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JUVENTUDE JUVENTUDES

1.3 Adolescência e o Ato Infracional

Pra mim era o máximo pôr pânico nos outros, deixar os outros em estado de choque. Me sentia o dono do mundo né, até que voltei pra FEBEM e fizeram a seguinte pergunta: o que é que pesa mais, é um revolver ou uma caneta? Sem nenhuma sombra de dúvida é a caneta né? Mas o meu maior barato senhora era fazer assalto, assalto, o meu barato era a sensação, a emoção a adrenalina, era um moleque bagunceiro, meu negócio era sentir adrenalina, uma emoção, ver o coração pulsando mais forte. (L.S.)

A concepção de adolescência aqui será compreendida como uma construção sócio-histórica que tem conotações culturais, conforme enunciado por Aguiar, Bock e Ozella (2001)67:

[...] sem essas condições sociais a adolescência não existiria ou não seria esta da qual estamos falando. Não estamos nos referindo, portanto, a condições sociais que facilitam, contribuem ou dificultam o desenvolvimento de determinadas características dos jovens; estamos falando de condições sociais que constroem uma determinada adolescência. (AGUIAR; BOCK; OZELLA, 2001, p. 169)

Mesmo em um conjunto de jovens, pertencentes a grupos socioculturais

67 AGUIAR, Wanda Maria Junqueira; BOCK, Ana Mercês Bahia; OZELLA, Sérgio. A orientação profissional com adolescentes: um exemplo de prática na abordagem sócio-histórica. In: BOCK, Ana Mercês Bahia; GONÇALVES, Maria da Graça M.; FURTADO, Odair. (Orgs.). Psicologia Sócio- histórica (uma perspectiva crítica em psicologia). São Paulo: Cortez, 2001.

diferentes, não conseguimos distinguir um jovem único, mas jovens “no plural” – “juventude... juventudes”, conforme vários autores, considerando que o ser humano é genérico, particular e individual.

O que chama à atenção sobre a categoria adolescência é o sentido de que alguns estudiosos desta fase da vida humana, como referido anteriormente, situam-na como um trânsito da infância para a vida adulta, no qual o jovem vive não apenas um processo de mudanças biológicas, psicológicas, sociais e culturais sempre caracterizadas por conflitos e dificuldades, mas, segundo Calligaris (2000, p.18)68, “[...] o adolescente vive um paradoxo: ele é frustrado pela moratória imposta e, ao mesmo tempo, a idealização social da adolescência lhe ordena que seja feliz. Se a adolescência é um ideal para todos, ele só pode ter a delicadeza de ser feliz ou, no mínimo, fazer barulhentamente de conta”. Com isso, parece temeroso identificar a adolescência apenas por traços que, em última instância, podem dirigir-se a toda a espécie humana: urbana, moderna, marcada por permanentes conflitos e transformações no decorrer de sua existência.

Ao abstraírem-se as diferenças individuais que, evidentemente, compõem cada ser humano, mesmo assim, entre os adolescentes/jovens há visões de mundo distintas, valores morais não coincidentes, formas diversas de sentir e buscar novas experiências.

Portanto, diferentes juventudes se configuram a partir de diferentes relações que os sujeitos desse ciclo de vida estabelecem com a família, com o mundo, com a escola, com o mundo do trabalho, com a cultura, esporte e lazer, com o próprio corpo, dentre tantas outras esferas da vida.

Aguiar, Bock e Ozella (2001, p.171) trazem a seguinte reflexão:

É preciso superar as visões naturalizantes e entender a adolescência como construída socialmente a partir de necessidades sociais e econômicas dos grupos sociais e olhar e compreender suas características como características que vão se constituindo no processo. Cada jovem se constituirá em relações que dão por suposto essa passagem e esperam encontrar no jovem aquelas características. Os modelos estarão sendo transmitidos nas relações sociais, através dos meios de comunicação, na literatura [...] somos também construtores privilegiados dos modelos de adolescência, pois nossas teorias vão definindo e divulgando como é “ser jovem”. (AGUIAR; BOCK; OZELLA, 2001, p.171)

No decurso do desenvolvimento humano, a adolescência representa um período da vida humana marcado por um status ambíguo entre a infância e a idade adulta,

na qual o jovem vive não apenas um processo de mudanças biológicas determinadas pelas modificações corporais da puberdade, mas também psicológicas, sociais e culturais. Este é um período crucial no desenvolvimento do ser humano, em que o adolescente se procura, e se experimenta, se confunde e, algumas vezes, se perde. É também uma condição de relatividade de direitos, de deveres, de responsabilidades e de independência sem que estes estejam “[...] explicitamente definidos nem institucionalizados, imprimindo-se à condição juvenil uma imensa ambigüidade”, conforme Abramo (1994, p.11).

Para complementar a reflexão, Aguiar, Bock e Ozella (2001) apresentam uma avaliação destacando as características encontradas nos jovens que pertencem à classe média e aqueles das camadas populares:

Uma característica do adolescente, em nossa sociedade bastante freqüente e observada por nós [principalmente nos jovens da classe média], é a tentativa de afirmar uma grande autonomia nas suas decisões. Ele acredita que escolhe sozinho e que nada interfere nas suas escolhas a não ser a sua vontade. [...] No que diz respeito ao jovem de camadas populares, o que temos observado é a expressão de uma grande impotência, é a percepção das condições sociais como absolutamente impeditivas de qualquer movimento de escolha. Assim, o que verificamos é outro tipo de problema: temos o jovem que não se vê com possibilidade de escolher, que não se vê como sujeito, e sim como subjugado. (AGUIAR; BOCK; OZELLA, 2001, p.171)

A exemplo, dois dos jovens entrevistados relatam a difícil condição socioeconômica na qual a família vive:

Tem família que não tem nem o que comer dentro de casa mano! Os meninos vão crescendo, isso é, quando cresce. Fica revoltado. Se tivesse uma pessoa que desse tudo pra ele, até ele crescer, vai fazer a escola dele, vai fazer uma faculdade, não vai virar ladrão. É ladrão se não tiver uma boa educação dos pais, tipo, o pai ter uma visão boa, um emprego bom pra manter a família. Se não tem senhora, o cara vira ladrão. Não agüenta, não agüenta ver a família passando necessidade! Os moleques ai que não tem pai e mãe é tudo revoltado. Cola ai embaixo da ponte entendeu? (R.F.N.)

Pais de família que tá tentando sustentar os filhos não tem condição, tá tentando fazer alguma coisa que acha que é certo e é isso que tá acontecendo felizmente. (T.J.S.C.)

Esse é um processo difícil, pois se o jovem se torna adulto biologicamente, ele ainda continua dependente nas suas escolhas e ainda lhe é cobrado o cumprimento de responsabilidades adultas, muitas vezes, queimando etapas dessa fase tão complexa da vida, visto que a aquisição da sua identidade, o conhecimento de si próprio e das outras pessoas vai se dar ao longo de toda a vida.

Ao conviver com os jovens nos deparamos com uma multiplicidade de identificações contemporâneas e contraditórias: o jovem se apresenta como uma combinação instável de aparências e identidades, que convivem como expressões de sua personalidade em formação, inclusive na sua dimensão corporal.

Segundo Calligaris (2000, p. 8), “nossos adolescentes amam, estudam, brigam, trabalham. Batalham com seus corpos, que se esticam, e se transformam. Lidam com as dificuldades de crescer no quadro complicado da família moderna. Como se diz hoje, eles se procuram e eventualmente se acham”.

Todos os jovens, de igual forma, possuem desejos. Para os jovens das camadas populares o ato de desejar não é diferente daqueles que pertencem às classes sociais de nível socioeconômico elevado. De igual forma, todos os jovens vivem numa sociedade cujos meios “midiáticos” os direcionam para a aquisição de produtos destinados a atender este segmento. Assim, como aqueles das classes sociais mais abastadas, os jovens das camadas populares também desejam as roupas de marca, aparelhos eletrônicos e a liberdade sobre rodas de um carro ou uma moto e, nem sempre, medem esforços em adquiri-los.

[...] eu vou sempre lá pro centro de São Paulo com meus amigos, vou lá comprar umas roupas, já vejo uns relógios que também gosto, uns anéis. Vou sempre lá pra ver também se eu arrumo um serviço pra lá bom também, pra sair... Oh! Meu! O trabalho que eu estava não era muito bom não, mas dava pra tirar um dinheirinho né? Num mês dava pra comprar uma roupa nova pra ir zuar (se divertir) com a turma, agora tô zerado, vivendo de merreca (pouco dinheiro), esmola. Isso não é pra mim não mano! [...] Ah! Ganhei muitas coisas, falar a verdade pra senhora, eu ganhei carro, moto, dinheiro, tinha bastante dinheiro mesmo... Mas não soube dar valor e gastava tudo em balada, o dinheiro que eu ganhava gastava tudo em balada, entrava droga, entrava tudo, não queria saber de nada, só usando droga, bebendo, era desse jeito. Saí da casa da minha mãe e aluguei uma casa aí virei independente fazia meus... (L.A.S.) – (grifo nosso)

A inconseqüência e a impulsividade próprias dessa fase não lhes permitem refletir sobre as dimensões e os desdobramentos que a prática do ato infracional pode significar em suas vidas, apenas para satisfazer momentaneamente certos prazeres, ou para se afirmarem perante o grupo a que pertencem.

[...] eu traficava e roubava todo dia, todo dia de manhã eu saia ai já roubava e já vinha com o dinheiro, não ia mais, quando não tinha dinheiro eu voltava de novo até conseguir sozinho, se alguém quisesse ir ia com as suas próprias pernas eu não chamava ninguém. (L.A.S)

Quando você rouba alguma coisa, aí então, muitas pessoas tão ali te vendo, tá falando: não vejo a hora de ele morrer e tal. (R.F.N.)

Eu comecei roubando com uns 12 anos, anos com uns moleques que ficavam comigo lá. Ai eu comecei a andar com as más companhias. Eles me davam tudo. Nunca precisei dessa vida, era tudo de bom pra mim né. Eles são importantes pra mim, eles dão conselhos, se não fosse eles não tava aqui hoje mano. Aí segui o caminho ruim. Pedia uma bicicleta eles davam, é tudo isso mano. Agora é que fui pensar. A gente não pensa antes de agir. Agora penso em dar um tempo ( parar, recuar – refere-se à família), e já era! (R. S. M.) – (grifo nosso)

E como tinha também uma bicicleta da minha mãe, vixi, aquilo ali também foi o início de tudo. Comecei a fazer trilha com os moleques lá da vila, comecei também a bagunçar, sempre gostei de adrenalina. Depois que a bicicleta quebrou, ai já arrumava... Tinha uns moleques que já estavam pegando umas bicicletas dos outros meninos, ou seja, roubando já. Minha bicicleta quebrou um dia. Eu pedi dinheiro pra minha mãe, minha mãe falou que não tinha. Nós fomos lá e pegamos uma bicicleta e aquilo ali foi o bastante.[...] Foi muita adrenalina que senti, e dali dei continuidade, eu gostava de sentir bastante adrenalina, prazer, ter dinheiro, e às vezes eu roubava tendo dinheiro no bolso, e o roubo ele trouxe isso, muita adrenalina, ai eu dei continuidade. (L. S.)

Quando eu cometia ato infracional na hora de dormir eu ficava meio (risos). Vinha na minha cabeça, caramba (tom de voz baixa), o que é que eu fui fazer né? Mais depois o tempo passava. Você acostumava, naquela hora não vem nem muita coisa na cabeça, não vem muita coisa não, você só pensa em pegar o dinheiro, depende da pessoa que vai né, eu mesmo quando ia eu falava: não vou te machucar, não vou fazer nada com você só quero seu pertence e pronto. Já peguei veículo, já peguei casa também... (T.J.S.C.) – (grifo nosso)

Lane (2001) refere:

À primeira vista a mercadoria nos parece como um “objeto” externo, uma coisa que, por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a natureza, a origem delas, provenha do estômago ou da fantasia. A mercadoria é por nós representada como um objeto útil, que atende as nossas necessidades, quer materiais quer espirituais. (LANE, 2001, p. 23-24)

Um dos relatos confirma e ilustra tal situação de apropriação e prazer:

Pra mim era o máximo pôr pânico nos outros, deixar os outros em estado de choque. Me sentia o dono do mundo né, até que voltei pra FEBEM e fizeram a seguinte pergunta: o que é que pesa mais, é um revolver ou uma caneta? Sem nenhuma sombra de dúvida é a caneta né? Mas o meu maior barato senhora era fazer assalto, assalto, o meu barato era a sensação, a emoção a adrenalina, era um moleque bagunceiro, meu negócio era sentir adrenalina, uma emoção, ver o coração pulsando mais forte (Momento de satisfação, olhos brilhando, parecia estar vivendo as aventuras daqueles momentos). [...] Quando a gente vai roubar é que nem eu falei, a gente vai com medo também, porque a gente nunca sabe o que nos espera. Uma vez eu fui roubar também ai o segurança puxou um revolver também, tinha que ser ele ou eu, ai eu atirei nele, eu e meus amigos. Ele ficou lá no chão se batendo, eu não sei se ele morreu, eu não sei, acredito que ele morreu sim porque tomou bastante tiro. [...] Na hora que você tá ali roubando sem sombra de dúvida, você tá assustado, e a

vítima também, seu coração tá pulsando mais forte, eu gostava disso ai. O coração precisa ser mais forte, e o roubo me trazia essa sensação, deixava a minha adrenalina lá em cima... [...] Eu sempre tive... a gente nunca sabe, o que vai encontrar pela frente né? Mas a gente quando tá armado assim junto com os moleques, a gente não pode demonstrar medo. Medo cada um de nós tinha, a gente não podia demonstrar porque a gente roubava posto de gasolina, roubava carro, fazia saidinha de banco, tudo isso ai a gente roubava todo dia. (L.S.) – (grifo nosso)

Ao mesmo tempo em que o sujeito da pesquisa narra as suas aventuras delituosas, demonstrando certa satisfação ao vivenciar tais aventuras, por outro lado, transparece um sentimento que pode ser ilustrado da seguinte forma:

[...] mais a gente sabe que o que a gente tá fazendo a partir do momento que a gente tá machucando o próximo, a gente sabe, por mais que a gente não queira ver, mais a gente sabe que tava fazendo aquilo ali, eu sei muito bem o que eu fiz, eu me arrependo também, mas eu tinha que fazer isso senão era eu, era eu no lugar dele (fala constrangida, aparentando remorso). [...] Aquilo de inicio pra você é a solução dos teus problemas né? Mas quando você vai se aprofundando... [...] Quando você vai vendo realmente como é que funciona, você vai vendo que não é a solução dos teus problemas não. Mas sim, é a maldade da pessoa, é tudo ruim, é tudo de ruim. Tem muitas que pensa diferente.... [...] o crime não compensa, eu vou ser bem sincero, vai ter que realmente tá capacitado que eu convivi com os moleques lá dentro né, não quero engrandecer ninguém mas os moleques é terrível Hem! É terrível mesmo entendeu? Mas cada um tem a sua vida sabe o que é melhor pra si né? (L.S.) – (grifo nosso)

A compreensão da infração juvenil pressupõe igualmente a compreensão de que o desenvolvimento do adolescente que infracionou não ocorre isolado, mas integrado, pois ele vivencia ativamente as ações sociais, políticas e econômicas de sua conjuntura social, notadamente aqueles aspectos mais relacionados ao seu segmento de classe.

Mais de um lado foi até bom, pra mim saber como é a vida. Agora por outro lado não. [...] Agora foi bom porque eu aprendi uma pá de coisa, aprendi que o crime não leva a nada. O que conta agora é trabaiar, fazer um curso. (R.S.M.)

O envolvimento infracional surge como possibilidade de reconhecimento e “empoderamento” entre o grupo de amigos, e nas relações sociais que estabelecem, como demonstram as seguintes falas69:

69 O conceito de empoderamento inclui participação, direitos, responsabilidade, capacidades de realização e integração social. Empoderar sugere conferir poder aos jovens como indivíduos ou membros de organizações juvenis, comunidades e corpos nacionais e internacionais. Então, isso está diretamente relacionado com a oportunidade de tomar decisões que afetam as suas vidas, bem como

Foi a adrenalina, emoção, sensação de poder que eu gostava muito também, gostava de dar ordem e alguém acatar, foi mais isso, não foi relacionado a droga. [...] A gente não quer tudo isso de novo, passar por tudo isso, mas quando dá aqueles cinco minutos em nós, que a gente fica nervoso... Que a gente quer sentir adrenalina. Quer sentir adrenalina? É como agora eu penso: vai pular de bang jump mano, sentir adrenalina mano, vai no Play Center, vai no Hopi Hari. Tem tanta coisa pra sentir adrenalina. Quer sensação de poder? Vai jogar um vídeo game (muitos, muitos risos). Vai jogar um vídeo

game, vai fuçar na internete vai... vixi, tem tantas formas de sentir

adrenalina, de ter a sensação de poder, basta dar uma parada e dar uma refletida e ver qual é a forma mais correta que não vai prejudicar ninguém. (L.S.) – (grifo nosso)

[...] Ai fui roubar. Roubar dar poder, dinheiro dá poder, ajuda um pouco, que elas... (referindo-se às mulheres). Te tratam diferente, isso ai é o meu ponto de vista. (T.J.C.S.) – (grifo nosso)

Por outro lado, envolver-se em atos de natureza delituosa significa também o estabelecimento de algumas alianças, um código de fidelidade entre parceiros, e quando estes contratos ameaçam rompimentos, ou são rompidos, os sujeitos podem sofrer punições, muitas vezes, perdendo a própria vida, como bem ilustra uma das narrativas.

Eu também pensava em parar depois que eu fui preso a primeira vez que eu fiquei um tempo. Falei quando eu sair... eu tava meio assustado, não vou roubar mais não, eu vou ficar sossegado, ai encontrei meus amigos de novo, eles me chamou, falei que não ai fui... e eles né... A FEBEM deixou você mole? Não é mais o Manchinha (apelido) de sempre? Aquilo ali foi mexendo com o meu psicológico que eu não era assim e tal, que eu não era o cara do pano, a pampa, ai voltei.... Fazer o que né, muitas das vezes também foi os amigos... Influenciava...[...] O crime já não crê dessa forma. Errou: vai pagar com a vida, é assim que funciona. Agora aqui fora não! Aqui fora pra aqueles que você errou você vai sofrer as conseqüências de acordo com o seu erro. Você não vai pagar com a vida, agora pra quem permanece no crime, pra quem vixi, tá no crime, é que nem eu falei: o crime não admite falha. Errou: independente de qual seja o erro, maior ou menor errou, vai ser corrigido, vai ser corrigido nas atitudes, vai ser a vida, perde a vida, já vi vários. (L.S.) – (grifo nosso)

Concorre para isso, conforme assinala Abramo (1994, p.11), “[...] o padrão veiculado pela mídia que impõe não só um modelo estético e sinalizador de um status social almejado, mas também um modelo de cidadania: quem não ostenta é imediatamente jogado para o campo dos desqualificados para o convívio social, sob a suspeita de marginalidade e delinqüência”.

instá-los a tomar decisões contrárias aos seus interesses e desejos imediatos (ONU, ASSEMBLÉIA GERAL apud IUANELLI, 2003, p. 62).

IULIANELLI, Jorge Atílio Silva. Juventude: construindo processos. O protagonismo juvenil. In: FRAGA, Paulo César Pontes;

Se você não tem... Se você não nada, se você não tem algo a oferecer, se você não tem bem material, muitas meninas, muitas namoradas, nem olham para você, são poucas que tem um sentimento sincero. (T.J.C.S.)

Os padrões e os modelos que são ditados pela sociedade redundam sempre em prejuízo marcante para os jovens de famílias de baixa renda – ou aqueles que não têm família –, os quais não encontram na sociedade oportunidades efetivas de desenvolvimento integral, nem o apoio necessário ao seu processo vital, não apenas no sentido da sua sobrevivência, mas de sua existência como pessoa com direitos a uma cidadania em construção, pois são jovens para os quais os direitos de cidadania são afirmados e, na prática, negados, não lhes sendo asseguradas as garantias e as condições objetivas do seu integral exercício.

A narrativa de um dos sujeitos da pesquisa ilustra a situação da negação de direitos ou de desejo, quando expressa a sua vontade de ingressar numa Faculdade de Medicina, reconhecendo ao mesmo tempo a sua real situação ao discorrer:

Eu tenho vontade tipo assim, de fazer uma Faculdade, partir pra ser um médico, porque eu acho que tipo médico, tem a maior mente não é senhora? Mas qualquer Faculdade se viesse eu fazia um trampo. (R.F.N.)

Constata-se que os jovens têm uma representação de si e da sociedade baseada em uma visão particularizada de suas experiências e de acordo com sua história de vida. A vivência da adolescência/juventude para uma pessoa da classe média-alta é diferente daquela de uma pessoa pobre, se considerados os fatores externos, que facilitam, à primeira vista, acesso à educação, à cultura dominante, aos meios de saúde, etc. Neste sentido, parece haver uma lógica excludente das camadas inferiores da ordem econômica, política e cultural vigente, em todos os níveis.

Não queria saber de sociedade. Mais agora... Agora eu tô vendo com outros olhos, que eles podem me ajudar e posso ajudar eles também, as outras pessoas. (L.A.S)

Pensar sobre a adolescência/juventude na contemporaneidade, aproxima-nos muito mais de um cenário de lutas para garantir direitos, do que do gozo das conquistas legais, fazendo-nos interligar estes fatos aos processos de afirmação e de reconhecimento de outras minorias de excluídos.