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OS JOVENS E SUAS TRAJETÓRIAS DE VIDA

2.3 A Caracterização da Instituição – Lócus da Pesquisa

2.3.3 O Projeto Arte de Viver: “Liberdade Assistida na Comunidade” – LAC

O Projeto Arte de Viver: “Liberdade Assistida na Comunidade” (LAC) constitui um trabalho de apoio aos jovens em medida socioeducativa de liberdade assistida, que contribui para que estes possam se reorganizar e a sua vida no convívio social.

O projeto destina-se ao atendimento a 150 jovens, inseridos na medida socioeducativa de liberdade assistida, na faixa etária de 12 a 18 anos, excepcionalmente até os 21 anos, de ambos os sexos, com atividades extensivas às famílias, e que abrange os três distritos da região da Subprefeitura de São Mateus (São Mateus, Iguatemi e Parque São Rafael) e Distrito de Aricanduva. No entanto, muitos jovens que ali cumprem a referida medida, estiveram privados da liberdade, ou seja, cumpriram a medida socioeducativa de internação, como é o caso dos jovens, sujeitos desta pesquisa.

Assim, para que se possa compreender quem é o jovem que foi submetido à medida socioeducativa de internação, nesta Capital, em função da prática de atos infracionais, é necessário realizar o resgate histórico institucional, de forma a montar, como em um quebra-cabeça, o movimento Sociedade-Estado, a institucionalidade da legislação específica, desde as primeiras iniciativas até a mais recente atualidade.

É mister resgatar a história do “Complexo Tatuapé” como local de internação, que se confunde com a própria história do trato dispensado pelo Estado, durante o século XX, às crianças e aos adolescentes privados do direito de cidadania, bem como àqueles envolvidos em atos infracionais.

O “Complexo Tatuapé” foi criado em 1902, sofreu a transformação do modelo econômico de agrário para industrial (década de 1930), adentrou o período do governo- ditadura de Vargas (1930-1945), permaneceu ativo nos governos democráticos (1946- 1964) e chegou à ditadura militar (1964-1985), apresentando-se sempre como um recurso importante à viabilização de ações governamentais relativas aos “menores abandonados e delinqüentes”.

Em pesquisa realizada pela historiadora Márua Roseny Pacce118, constatou-se

que em 1897 a chácara que deu lugar ao atual “Complexo Tatuapé” apresentava uma área de 200.000 m2 e pertencia a Thomás Luiz Álvares. Uma área delimitada ao norte pelo rio

Tietê, ao sul pela rodovia da Intendência, a oeste por uma fábrica de sabão e a leste por uma área agrícola.

A propriedade foi cedida pela família Álvares à Câmara de São Paulo em 1902. Neste mesmo ano, em 10 de outubro, o Presidente do Estado de São Paulo, Bernardino de Campos, mediante a Lei n. 844, autorizou a implantação de um Instituto Disciplinar e uma Colônia Correcional na referida chácara. De acordo com Pacce (s/d, p. 7), “Estabeleceu-se o inicio das atividades com a entrada do primeiro ocupante em 23 de

fevereiro de 1993. Era um pretinho, condenado por crime de acordo com o Artigo 294 do Código Penal”. Este instituto e colônia idealizados pelo jurista Cândido Mota, constituíram-se nos primeiros estabelecimentos destinados exclusivamente à recuperação de menores infratores no Estado de São Paulo.

O instituto disciplinar, na forma concebida por Mota, tinha o objetivo de humanizar o trato com as crianças e adolescentes, pois, até então, eram recolhidas em estabelecimento disciplinar-industrial, onde ficavam internadas, forçadas a trabalhar por tempo que não ultrapassasse a idade de 17 anos. Nestes estabelecimentos industriais eram recolhidos, em caráter disciplinador, as crianças com mais de 9 anos de idade que, de alguma forma, demonstrassem que tinham capacidade de discernimento do caráter ilícito do ato praticado, e aos maiores de 14 e menores de 17 anos, considerados imputáveis, se ao juiz parecesse justo, era aplicada uma pena de 2/3 daquela que coubesse ao adulto, cumprida em prisão comum, mas em cela separada.

Em 1924, durante o governo de Carlos de Campos, foi criado, pela Lei Estadual n. 2.059119 de 31 de dezembro, regulamentada, posteriormente, pelo decreto n.

3.828120, de 25 de março de 1925, o Juízo Privativo de Menores da Comarca de São

Paulo. Consta na referida Lei Estadual que: “os menores abandonados e os pervertidos (vadios, mendigos e libertinos) seriam internos em escola de reforma, por todo tempo necessário à sua educação, no mínimo de três anos, e de sete anos no máximo”. E que, quando se tratasse de “menor delinqüente (autor ou cúmplice de fato qualificado pela lei como crime de contravenção), a pena seria cumprida em prisão comum, em cela separada dos condenados adultos”, segundo Fávero (1996, p. 32)121.

Em seu Artigo 27, dispunha que o menor, autor ou cúmplice de fato qualificado como crime de contravenção, não seria submetido ao processo penal de espécie alguma, mas submetido a um procedimento jurídico especial, conduzido a um dos Institutos Disciplinares existentes na Capital, localizado no Tatuapé e, no Interior, localizado em Mogi-Mirim e Taubaté.

119 BRASIL. Lei (1924). Lei Estadual n. 2.059, de 31 de dezembro de 1924. Estabelece o Juízo Privativo de Menores da Comarca de São Paulo.

120 BRASIL. Decreto-lei (1925). Decreto-lei n. 3.828, de 25 de março de 1925. Juízo Privativo de Menores da Comarca de São Paulo. Estabelece as competências atribuídas ao Diretor da Escola de Reforma ou Instituto Disciplinar.

121 FÁVERO, Eunice Terezinha. Serviço Social, práticas judiciárias, poder: trajetória do Serviço Social no Juizado de Menores de São Paulo de 1984/1958. Caderno do Núcleo de Estudos e Pesquisa Sobre a Criança e o Adolescente. São Paulo: NCA/PUC, 1996. n. 2.

Como competências atribuídas ao Diretor da Escola de Reforma ou Instituto Disciplinar, conforme Decreto Lei n. 3.828, de 25 de março de 1925, art. 64, destacavam- se:

[...] item 3. Cuidar da disciplina e ordem do mesmo, exercendo rigorosa vigilância sobre o procedimento dos internos e empregados;

[...] item 5. Impor penas disciplinares as quais serão:

Para os empregadores – advertência, repreensão e suspensão de 8 dias. Para os internos – advertência ou repreensão em particular ou em classe, privação do recreio, perda de pontos, distinção ou regalias obtidas, separação durante as refeições e, para casos mais graves, a cela clara com trabalho ou a escura.

[...] item 7. Interessar-se pela sorte e condição dos internados, promovendo tudo quanto estiver ao seu alcance a bem deles. (BRASIL. DECRETO- LEI...1925)

Subseqüente, em 12 de outubro de 1927, foi instituído o Código de Menores, mediante a Lei n. 17.934-A, o primeiro código a consolidar, em nível Federal, as leis de assistência e proteção a menores, não se dirigindo à totalidade dos menores de 18 anos, mas especificamente aos abandonados e delinqüentes.

O texto desse primeiro Código de Menores considerava como sendo “infantes expostos” aqueles até 7 anos de idade, encontrados em “estado de abandono”: falta de habitação certa, indigência, impossibilidade ou incapacidade de pais ou tutores de cumprirem seus deveres para com o menor ou a privação habitual de alimentação; “menores vadios”: que não se dispunham a receber instrução ou trabalhar, além de perambularem pelas ruas; “menores mendigos”: os que pediam esmolas, direta ou indiretamente, sob pretexto de venda de objetos; e “menores libertinos”: os que direta ou indiretamente estavam envolvidos em atos obscenos e prostituição – (grifo nosso).

A partir da promulgação do Código de Menores, o termo “menor”, que até então era utilizado no sentido da maioridade etária, passa a ser usado para descrever e discriminar aquelas crianças e adolescentes abandonados, delinqüentes procedentes das camadas sociais mais espoliadas, adquirindo um sentido conceitual diferenciador dos demais pertencentes às camadas sociais abastadas. Feita a distinção formal entre a infância espoliada e a abastada, passa-se à Justiça – Vara da Família – a competência de lidar com as questões relacionadas às crianças e ao Juizado de Menores, as questões relativas aos “menores” – expostos, vadios, mendigos e libertinos.

destacado por Costa (1999: p. 424):

Com a industrialização e a urbanização surgiram novos problemas e acentuavam-se as diferenças entre as várias regiões do Brasil. O profundo contraste entre as zonas rurais e urbanas, entre as áreas prósperas e decadentes criava tensões que se expressavam em conflitos na esfera política e eclodiam em movimentos revolucionários. [...] O proletariado organiza-se em núcleos urbanos, manifestando seus descontentamentos através de greves que se tornavam cada vez mais freqüentes, embora fossem na maioria das vezes frustradas pela pronta intervenção dos poderes constituídos. Repercutem no congresso as reivindicações trabalhistas: jornada de oito horas, assistência aos acidentes de trabalho, melhoria do trabalho feminino, assistência ao menor, fixação da idade de 14 anos como idade mínima para admissão no trabalho e outras reivindicações nesse estilo. (COSTA, 1999, p. 424)

O “Complexo Tatuapé” durante toda a vigência do primeiro Código de Menores, que perdurou por 52 anos, sofreu alterações de conformidade com as mudanças sócio-político-econômicas de cada período histórico. Em 1924, assistiu à implantação de um grande complexo de internação com três pavilhões, chamado de Instituto de Menores que, em anos recentes, chegou a servir de sede para a FEBEM122.

Após duas décadas da institucionalização do atendimento no “Complexo Tatuapé”, Mogi Mirim e Taubaté, as características punitivas foram se acentuando de tal forma que o governo criou, em 1931, o Serviço de Reeducação, órgão destinado à fiscalização e à orientação pedagógica e administrativa dos institutos e outras entidades congêneres existentes no Estado. Neste período, os estabelecimentos estavam vinculados à Secretaria da Segurança Pública.

Em 1932, foi criado o Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS), que desempenhou um importante papel no sentido de qualificar os agentes para a realização do atendimento institucional. Havia, na época, uma permanente tensão em face dos movimentos políticos reivindicatórios que marcavam o cenário político-social, especialmente entre os anos de 1930 e 1935. Para reverter este quando, o governo do Estado Novo absorveu a pressão da classe trabalhadora por meio da criação de organismos normalizadores das relações de trabalho.

Desde a criação do Juizado de Menores, na Comarca de São Paulo, os casos de

122 Este prédio foi destruído por um incêndio em 1992, durante uma rebelião de internos. Ao lado deste pavilhão, já havia dois prédios pequenos, destinados ao “Abrigo e Triagem de Menores”. O chamado “Complexo Tatuapé” passou por diversas readaptações e utilizações, no decorrer do tempo e, atualmente, abriga apenas uma unidade de internação, enquanto as demais foram desativadas gradativamente nos anos de 2006 e 2007.

menores abandonados e infratores chegavam ao conhecimento do Juiz por meio dos, então denominados, Comissários de Vigilância. Em 1935, este comissariado passou a integrar a Diretoria de Vigilância de Menores, vinculada ao Departamento de Assistência da Secretaria de Justiça e Negócios do Interior (Lei n. 2.497, de 24 de dezembro de 1935), constituindo-se em um órgão que centralizava, em âmbito estadual, o atendimento prestado ao menor.

No Código Penal de 1940, o critério aferidor da imputabilidade era a capacidade de discernimento do indivíduo para compreender o alcance cronológico de seus atos. Este critério foi aplicado pelo Juizado de Menores durante 29 anos, até 1979, quando, então, passou a vigorar, como critério aferidor, o suficiente desenvolvimento psíquico para entender o caráter ilícito do fato; passou-se, pois, a determinar de acordo com este entendimento, ou seja, adotou-se o princípio geral e absoluto da imputabilidade aos menores de 18 anos.

À medida que se expandiam as instituições, crescia também a demanda por agentes qualificados para o exercício da ação social. Em São Paulo, o Serviço Social vinha desenvolvendo atividade profissional legalmente inserida em organismos públicos, no Departamento de Assistência Social (DAS), subordinado à Secretaria da Justiça (Lei n. 2.497, de 24 de dezembro de 1935). A legislação Estadual concedeu prerrogativas aos assistentes sociais, tornando privativo destes profissionais o exercício de cargos relacionados com o menor e a família, na estrutura do Serviço Social de Menores (SSM), conforme Decreto Estadual n. 9.744, de 19 de novembro de 1938.

A década de 1940 foi marcada pela criação de grandes instituições, tendo como pano de fundo o aprofundamento do modelo corporativista do Estado e por uma política econômica favorecedora da industrialização. A expansão do proletariado urbano, reforçada pela migração interna, criou a necessidade política de controlar e absorver este segmento. As grandes instituições assistenciais e previdenciárias emergiram, assim como parte dos esforços reformadores do Estado para responder às pressões de novas forças sociais urbanas.

As múltiplas ações expressavam claramente que a questão da infância pobre ganhava dimensão nacional e já havia assumido, na perspectiva do Estado, o status de questão social de natureza política-econômica. Na ocasião, mediante a Portaria n. 6.013, de 01 de outubro de 1942, o Governo Federal criou a Legião Brasileira de Assistência (LBA), que deu grande impulso ao atendimento assistencial aos menores e às famílias.

Em 1946, foi instituída a Lei Orgânica do Ensino Público, com a extensão do ensino às camadas populares. Também nesta década foi criado o Departamento Nacional da Criança junto ao Ministério da Justiça.

Com a Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1945, foram instaladas representações em vários países. No Brasil, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) desenvolveu um programa em conjunto com o governo, denominado Aliança para o Progresso. No decorrer dos anos, o UNICEF foi gradualmente assumindo posições de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes pobres excluídos, realizados especialmente em parcerias com ONG’s.

No mesmo período foi criado o Serviço Nacional da Indústria (SENAI) e Serviço Nacional do Comércio (SENAC) destinados à formação profissional de mão-de- obra, incluídos, aí, os adolescentes. Ambos ofereciam oportunidade de aprendizagem profissional a jovens carentes, visto que os programas por eles desenvolvidos aliavam, à aprendizagem profissional, um sistema de garantias, tais como: bolsa-auxílio, refeição, atendimento médico, estímulo e apoio à formação escolar e emprego.

Em São Paulo, o atendimento ao “menor” é ampliado mediante a implantação de um conjunto de dezesseis casas no interior do “Complexo Tatuapé”, denominado “Instituto Modelo”, para servir de lares às crianças carentes e abandonadas. A partir deste modelo, foram criados, em áreas do Estado – fazendas localizadas no interior – outros grandes internatos: Iaras, Batatais, Itapetininga, Lins, São Vicente, Guarujá, Jacareí123.

O atendimento ao menor e à família, desenvolvido pelo Serviço Social de Menores, até então subordinado à Secretaria da Justiça, pela Lei n. 106/48, retornou para a esfera do Juizado Privativo de Menores da Capital, diretamente subordinado ao Juiz Titular da 1ª Vara. Isto porque, em 1947, no Serviço Social de Menores, processou-se internamente uma divisão de trabalhos, inaugurando-se dois serviços distintos: o Serviço de Colocação Familiar e o Serviço Social da Vara de Menores, quando são ampliados e estruturados os serviços do Juizado de Menores.

Na ocasião, foram construídos no Complexo Tatuapé, no lado Leste, com entrada pela Rua Nelson Cruz, equipamentos próprios ao funcionamento da 1ª Vara de Menores, do Cartório, do Plantão de Atendimento, do Serviço Social e dos locais para

123 Nos anos de 1970, com a criação da FEBEM, o Instituto Modelo passou a denominar-se Unidade Modelo e, nos anos de 1980, de Unidade 1. Com o passar dos anos, cada um destes lares sofreu readaptações para outros usos e, nos dias atuais, deram lugar ao funcionamento de cinco Unidades de Internação.

Abrigo e Triagem dos “menores” para lá encaminhados, ou seja, aqueles que não se enquadravam nos critérios definidos pelo Serviço de Colocação Familiar124.

Em 23 de julho de 1954, foi criado pela Lei n. 2.705, o Serviço de Recolhimento e de Triagem de Menores Delinqüentes, o Recolhimento Provisório de Menores (RPM), localizado no Tatuapé, subordinando-se diretamente ao Juizado de Menores, com o objetivo de sustar o recolhimento de menores em celas comuns das cadeias públicas e agilizar o atendimento. Além disso, os menores recolhidos no RPM passaram a ser atendidos por assistentes sociais, “[...] que realizavam diligências necessárias ao esclarecimento da verdade”, conforme Fávero (1996, p. 35), que relatavam e apresentavam os casos ao Juiz para que este, de acordo com os motivos circunstanciais em que ocorresse a apreensão do “menor” (contidos no relatório), tomasse providências cabíveis ao caso, que podia ser a entrega aos pais ou responsáveis, a internação, a colocação em estabelecimento de trabalho ou, ainda, a liberdade vigiada.

A área escolhida para a instalação do RPM localizava-se próxima à Avenida Celso Garcia, contando com entrada própria, distinta das demais, ao lado da Delegacia Auxiliar da 8ª Divisão Policial, que mantinha o serviço da Polícia Especial da Juventude, e atrás da 1ª Vara de Menores. O prédio, solidamente construído, apresentava duas alas distintas, cada uma com dois pavimentos, com celas individuais, camas de alvenaria, um prédio anexo com oficinas de trabalho e salas de atendimento. Quando posteriormente o RPM foi desativado, o referido prédio foi readaptado e utilizado como Unidade de Recepção125.

Quanto à Polícia Especial da Juventude, acima referida, foi criada por iniciativa do Juiz Aldo de Assis Dias, em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública do Estado e, em 1958, pela Portaria n. 557, foi criado o Setor de Defesa Social. Dias (1968) apud Fávero (1996) esclarece:

Esse Setor preparou uma nova organização, subordinada ao Juiz Titular da Vara de Menores e sujeita às suas instruções, sob a direção de um delegado de polícia e integrado por assistentes sociais, comissários de menores,

124 Posteriormente, nos anos 70, o local destinado ao abrigo foi utilizado como Unidade de Triagem 2; no início dos anos 80, como Unidade de Recepção e como Unidade Educacional 1 e, finalmente, nos anos 90, como Unidades Educacionais 1, 2, e 15

125 Em 1979, foi demolido para dar lugar à construção de uma nova Unidade de Recepção com seis grandes pavilhões, com vagas suficientes para acomodar aproximadamente 700 adolescentes. Hoje, estes pavilhões são utilizados como presídio feminino. Quanto ao prédio principal do RPM, foi utilizado nos anos de 1980 como unidade de internação dos jovens adultos e, atualmente, é utilizado para a instalação da Unidade de Internação n. 5.

policiais femininas, e investigadores de polícia. Essa nova organização se efetivou com o nome de Serviço Especial de menores, sendo instituída na Delegacia Auxiliar da 8ª Divisão Policial, pelo Decreto n. 32.768 de 16 de junho de 1958, vindo a ser a Polícia Especial da Juventude e mantendo plantões permanentes nas dependências do Juizado de Menores da Zona Leste. (DIAS, 1968, p.12 apud FÁVERO, 1996, p. 30)

Cabe também destacar que:

Em 1957, com a Lei n. 3.728, de 18 de janeiro, foi criado o Fundo de Assistência ao Menor como autarquia, com a participação do Juiz Curador de Menores, e tendo também como membros natos o Secretário de Justiça do Estado e os Diretores do Serviço Social de Menores e do Serviço Social do Estado. Esse fundo tinha como finalidade a cooperação financeira com entidades públicas e privadas que cuidavam de menores abandonados ou infratores, bem como a colaboração nos estudos, na orientação e na execução da política social do Estado, nessa área. (DIAS, 1968, p. 21 apud FÁVERO, 1996, p. 37)

Já na década de 1960, o Governo Federal, com o fim de intervir na questão social, processa uma série de reformas que atingiram, primeiramente, o sistema previdenciário, e alterou o conjunto de instituições e aparatos governamentais. Promovida esta reformulação em escala nacional e sob a ótica centralizadora do Estado de Segurança Nacional, foi criada, em 1964, a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM). A Política Nacional de Bem Estar do Menor teve sua gênese após o golpe militar de abril de 1964, durante o governo de Humberto de Alencar Castelo Branco, quando a estrutura do Estado é inteiramente redimensionada para servir e induzir a concentração e centralização do poder.

A FUNABEM surgiu, então, com o objetivo oficial de assegurar prioridade aos programas de integração do menor na comunidade, de fixar as bases para uma nova estratégia de enfrentamento ao que se chamou de Problema do Menor no Brasil. Em 1973, por ocasião da abertura da XII Semana de Estudo dos Problemas do Menor126, o

Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Tácito Morbach de Góes Nobre, pronunciou:

Neste momento, não pode a Presidência deixar de mencionar o fato auspicioso, que corresponde a um largo passo na solução dessa problemática, que é o encaminhamento por S. Excia., o Governador do Estado, à Assembléia Legislativa, do projeto de lei que cria a Fundação da Promoção Social do Menor – a Pró-Menor – encarregada de equacionar e resolver o problema do menor no Estado de São Paulo. (BRASIL. SECRETARIA...PROBLEMA DE MENOR..., 1973)

126 BRASIL. Secretaria do Tribunal de Justiça. Problema de Menores. Anais da XII Semana de Estudos da Secretaria do Tribunal de Justiça: São Paulo, 1973.

No evento, manifestou-se o Presidente Executivo da Semana de Estudos dos Problemas dos Menores, Desembargador Adriano Marrey:

O Egrégio Tribunal de Justiça, por preclaro presidente, com a aprovação do Egrégio Plenário, promoveu a transferência para a Secretaria da Promoção Social do Estado, de todos os estabelecimentos destinados a menores, que vieram, ao longo do tempo, sendo criados à ilhargada do Juizado de Menores, para suprir o descaso a que os órgãos da administração pública, em