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OS JOVENS E SUAS TRAJETÓRIAS DE VIDA

2.1 Contextualizando São Paulo

Com uma área de 1.524 km² e altitude média de 760 metros, segundo o IBGE, a Cidade de São Paulo (Figura 3, a seguir), capital do Estado de São Paulo, é a mais populosa cidade do Brasil e de todo Hemisfério Sul, além de ser considerada a principal cidade do país sob o ponto de vista social, cultural, econômico ou político. E, mais, apresenta-se como uma cidade global que exerce significativa influência em âmbito regional, nacional e internacional103.

O grau de importância da cidade de São Paulo também é atestado pela sua densidade demográfica, pois a população, recenseada em 2000, contava com 10.287.965 habitantes e, em 1o de julho de 2005, o IBGE estimava a população em 11.016.703.

A cidade registra um intenso movimento migratório, o qual foi iniciado com a decadência da imigração européia e asiática, após a década de 1930, quando passou a predominar a vinda de migrantes, em sua maioria, oriundos da Região Nordeste do Brasil. A maior parte deste contingente veio de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia e Norte de Minas Gerais.

103 BRASIL. IBGE. Censo Demográfico 2000. Contagem Populacional 1991 a 2000. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE). Rio de Janeiro: IBGE. Departamento de População e Indicadores Sociais, 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/>. Acesso em: 11 nov. 2006a.

A CIDADE DE SÃO PAULO. Fundamental Vídeo-conteúdo. Disponível em: <http://www.fundamentalconteudo.com/index.php?tag=viral>. Acesso: 6 jul. 2007.

Fonte: Disponível em: <http://www.fundamentalconteudo.com/index.php?tag=viral>. Acesso em jul. 2007. Figura 3 – Vista aérea da cidade de São Paulo.

Segundo o IBGE, em 2000, cerca de 26 milhões de pessoas viviam fora da Unidade da Federação em que nasceram, o que significou um aumento de aproximadamente 21% de migrantes em relação ao início da década anterior, 1991104, como pode ser observado na Tabela 5, onde constam as Unidades da Federação com maior número de migrantes.

Tabela 5 - Ranking das Unidades da Federação com maior população não-natural – Brasil – 2000.

Unidades da Federação População Não-natural

São Paulo 8.821.030 Rio de Janeiro 2.476.072 Paraná 1.795.751 Goiás 1.293.733 Minas Gerais 1.221299 Total 15.607.885

Fonte: Adaptado de BRASIL. IBGE. Censo Demográfico 2000..., 2006b.

Brito (2006)105 destaca, de forma especial, a ocorrência de um intenso fluxo

migratório, principalmente ocorrido no período de 1995 a 2000, das áreas rurais para as

104 Importante registrar que os dados demográficos referem-se ao Censo realizado em 2000, pois não há registro de informações mais recentes.

105 BRITO, Fausto. O deslocamento da população brasileira para as metrópoles. Revista Estudos Avançados. Belo Horizonte, Minas Gerais: Universidade Federal de Minas Gerais, 2006. n. 20 (57).

urbanas entre as Unidades da Federação, que totalizou 5,2 milhões de migrantes. Este movimento caracterizou o fenômeno das áreas urbanas como grandes pólos de atração, em contraste com o esvaziamento das áreas rurais, conforme demonstrado na Tabela 6.

Tabela 6 – Migrantes segundo os movimentos entre as áreas urbanas – Brasil – qüinqüênio 1995/ 2000.

Origem Destino Número de Migrantes

Rural Urbano 645.089

Rural Rural 248.042

Urbano Rural 398.369

Urbano Urbano 3.904.594

Total 5.196.094

Fonte: Adaptado de BRASIL. IBGE. Censo Demográfico 2000..., 2006b.

Com a explosão demográfica e a escassez de oportunidades para todos, começou a ser percebido também um fluxo migratório inverso, a partir da década de 1980, em que muitos dos migrantes retornaram as suas terras de origem. A exemplo, segundo o IBGE, “Em São Paulo, foram observadas mudanças significativas: as entradas diminuíram em 12%, enquanto as saídas aumentaram em 36%, fazendo com que o saldo migratório de 744.798 migrantes, segundo o Censo 1991, declinasse para 339.926, em 2000”.

São Paulo apresenta fortes disparidades socioeconômicas, típicas do Brasil: enquanto a parte da cidade mais próxima do centro é rica e desenvolvida, as áreas periféricas sofrem com falta de infra-estrutura, pobreza e habitações precárias, como observado por Koga (2003)106:

Ao lado da dimensão de cidade mundial, São Paulo apresenta-se com uma dinâmica econômica e demográfica de forte intensidade e discrepância, que rebate de uma forma especial numa transformação de sua configuração urbana na década de 1990. Esta dinâmica faz parte da lógica excludente que impera na cidade, movida pelos interesses capitalistas, em que somente uma pequena parcela de sua população se beneficia da riqueza produzida. (KOGA, 2003, p. 27)

Devido a sua extensa área urbana, a cidade possui um caráter bastante heterogêneo, que varia de regiões altamente adensadas e verticais, a bairros residenciais horizontais e de baixíssima densidade. Isto faz com que muitos habitantes da cidade praticamente desconheçam regiões do município, além dos seus locais de residência ou de trabalho.

106 KOGA, Dirce. Medidas de cidades: entre territórios de vida e territórios vividos. São Paulo: Cortez, 2003.

Com graves problemas de segregação socioespacial, as regiões da cidade que concentram a mais alta renda se encontram na região conhecida como "entre-rios", ou seja, em bairros localizados na porção de terra entre os rios Pinheiros, Tietê e Tamanduateí, ou próximas às margens destes rios, e no setor específico desta região denominado “Vetor Sudoeste” e que constitui, de uma forma geral, o centro da metrópole paulistana, em oposição ao centro tradicional da cidade. É nesta região que também se concentra a maior oferta de empregos da cidade.

Tal região da cidade também tem apresentado nas últimas duas décadas acentuado crescimento demográfico negativo ou, em outras palavras, a cada ano ela tem perdido população e apresentado uma densidade demográfica cada vez menor, o que é apontado por especialistas em planejamento urbano como reflexo de um processo segregatório, visto que justamente a região da cidade com maior índice de infra-estrutura e equipamentos sociais é justamente aquela que mais tem expulsado a população de baixa renda.

Além da dualidade centro-periferia que explicita a desigualdade social na cidade, também se notam pontos em que o contraste é visível e grupos de perfis de renda diversos convivem, como é o caso do Bairro do Morumbi, que apresenta conjuntos de habitação de alta renda localizados próximos a regiões de favela. Em regiões como esta, quando a área em questão passa a ser de interesse do mercado imobiliário, aliado a processos especulativos de produção do espaço urbano, o conflito de classes pode vir a se deflagrar na forma do uso do aparato estatal, como, por exemplo, a polícia, como meio de expulsão da população indesejada pela classe dominante.

Para Carrano (2003)107:

[...] Os planos urbanísticos centralizados constroem uma cidade-conceito altamente discursiva, desprezando, em diversas situações os movimentos e necessidades de sujeitos sociais concretos. [...] os habitantes da cidade não se submetem aos desígnios de uma hegemonia cultural urbana, seguindo cegamente o traçado disciplinar da cidade oficial. As práticas cotidianas instauram procedimentos de resistência e criatividade, conferindo um certo grau de imprevisibilidade aos mecanismos de orientação social. (CARRANO, 2003, p. 20-21)

Por outro lado, São Paulo é a cidade brasileira com maior número de favelas – cerca de 615 unidades –, onde moram aproximadamente 20% da população paulistana, de acordo com o Censo de 2000, do IBGE.

Outro aspecto a ser observado, diz respeito às altas taxas de criminalidade e homicídios que são, portanto, um fenômeno que tem se ampliado nas grandes cidades, associado tanto ao tráfico, como aos fortes incrementos da pauperização social e da precariedade urbana resultante das transformações no mercado de trabalho e no processo de urbanização. A situação de periferia e de exclusão social, portanto, passa a incorporar vulnerabilidade e riscos advindos de um conjunto complexo de causas e determinantes mais amplos, que afetam, notadamente, crianças e jovens.

Essa breve contextualização da Cidade de São Paulo procede no sentido de mostrar que dentro desta grande metrópole, existem os bairros periféricos que são habitados por segmentos sociais desfavorecidos, e dentre estes, destacamos o Bairro de São Mateus, onde reside, grande parte dos sujeitos da pesquisa.