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OS JOVENS E SUAS TRAJETÓRIAS DE VIDA

2.2 O Bairro de São Mateus – Ambiência da Pesquisa

São Mateus é um distrito localizado no extremo Leste da Cidade de São Paulo, a aproximadamente 18 km do centro (Figura 4, a seguir) e que, de acordo com os dados do Censo de 2000, possui uma população de 381.605 habitantes, que equivale a 3,6% da população total do Município de São Paulo. Em comparação com os dados dos Censos anteriores (1980 e 1991), e da Contagem Populacional de 1996, ambos do IBGE, a população apresentou significativas mudanças.

É importante destacar que contextualizar tal território justifica-se pela inserção de moradia, das vivências dos jovens, autores de atos infracionais, que já cumpriram a medida da privação de liberdade e, atualmente, cumprem a medida socioeducativa da liberdade assistida, atores do presente processo investigativo, residirem no Bairro de São Mateus e respectivos Distritos.

Como parte da contextualização, as narrativas de dois sujeitos da pesquisa ilustram alguns aspectos do bairro onde vivem com seus familiares:

[...] lá no meu bairro tem também o SESC Itaquera que é do lado da minha casa, aquele... Aquele salão que chamam de Casebre, Armação Tantan, Expresso Brasil, tem muitas coisas, quermesse... (L.A.S.)

[...] é uma família tranqüila, tranqüila, né? Vivida na periferia. É como se tivesse morando num bairro de gente rica, você é respeitado, muita gente critica ai pra fora. O importante é ter união entre... Entendeu o lugar que eu moro? Tudo união, não vai ter desavença com ninguém. (R.F.N.)

Fonte: DIVISÃO POLÍTICA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Subdivis%C3%B5es_da_cidade_de_S%C3%A3o_Paulo#Regi.3.A3o_Noroeste>. Acesso em: 10 jul. 2007.

Figura 4 – Divisão política do Município de São Paulo.

Em sua evolução, o Bairro de São Mateus, através da comparação entre as décadas anteriores, aponta que em 1980 a população desta região atingia pouco mais de 220.000 habitantes e, em 1991, cerca de 300.000, conforme apresentado na Tabela 7.

Tabela 7 – População do Município de São Paulo e Região de São Mateus, percentual de distribuição por distritos – 1980 a 2000 e Projeção 2010.

População Município e Distritos

1980 1991 1996 2000 2010 Município de São Paulo 8.439.226 9.646.185 9.839.436 10.525.697 11.385.617

53,5% 50,1% 45,6% 40,6% 30,5% São Mateus 118.421 150.764 160.114 154.785 150.294 31,8% 29,9% 28,8% 32,7% 34,5% São Rafael 70.443 89.862 101.531 125.132 170.193 14,7% 20,0% 25,5% 26,6% 35,0% Iguatemi 32.595 59.820 89.835 101.688 173.082

Total Região São Mateus 221.459 300.446 351.480 381.605 493.569

Para 2010, segundo dados disponíveis da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA)108, a população de São Mateus deverá crescer em mais de 110.000 pessoas, chegando a aproximadamente 493.000 habitantes109. Todavia, vale

destacar, a população da região já é comparável a vários centros urbanos da Grande São Paulo, como os municípios de São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, entre outros.

Outro dado relevante, constante da Tabela 7, refere-se à distribuição desigual no espaço geográfico. Nota-se que a maior parte da população (40,6%) concentra-se no Distrito de São Mateus, seguida do Distrito de São Rafael, com 32,7%, e o Distrito Iguatemi, com 26, 6%.

Observa-se que no período em análise, 1980 a 2000, o Distrito de São Mateus apresentava, em termos relativos, diminuição constante na concentração populacional em oposição ao que ocorre com o Distrito Iguatemi, que apresenta elevação da concentração.

Assim, numa projeção para 2010, verifica-se a tendência a uma maior concentração da população no Distrito Iguatemi, embora com menor disparidade na distribuição entre os três distritos considerados, todos com pouco mais de 30% da população total da região.

Tais fenômenos ficam mais claros com os percentuais de crescimento populacional verificados na região de São Mateus nas duas últimas décadas, conforme demonstrado na Tabela 8.

Tabela 8 – Percentual de crescimento da população do município de São Paulo, São Mateus e distritos – 1980 a 2000.

Período Área

1980 – 1991 1991 – 2000

Município de São Paulo 14,3% 9,11%

Região de São Mateus 35,6% 27,0%

São Mateus 27,3% 2,7%

São Rafael 27,5% 39,2%

Iguatemi 83,5% 69,9%

Fonte: Adaptado de BRASIL. IBGE. Censo Demográfico 2000..., 2006b apud ESTATÍSTICA DA POPULAÇÃO..., 2007.

108 DADOS DA POPULAÇÃO DE SÃO MATEUS. Aspectos do quadro situacional da região de São Mateus. Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA). Disponível em: <http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/subprefeituras/spsm/dados/Dadosdemograficos.doc..>.

Acesso em: 04 jul. 2007.

109 O ritmo deste crescimento no caso dos distritos da região de São Mateus como um todo serão abordados alguns parágrafos adiante.

Evidenciam-se, pelos dados acima, as diferenças na evolução das taxas de crescimento da população em cada um dos três Distritos, como, por exemplo, o reduzido crescimento populacional do Distrito de São Mateus, de 2,7% verificado na última década, se comparado aos demais distritos, que pode ser explicado pelo fato de ser esta a área de ocupação mais antiga e com 100% de ocupação urbana, o que limita as possibilidades de novas ocupações.

Tal situação torna-se patente, se comparados os dados censitários de 1991 e 2000 em relação aos dados demográficos disponíveis de 1996. Neste ano, a população do Distrito de São Mateus era de aproximadamente 160.114 pessoas, significativamente superior a 154.851 pessoas, conforme o Censo de 2000. Ou seja, entre 1996 e 2000, a rigor, ocorreu um decréscimo no número de habitantes, diferentemente do que ocorre com o Distrito de São Rafael, cujo percentual de crescimento foi bastante superior (39,2%), e que apresenta ocupação populacional bastante significativa, da ordem de 125.132 moradores.

Cabe notar, essa ocupação em grande medida está associada ao prolongamento do tecido urbano do Distrito de São Mateus, especialmente em sua porção mais ao Sul, onde se encontram os Bairros de Vera Cruz e São Rafael. Tais bairros situam-se próximos à divisa com os Municípios de Mauá e Santo André. Ainda assim, percebe-se que tal percentual de crescimento é bastante superior ao crescimento médio da região de São Mateus, que entre 1991 e 2000 cresceu 27,3%. Em relação ao município de São Paulo, a discrepância neste período foi muito mais acentuada, haja vista que o crescimento da cidade foi de apenas 9,11%.

O Distrito Iguatemi, com população de 101.688 habitantes, surge como a área de ocupação mais recente e, ao mesmo tempo, com um enorme percentual de crescimento populacional, em torno de 69,9%, no período entre 1991 e 2000. Tal índice de crescimento, extremamente elevado, ainda assim é inferior ao observado na década anterior, de 83,5%. Desnecessário enfatizar que se trata de um ritmo de crescimento absolutamente desordenado e que cria, como é notório, sérias dificuldades na gestão de serviços por parte do Poder Público.

A ocupação do Distrito Iguatemi ocorreu a partir da continuidade da área urbanizada de São Mateus, estendendo-se até sua porção mais ao Leste e que deu origem ao Parque Boa Esperança e Jardim Helena entre diversos outros bairros, muitos deles constituídos nos anos de 1980 e 1990.

Outra variável relacionada à dinâmica da ocupação refere-se à densidade demográfica – quantidade de população por km² – verificada em cada um dos distritos da região de São Mateus, conforme Tabela 9.

Tabela 9 – Percentual de crescimento da população do Município de São Paulo, São Mateus e distritos – 1980 a 2000.

Distrito 1991 1996 2000

São Mateus 11.597 12.316 11.906

São Rafael 6.807 7.691 9.479

Iguatemi 3.052 4.583 5.188

Região São Mateus 7.152 8.196 8.857

Total 28.608 32.786 35.430

Fonte: Adaptado de BRASIL. IBGE. Censo Demográfico 2000..., 2006a apud ESTATÍSTICA DA POPULAÇÃO..., 2007.

Como decorrência do exposto acerca do intenso ritmo de crescimento populacional, é possível constatar aumento significativo da densidade demográfica nos Distritos de São Rafael e Iguatemi, em comparação com o Distrito de São Mateus, cujas causas do fenômeno já são relativamente conhecidas e, em grande medida, associadas à ocupação indiscriminada de áreas públicas e, por vezes, também particulares, sob a forma de loteamentos clandestinos e ocupação de áreas de risco, dada a falta de moradia digna.

As fotos apresentadas na Figura 5 ilustram algumas áreas do Distrito de São Mateus, que contribuem para a apreensão de suas peculiaridades.

Figura 5 – Distrito de São Mateus. LEGENDA:

Vista A – Morro do Cruzeiro e Conjunto Habitacional Pró-morar Rio Claro – área de reserva federal que deverá futuramente ser transformada em uma área turística.

Vista B – Campo de Futebol Rio Claro. Vista C – Praça Rio Claro.

Fotos de Ailton Camilo

A

B

Observa-se uma enorme densidade populacional no Distrito de São Mateus, em torno de 11.597 hab./km², em razão de ser a área mais urbanizada e, também de apresentar, como será verificado, a maior concentração de bens, serviços e oportunidades de empregos na região. Todavia, o fato de apresentar um tecido urbano já inteiramente constituído não significa que o Distrito de São Mateus, a exemplo da maioria das zonas periféricas, não padeça de vários problemas de infra-estrutura urbana, tais como deficiências de saneamento básico, presença de grande número de favelas, violência, etc. Basta constatar que neste distrito existem mais de 4.000 domicílios em áreas de favelas, com enorme concentração populacional.

A Tabela 10 aponta que, enquanto o Distrito de São Rafael apresenta uma população predominantemente urbana, em torno de 65,9% de sua população total, o Distrito Iguatemi apresenta população em sua maioria rural – 56,5%. Ainda que se considere o fato de que muitas das áreas denominadas "rurais", apresentam, na realidade, melhoramentos públicos, o que demonstra o descompasso da legislação sobre o uso do solo em comparação com a realidade concreta. É patente que tais melhoramentos são bastante insuficientes face ao enorme contingente populacional destas áreas. Salvo exceções, o mais correto é associar o qualificativo de “rural” ao sentido de “precariedade” e ausência quase completa do Poder Público.

Tabela 10 – Distribuição da população urbana e rural de São Mateus por Distrito – 2000.

População Urbana População Rural Distritos

Número % Número % Total

São Mateus 154.785 100,0 – – 154.785

São Rafael 82.524 65,9 42.608 34,1 125.132

Iguatemi 44.255 43,5 57.433 56,5 101.688

Total 281.564 73,7 100.041 26,3 381.605

Fonte: Adaptado de BRASIL. IBGE. Censo Demográfico 2000..., 2006b apud ESTATÍSTICA DA POPULAÇÃO..., 2007.

No entanto, tal situação muitas vezes é superada pela disposição da sociedade organizada através de movimentos de luta por moradia e por regularização de loteamentos. Com isso, há bairros com enorme concentração populacional, como é o caso do Jardim da Conquista – considerado como a maior área de ocupação da cidade e atualmente em fase de regularização através do Programa Lote Legal –, assim como “bairros” novos e completamente ignorados pelos mapas oficiais da cidade, ou seja, sem qualquer reconhecimento por parte do Poder Público. Em meio a estes fatos, o Distrito

Iguatemi desenha-se como área não somente periférica, mas, mais do que isto, como "periferia da periferia".

Ainda que o Distrito de São Rafael apresente inúmeras semelhanças com o Distrito Iguatemi, sua característica marcante é constituir, em termos geográficos, uma "zona de transição" entre uma área urbanizada (Distrito de São Mateus) e uma área ainda predominantemente rural, e com ocupação realizada sem qualquer tipo de planejamento ou controle público. Trata-se, portanto, de uma área cujo processo de ocupação e urbanização do espaço físico ocorreu de forma bastante irregular.

Portanto, enquanto em bairros como Parque São Rafael, Jardim Vera Cruz e Jardim Ester encontram-se em áreas relativamente urbanizadas, cuja ocupação demográfica aparece como continuidade do Distrito de São Mateus, por outro lado, verifica-se a existência de bairros como Jardim São Francisco, Jardim Santo André e, mais recentemente, o Parque das Flores ou Fazenda da Juta III, com gravíssimas deficiências de infra-estrutura urbana, muitas delas oriundas, como é notório, da rápida ocupação, sobretudo, na forma de “invasões”.

A ausência de formas de controle por parte do Poder Público Municipal, certamente, comparece como elemento essencial na problemática que envolve os loteamentos clandestinos nessas áreas, além da ocupação em áreas de manancial e de proteção ambiental. Alguém dirá, com acerto, que tal quadro representa um modelo de urbanização mais amplo, abrangendo toda a Cidade de São Paulo. Porém, observar o maior crescimento populacional, justamente em áreas mais carentes da cidade, está associado a um modelo de desenvolvimento urbano desordenado e injusto, em que a população de baixa renda das áreas mais centrais – dotadas de toda infra-estrutura de equipamentos e serviços – é sistematicamente expulsa para áreas cada vez mais periféricas. Tal processo mantém estreita conexão com o "esvaziamento" de muitas das "áreas centrais" da cidade de São Paulo, conforme Grostein e Meyer (2000)110, no artigo

intitulado "O paradoxo dos bairros centrais":

A face visível desta dinâmica de distribuição da população na cidade e na metrópole está relacionada à precariedade e ao estado de abandono que pode ser verificado tanto nos “bairros centrais” quanto nas periferias metropolitanas. Esta dinâmica é ainda responsável pela expansão descontrolada e ilegal de áreas ambientalmente frágeis, como é o caso da área de proteção aos mananciais metropolitanos. A permanente busca de

110 GROSTEIN, Marta Dora; MEYER, Regina Prosperi. O paradoxo dos bairros centrais. Revista URBS. São Paulo: Associação Viva o Centro, set-out. 2000. vol. 3. n. 18, p. 18-21.

espaços para moradia pelas camadas mais pobres da população conduz este processo. A sua irracionalidade está produzindo uma ocupação urbana devastadora cujo traço principal é o desperdício de significativas parcelas de solo urbano plenamente equipado de infra-estrutura básica. (GROSTEIN; MEYER, 2000, p. 19) – (Grifo nosso)

Um outro aspecto fundamental para conhecimento da região de São Mateus refere-se à estrutura etária e sexual de sua população. Pela estrutura etária pode-se obter uma visão mais clara dos segmentos geracionais, do infanto-juvenil, ao adulto e idoso da região. Dados que podem ser verificados na Tabela 11, que aponta na região de São Mateus, a exemplo da maioria das áreas periféricas da cidade, uma população concentrada nos segmentos etários mais jovens.

Tabela 11 – Distribuição da população dos Distritos de São Mateus por faixas etárias – 2000.

Distritos 0 a 3 anos 4 a 6 anos 7 a 14 anos 15 a 24 anos 25 a 34 anos

11.111 8.145 22.269 24.069 27.282 São Mateus 7,1% 5,2% 14,3% 15,5% 17,6% 11.073 7.977 19.260 19.895 23.708 São Rafael 8,8% 6,4% 15,4% 15,9% 19,0% 8.867 6.653 16.860 16.422 18.330 Iguatemi 8,0% 6,0% 16,5% 16,1% 18,0% 31.051 22.775 58.389 60.386 69.320 Total 8,1% 5,9% 15,2% 15,8% 18,1%

Distritos 35 a 44 anos 45 a 54 anos 55 a 64 anos 65 ou mais

23.344 15.828 9.094 7.234 São Mateus 15,0% 10,2% 5,8% 4,7% 17.163 11.150 6.075 3.717 São Rafael 13,7% 8,9% 5,0% 2,9% 14.878 9.030 4.084 2.337 Iguatemi 14,6% 8,0% 4,0% 2,0% 55.385 36.008 19.253 13.288 Total 14,5% 9,4% 5,0% 3,4% ฀฀฀฀฀฀฀฀฀฀ ฀฀฀฀฀฀฀฀฀฀ ฀฀฀฀฀฀฀฀฀฀ ฀฀฀฀฀฀฀฀฀฀ ฀฀฀฀฀฀฀฀฀฀ ฀฀฀฀฀฀฀฀฀฀ ฀฀฀฀฀฀฀฀฀฀ ฀฀฀฀฀฀฀฀฀฀ ฀฀฀฀฀฀฀฀฀฀ Fonte: Adaptado de BRASIL. IBGE. Censo Demográfico 2000..., 2006b apud ESTATÍSTICA DA POPULAÇÃO..., 2007.

Nota-se que uma parcela de 18,1% da população apresenta idade entre 25 a 34 anos, ou seja, cerca de 70.000 pessoas, seguida da faixa entre 15 e 24 anos, 15,8% do total de habitantes –, cerca de 60.000 pessoas. Todavia, deve-se destacar o considerável contingente de população infantil de 0 a 14 anos, que responde por cerca de 30% do total de população e perfaz um contingente de 112.000 pessoas.

moradores da periferia, em condições de pobreza, que apresentam um discreto destaque para a quantidade de mulheres, conforme os dados apontados na Tabela 12.

Tabela 12 – Distribuição da população dos distritos de São Mateus por sexo – 2000.

Distritos Homens Mulheres

75.430 79.355 São Mateus 48,7% 51,3% 61.733 63.399 São Rafael 49,3% 50,7% 50.393 51.295 Iguatemi 49,5% 50,5% 187.556 194.049 Total 49,1% 50,9%

Fonte: Adaptado de BRASIL. IBGE. Censo Demográfico 2000..., 2006b apud ESTATÍSTICA DA POPULAÇÃO..., 2007.

Os dados do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo (PRO-AIM)111, órgão municipal responsável pelos dados da

mortalidade na cidade de São Paulo, revelam que o Distrito de São Mateus apresentou em 2000 a espantosa média de 91,74 assassinatos para cada 100 mil pessoas, seguido do Distrito de São Rafael, com 81,5 mortes e do Iguatemi com 75,7 mortes.

Trata-se de um número extremamente elevado se comparado à média da cidade, em torno de 57,4 mortes, e em oposição brutal às médias verificadas em distritos nobres da cidade como Jardim Paulista, Perdizes e Moema, respectivamente com índices de 3,6, 5,8 e 7,2 mortes para cada 100 mil habitantes, médias mais próximas de países desenvolvidos como o Canadá – 2 assassinatos por 100 mil habitantes. Como já apontado anteriormente, as maiores vítimas destes assassinatos são jovens do sexo masculino, na faixa entre 15 e 29 anos, representando 42,6% do total, conforme apresentado na Tabela 13, a seguir.

111 ESTATÍSTICA DE ASSASSINATOS EM SÃO MATEUS. Aspectos do quadro situacional da região de São Mateus. Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São

Paulo – PRO-AIM, 2001. Disponível: <http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/subprefeituras/spsm/dados/Dadosdemograficos.doc.>. Acesso em: 04 jul. 2007.

Tabela 13 – Í ndice de violência na Região de São Mateus por Distritos. Comparativo com Município de São Paulo, Brasil e Canadá – 2000.

Distrito Assassinatos por 100 mil Posição Ranking

São Mateus 91,7 5ª São Rafael 81,5 11ª Iguatemi 75,7 14ª Moema 75,2 94ª Perdizes 5,8 95ª Jardim Paulista 3,6 96ª

Município de São Paulo 57,4

Brasil 24,0

Canadá 2,0

Fonte: Adaptado de ESTATÍSTICA DE ASSASSINATOS... 2007.

Um outro aspecto, primordial, referente à estrutura econômica da região pode ser apreendido através do fenômeno de mulheres chefes de família. Sem dúvida, a violência sobre o homem, as alterações nos padrões de relacionamento entre os sexos, com aumento no número de separações, a dupla jornada de trabalho, entre outros fatores, concorrem para que, mais do que nunca, as mulheres assumam papel fundamental no sustento da família.

Desse modo, é preciso dizer que o estado de pobreza que envolve as regiões periféricas da cidade, como São Mateus, apresenta forte conotação do gênero feminino. Não é à toa, portanto, que inúmeros programas sociais governamentais tenham priorizado a transferência de renda para as mulheres, haja vista que são elas as maiores administradoras dos recursos da família.

O Gráfico 1, a seguir, mostra a distribuição percentual de mulheres chefes de família em cada um dos distritos da região de São Mateus, onde se destaca o Distrito de São Mateus com o maior número de mulheres nesta condição, que perfaz 22,6% do total de domicílios. Em seguida, com 20,7% dos domicílios, aparece o Distrito de São Rafael e, com 20,4%, o Distrito Iguatemi112.

Interessante notar que isoladamente tal variável pode dar margem a inúmeras interpretações. Assim, é possível que haja alguma relação entre o maior número de mulheres chefes de família e o fato do Distrito de São Mateus ser o mais urbanizado e de ocupação mais antiga da região, a exemplo de inúmeras outras regiões extremamente

112 ESTATÍSTICA DE MULHERES CHEFES DE FAMÍLIA POR DISTRITOS – 2000. Aspectos do quadro situacional da região de São Mateus. Equipe de Vigilância da Secretaria de Assistência Social de São Mateus. Secretaria Municipal de Planejamento – SEMPLA. set. 2004. Disponível em: <http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/subprefeituras/spsm/dados/Dadosdemograficos.doc.>. Acesso em: 04 jul. 2007.

urbanizadas como Santa Cecília, na região central da cidade, com 41,9% de mulheres nesta situação.

Em complemento, o Gráfico 2 assinala o percentual de mulheres chefes de família com renda insuficiente, apresenta grande alteração em relação à situação exposta anteriormente. Neste gráfico, notamos que o Distrito Iguatemi aparece com 19,8% das chefes de família com renda insuficiente, seguido respectivamente dos Distritos de São Rafael e de São Mateus, com 18,4% e 12,6% do total dos domicílios.

Gráfico 1 – Percentual de mulheres chefes de família por distritos – 2000.

19,0% 19,5% 20,0% 20,5% 21,0% 21,5% 22,0% 22,5% 23,0%

São Mat eus São Rafael I guat em i

Fonte: ESTATÍSTICA DE MULHERES... 2007.

Gráfico 2 – Percentual de mulheres chefes de família com renda insuficiente, por distrito – 2000.

0 ,0 % 2 ,0 % 4 ,0 % 6 ,0 % 8 ,0 % 1 0 ,0 % 1 2 ,0 % 1 4 ,0 % 1 6 ,0 % 1 8 ,0 % 2 0 ,0 % São Mateus São Rafael I guatem i

Trata-se, como é notório, de um indicador de grande peso na caracterização de vulnerabilidade social, haja vista que a família é privada dos recursos básicos à sua sobrevivência, e a mulher se vê sozinha na educação dos filhos. Muitas vezes, a mãe acaba usando os filhos pequenos para, na rua, conseguir sua subsistência, expondo-os à exploração infantil e a todo tipo de risco.

O Gráfico 3 apresenta o percentual de mulheres não-alfabetizadas, no qual novamente o Distrito Iguatemi apresenta a pior situação, com 16,2% de famílias cujas mulheres não são alfabetizadas. Seguem o Distrito de São Rafael, com 15,4% e São Mateus, com 12,8% do total de famílias.

Gráfico 3 – Percentual de mulheres chefes de família não- alfabetizadas, por distrito – 2000.

0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 14,0% 16,0% 18,0%

São Mat eus São Rafael I guat em i

Fonte: ESTATÍSTICA DE MULHERES... 2007.

O cenário, a par de expor a condição de vulnerabilidade a que estão expostas as famílias e seus membros, seja nos aspectos social, econômico ou cultural, revela principalmente a questão da insegurança pública e de violência a que estão submetidas.

Ações de iniciativas privadas têm sido bem acolhidas por essa população, que as distinguem como alternativas para minimizar a condição de precariedade em que vive. Um exemplo é fornecido pela Associação Comunitária Beneficente “Padre José Augusto Machado Moreira” que, através da implementação de projetos sociais, tem procurado contribuir com a sociedade local, na medida em que são repassados, pelos Governos Estadual e Federal, recursos financeiros que lhe possibilite avançar nas ações de proteção e promoção infanto-juvenil.