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DAS MÚLTIPLAS PERDAS SOCIAIS E FAMILIARES AO COMETIMENTO DO ATO INFRACIONAL: A PRIVAÇÃO DA LIBERDADE E O ÁRDUO COTIDIANO NA FUNDAÇÃO CASA DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

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Academic year: 2019

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SÃO PAULO

MARLENE ALMEIDA DE ATAIDE

DAS MÚLTIPLAS PERDAS SOCIAIS E FAMILIARES AO

COMETIMENTO DO ATO INFRACIONAL: A PRIVAÇÃO DA

LIBERDADE E O ÁRDUO COTIDIANO NA FUNDAÇÃO CASA

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

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MARLENE ALMEIDA DE ATAIDE

DAS MÚLTIPLAS PERDAS SOCIAIS E FAMILIARES AO

COMETIMENTO DO ATO INFRACIONAL: A PRIVAÇÃO DA

LIBERDADE E O ÁRDUO COTIDIANO NA FUNDAÇÃO CASA

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Serviço Social, sob a orientação do Prof. Dra. Maria Lúcia Martinelli.

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Banca Examinadora

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Aos meus pais, que amo tanto, a quem chamo carinhosamente de Bino e Nina que, mesmo distantes, estão sempre presentes de forma amorosa, constante e incondicional.

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AGRADECIMENTOS

Qualquer trabalho que pretenda questionar as ordens estabelecidas, em especial no que diz respeito aos jovens em cumprimento de medidas socioeducativas, só é possível se existir um coletivo que o sustente. Meu agradecimento mais sincero a este conjunto de pessoas que tornou possível minha trajetória e esta produção.

À Professora Dra. Maria Lúcia Martinelli, pelo contágio com a juventude. As palavras são poucas para expressar a minha eterna gratidão por acompanhar-me neste processo de construção do conhecimento, sempre dirigindo sábias orientações, instigando-me a pensar, a rever posições, a buscar eleinstigando-mentos para aprofundar as reflexões, pela delicadeza peculiar, dando voltas ao mundo para apontar falhas e sugerir novos rumos. Você é muito especial. Este trabalho é nosso!

Às sempre queridas Professoras Dras. Myrian Veras Baptista e Dilséa Deodata Bonetti pela cuidadosa leitura e valiosas sugestões no momento da qualificação, que enriqueceram sobremaneira este trabalho, e pelo acompanhamento na minha trajetória acadêmica. Eu AMO vocês!

À Fundação CASA – Centro de Atendimento Sócio-Educativo do Adolescente –, que concedeu a autorização para a realização da pesquisa, especialmente, aos profissionais da Assessoria das Medidas em Meio Aberto, Assessoria de Comunicação e Posto de Liberdade Assistida Leste pela presteza e agilidade no atendimento.

À Presidência e aos educadores e demais funcionários da Associação Comunitária e Beneficente “Padre José Augusto Moreira”: Ailton, Adler, Wilson, Flor, Glória, Marlene, Patrícia e Lúcia. Vocês estão gravados na minha memória. Continuem na luta pela garantia dos direitos fundamentais dos nossos jovens. Obrigada pela confiança, por repassar documentos e dados importantes que subsidiaram a tese, pelos almoços, lanches e pelas nossas conversas, sempre voltados para os jovens atendidos.

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Ao meu gato Osmar, companheiro, briguento, ranheta: “Leva o celular, leva o celular!”, “Liga pra mim. Onde você está? Almoçou? Cuidado na rua...” “Pri”, a tua companhia e compreensão foram fundamentais neste momento.

Às amigas batalhadoras, de fé, para serem guardadas debaixo de SETE chaves Marcita, Maria Eiko, Nobuquinho, Iliete, Roseli, Kelen, Karina e Dedé pela torcida organizada, pela energia positiva e por acreditar que toda maneira de amor vale a pena, o esforço também vale a pena.

Aos mui queridos Jayson, Márcia Faria, Silvinha Losacco e Aurinha, vocês são muito importantes nesta trajetória. Bebemos na mesma fonte.

À Katita querida pelos bons serviços prestados na Secretaria do Programa e pelos afetos.

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Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão.

Mas no fundo isso não tem muita importância. O que interessa mesmo não são as noites em si, são os sonhos.

Sonhos que o homem sonha sempre.

Em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.

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ATAIDE, Marlene Almeida de.Das múltiplas perdas sociais e familiares ao cometimento do ato infracional: a privação da liberdade e o árduo cotidiano na fundação CASA. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. 289 p.

RESUMO

A presente tese constitui-se de um processo de trabalho investigativo, com vistas ao conhecimento dos significados que os jovens do sexo masculino, na faixa etária de 16 e 20 anos de idade, que já cumpriram a medida privativa de liberdade no ano de 2006, nas Unidades da Fundação CASA, e que no ano de 2007 estavam cumprindo a medida socioeducativa de liberdade assistida, em entidade social, localizada na Zona Leste, Bairro de São Mateus, no Município de São Paulo, atribuem às suas circunstâncias e modos vida sócio-familiar e infracional – o delito, a privação da liberdade e o cumprimento da medida socioeducativa de liberdade assistida –, bem como as projeções que fazem para as suas vidas. A pesquisa de natureza qualitativa desenvolveu-se por intermédio da História Oral e na perspectiva sociológica, a partir da metodologia do relato de vida, com o objetivo de conhecer os significados acima referidos, bem como as determinações constitutivas de suas trajetórias. O conceito de juventude foi trabalhado mediante o percurso histórico dos sujeitos nesta fase da vida humana e, por se tratar de jovens em conflito com a lei devido ao cometimento de ato infracional, realizou-se uma breve reflexão sobre o paradigma da Situação Irregular para a Proteção Integral, de forma a apresentar as diferenças entre ambos no âmbito da política de atendimento a este segmento juvenil. Foi discutida, também, a questão da violência urbana que abate sobremaneira os jovens, especialmente aqueles dos segmentos empobrecidos. Ainda, foram abordadas as trajetórias de vida dos jovens pesquisados, o contexto sócio-político-econômico do Município de São Paulo e do Bairro de São Mateus e seus distritos, onde os sujeitos da pesquisa residem e localiza-se a Associação Comunitária e Beneficente “Padre José Augusto Machado Moreira” – Instituição conveniada com a antiga FEBEM, atual Fundação CASA, onde são atendidos na Medida socioeducativa de liberdade assistida. Impossível estudar estes jovens e não discorrer sobre suas relações familiares com ênfase nas questões relacionadas à escola, educação e trabalho. Ao final destes estudos, buscou-se apontar as similaridades dadas nos modos e condições de vida dos sujeitos investigados, confrontando-as com a vulnerabilidade, enquanto matriz de análise. Buscou-se, ainda, abordar políticas públicas direcionadas para o segmento juvenil, no sentido das mesmas subsidiarem uma condição de vida que permita o desenvolvimento e a promoção do jovem, em específico, daquele oriundo da classe social pobre nos aspectos econômicos, políticos, culturais e sociais.

Palavras-chave: 1. Juventude 2. Violência

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ATAIDE, Marlene Almeida of. Of the multiple social and family losses dropped of the infringement act: the privation of the freedom and the arduous daily in the foundation it MARRIES. Thesis (Doctorate in Social Service) - Program of Masters degree in Service Social, Papal Catholic University of São Paulo, São Paulo, 2008. 289 p.

ABSTRACT

To present thesis it is constituted of a process of investigation work, with views to the knowledge of the meanings that the youths of the masculine sex in the age group of 16 and 20 years of age that already accomplished the private measure of freedom in the year of 2006 in the Units of the HOUSE Foundation and that in the year of 2007 they were accomplishing the measure partner educational of attended freedom in social entity located in the East Zone neighborhood of São Mateus in the municipal district of São Paulo. They attribute to your circumstances and manners partner-family life and infractional – the crime the privation of the freedom and the execution of the measure education partner of attended freedom – as well as the projections that do for your lives. The research of qualitative nature grew through the Oral History and in the sociological perspective starting from the methodology of the life report with the objective of knowing the meanings above referred as well as the constituent determinations of your paths. Youth's concept was worked by the historical course of the subjects in this phase of the human life and for taking care of youths in conflict with the law due to the dropped of act infractional he took place an abbreviation reflection on the paradigm of the Irregular Situation for the Integral Protection in way to present the differences between both in the ambit of the attendance politics to this juvenile segment. It was discussed also the subject of the urban violence that it abates the youths excessively especially those of the impoverished segments. Still the paths of the researched youths' life were approached the partner-political-economical context of the Municipal district of São Paulo and of São Mateus's neighborhood and your districts where the subject of the research reside and he/she is located the Community Association and Beneficent "Priest José Augusto Machado Moreira" – Institution covenanted with old FEBEM, current HOUSE Foundation where they are assisted in the Measure socioeducativa of attended freedom. Impossible to study these young ones and not to discourse about your family relationships with emphasis in the subjects related to the school education and work. At the end of these studies it was looked for to point the similarities given in the manners and conditions of life of the investigated subjects confronting them with the vulnerable while analysis head office. It was looked for still to approach public politics addressed for the juvenile segment in the sense of the same ones they subsidize a life condition that allows the development and the youth's promotion in specific of that originating from of the poor social class in the aspects economical, political, cultural and social.

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ATAIDE, Marlene Almeida de. Du multiple social et pertes de la famille au co perpértimant de l'infracional de l'acte: la privation de la liberté et le quotidien ardu dans la fondation la Maison. La thèse (Doctorat dans Service Social) - Programme de Degré des Maîtres dans Service Catholique Social, Papal Université de São Paulo, São Paulo, 2008. 289 p.

RÉSUMÉ

Présenter la thèse il est constitué d'un processus d'investigative du travail, avec vues à la connaissance des significations qui les jeunesses du sexe masculin, dans la tranche d'âge de 16 et 20 années d'âge qui déjà a accompli la mesure privée de liberté dans l'année de 2006 dans les Unités de La Fondation La MAISON, et que dans l'année de 2007 ils accomplissaient le associe-educatives de la mesure de liberté assistée, dans entité sociale, localisé dans le Zona Leste, Voisinage de São Mateus, dans le district Municipal de São Paulo, ils attribuent à vos circonstances et manières soyez partenaire de la famille vie et infracionale – l'infraction, la privation de la liberté et l'exécution du associe-educativé de la mesure de liberté assistée –, aussi bien que les projections qui font pour vos vies. Les recherches de nature qualitative ont grandi à travers l'Histoire Orale et dans la perspective sociologique, commencer de la méthodologie du rapport de la vie, avec l'objectif de savoir les significations au-dessus se reporté, aussi bien que les déterminations constitutives de vos trajectoires. Le concept de jeunesse a été travaillé par le cours historique des sujets dans cette phase de la vie humaine et, pour amener soin de jeunesses dans conflit avec la loi dû au cometiment d'infracional de l'acte, les ont eu lieu une réflexion de l'abréviation sur le paradigme de la Situation Irrégulière pour la Protection Intégrante, dans chemin présenter les différences entre les deux dans la compétence des politique de l'assistance à ce segment juvénile. Il a été discuté, aussi, le sujet de la violence urbaine qu'il diminue les jeunesses excessivement, surtout ceux des segments appauvris. Encore, les trajectoires de la vie des jeunesses faites des recherches ont été approchées, le contexte partenaire – politique économe du district Municipal de São Paulo et de São le Voisinage de Mateus et vos districts où le sujet de la recherche réside et est localisé l'Association de la Communauté Bienfaisant et "Prêtre José Augusto Machado Moreira" – d’accord de l'Institution avec vieux FEBEM, la Fondation courante la MAISON, où ils sont aidés dans le associe-educativé de la mesure de liberté assistée. Impossible étudier ces jeunes et ne pas discourir au sujet de vos rapports de la famille avec accentuation dans les sujets ont été en rapport avec l'école, éducation et travail. À la fin de ces études, il a été cherché pour pointer les ressemblances donné dans les manières et conditions de vie des sujets enquêtés sur, en les affrontant avec le vulnérabilité, pendant que bureau de la tête de l'analyse. Il a été cherché, encore, pour approcher des politique publiques adressé pour le segment juvénile, ils subventionnent une condition de la vie qui autorise le développement et la promotion de la jeunesse dans le sens des mêmes, dans spécifique, de cela provenir de la classe sociale pauvre dans les aspects économe, politique, culturel et social.

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS, 19

CAPÍTULO 1 – JUVENTUDE... JUVENTUDES, 39

1.1 Adolescência/Juventude: Aproximações Conceituais, 43 1.2 Os Jovens como Sujeitos Sociais, 64

1.3 Adolescência e Ato Infracional, 68

1.4 O Jovem no Contexto da Violência Urbana, 77

1.5 Da Doutrina da Situação Irregular para a Proteção Integral: Uma Breve Reflexão, 95

CAPÍTULO 2 – NAS TRAMAS DA PERIFERIA: OS JOVENS E SUAS TRAJETÓRIAS DE VIDA, 107

2.1 Contextualizando São Paulo, 108

2.2 O Bairro de São Mateus – Ambiência da Pesquisa, 112 2.3 A Caracterização da Instituição – Lócus da Pesquisa, 124

2.3.1 A Associação Comunitária e Beneficente “Padre José Augusto Machado Moreira”, 124

2.3.2 A trajetória histórica da Associação Comunitária “Padre José Augusto Machado Moreira”, 128

2.3.3 O Projeto Arte de Viver: “Liberdade Assistida na Comunidade” – LAC, 129 2.3.4 As Unidades de Internação: Uma reflexão necessária, 149

2.4 A Medida Socioeducativa de Internação, 152 2.5 A Trajetória Institucional, 160

2.6 A Trajetória Infracional, 168 2.7 O Sofrimento em Evidência, 173

2.8 Liberdade Assistida: Um Conceito Paradoxal, 178

2.9 A Operacionalização da Medida Socioeducativa da Liberdade Assistida, 188

CAPÍTULO 3 – FAMÍLIA, ESCOLA E TRABALHO: AS PROJEÇÕES DE FUTURO DO JOVEM AUTOR DE ATO INFRACIONAL, 200

3.1 Apresentação, 201

3.2 Família: Espaço de Afetos, 207 3.3 O Jovem, a Educação e a Escola, 233

3.4 O Jovem e o Mercado de Trabalho – Breve Contextualização, 240

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REFERÊNCIAS, 272

ANEXO I - Documentos de solicitação e autorização para a realização da pesquisa e entrevistas, 287

APÊNDICE A – Termo de consentimento pós-informação, 288

APÊNDICE B – Instrumental para a coleta de dados questões que visam a conhecer a vida dos jovens em seu contexto social e familiar, 289

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABONG – Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais ABRINQ – Fundação ABRINQ pelos Direitos da Criança e do Adolescente BANESPA – Banco do Estado de São Paulo

BO – Boletim de Ocorrência

CASA – Fundação Centro de Atendimento Sócio-educativo do Adolescente CBMM – Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração

CDP – Centro de Detenção Provisória

CEAS – Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo CEU – Centro Educacional Unificado

CF – Constituição Federal CM – Código de Menores

COC – Centro de Observação Criminológica

CONANDA – Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente CONDECA – Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente CP – Carteira Profissional

CPB – Código Penal Brasileiro

CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito CT – Conselho Tutelar

DAS – Departamento de Assistência Social

DCA – Fórum de Direitos da criança e do Adolescente ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

EF – Ensino Fundamental EM – Ensino Médio

FEBEM – Fundação Estadual do Bem - Estar do Menor FUNABEM – Fundação Nacional do Bem Estar do Menor

FUNDAÇÃO CASA – Centro de Atendimento Sócio-Educativo do Adolescente IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Anísio Teixeira IVJ – Índice de Vulnerabilidade Juvenil

IVS - Índice de Vulnerabilidade Social. LA – Liberdade Assistida

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LCP – Lei de Contravenção Penal

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social LP – Lei penal

MEC – Ministério da Educação

MNMMR – Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua NGOs – Non-Governmental Organizations

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil

OEI – Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura OMS – Organização Mundial de Saúde

ONGs – Organizações Não-Governamentais ONU – Organização das Nações Unidas

OPAS – Organización Pan-Americana de la Salud

OSCIPS – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público OSEM – Organização Socioeducativa Municipal

PCC – Primeiro Comando da Capital PCR – Projeto Crianças de Rua

PEA – População Economicamente Ativa

PISA – Programa Internacional para Avaliação de Alunos PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio PNB – Produto Nacional Bruto.

PNBEM – Política Nacional do Bem Estar do Menor

PNPE – Programa Nacional de Estimulo ao Primeiro Emprego PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PPA – Plano Personalizado de Atendimento

PRO-AIM – Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo

PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo RPM – Recolhimento Provisório de Menores

SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento SENAC – Serviço Nacional do Comércio

SENAI – Serviço Nacional da Indústria SESC – Serviço Social do Comércio

SIM – Sistema de Informações sobre mortalidade

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SSM – Serviço Social de Menores UAI – Unidade de Atendimento Inicial UF – Unidade Federada

UI – Unidade de Internação

UIP – Unidade de Internação Provisória

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância UR – Unidade de Recepção

USP – Unidade de Semiliberdade Provisória UTs – Unidades de Triagem

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa do Brasil – Taxa média de homicídios 2002/2004 – população jovem, 90 Figura 2 – Mapa de São Paulo – Taxa média de homicídios 2002/2004 – população total, 91

Figura 3 – Vista aérea da cidade de São Paulo, 109

Figura 4 – Divisão política do Município de São Paulo, 113 Figura 5 – Distrito de São Mateus, 116

Figura 6 – Espaço do Projeto Arte de Viver: Liberdade Assistida na Comunidade, da Associação Comunitária e Beneficente “Padre José Augusto Machado Moreira”, 124

Figura 7 – Mapa do percentual de matrículas no Brasil referente ao Ensino Médio (Vista A) e Mapa do percentual de matrículas no Brasil referente à Educação Profissional (Vista B), 237

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Percentual de mulheres chefes de família por distritos – 2000, 122

Gráfico 2 – Percentual de mulheres chefes de família com renda insuficiente, por distrito – 2000, 122

Gráfico 3 – Percentual de mulheres chefes de família não-alfabetizadas, por distrito – 2000, 123

Gráfico 4 – Demonstrativo mensal de adolescentes Fundação – CASA (FEBEM), por sexo, 196

Gráfico 5 – Demonstrativo mensal de adolescentes Fundação – CASA (FEBEM), por faixa etária, 197

Gráfico 6 – Demonstrativo mensal de adolescentes Fundação – CASA (FEBEM) em relação ao mercado de trabalho, 198

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição da população urbana e rural de São Mateus por Distrito - 2000, 63

Tabela 2 – Projeção demográfica de jovens no ano de 2049, 64

Tabela 3 – Ordenamento das Unidades Federadas (UF) segundo a taxa de homicídios na população jovem. Brasil. 1994/2004, 87

Tabela 4 – Taxas de homicídio (em 100.000) por idades e faixas etárias. Brasil 1994/2004, 88

Tabela 5 - Ranking das Unidades da Federação com maior população não-natural – Brasil –

2000, 109

Tabela 6 – Migrantes segundo os movimentos entre as áreas urbanas – Brasil – qüinqüênio 1995/2000, 110

Tabela 7 – População do Município de São Paulo e Região de São Mateus, percentual de distribuição por distritos – 1980 a 2000 e Projeção 2010, 113

Tabela 8 – Percentual de crescimento da população do município de São Paulo, São Mateus e distritos – 1980 a 2000, 114

Tabela 9 – Percentual de crescimento da população do Município de São Paulo, São Mateus e distritos – 1980 a 2000, 116

Tabela 10 – Distribuição da população urbana e rural de São Mateus por Distrito – 2000, 117

Tabela 11 – Distribuição da população dos Distritos de São Mateus por faixas etárias – 2000, 119

Tabela 12 – Distribuição da população dos distritos de São Mateus por sexo – 2000, 120

Tabela 13 – Índice de violência na Região de São Mateus por Distritos. Comparativo com Município de São Paulo, Brasil e Canadá – 2000, 121

Tabela 14 – Adolescentes segundo o sistema socioeducativo e a população total de adolescentes de 12 a 18 anos no Brasil e Estado de São Paulo, 160

Tabela 15 – Comparativo entre o tempo determinado para internação por sentença judicial e o tempo efetivamente cumprido pelos sujeitos da pesquisa, 166

Tabela 16 – Status de escolaridade dos jovens incluídos no programa da medida

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Tabela 17 – População estimada em 1990 e população projetada até 2020, 202

Tabela 18 – Número de matrículas em 2005 e 2006, em 29 mar. 2006, 238

Tabela 19 – Número de matrículas de educação básica, por etapas e modalidades, segundo a região geográfica e a unidade da federação, em 29 mar. 2006, 238

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio.

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Sistematizar conhecimento sobre o tema juventude, no atual contexto histórico brasileiro, além de instigante, representa, de certa forma, um grande desafio, principalmente, ao compreender-se que os problemas sobre a juventude abrangem um elenco significativo de questões, as quais incidem sobre o assunto e que merecem algumas reflexões. Outrossim, considerar as transformações ocorridas na sociedade1, nas últimas

décadas, conduz a questionamentos, cujas respostas, certamente, não alcançam a plenitude dos jovens em sua totalidade, no sentido de os conhecer. Torna-se, portanto, oportuno indagar:

(1) Quem é o jovem em questão?

Tal pergunta remete a uma resposta que está presente no bojo dessa tese e contempla um determinado universo do segmento juvenil, o qual é formado por jovens oriundos das camadas sociais pobres, pertencentes à classe trabalhadora, que residem na periferia do Município de São Paulo2, Capital do Estado, partícipes da construção das significações sociais da delinqüência juvenil e que dispõem, em sua grande maioria, de insuficiente e precária presença de serviços públicos, enquanto política social que lhes garanta a condição de proteção e promoção humana.

Dada a peculiaridade desse universo, esclarecer o termo “periferia” torna-se

1 Sobre considerações a respeito das transformações que incidem sobre a sociedade, recomenda-se:

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1998.

CASTLES, Stephen. Estudar as transformações sociais. Sociologia on-line. ed. set. 2002. n. 40. ISSN

0873-6529. p. 123-148. Disponível em: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0873-65292002000300008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 10 mai. 2007.

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX – 1914-1991. (Tradução Marcos Santarrita). São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice – O social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1995.

2 As periferias urbanas constituem-se, assim, em lugar físico e social, onde se acham cristalizados os

(22)

pertinente no sentido de referir que esses jovens, desde o nascimento, habitam e transitam em espaços deteriorados, nos aspectos geográfico, econômico, social e cultural. Em geral, não contam com a presença efetiva de serviços do Estado ou do Município para propiciar a proteção ou mesmo a “[...] inclusão precária, marginal e instável”, conforme Martins, J.S. (1997)3.

Os sujeitos da pesquisa são jovens do sexo masculino, com idade entre 16 e 20 anos, que tiveram sua liberdade privada confiscada em virtude da aplicação de uma medida legal, em decorrência do cometimento de um ato infracional grave no ano de 2006 e que, no ano de 2007, cumpriam a medida socioeducativa da liberdade assistida em instituição social.

(2) Quais são os principais problemas comuns da juventude e quais são aqueles que mais diretamente afetam os referidos jovens oriundos da classe social pobre?

Os jovens desta pesquisa são do sexo masculino, com idade entre 16 a 20 anos, que tiveram sua liberdade privada confiscada em virtude da aplicação de uma medida legal, em decorrência do cometimento de um ato infracional grave no ano de 2006 e que, no ano de 2007, cumpriam a medida socioeducativa da liberdade assistida em instituição social.

Esses jovens têm em comum uma trajetória social pautada pela dimensão da exclusão e são afetados por problemas característicos, tais como: a precariedade e falta de acesso aos meios econômicos, à moradia, alimentação e saúde adequadas; falta de acesso ao conhecimento, à educação, à informação; exclusão nas instâncias decisórias, na construção da sociedade, na consideração social e na condição de dignidade humana.

Para esse segmento juvenil, e principalmente para aqueles que cometeram ato infracional, as experiências sociais e de relações na sociedade dotadas do sentido social de integração, inserção, afiliação, cooperação, participação ou inclusão apresentam-se distantes, para não afirmar, inviáveis, pois esta mesma sociedade que os gerou, não lhe

oferece oportunidades de inserção, quer no processo produtivo, quer no mercado consumidor.

Portanto, o que define a situação da maioria dos jovens das periferias pobres é a ausência de possibilidades de reconhecimento social, visto que a garantia à condição de

3 MARTINS, José de Souza. Exclusão social e a nova desigualdade. São Paulo: Paulus, 1997.

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sujeito social lhes é negada, mesmo antes de iniciar a sua socialização básica, definida por Berger e Luckmann (1999)4 como a socialização primária, ou seja, a primeira que o indivíduo experimenta na infância para introduzi-lo, já socializado, em novos setores do mundo objetivo de sua sociedade. Assim, é sabido que a família, pelas funções e pelos papéis sociais que exerce perante seus filhos, quer seja na sua socialização, ou na construção da sua identidade pessoal e social, tem um peso preponderante no acervo de conhecimento a ser transmitido.

Um outro esclarecimento centra-se, primordialmente, na referência aos jovens comprometidos na construção de significações sociais de delinqüência juvenil e no sentido em que o processo de estigmatização dos pobres no Brasil envolve, incondicionalmente, a maior parte dos jovens das periferias urbanas pobres, assimilados ou rotulados de “delinqüentes perigosos”, estejam eles efetivamente ou não envolvidos em práticas de atos infracionais. Castel (2000, p. 31)5 considera que, “Não é o caso de

tratá-los com uma intervenção especializada para ‘reparar’ ou ‘cuidar’ de uma incapacidade pessoal – a não ser que se pretenda que o conjunto dos jovens com dificuldades de integração sejam delinqüentes ou doentes”.

Então, o que dizer daqueles jovens que cumpriram medida socioeducativa de internação, obtiveram uma progressão da medida severa para a mais branda, como a da liberdade assistida? Pois, segundo Volpi (2006a, p. 24)6, “Constitui-se uma medida

coercitiva quando se verifica a necessidade de acompanhamento da vida social do adolescente (escola, trabalho e família)”, se consideramos, no entanto, que ao retornarem para o meio familiar, ainda continuam isolados do mundo social, sem qualquer proteção da sociedade salarial e sem a garantia dos direitos sociais estabelecidos na Constituição Federal de 19887.

Nesse contexto, as famílias se vêm cada vez mais responsabilizadas por garantir a reprodução dos seus membros e não contam com quem possa "ajudá-las a se

4 BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Tratado de Sociologia

do Conhecimento. (Tradução Floriano de Souza Fernandes). Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

5 CASTEL, Robert. As armadilhas da exclusão. In: WANDERLEY, Mariângela Belfiori; BÓGUS,

Lúcia: YAZBEK, Maria Carmelita. Desigualdade e questão social. 2 ed. São Paulo: Educ, 2000.

6 VOLPI, Mário. O adolescente e o ato infracional. São Paulo: Cortez, 2006a.

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ajudar", como bem lembra Telles (1992, p. 89)8, “[...] a centralidade da família pode ser

vista como registro de uma sociedade na qual a chamada questão social foi equacionada nas formas de uma pobreza colonizada, despolitizada e privatizada nas suas formas de manifestação”.

Não é sem razão que para a grande maioria desses jovens a família ocupa um lugar central: as relações que estabelecem, a qualidade das trocas, os conflitos e os arranjos existentes para garantir a sobrevivência são dimensões que marcam a vida de cada um, constituindo-se em um filtro através do qual passa e se traduz o mundo social, significando um espaço de experiências estruturantes. A família, portanto, ainda é uma das poucas instituições do mundo adulto com a qual esses jovens podem contar.

Verifica-se que o olhar social cristaliza uma identidade da qual o jovem estigmatizado tenta escapar e não consegue, pois ele está condenado a nela permanecer, a não ter perspectivas de futuro bem delineadas ou a não ter uma existência social reconhecida, a exemplo do que ocorre com milhares de crianças e de jovens brasileiros.

Torna-se ainda mais crítico para a população juvenil brasileira, a qual em um determinado momento cometeu um ato infracional, que durante o cumprimento da medida socioeducativa passa a enfrentar essas dificuldades situadas num nível sociocultural mais amplo e de forma mais acentuada, tendo em vista os numerosos obstáculos e impasses nas suas trajetórias de vida social, cultural e afetiva.

A falta ou a ausência de uma adequada sustentação no projeto identificatório pode levar o jovem a viver no limite do niilismo. O sentimento de incompletude é algo inerente a todo ser humano, e os jovens não passam imunes a este tipo de sentimento, pois ele é sentido e vivido mais intensamente pelo jovem que atravessa a fase da adolescência. Para preencher o vazio existencial, por conseguinte, ele não poupará esforços em encontrar algoque o retire da instabilidade e insegurança, às vezes insuportáveis.

O voltar-se para as instituições sociais, para os entes familiares, mesmo para o jovem habituado à prática de atos infracionais, ou mesmo à vida de rua, onde se acostumou a enfrentar os percalços e ameaças externas, é uma tentativa na busca de algum apoio seguro. Mas, nem sempre ele encontra os suportes necessários, pois as famílias, das quais estes jovens procedem, geralmente sofrem até mesmo a privação do acesso ao atendimento de necessidades básicas.

8 TELLES, Vera da Silva. A experiência da insegurança: trabalho e família nas classes trabalhadoras

(25)

Para esses jovens é uma constante nas suas histórias e trajetórias de vida as lutas infindáveis de desesperança, abandono e solidão. A escola que, por sua vez, deveria ser o espaço de inclusão e de pertencimento, nem sempre permite esta possibilidade. Por outro lado, nos grupos de jovens dos quais participam, onde esperam contar com algum apoio para compartilhar seus sentimentos, geralmente, se deparam com situações que os levam a se defrontarem com mapas de orientações que nem sempre combinam com pertencimento, o que acentua ainda mais as incertezas e as frustrações cotidianas.

No âmbito das relações sociais, quando o jovem comete um ato infracional, traz à tona, com aqueles que dialogam, a tensão de sua convivência com o reconhecido padrão ordem/desordem, normalidade/desvio. Assim, é fato notório, quando se discute a questão do jovem autor de ato infracional, o reconhecimento de que a família aparece como aquela protagonista que ora é culpabilizada, penalizada e/ou vitimizada, mas que de alguma forma é responsabilizada. Em outras palavras, “famílias estruturadas” ou “famílias desestruturadas”, passam a ser, comumente, não só o referencial para se analisar a questão, mas também são expressões imbuídas de toda uma superficialidade, destituindo-as do conjunto de elementos que destituindo-as determinam e lhes confere significados.

(3) Nesse sentido, qual a intervenção mais adequada e/ou apropriada para resolver e/ou minimizar os problemas enfrentados por esse segmento juvenil, ou seja, o jovem oriundo e inserido na classe social pobre, no âmbito das políticas públicas?

A tendência colocada pela atual sociedade é a de caracterizá-los como jovens pobres, que vivenciam formas frágeis e insuficientes de inclusão num contexto de uma nova desigualdade social: aquela que implica o esgotamento das possibilidades de mobilidade social para a maioria da população. Nela, a pobreza mudou de forma, de âmbito e de conseqüências. Se para as gerações anteriores estava posta, mesmo que remotamente, a perspectiva de mobilidade por meio da escola e/ou do trabalho, para os jovens de hoje esta alternativa não mais se apresenta.

(26)

No Brasil contemporâneo percebe-se e vivencia-se uma situação paradoxal. As últimas décadas foram palco de uma modernização cultural, que consolidou uma sociedade de consumo, ampliou o mercado de bens materiais e simbólicos, mas que não foi acompanhada de uma modernização social.

Assim, os jovens pobres inserem-se, mesmo que de forma restrita e desigual, em circuitos de informações, enquanto importante momento para trocas sociais, por meio dos diferentes veículos da mídia, e sofrem o apelo da cultura de consumo apropriando-se como consumidores culturais de músicas – CDs, shows de rap e funk – e também

enquanto produtores de uma experiência em que ressignificam sua trajetória ao criarem formas próprias de ser jovem, estimulando sonhos e fantasias, além dos mais variados modelos e valores de humanidade.

Mas, se há uma ampliação de possibilidades, há uma restrição ao seu acesso – uma das faces perversas da nova desigualdade –, que trata a juventude como se fosse homogênea, os jovens e seus modos de resistir, a sua cultura reforçada pela importância do estar junto afetivo, seus rituais cambiantes, o questionamento que produzem em torno das mazelas sociais das instituições e de seus saberes. Procuram dar visibilidade à crueldade do mundo, as incertezas, as contradições e podem oportunizar ao conjunto da população a possibilidade de enxergar uma sociedade excludente, onde os “de dentro e os de fora” são inseparáveis e sofrem o tempo todo as ações de uns sobre os outros.

Querem ser reconhecidos, querem uma visibilidade, querem ser alguém num contexto que os torna invisíveis, ninguém na multidão. Querem ter um lugar na cidade, usufruir desta, transformando o espaço urbano em um valor de uso.

Especificamente, no que diz respeito aos jovens institucionalizados ou aqueles que já passaram por esta experiência, é comum, nos contatos estabelecidos, detectar o quanto são sagazes. Todavia, nem sempre este adjetivo é capaz de propiciar uma vida em que suas manifestações, suas reivindicações, seus apelos e desejos – quer sejam para chamar a atenção, quer para alcançar notoriedade momentânea – parecem não sensibilizar aqueles que poderiam em âmbitos superiores propor melhorias para amenizar as condições de vida desses sujeitos, como o Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.

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Essa sociedade os discrimina sem conhecer ao certo suas histórias, não oferecendo expectativas de mudanças na vida desses jovens que permanecem no anonimato, mas, por outro lado, só passam a ter visibilidade, em um diminuto espaço de tempo, no momento em que cometem atos infracionais.

Grande parte dessa juventude pertence a um universo reduzido e espesso, onde sobram os riscos de todo tipo e faltam as oportunidades mais básicas de acesso aos meios de educação, saúde, cultura, lazer e trabalho, enquanto fundamentais “para o desenvolvimento de recursos materiais e simbólicos”, conforme Abramovay et al. (2002)9. As suas vidas se degradam em termos pessoais e sociais e originam como fruto a violência exacerbada, a qual somente poderá ser combatida ou reduzida a partir de propostas que não sejam somente repressivas, mas que sejam educativas e que permitam solucionar a vulnerabilidade analisada por Abramovay como sendo “as diversas modalidades de desvantagem social” a que os jovens estão expostos.

A origem do tema

O tema abordado, e que deu origem ao presente estudo, remonta à época de minha admissão na Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM-SP), em 8 de janeiro de 1980, para exercer as funções de Assistente Social, atuando com jovens na faixa etária de 16 a 18 anos de idade, autores de ato infracional. Posteriormente, a FEBEM-SP passou a denominar-se Fundação Centro de Atendimento Sócio-educativo do Adolescente (CASA). Portanto, as preocupações norteadoras da abordagem proposta datam desta ocasião e do exercício profissional vivido, majoritariamente, no âmbito da referida instituição destinada ao atendimento de crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, bem como a adolescentes autores de ato infracional.

A Política do Bem-Estar do Menor, naquela década, era pautada na idéia da marginalidade social e não no modo marginal da inserção dos trabalhadores e seus filhos no processo de produção. As proposituras desta política centravam-se no princípio de que as situações de necessidades e carências, vividas pelas pessoas com incapacidade de supri-las por si mesmas, deveriam constituir-se em escopo da intervenção de organizações governamentais, religiosas, assistenciais e de outras finalidades de controle e disciplina. A pobreza era explicada e tratada como uma disfunção, uma anomia resultante da

9 ABRAMOVAY, Miriam et al.

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incapacidade individual de usufruir adequada e satisfatoriamente das oportunidades que a sociedade oferecia10.

Naquele momento histórico, as práticas institucionais eram desenvolvidas sob a égide da doutrina da situação irregular e da Política Nacional do Bem-Estar do Menor (PNBEM), pautando-se na concepção de que todas as crianças e adolescentes, indistintamente, eram pessoas dependentes, incapazes, necessitados de proteção e controle. Com esta perspectiva, as crianças e adolescentes – tanto aqueles adolescentes apreendidos porque estavam perambulando pelas ruas, como aqueles apreendidos em flagrante delito, pois ambos encontravam-se em situação irregular – eram indistintamente conduzidos às Unidades de Recepção e Triagem, localizadas no Bairro Tatuapé, na Zona Leste do Município de São Paulo.

Na maioria das vezes, a criança e o adolescente nem sequer sabiam o porquê, do que, ou como se defender, pois, oficialmente, não lhes era imputada à prática de um ato infracional. Havia, sim, diagnósticos médicos, psicológicos, sociais a justificar as medidas de acolhimento e proteção. Esta condição os colocava numa relação de subalternidade, que lhes tirava a possibilidade de réplica, de defesa.

Principalmente durante a década de 1980, na contramão dos procedimentos habituais, foram notificadas experiências desenvolvidas nos quatro cantos do país, cujo mérito principal seria o de ter ensaiado, com maior ou menor êxito, a operacionalização dos princípios educativos em serviços de atenção direta à juventude em situação de risco pessoal e social. De modo geral, todas estas experiências possuíam em comum o desejo de desmascarar o alvo implícito de controle social da população pauperizada, bem como de fazer prevalecer os objetivos de ajuda e educação por meio da revisão das práticas implementadas no cotidiano das instituições.

No entanto, essa experiência sempre se colocou como um desafio naquele cotidiano vivido com muita intensidade, permeado por poucos avanços e muitos retrocessos, conflitos e contradições, mas, também, por inúmeras indagações que convocavam a penetrar de forma mais aprofundada no sentido de conhecer as questões que levaram esses jovens num determinado momento de suas vidas a trilharem caminhos muitas vezes sem volta.

10 É necessário esclarecer, não há a intenção de adentrar no âmago da discussão sobre as

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Tais caminhos perpassam pela instituição, pela família, pela sociedade, pelo jovem em fase de desenvolvimento, pelas políticas públicas, pela violência, enfim, pela ausência de uma proposta não apenas do reordenamento da instituição onde estão inseridos, mas um reordenamento em termos de políticas que sejam voltadas de fato para atender essa juventude e, em especial, aqueles que estão sob a guarda do Estado, cumprindo medida de privação de liberdade, para que possam retornar aos seus convívios de forma mais digna e desfrutar os seus direitos enquanto cidadãos.

Ainda naquele cotidiano, vivenciei práticas sociais que estavam, e acredito continuem, saturadas pelos rituais burocráticos em detrimento do “estar com” e “estar junto” ao jovem, o que pressupõe uma premente necessidade de rompê-las e introduzir outras práticas que não reproduzam tão somente os traços da cultura herdada pelo regime ditatorial, ou seja, o fazer de conta, mas que repercutam de modo favorável à inserção dos jovens.

A trajetória possibilitou-me, além do conhecimento e do contato direto com essa população que vivia e vive em circunstâncias extremamente difíceis, constatar, desde então, a precariedade não apenas do ponto de vista material, mas, e principalmente, dos limites metodológicos relativos à prática dos Assistentes Sociais implementada no cotidiano desse organismo, resultando em efeitos pontuais ou na ineficiência das intervenções.

No final dos anos de 1980 e início de 1990, as importantes transformações que se operaram no plano jurídico e administrativo, visando contemplar novas políticas sociais, concorreram para a promulgação do ECA, que passou a sugerir práticas diferenciadas que pudessem romper com os resíduos do assistencialismo e do autoritarismo, incorporando princípios educativos generalizáveis ao conjunto de crianças e jovens e, em especial, àqueles marginalizados pelo sistema sócio, político e econômico.

Observou-se na década de 1990, conforme Rosemberg (1995)11, uma multiplicação dos serviços na linha das transformações preconizadas nos anos de 1980 e, em alguns casos, notava-se a preocupação com aspectos mais formais da estrutura e funcionamento dos serviços relevantes à qualidade da prática implementada: a razão “adulto-criança”, a circulação e rotatividade de pessoal, a formação específica dos

11 ROSEMBERG, Fulvia. A criação dos filhos pequenos: tendências e ambigüidades contemporâneas.

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funcionários, as condições físicas do local, o tipo de programação proposta, enfim, uma série de outras variáveis ambientais que, numa perspectiva socioeducativa, interferem no desenvolvimento humano.

Ainda na década de 1990, principiou-se a conquista no plano sócio-jurídico do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. 8069/90, dispondo sobre a “[...] proteção integral à criança e ao adolescente” (Artigo 101).

É mister destacar, também nos anos de 1990, logo após a vigência do ECA, a contribuição e os esforços empreendidos pela então Presidente da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM-SP), Dra. Rosa Castro, que após detectar a situação caótica e, tentando transformar a instituição, ancorada pelas diretrizes políticas e institucionais, propôs o traçado de um Perfil Diagnóstico, priorizando, naquele momento, principalmente, as unidades que atendiam jovens autores de ato infracional. Considera-se que a decisão de iniciar um trabalho desta natureza elegendo, em princípio, os segmentos sociais que cometeram ato infracional, indica que estes sempre foram os alvos das críticas dos segmentos da sociedade e também devido ao maior enfoque dado pelo ECA.

Subseqüente a essa primeira etapa de mudanças legais na maneira do Estado e da sociedade relacionar-se com aqueles que mais necessitam de respeito, proteção e apoio, estava dada a tarefa de trabalhar as transformações concretas, efetivando definitivamente a reforma das instituições e a melhoria nas formas de atenção direta.

O objetivo

Esse estudo propôs-se a conhecer os significados que os jovens do sexo masculino12, na faixa etária de 16 a 20 anos de idade, que já cumpriram a medida privativa

de liberdade no ano de 2006 nas Unidades da CASA e que em 2007 cumpriam a medida socioeducativa de liberdade assistida em entidade social, localizada na Zona Leste da

12 O interesse em eleger jovens do sexo masculino e na faixa de idade supra mencionada é, por

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Capital, atribuem às suas circunstâncias e modos13 de vida sócio-familiar e infracional – o

delito, a privação da liberdade e o cumprimento da medida socioeducativa de liberdade assistida –, bem como as projeções que fazem para suas vidas, na perspectiva de compreender qual é a visão que possuem de si, da sua família, do contexto institucional e o que esperam da sociedade em que vivem, a qual deposita em diminutos grupos privilegiados as perspectivas do futuro.

O objeto investigativo

O objeto investigativo constitui-se dos significados atribuídos pelos jovens sobre as circunstâncias e modos de sua vida sócio-familiar e infracional – o delito, a privação da liberdade e o cumprimento da medida socioeducativa de liberdade assistida –, e suas relações com a dinâmica que incidiram em sua trajetória infracional, bem como sua vivência na Fundação CASA.

A pesquisa

O trabalho investigativo se pautou em uma pesquisa de natureza qualitativa – que indica uma relação dinâmica entre o sujeito e o mundo real, uma interdependência viva entre pesquisador e o sujeito da pesquisa – um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade dos sujeitos no processo investigativo.

Martinelli (1999, p. 25)14, ao referir-se às pesquisas qualitativas, apresenta com

ênfase que “muito mais do que descrever um objeto, busca-se conhecer trajetórias de vida, experiências sociais dos sujeitos”, pois na pesquisa qualitativa o pesquisador é também

13 Segundo Martinelli (1994, p. 14), apoiada em Thompson, circunstâncias e modos de vida são

fenômenos distintos. “As circunstâncias materiais, as condições de vida, as pesquisas quantitativas me dão, informando-me, por exemplo, o salário de um determinado sujeito, o montante de despesas que tem. Agora, modo de vida é bastante diferente, é um conceito introduzido por um historiador inglês contemporâneo chamado Edward Thompson, que nos mostra que o modo de vida é, exatamente, o modo como esse sujeito constrói e vive a sua vida. Envolve, portanto, seus sentimentos, valores, crenças, costumes e práticas sociais cotidianas, isso nos remete [...] no reconhecimento de que conhecer o modo de vida do sujeito pressupõe o conhecimento de sua experiência social”.

MARTINELLI, Maria Lúcia. O uso de abordagens qualitativas na pesquisa em Serviço Social. Caderno NEPI. Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC). São Paulo: PUC, mai. 1994. n. 1.

14 MARTINELLI, Maria Lúcia. Seminário sobre metodologias qualitativas de pesquisa. In:

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“um sujeito da pesquisa”. Frisa, ainda, que a pesquisa qualitativa permite que o profissional busque expressão e sentido dos sujeitos e suas histórias. “[...] a relação entre a pesquisa quantitativa e qualitativa não é de oposição, mas de complementaridade e de articulação” (MARTINELLI, 1999, p. 27).

A orientação filosófica adotada foi a do materialismo histórico dialético15, que propicia a relação dinâmica entre sujeitos e objeto no processo de construção do conhecimento.

Sobre o campo e o universo dos sujeitos investigados

A ambiência da pesquisa empírica constituiu-se na instituição social denominada Associação Comunitária e Beneficente “Padre José Augusto Machado Moreira”, conveniada com a Fundação Centro de Atendimento Sócio-educativo do Adolescente (CASA), que presta atendimento aos jovens que cumprem medida socioeducativa de liberdade assistida, localizada no Bairro de São Mateus, Município de São Paulo.

Quanto aos sujeitos da pesquisa, a escolha foi feita através de uma sondagem junto aos profissionais que atuam na instituição, com o objetivo de conhecer e eleger entre os jovens aqueles que apresentassem trajetória e vivência com maior significado para os propósitos do estudo em pauta. Também no processo de seleção esteve em evidência a experiência acumulada da investigadora, como membro de uma categoria profissional que atuou por longos anos com o referido grupo – o que envolve a exploração concomitante de narrativas orais e a observação participante, que oferta vantagens ao proporcionar uma confiança mútua ao sujeito pesquisado, suficientes para garantir aos relatos confidencialidade e oferecer, ainda, à pesquisadora, maior segurança na formulação de

15 Frigotto (1991, p. 76-77) afirma a respeito: “O método de análise, na perspectiva dialética

materialista, não se constitui em ferramenta asséptica, uma espécie ‘de metrologia’ dos fenômenos sociais. [...]. Na perspectiva materialista histórica, o método está vinculado a uma concepção de realidade, de mundo e de vida no seu conjunto. A questão da postura, neste sentido, antecede ao método. Este se constitui numa espécie de mediação no processo de apreender, revelar e expor a estruturação, o desenvolvimento e transformação dos fenômenos sociais. Antes, pois, de responder-se a questão fundamental que sinaliza a natureza do processo dialético de conhecimento – como se produz a realidade social – é necessário responder-se qual a concepção que temos da realidade. Romper com o modo de pensar dominante ou com a ideologia dominante é, pois, condição necessária para instaurar-se um método dialético de investigação”.

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questões ou no controle das respostas.

Assim, foram eleitos cinco jovens, os quais já cumpriram a privação da liberdade no ano de 2006 por delitos praticados, e que, naquele momento, cumpriam a medida socioeducativa da liberdade assistida, ou seja, preenchiam os quesitos que foram delimitados para a pesquisa. Trata-se de jovens pertencentes a segmentos sociais empobrecidos, da classe proletária, com famílias monoparentais em sua maioria e com históricos de violência e exclusão social.

Focada no trabalho a ser realizado, inspirei-me na seguinte premissa: para iniciar o processo de pesquisa, parte-se do próprio campo, de onde se descortinarão os caminhos a serem percorridos. As direções escolhidas para a investigação são primordialmente traçadas durante o próprio “pesquisar”. Escolhe-se um ponto de partida. Dá-se início à investigação.

Fui comunicada sobre a seleção dos jovens, bem como convidada a comparecer na instituição no dia 14.06.07. Confesso a minha ansiedade para conhecer tanto o espaço institucional, quanto os profissionais e os jovens sujeitos da pesquisa, que na noite anterior não consegui adormecer. Acordei muito cedo e me preparei para fazer o meu itinerário. Neste momento, foram as contribuições de Certeau (2004, p. 179)16 que tomaram a vez para iluminar o percurso: a caminhada afirma, “lança suspeita, arrisca, transgride, respeita, etc., as trajetórias que ‘falam’. Todas as modalidades entram aí em jogo, mudando a cada passo, e repartidas em proporções, em sucessões, e com intensidades que variam conforme os momentos, os percursos, os caminhantes”.

Era uma manhã muito fria. Conforme havia combinado anteriormente, compareci na Instituição pontualmente às 9h00, e com cordialidade fui recepcionada pelo corpo de educadores, uma vez que, a então Coordenadora, encontrava-se em reunião externa. No entanto, a mesma recomendou a minha presença a todos os profissionais, que me deixaram à vontade para dialogar sobre os meus objetivos em relação à pesquisa e fazer indagações sobre o funcionamento do projeto, a eficácia ou ineficácia da rede de serviços da comunidade, das preocupações, angústias e formas de enfrentamento para as questões demandadas pelos jovens atendidos, bem como sobre as possibilidades e limites de inserção dos jovens, considerados os estigmas e o preconceito pelo fato de terem cometido ato infracional.

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Em seguida, fui convidada a conhecer um dos jovens e falar da minha intenção naquele espaço e, ao mesmo tempo, contar com a sua colaboração para conceder-me uma entrevista. Ele mostrou-se disposto e lisonjeado em ser eleito sujeito da pesquisa. Falei sobre os objetivos e procedi à leitura do Termo de Consentimento, para o qual forneceu sua aprovação e, na seqüência, iniciamos a entrevista. Como o seu tempo era escasso, devido ao trabalho que realizava num lava-rápido, remarcamos uma nova data (02.07.07). E assim, o meu itinerário iniciado em 14.06.07, encerrou-se em 28.07.07, quando realizei as duas últimas entrevistas. Cabe-me registrar, todas as entrevistas foram realizadas individualmente, a todos os jovens foi explicado o objetivo da pesquisa e, após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento, a entrevista foi gravada.

A todos comuniquei a minha experiência de trabalho na FEBEM/CASA e sobre o compromisso firmado com eles quanto ao sigilo profissional em relação àqueles conteúdos da nossa conversa que eles não quisessem que fossem revelados.

Discutimos, então, que eu manteria a gravação comigo e, ao transcrevê-la e divulgá-la, suprimiria os trechos que eles quisessem reservar. Foram unânimes em querer escutar a fita logo após cada entrevista e de pronto se dispuseram em autorizar que usasse todo o conteúdo da gravação. Firmei, ainda, com os mesmos, o compromisso de não revelar as suas identidades, usando para tanto as suas iniciais, mantendo o devido sigilo.

Importante registrar: o estudo dos jovens teve seu ponto de partida não somente nos relatos de vida da pessoa, mas na situação social e no grupo do qual fazem parte.

Conforme Khoury (2001, p. 84)17, se cada narrador organiza os materiais da história de maneira única, valendo-se de instrumentos socialmente criados e compartilhados e se as narrativas ocorrem em um meio social dinâmico, é necessária cautela para não situá-las fora do indivíduo. Isto supõe, portanto, lidar de maneira cuidadosa com a subjetividade de cada pessoa que narra e não trabalhar com subjetividade e objetividade como elementos estanques e dicotômicos; atentar para as dimensões imaginárias e simbólicas presentes em cada narrativa como realidades históricas, procurando avançar na decodificação de significados profundos das relações sociais

17 KHOURY, Yara Aun. Narrativas orais na investigação da história social. Revista Projeto História.

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vividas por estas pessoas; além disso, atentar para os modos como dimensões presentes, passadas e futuras se cruzam e se relacionam nos enredos, refletindo sobre os trabalhos da fala, da memória e da consciência na construção destes enredos e na constituição dos sujeitos sociais caracterizados a seguir:

a) L. A. S. nascido em São Paulo, com 18 anos de idade, morador no Bairro de São Mateus, em São Paulo.

b) R. S. M. nascido em São Paulo, com 16 anos de idade, morador no Bairro de São Mateus, em São Paulo.

c) T. J. S. C. nascido em Santo André, com 18 anos de idade, morador no Bairro de São Mateus, em São Paulo.

d) R. F. N. nascido em Suzano, com 17 anos de idade, também morador no Bairro de São Mateus, em São Paulo e, por fim,

e) L. S. nascido em São Paulo, com 20 anos de idade e morador do Distrito de Iguatemi, em São Mateus – São Paulo.

Quanto ao suporte para a pesquisa

18

Para a processualidade investigativa, recorri à metodologia da História Oral, onde os relatos orais se constituem em referência maior para o desenvolvimento do trabalho investigativo, ou seja, as narrativas, o conteúdo dos relatos, enquanto fonte principal de coleta de informações e/ou dados que, por sua vez, revelam práticas sociais e as experiências de sujeitos através de suas narrativas gravadas, transcritas e analisadas com a finalidade de responder às questões previamente formuladas no estudo e dar origem à produção do enredo.

18 Os procedimentos metodológicos foram elaborados através das seguintes referências:

KOSMINSKY, Ethel. Pesquisas qualitativas – a utilização da técnica de história de vida e de depoimentos pessoais em Sociologia. Revista Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, dez. 1985. n. 19. p. 45-57

LANG, Alice Beatriz da Silva Gordo et al. História oral e pesquisa sociológica: a experiência do CERU. São Paulo: Humanitas, 1998.

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Pensas em palavras, para ti a linguagem é um fio inesgotável que teces como se a vida se fizesse ao contá-la. Eu penso em imagens congeladas numa fotografia. No entanto, esta não está impressa numa placa, parece desenhada a pena, é uma recordação, minuciosa e perfeita, de volumes suaves e cores quentes, renascentista, como uma intenção captada sobre um papel granulado ou uma tela. É um momento profético, é toda a nossa existência, tudo o que foi vivido e está por viver, todas as épocas simultâneas, sem princípio nem fim. (ISABEL ALLENDE, 1991)19

O uso da História Oral fez-se em uma perspectiva sociológica20, destacando a

técnica do relato de vida na busca e apreensão do objeto de estudo – conhecer o significado atribuído pelos jovens, com idade entre 16 e 20 anos, que já cumpriram a medida socioeducativa de internação nas Unidades da CASA e, atualmente, cumprem a medida socioeducativa de liberdade assistida, a fim de conhecer a condição de vida destes jovens que optaram e/ou foram conduzidos à vida do crime em virtude de inúmeras determinações.

Destarte, o relato de vida se constitui no relato oral dos jovens sobre sua existência através do tempo, mediado pela memória – as recordações de sua trajetória existencial.

Apesar do uso de um roteiro pré-elaborado sobre determinadas temáticas, a serem contempladas no decorrer da entrevista, foi respeitada a liberdade do sujeito pesquisado, para que ele contasse sobre sua própria vida, ao acaso das lembranças, sem procurar retê-lo ou dirigi-lo, pois segundo Rojas (1993, p. 93)21, é “[...] importante

estabelecer que a narrativa é um momento da coleta de dados, é um momento específico

19 ALLENDE, Isabel. Contos de Eva Luna. Rio de Janeiro, Bertrand, 1991.

20 As pesquisas com orientação sociológica estão voltadas para a práxis, para o conhecimento da sociedade,

a fim de fornecer dados e apreender relações que possam fundamentar uma ação. O objetivo da pesquisa sociológica tem na análise e interpretação dos dados um elemento fundamental. Não se trata de coletar o dado, construir um documento e arquivá-lo para preservar a memória de um tempo, mas, sim, por meio da análise e interpretação, oferecer subsídios para uma ação racional e coerente.

Através da História Oral, a Sociologia não se propõe a chegar ao conhecimento pleno e insofismável da realidade, mas conhecer versões referidas a indivíduos sociologicamente qualificados e inseridos em uma dada conjuntura que deve ser considerada. Isto não significa que não deve haver diálogo entre a História e a Sociologia no tocante às questões teóricas e aos temas-objeto com os quais as duas têm trabalhado nos últimos anos e contribuído para a ampliação do conhecimento científico sobre as vivências do homem em sociedade, pois as contribuições das referências teóricas e as diversificadas práticas de pesquisa que têm sido utilizadas em cada área das pesquisas participam da reconstrução histórico-sociológicas (KOSMINSKY, 1985; LANG et al., 1998).

21 ROJAS, Juana E. A. O indizível e o dizível na história oral. In: MARTINELLI, Maria Lúcia. (Org.).

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da pesquisa e não a pesquisa na totalidade”.

O primeiro passo para a coleta do relato de vida consistiu em realizar uma ficha do sujeito pesquisado com seus dados pessoais: idade, sexo, estado civil, cor, nacionalidade, naturalidade, religião, ocupação atual ou já exercida e outras informações que se fizessem necessárias. Outro suporte de fundamental importância foi a leitura atenta e cuidadosa dos prontuários, de modo a colher dados significativos da vida pregressa institucional e delituosa.

Em seguida, os relatos foram colhidos através de entrevistas gravadas com a máxima fidelidade, a fim de conservar as expressões dos jovens e sua maneira de encadear os fatos e propiciar-lhes um ambiente de liberdade para narrarem. A liberdade de expressar-se revela muito mais a realidade, mesmo que sob aparente desordem, do que entrevistas muito dirigidas ou questionários.

As intervenções foram feitas somente quando necessárias, como, por exemplo, para pedir maior precisão sobre um dado ou outro, muito embora apresentem o caráter de não-diretividade. Pelo emprego da técnica de modo livre, o problema e objetivos da pesquisa nortearam os trabalhos, bem como o uso de um roteiro pré-elaborado sobre determinadas temáticas, no entanto, outras surgiram no decorrer da entrevista.

Foi construído, ainda, no processo da coleta, um diário de pesquisa e/ou caderno de campo, com anotações feitas sobre as tarefas empíricas, registro das condições em que foram feitas as entrevistas – onde, quando, quem, o quê – isto porque todo estímulo físico, psicológico e social poderia alterar o encaminhamento proposto para o relato.

A análise das temáticas presentes e dos conteúdos apreendidos através das narrativas acompanhou todo o processo, desde a transcrição até a interpretação final.

Primeiramente, foi realizada a recuperação das entrevistas através da digitação das narrativas gravadas, de forma a retomar o contato com os dados em maior profundidade e realizar a identificação preliminar dos temas. Em seguida, foi realizada a análise das entrevistas de forma individualizada, entrevista por entrevista, para reconfirmação dos temas e encaminhamento da síntese.

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grupos sociais, compará-los, detectar semelhanças e diferenças.

Sobre a análise das narrativas

Com o apoio das teorias dos autores que discutem a questão da juventude e adolescência, as narrativas foram construídas como texto e enredo, de forma a revelar a multiplicidade dos sujeitos e suas temporalidades, como estes lidam com as situações, a partir das interpretações dadas à dinâmica social – local em que estão inseridos – e expressar uma conscientização – de si e do contexto em que se situam. Tal enredo se apresenta como uma “[...] narrativa oral, como um gênero específico de discurso, impregnado de interrupções, digressões, repetições, correções, constituindo-se mais como um processo ‘do que’ como um texto acabado, colocando em evidência o movimento da palavra, da memória e da consciência, demandando um tratamento específico, que também pode ser bem proveitoso no sentido de ampliar e modificar a noção de fato histórico”, de acordo com Khoury (2001, p. 85).

Esses percursos vicinais de coleta de dados levaram ao caminho central do estudo: compreender como, mesmo metamorfoseados pela vida e na vida, esses jovens assimilam o que foram, o que são e o que virão a ser. Esta construção de identidade, segundo Ciampa (2001)22, pressupõe que “não somos”, mas “estamos sendo” enquanto seres sociais e políticos, que trazem a semente desta metamorfose, razão pela qual são seres históricos, mutáveis e mutantes. Assim, o resgate da própria narrativa pessoal destes jovens possibilitou a expressão da linguagem interiorizada e trouxe do âmbito privado para o público as recordações de um passado que delineiam um presente e os projetos que norteiam uma perspectiva de futuro. A partir deste enfoque, a proposta firmou-se em compreender o jovem ex-interno da Fundação CASA como expressão e síntese de sua singularidade pessoal e expressão e síntese de uma sociedade que o gera23.

22 CIAMPA, Antônio da Costa. Identidade. In: LANE, Silvia T.M.; CODO, Vanderley. (Orgs.).

Psicologia social: O homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 2001.

23 Segundo Ciampa (2001, p. 70 e 128), “só comparecemos ao mundo como movimento, como

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Sobre a divisão dos capítulos

O primeiro capítulo – “Juventude... Juventudes” – contextualiza o conceito de juventude através do percurso histórico dos sujeitos nesta fase da vida humana, desde a antiguidade até a contemporaneidade, buscando conhecê-lo no movimento da história, cujas aproximações conceituais e análises estão ancoradas em autores dedicados à temática. Por tratar-se de jovens em conflito com a lei devido ao cometimento de ato infracional, foi estabelecido um breve diálogo entre o antigo e novo paradigma legal, a fim de apresentar as diferenças entre ambos no âmbito da política de atendimento a este segmento juvenil. Ainda, neste capítulo, é discutida a questão da violência urbana que abate, sobremaneira, os jovens e, especialmente, aqueles dos segmentos empobrecidos.

O segundo capítulo – “Nas Tramas da Periferia: Os Jovens e suas Trajetórias de Vida” – relata e revela as trajetórias de vida dos jovens pesquisados, apresenta o Município de São Paulo, o Bairro de São Mateus, onde residem, e a instituição – Associação Comunitária Beneficente “Padre José Augusto Machado Moreira” – na qual são atendidos na medida socioeducativa de liberdade assistida.

O terceiro capítulo – “Jovem: Relações Familiares, Escola, Trabalho e as Projeções para o Futuro” – discorre sobre o jovem e suas relações familiares, com ênfase nas questões relacionadas à escola, educação e trabalho. A abordagem considera que estes jovens são provenientes de famílias empobrecidas, onde a situação de desemprego incide de forma particular, aliada à falta de experiência, ao estigma de ser pobre e morador da periferia, a pouca escolaridade e qualificação enquanto atributos que levam estes jovens a não participarem dos setores produtivos, a permanecer na mais alta ociosidade e a vivenciar formas frágeis do mercado de trabalho e outros bens de consumo, impossibilitando-os de realizar melhores projeções para o futuro.

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CAPÍTULO 1

JUVENTUDE... JUVENTUDES

Educar o ser humano é proporcionar-lhe perspectivas para a felicidade do amanhã. (Capriles24)

Fiquei um ano preso, o sofrimento é muito grande e tenho uma frase que carrego comigo que sempre eu tô carregando ela comigo do Carlos Drumond de Andrade: “A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Se a felicidade é passageira, o sofrimento jamais será eterno”. (T.J.S.C.)

[...] os momentos de felicidade foram esses. Dias de domingo... Dias de domingo. (L.S.)

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CAPÍTULO 1

JUVENTUDE... JUVENTUDES

Falta muita oportunidade pra o jovem. O jovem tem vontade, tem disposição, só que tem que tá instruindo o jovem da melhor forma. Tá instruindo ele pra ser alguém no dia de amanhã. (L.S.)

Ao pretender desenvolver um trabalho de pesquisa com jovens, torna-se necessário sublinhar que não se ambiciona reproduzir modelos de jovens, arraigados e socialmente construídos, para não se correr o risco de conhecê-los e analisá-los de forma negativa, enfatizando as características que lhes faltariam para corresponder a um determinado modelo de ser jovem, ou mesmo, projetar nas novas gerações as lembranças, idealizações e valores da juventude de uma outra época.

A epígrafe que abre o capítulo, retirada da narrativa do jovem L.S. se traduz e denuncia o paradoxo vivenciado pelos jovens no Brasil. Com isso, o que realmente se almeja é apreender os modos de vida e os significados atribuídos pelos jovens, principalmente, os oriundos das camadas populares, na construção de sua experiência nos contextos de vida que são peculiares em suas trajetórias.

Faz-se necessário, portanto, atentar para a questão da subjetividade de cada pessoa que narra, e não trabalhar, como destacado anteriormente, com a subjetividade e objetividade como elementos estanques e dicotômicos, mas lidar, tanto quanto possível, com as dimensões imaginárias e simbólicas presentes em cada narrativa como realidades históricas, de modo a decodificar os significados mais profundos das relações sociais vividas por essas pessoas – de como as dimensões passado, presente e futuro se cruzam e se relacionam nos enredos narrados –, para refletir sobre os trabalhos da fala, da memória e da consciência na construção dos enredos e na constituição dos sujeitos sociais (KHOURY, 2001).

Mas o que é ser jovem?

Imagem

Tabela 1 - Distribuição da população urbana e rural de São Mateus por Distrito - 2000
Tabela 2 – Projeção demográfica de jovens no ano de 2049.
Tabela 3 – Ordenamento das Unidades Federadas ( UF)  segundo a taxa de homicídios na  população jovem
Tabela 4 – Taxas de homicídio ( em 100.000)  por idades e faixas etárias.
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Referências

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