( Real Sim ple Syndicat ion) e pr ogr am as “ agr egador es de not ícias” ofer ecem a adapt ação do m odelo push a blogs ( ver Pr im o e Sm aniot t o, 2006) .
22
as conversações em blogs funcionar iam com o a t r oca de car t as.
Her r ing et al ent endem que os blogs m ant ém car act er íst icas das
páginas pessoais ( hom e- pages) — por t r azer em infor m ações pessoais
e dem ogr áficas de seus aut or es—, além de fór uns de discussão
assíncr ona. Por t ant o, os aut or es defendem que os blogs são um a
for m a híbr ida de gêner os pr é- exist ent es.
Com essa análise, Her r ing et al ( 2004) suger em que os blogs
ser vem de pont e ent r e as páginas pessoais e int er faces assíncr onas
de discussão. A figur a 1 ilust r a esse cont inuum a par t ir de t r ês
dim ensões: fr eqüência de at ualização, sim et r ia nos int er câm bios
com unicat ivos e car act er íst icas m ult im ídia.
Figur a 1: Weblogs em um cont inuum ent r e w ebpages com uns e com unicação assíncr ona m ediada por com put ador
Font e: Her r ing et al, 2004, p. 10
A par t ir das discussões e do r efer ecial apr esent ado at é agor a,
as pr óxim as seções dest e t r abalho passam a se dedicar ao est udo
qualit at ivo das conver sações e dos t r aços com unit ár ios dos blogs do
6 . Pr oce dim e n t os m e t odológicos
Em ar t igo ant er ior ( Pr im o e Sm aniot t o, 2006) , analisam os a
evolução de um a conver sação no insanus que per cor r eu vár ios blogs,
post s e envolveu diver sos com ent ar ist as. Par a se assegur ar a
com pr eensão dest e t r abalho, aquela conver sação ser á aqui
apr esent ada de for m a r esum ida, acrescent ando um a r epr esent ação
gr áfica do desenvolvim ent o daquela int er ação. A par t ir disso, novas
discussões ser ão encam inhadas e um est udo sobr e os t r aços
com unit ários do insanus ser á apr esent ado.
A com unidade de blogs insanus foi escolhida por sua
or ganização, dinam ism o e por congr egar diver sos alunos e ex- alunos
da Faculdade de Com unicação da UFRGS ( o que facilit ou a r ealização
do gr upo focal) . Na época, o insanus vinha gozando de boa cober t ur a
da m ídia t radicional, o que dem onst r ava a r elevância do gr upo.
Em abr il de 2005, quando a am ost r a foi selecionada, o insanus
cont ava com :
16 blogs individuais: Big Muff, de Br uno Galer a; Tr ipa Nelas
Tudo / Car doso, de Andr é “ Car doso” Czanor bai; Dois Uísque, de
Diego “ Bit uca” Salgado; Filist eu, de Fr ancisco Ar auj o da Cost a; Ent r e
os Cát ar os, de Mar celo Fir po; Gabbinet e Dent ár io, de Alexandr e
Rodr igues e Luzia Lindenbaum ; Nar r at ivas de Niil, de Her m ano
Fr eit as; Mar t elada, de Mar celo Tr äsel; A Vida Mat a A Pau, de Eduar do
Menezes; Muj ique, de Saulo Szinkar uk; Offset 75, de Car ol
Bensim on; Sam j aquim sat va, de Renat o Par ada; Rancho Car ne, de
Daniel Galer a; Sinye, de Vanessa Wozcniak i; Ver t igo, de Gabr iel
Pillar ; Viper Rum , de Car oline Andr eis;
t r ês blogs colet ivos: A Nova Cor j a, de Walt er Valdevino Oliveir a
Silva, Rodr igo Alvar es e Car los Bencke; Cove ( que inicialm ent e
apenas vendia cam iset as) , de Elvis Br anchini, Eduar do Menezes e
conver sas escut adas nas r uas, elevador es, et c.) , escr it o por t odos os
par t icipant es do insanus, com cont r ibuições de out r os int er naut as;
um blog “ inst it ucional” : Met ablog, escr it o por Gabr iel Pillar
sobr e o pr ópr io insanus.
O insanus, em seu ender eço inicial23 ( ht t p: / / w w w .insanus.or g) ,
apr esent a um a hom e- page que o gr upo cham a de “ capa” . Ela
funciona com o por t a de ent r ada, list a t odos os blogs da com unidade e
anuncia os últ im os post s. O layout dos blogs/ t ext o não pr ecisa seguir
nenhum padr ão im post o. A única r egr a é que est ej a sem pr e à vist a o
logot ipo da com unidade com um link par a a capa. A m esm a liber dade
pode ser ut ilizada par a se list ar os blogs no blogr oll. Ninguém é
obr igado a cit ar t odos os colegas da com unidade, sendo que sit es e
blogs de for a t am bém podem figur ar nest as list as.
Par a est a pesquisa for am colet ados t odos os post s e r espect ivos
com ent ár ios dos blogs do insanus, no per íodo de 22 de m ar ço a 22
de abr il de 2005. Desse conj unt o de dados, um a det er m inada
conver sação que envolveu vár ios blogueir os do insanus e out r os
com ent ar ist as foi selecionada par a a análise.
Dur ant e o m ês de m aio de 2005, for am enviados quest ionár ios
por e- m ail com per gunt as aber t as par a os par t icipant es da
com unidade, par a que falassem sobr e seus pr ópr ios blogs. Do
univer so de dezesseis blogs individuais, 14 r esponder am ao
quest ionário, além de um colabor ador de um blog colet ivo: Walt er
Valdevino Oliveir a Silva, do A Nova Cor j a. No dia 7 de j unho de 2005,
os par t icipant es for am convidados a par t icipar de um gr upo focal,
r ealizado no Labor at ór io de I nt er ação Mediada Por Com put ador
( LI MC) da UFRGS. Par t icipar am da ent r evist a: Gabr iel Pillar , Car olina
Bensim on, Diego “ Bit uca” Salgado, Mar celo Tr äsel, Rodr igo Oliveir a
Alvar es, Saulo Szinkar uk e Fr ancisco Ar auj o da Cost a. O pr esent e
23
t r abalho analisa diver sos dados colet ados at r avés dos quest ionár ios e
do gr upo focal que não haviam sido r elat ados no ar t igo ant er ior . Além
disso, um novo quest ionário foi enviado por e- m ail em agost o de
2006, buscando avaliar as m odificações que ocor r er am no insanus no
per íodo que separ ou os dois t r abalhos dest a pesquisa.
7 . A con v e r sa çã o n o in sa n u s
Apr esent a- se a seguir um a ver são r esum ida da conver sação
analisada em nosso ar t igo ant er ior e apr esent a- se um a nova
r epr esent ação gr áfica da evolução do pr ocesso. Par a essa análise,
obser vam os post s, com ent ár ios e o uso de per m alink e t r ackback
dur ant e o desenvolvim ent o da conver sação.
A conver sação par t e do post que Car ol Bensim on publicou em
seu blog ( Offset 75) , no dia 19 de abr il de 2005 às 17: 00h24. Naquele
per íodo, o car deal Joseph Rat zinger acabava de ser eleit o Bent o XVI .
Car ol post ou um a im agem ant iga do novo Papa, usando unifor m e da
j uvent ude nazist a e com ent ou que não gost ava de alem ães. Com o na
época o blog de Bensim on não per m it ia com ent ár ios, Mar celo Träsel
( que é descendent e de alem ães) publicou sua r espost a em um post
de seu pr ópr io blog, o Mar t elada, no m esm o dia às 20: 07h. No
Mar t elada os com ent ár ios são per m it idos e est e post ger ou 31
m anifest ações, que se dividir am em vár ios t em as. Quando Bensim on
descobr e que est á sendo com ent ada no Mar t elada, faz um novo post ,
na quar t a- feir a, 20 de abr il às 14: 20h, e deixa um t r ackback
avisando os visit ant es do Mar t elada de que o Offset 75 fez r efer ência
a ele. No novo post , Car ol Bensim on busca apoio no post de Car oline
Andr eis no Viper r um , em 19 de abr il de 2005, em que ela escr eve:
“ Alem ão - Só digo um a coisa sobr e esse novo papa: alem ães não t êm
sent im ent o. Não sabem se expr essar . A única coisa boa que fazem é
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m ist ur ar doce com salgado. E isso os afr icanos fazem de for m a m ais
for t e e r efr escant e” . O Viper r um adm it e com ent ár ios e r ecebe 21
r eações a esse post . Quando alguns visit ant es cont est am Andr eis, ela
explica a int enção do post e desenvolve a idéia na j anela de
com ent ár ios, cuj o t ext o t or na- se m aior do que o pr ópr io post25.
Enquant o isso, os com ent ár ios na j anela do Mar t elada cont inuam . Um
int er agent e que ut iliza o apelido Car m encit a not a o t r ackback e
m anda um r ecado par a Bensim on: “ Est á bem , quer ida! Já que você
esclar eceu o seu pensam ent o, não vou m ais usar ‘pr econceit uosa’ e
‘xenófoba’. A pr opósit o, você é ‘m ar ia- vai- com - as- out r as’?” . Est a
conver sação envolveu post s em t r ês blogs e em duas j anelas de
com ent ár ios sim ult aneam ent e. É im por t ant e salient ar que nem t odos
os com ent ár ios r elacionavam - se especificam ent e ao t ópico abor dado
por Car ol Bensim on. Apr esent a- se a seguir os difer ent es t em as
abor dados na m esm a j anela de com ent ár ios do Mar t elada: se os
alem ães se sent em culpados pelo holocaust o; se salsichas alem ãs são
as m elhor es; dificuldades no apr endizado da língua alem ã; t er ou não
t er um blog; a boa m em ór ia de Her m ano; por que aquele post cur t o
ger ou m ais com ent ár ios do que o post ant er ior , em que Tr äsel
r elat ava sua pesquisa sobr e as biogr afias dos out r os papas de nom e
Bent o; a er udição de Moj o.
A figur a 2 ilust r a o desenvolvim ent o da conver sação analisada.
Os r et ângulos pr et os r epr esent am os post s nos blogs e os r et ângulos
br ancos os com ent ár ios no Mar t elada. Os com ent ár ios agr upados
fazem m enção ao m esm o assunt o, e as set as apont am par a qual
com ent ár io ant er ior est á r espondendo.
25
Figur a 2: Fluxo de conver sação no insanus
8 . Le it u r a e e scr it a n o in sa n u s
Par a com pr eender - se com o se for m a a r ede de com unicação
dent r o da com unidade insanus, um a das quest ões do pr im eir o
quest ionário enviado por por e- m ail solicit ava que cada blogueir o
list asse quais blogs do gr upo cost um ava ler com fr eqüência. Est as
infor m ações for am or ganizadas na t abela 1. Cada r espondent e foi
list ado hor izont alm ent e. Na ver t ical encont r am - se o t ít ulo dos blogs
lidos. Quando o blogueir o r espondeu gener icam ent e que “ lê t odos” ,
sua linha foi pr eenchida pelo sinal gr áfico “ o” . Quando houver am
cit ações nom inais aos blogs dos colegas, as m esm as for am indicadas
com “ X” . Analisando- se a t abela pode- se obser v ar que gr ande par t e
TABELA 1 - Leit ura de blogs ent re os part icipant es do insanus B ig M u ff T ri p a N e la s T u d o D o is U ís q u e F il is te u E n tr e o s C á ta ro s G a b b in e te D e n tá ri o N a rr a ti v a s d e N ii l M a rt e la d a A V id a M a ta A P a u M u ji q u e O ff s e t 7 5 S a m ja q u im s a tv a R a n c h o C a rn e S in y e V e rt ig o V ip e r R u m A N o v a C o rj a C o n v e rs a s F u rt a d a s
Big Muff o o o o o o o o o o o o o o o o o
Tripa Nelas Tudo o o o o o o o o o o o o o o o o o
Dois Uísque o o o o o o o o o o o o o o o o o
Filist eu X X X X X X X X X X X X X
Ent r e os Cát ar os X X X X X X X
Nar r at ivas de Niil o o o o o o o o o o o o o o o o o
Mar t elada X X X X X X X X X
A Vida Mat a A Pau X X X X
Muj ique o o o o o o o o o o o o o o o o o
Sam j aquim sat va o o o o o o o o o o o o o o o o o
Rancho Carne X X X X X X
Sinye X
Vert igo o o o o o o o o o o o o o o o o o
Viper Rum X
Mas qual é o valor que os blogueir os dão par a sua audiência?
Ant es de escr ever um post , ele leva seus leit or es em consider ação?
Est as quest ões for am discut idas no gr upo focal. I nicialm ent e, boa
par t e do ent r evist ados pr ocurou dar a ent ender que escr eve apenas
por pr azer pessoal.
Nos pr im eir os m inut os de discussão, Diego Salgado declar a que
não pensa no público enquant o escr eve e Mar celo Tr äsel enfat iza “ eu
não escr evo pr a gent e m edíocr e. Quem não ent ender as m inhas
piadas que se dane. Se não quiser , não pr ecisa volt ar no blog ( …) um
blog com t r ezent os leit or es j á t á m ais do que bom ” . Salgado
acr escent a “ o lance de ent r ar m ais gent e ou não no blog é indifer ent e
( …) se dois ou duzent os ler em , o efeit o é o m esm o” . Rodr igo Alvar es
escr ev er pr a ninguém ( …) m as isso não t ir a da pessoa a
r esponsabilidade pelo que ela publica” .
Com o avanço do debat e, o gr upo acaba por r evelar o int er esse
em buscar a at enção e r espost a de seus leit or es/ int er agent es.
Quando Car oline Bensim on com ent a que volt ou a habilit ar os
com ent ár ios no seu blog, j ust ifica: “ por que senão dá um a sensação
de que ninguém est á lendo” . Com a concor dância do gr upo, Tr äsel
acr escent a: “ quando t u põe um t ext o e ninguém com ent a dá um a
fr ust r ação” . Pillar apr oveit a par a per gunt ar aos colegas se os out ros
fazem post s especialm ent e par a ger ar com ent ár ios, ao m esm o t em po
que r elat a ut ilizar essa est r at égia. Os out r os concor dam que
espor adicam ent e ger am polêm ica apenas par a aum ent ar o núm er o
de com ent ár ios.
Mais t ar de, o pr ópr io Gabr iel Pillar levant a um a quest ão sobr e a
capa do insanus. Na página inicial do gr upo, apar ecem pequenos
r esum os dos seis últ im os post s nos blogs do insanus. Cada novo post
ent r a no t opo da list a, excluindo aut om at icam ent e o m ais ant igo.
Pillar explica que o t em po m édio de per m anência dos post s na list a é
de duas hor as e que o núm er o de visit ant es dos blogs aum ent a m uit o
dur ant e esse per íodo de exposição. Ele ent ão confessa que ut iliza
um a fer r am ent a do blog/ pr ogr am a par a agendar a ent r ada de post s
ao longo do dia, ficando m ais t em po na capa e at r aindo assim m ais
leit or es: “ colocar dois post s seguidos é desper dício de capa! ” .
Fr ancisco da Cost a concor da com o agendam ent o de post s: “ eu não
quer o deixar o blog abandonado. Não quer o que as pessoas ent r em e
achem a m esm a coisa de ant es” . Por isso, cont a que j á deixou vár ios
post s pr ogr am ados par a ent r ar em um per íodo em que est eve
viaj ando. Tr äsel r econsider a: “ a gent e escr eve pr a ser lido, m esm o.
Ninguém escr ev e pr a nada. Ainda m ais escr evendo a sér io com o eu
Ao ser em quest ionados sobr e qual de seus post s obt eve m ais
com ent ár ios, t odos concor dar am com Tr äsel de que “ as coisas
pessoais dão m uit o m ais com ent ár ios” . Ele cont ou que o seu r ecor de
for am apr oxim adam ent e cinqüent a com ent ár ios em um post onde ele
discut ia a nova ar m ação dos seus óculos. Gabr iel Pillar com ent a que
um de seus post s, feit o há m ais de um ano, ainda r ecebe
com ent ár ios: “ são pessoas que ent ram pelo Google” . Alguns possuem
um a fer r am ent a que avisa quais for am os últ im os com ent ár ios. Esses
sabem sem pr e que um post ant igo é com ent ado. Out r os, com o Saulo
Szinkar uk, pr efer em acom panhar apenas o que é com ent ado nos
post s da página inicial do seu blog: “ depois que saiu da página
pr incipal eu não olho se t eve m ais com ent ár ios ou não” .
Quant o à alt er ações no t ext o de post s ant igos ou na j anela de
com ent ár ios, t odos concor dam que apenas apagam m ensagens de
spam e ar r um am er r os gr am at icais. Fr ancisco da Cost a explica que
nos com ent ár ios “ eu só ar r um o er r os de por t uguês quando o car a é
m eu am igo, pr a ele não passar ver gonha” . Quando precisa cor r igir
um a infor m ação er r ada, pr efer e fazê- lo no m esm o post , colocando
um r isco acim a da infor m ação er r ada e escr evendo ao lado o dado
cor r et o. Já Pillar pr efer e fazer um novo post r et ificando a infor m ação.
Finalm ent e, analisando- se os blogs/ t ext o quant o ao gênero dos
post s, a m aior par t e discut e fat os cot idianos ou not ícias da gr ande
m ídia, com passagens event uais sobre a vida pessoal dos aut or es. O
único blog que fugia à r egr a er a o de Diego Salgado, o hoj e ext int o
Dois Uísque, que apr esent ava um a pr opost a pur am ent e lit er ária.
Ent r e os blogs individuais at ualm ent e em at ividade no insanus, o
m ais t em át ico deles é o da quadr inist a Chiquinha, que usa os post s
par a divulgar seus desenhos e com ent ar assunt os r elacionados com o
m undo dos quadr inhos. Já os blogs colet ivos apr esent am t em as bem
definidos: A Nova Cor j a t rat a de polít ica; Conver sas Fur t adas
cooper at iva de pr odução e venda de cam iset as; Gar fada é um blog
culinár io; I m pedim ent o com ent a apenas fut ebol; e Mondo Est udo
discut e as m ais r ecent es pesquisas cient íficas.
9 . I n sa n u s com o com u n id a de
At é o m om ent o est am os nos r efer indo ao insanus com o um a
com unidade de blogs. Mas t al r efer ência é cor r et a? Par a r esponder a
essa quest ão, ut ilizar em os a discussão de Efim ova e Hendr ick ( 2005) ,
discut ida ant er ior m ent e. A par t ir dos ar t efat os list ados pelos aut or es,
analisa- se a seguir os t r aços com unit ários do insanus:
a) post s m em e: a conver sação analisada se encaixa nest e
conceit o, onde a discussão sobr e alem ães com eçou com um post e se
espalhou par a out r os blogs. O t em a da página inicial da com unidade
é um a sugest ão de t em a, que pode ser seguida ou não pelos
blogueir os;
b) padr ões de leit ur a: Efim ova e Hendr ick pr opõem analisar - se
est es padr ões at r avés de blogr olls e assinat ur as de RSS. Por out r o
lado, ent endem os que o blogr oll não indica necessar iam ent e as
leit ur as de um blogueir o, e m uit o links são colocados apenas por
favor ou educação e nunca são acessados26. Mesm o assim , podem os
obser var no gr upo insanus a ocor r ência de vár ios links par a blogs de
colegas do gr upo em pr at icam ent e t odos os par t icipant es, confor m e
apont ado na t abela 1;
26
c) padr ões de linkagem : dur ant e nossas obser vações e na
conver sação analisada foi possível ident ificar r efer ências ou
r ecom endações dos m esm os ender eços ( incluindo de out r os
blogueir os do insanus) nos post s e em blogr olls;
d) indicador es de event os: gr ande par t e dos par t icipant es do
insanus r esidem em Por t o Alegr e e est udam ou est udar am na m esm a
univer sidade. Além disso, os ent r evist ados declar ar am na ent r evist a
em gr upo que cost um am se encont r ar em bar es par a conver sar . Esse
r elacionam ent o pode ser confir m ado na galer ia de fot os
disponibilizada no insanus, onde vár ios blogueir os apar ecem
confr at er nizando em event os sociais27;
e) m ar cas t r ibais: a m ar ca ut ilizada pelo insanus ( FI G. 3) pode
sofr er var iação de cor e posicionam ent o, m as é apr esent ada em
t odos blogs;
f) conver sação nos blogs: a conver sação descr it a ant er ior m ent e
dem onst r ou a ocor r ência dessa for m a int er acional no insanus.
Figur a 3: Mar ca insanus Font e: ht t p: / / ww w.insanus.or g
Enfim , de acor do com a análise conduzida at é est e m om ent o,
foi possível com pr ovar o sent im ent o e or ganização de com unidade do
27
insanus, onde os par t icipant es discut em int er esses com par t ilhados,
suger em t ópicos, list am alguns ou t odos colegas em seus blogr olls,
fazem r efer ências uns aos out r os em seus post s, conver sam ent r e si,
r eúnem - se pr esencialm ent e e ut ilizam m ar cas de ident ificação t r ibais
em seus blogs. A m aior par t e dos par t icipant es t am bém convive em
sit uações pr esenciais. Mar celo Tr äsel definiu o gr upo com o “ um a
ext ensão de um a com unidade que j á exist e ent r e a gent e” .
Mesm o que Gabr iel Pillar r eser ve par a si o dir eit o de escolher
sozinho quem pode ou não par t icipar da com unidade, pr at icam ent e
t odas as out r as decisões são t om adas em consenso com o gr upo.
Par a t ant o foi cr iada um a list a de discussão, onde os aut or es
discut em desde assunt os pessoais at é qual ser á o novo t em a que
est am par á a capa da com unidade.
Sobr e a lider ança desem penhada por Gabr iel Pillar , o cr iador do
I nsanus, e seu poder de t om ar a decisão final, Rodr igo Alvar es opina:
“ às vezes, em sit es de colabor ações assim espar sas e ext er nas, volt a
e m eia t em que t er um a ordem de cim a, de um a pessoa, de duas
pessoas” , Saulo concor da: “ O insanus é um a dem ocr acia que t em um
dono, o Gabr iel. Eu acho ót im o que sej a assim , faz com que as
coisas, de algum a m aneir a, andem ” e Tr äsel com plet a: “ o pessoal
t em poder de vet o em algum as decisões” .
1 0 . M ot iv a çõe s, r e la çõe s com u n it á r ia s e com e n t á r ios n o in sa n u s ( da dos da se gu n da fa se da pe squ isa )
Em agost o de 2006, dur ant e a finalização dest e ar t igo,
buscou-se avaliar a evolução da com unidade insanus. Par a t ant o, novas
obser vações e análises for am r ealizadas buscando- se m aior
apr ofundam ent o sobr e m ot ivações em se t er um blog, o uso da
Cer t os blogs m udar am de nom e, alguns saír am do insanus e
out r os for am incluídos. Ent r e os blogs que cont inuam na com unidade
est ão: Alexandr e Rodr igues ( ant igo Gabbinet e Dent ár io) , Par ada
( ant igo Sam j aquim sat v a) , Car ol Bensim on ( ant igo Offset 75) ,
Her m ano ( ant igo Nar r at ivas de Nill) , Mar t elada, Menezes ( ant igo A
Vida Mat a a Pau) , Muj ique, Fir po ( ant igo Ent re os Cát ar os) , St ills
( ant igo Sinye) , Ver t igo e Cove. Os blogs iniciados na com unidade
depois da pr im eir a fase da pesquisa for am : Cavinat o, Chiqsland! ,
Ver des Fr it os e Ant enor . Os que par t icipar am da pr im eir a fase dest a
pesquisa e abandonar am o insanus são: Big Muff, Tr ipa Nelas Tudo,
Dois Uísque, Filist eu, Racho Car ne e Viper Rum . Além do A Nov a
Cor j a e do Conver sas Fur t adas, os novos blogs colet ivos são:
Gar fada, I m pedim ent o e Mondo Est udo. Além do blog inst it ucional
Met ablog, Podcast agor a apar ece list ado.
Novos quest ionár ios for am enviados par a a list a de discussão
do insanus, do qual ainda par t icipam os blogueir os que saír am do
dom ínio insanus.or g. Nest a fase, 9 blogueir os r esponder am as
quest ões subm et idas: Vanessa Wozcniaki, Saulo Szinkar u, Eduar do
Menezes, Mar celo Tr äsel, Gabr iel Pillar , Mar celo Fir po, Car oline
Andr eis, Fr ancisco Ar auj o da Cost a e Daniel Galer a. Os dois últ im os
m ant ém at ualm ent e seus blogs/ t ext o em novos blogs/ lugar . Car oline
Andr eis encer r ou seu blog por falt a de t em po par a at ualizá- lo. Mesm o
que est as pessoas j á não t enham m ais blogs v inculados ao insanus,
os t r ês seguem com ent ando os blogs dos par ceir os, par t icipando da
list a de discussão da com unidade e encont r ando os am igos do gr upo
em r euniões pr esenciais. Nesse sent ido, ent endem os que t ais
blogueir os seguem fazendo par t e da com unidade em vir t ude de seus
padr ões int er at ivos.
Quando quest ionados sobr e o que m udou na com unidade desde
a últ im a ent r evist a, a m aior par t e das r espost as apont a que, apesar
m esm o. Vanessa Wozcniaki declarou: “ O insanus nao m udou m uit o
desde o ano passado, m as cer t o que o Car doso, os Galer a e o Cisco
fazem falt a desde que sair am par a um a car r eir a solo”28. Eduar do
Menezes acr escent a: “ Basicam ent e m udou gr ande par t e do st aff.
Gent e nova. Acr edit o que um a consolidação de blogs colet ivos
t am bém é um a m ar ca desse per iodo m ais r ecent e” . Mar celo Fir po
conclui que “ não m udou m uit a coisa, não” .
Sobr e as m ot ivações que os levam a m ant er seus blogs, a
pr incipal r azão apont ada foi o da im port ância do blog com o
fer r am ent a de com unicação. Mar celo Tr äsel declar a: “ o Mar t elada
funciona com o um a espécie de lem brança de que eu exist o a vár ios
colegas de pr ofissão que fr eqüent em ent e m e ar r anj am fr ilas. Tenho
cer t o r eceio de per der esse canal, se encer r ar o blog” . Daniel Galer a
afir m a que “ é m ais um canal de com unicação que t enho com m eus
am igos e leit or es” . Já Eduar do Menezes j ust ifica que “ Mant er o blog
bem acessado e com um num er o de leit or es difusor es de infor m ação
faz com que ele sej a um a excelent e plat ar for m a” . Vanessa, que se
m udou par a a I nglat er r a com plet a: “ Ja pensei em delet ar m eu blog,
m as r ecebi pedidos de am igos par a que nao o fizesse. Dizem que
par ece m e m ant er m ais pr oxim a e m e agr ada m ant er esse laço” .
Quando quest ionados se o insanus é um a com unidade, os
par t icipant es hesit ar am . Na ent r evist a pr esencial colet iva r ealizada
em 2005, os par t icipant es se dividir am . Fr ancisco Ar aúj o foi
cat egór ico ao afir m ar que o insanus não é com unidade. Gabr iel Pillar
insist iu que sim . Saulo afir m ou que o vínculo que os une é que t odos
conhecem Gabr iel Pillar . Mar celo Tr äsel, por sua vez, declar ou: “ Pode
ser um a ext ensão de um a com unidade que j á exist e ent r e a gent e” ,
pois a m aior ia dos par t icipant e j á se conhecia ant es do insanus. Já no
quest ionár io enviado em 2006, o sent im ent o de com unidade é
28