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UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

Faculdade de Ciências e Tecnologia

Departamento de História e Filosofia da Ciência

Feyerabend

Teoria e Incomensurabilidade nos primeiros ensaios

António Carlos Freire Brinco

“Dissertação apresentada na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa para obtenção do grau de Mestre em História e Filosofia da Ciência”

Orientador Científico:

Professor Doutor António Manuel Nunes dos Santos Lisboa

(2)

Sumário da dissertação

É objectivo desta dissertação sobre Teoria e Incomensurabilidade em Feyerabend,

aprofundar o conhecimento da problemática, da interpretação de teorias científicas e o

contexto da sua emergência e configuração, tal como é dada a ler nos primeiros ensaios. Consideraram-se para o efeito, relevantes, sobretudo, as fontesprimárias, em que tal temática

é avaliada.

O primeiro capítulo estrutura-se a partir de Realism and Historicity of Knowledge,

escrito a pensar em Bohr, porque este ensaio, embora posterior, sintetiza os problemas que se levantam às tradições abstractas quando procuram acomodar o progresso científico,

esquecendo a história. Assinalámos assim o fundo de tensão de que emerge o problema da

avaliação do potencial heurístico das teorias científicas. Mobilizámos Knowledge without Foundations, por parecer incontornável a matriz popperiana da recusa fundacionalista que

nesse período projectava, e Wittgenstein's Philosophical Investigations por levantar os

problemas da pragmática do saber científico a partir da discussão dos jogos de linguagem e

dos seus lances, porque os considerámos estruturantes.

No segundo capítulo procurámos desenvolver o tema da incomensurabilidade entre teorias não instanciais sucessivas mobilizando para o efeito os ensaios onde nos pareceu ser

dominante a análise e a perspectivação histórica do debate dialéctico (positivismo/realismo) acerca dos problemas decorrentes das interacções entre teoria e experiência, teoria e observação, teoria e linguagem corrente e teoria e prática científica como é o caso em Attempt at a Realistic Interpretation of Experience, em que avança a Tese I e expõe o

irrealismo da tese da estabilidade e a irrelevância das mudanças no emprego de termos científicos na linguagemcorrente, por força de mutações ocorridas na supra estruturateórica.

Desenvolvemos também a partir de Explanation, Reduction and Empiricism, os problemas e

as dificuldades da interpretação de teorias científicas decorrentes da pretensão ortodoxa de justificação formal de redução e explicação de teorias gerais, desenvolvida quer na teoria da redução de Nagel, quer na teoria da explicação de Hempel e Oppenheim . Encerramos o

capítulo com o problemas da testabilidade de teorias científicas e a solução que a adopção,

quer do princípio da proliferação, quer de alternativas fortes, introduziria.

O terceiro capítulo enfatiza, para lá dos consensos partilhados e das diferenças assumidas, a importância das contribuições de Feyerabend, Kuhn e Lakatos para a

problematização das teses do neopositivismo, do racionalismo crítico e do falsificacionismo na história e filosofia da ciência.

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ÍNDICE

1. EMERGÊNCIA DE UMA CONFIGURAÇÃO PROBLEMATIZADORA...1

1.1. ABORDAGEM TEÓRICA E ABORDAGEM HISTÓRICA... 1

1.2. RECUSA DO FUNDACIONALISMO... 6

1.2.1.Tales... 7

1.2.2. Mitos e Teorias... 9

1.2.3. Sociedades Fechadas e Sociedades Abertas... 13

1.2.4. O Problema Fundamental da Epistemologia... 15

1.2.5. Os Pré-Socráticos. Exemplo de uma comunidade crítica... 16

1.3.O QUE CONTA?O QUE OBSERVAMOS?OU AS CONSIDERAÇÕES ABSTRACTAS QUE FAZEMOS ACERCA DAS PROPOSIÇÕES ELEMENTARES E DAS TEORIAS?O QUE PENSAVA WITTGENSTEIN?... 21

2.TEORIA E INCOMENSURABILIDADE...26

2.1. INDEFINIÇÃO INTENCIONAL... 26

2.2.O PROBLEMA DA INTERPRETAÇÃO DAS TEORIAS CIENTÍFICAS... 27

2.3. TEORIA E EXPERIÊNCIA... 28

2.3.1. Linguagem e observação... 29

2.3.2. A tese da estabilidade... 31

2.3.3. Sentido Pragmático e Complementaridade... 33

2.3.4. Sentido Fenomenológico... 36

2.3.5. Refutação da Tese da Estabilidade... 40

2.3.6. A tese I... 42

2.3.7.Réplica à objecção de Feigl à tese I... 42

2.3.8. Consequências da tese I... 43

2.3.9. A disputa Positivismo-Realismo... 44

2.4.EXPLICAÇÃO REDUÇÃO E EMPIRISMO... 47

2.4.1. Desconstruindo a abordagem ortodoxa: deducibilidade e invariância... 49

(4)

2.4.3. Criticando a redução ou explicação por derivação... 58

2.4.4. Razões para o fracasso dos critérios de consistência e deducibilidade lógica... 62

2.4.5. O problema do movimento... 65

2.4.6. Crítica metodológica da condição 'ortodoxa' de consistência... 73

2.4.7. Crítica da condição de invariância de sentido... 77

2.5.PROLIFERAÇÃO, REALISMO E "ALTERNATIVAS FORTES"... 85

3.TEORIAS, PARADIGMAS E PROGRAMAS DE INVESTIGAÇÃO. INCOMENSURABILIDADE E DESLEGITIMAÇÃO DAS METANARRATIVAS METODOLÓGICAS DE ESTADO INVARIANTE, NAS EXCURSÕES DE FEYERABEND, KUHN E LAKATOS...89

3.1.INDIFERENCIAÇÃO SEMÂNTICA, AMBIGUIDADE, AMBIVALÊNCIA. ... 89

3.2.DIFICULDADES DOS ARGUMENTOS FUNCIONAIS DE KUHN... 91

3.3.LAKATOS E OS "PROGRAMAS DE INVESTIGAÇÃO".O MODELO ALTERNATIVO DA MUDANÇA CIENTÍFICA... 98

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1 . Em ergência de um a configuração problem at izadora

1 .1 . Abordagem t eórica e abordagem hist órica

"What one needs are not philosophical slogans but a m ore det ailed exam inat ion of hist orical phenom ena"1

O problem a, t al com o o recolocava Feyerabend, em Realism and t he

Hist oricit y of Knowledge não era novo. Teria sido sugerido pelos

Pré-socrát icos, reform ulado por Plat ão e Arist ót eles, esquecido pela ciência m oderna e ressurgira com a m ecânica quânt ica e a crescent e ênfase nos enfoques históricos em oposição aos enfoques t eóricos. Era um problem a que levant ava, na sua perspect iva, a quest ão relat iva a saber:

«Com o é que um a inform ação que é result ado de m udanças hist óricas e idiossincrát icas pode referir- se a fact os e leis independent es da hist ória?»2

Para aprofundar a quest ão, desdobrá- la- ia em duas das suas suposições e exploraria no ensaio, as dificuldades que levant avam .

1 FEYERABEND Paul.K.,«

Introduction: scientific realism and philosophical realism», in Philosophical Papers

Volume IRealism, Rationalism & Scientific Method, Cambridge University Press, 1981, p. 7

2 FEYERABEND Paul.K., «Realism and the Historicity of Knowledge» in Conquest of Abundance

, A Tale of Abstraction versus the Richness of Being, PART TWO, Essays on the Manuscript's Themes, I., The University

(6)

A prim eira das suposições era, que desenvolvim ent os hist óricos específicos e idiossincrát icos condicionariam as teorias, os fact os e os procedim ent os de det erm inados períodos. Procuraria aj ustar a suposição, referindo os cont ribut os dos est udos com parados dos desenvolvim entos de diferent es cult uras e civilizações, em part icular, do Ocident e e da China. Aludiria t am bém aos diferentes percursos da ast ronom ia grega e da ast ronom ia babilónica e adiant aria que o que det erm inara a elim inação da últ im a e a sobrevivência da prim eira, não fora a adequação em pírica, m as os fact ores cult urais.

A segunda suposição era que o que esses procedim ent os idiossincrát icos perm it iam descobrir, exist ia independent em ent e das circunst âncias da sua descobert a. Era o pressupost o da separabilidade.

Adiant ados os pressupost os, levantaria ent ão as dificuldades deles decorrent es. Porque, fazendo, o pressupost o da separabilidade part e, quer

das tradições científicas, quer das tradições não cient íficas, e adm it indo com o Heródot o e os gregos do século VI e V que nem Hom ero nem Hesíodo t eriam criado os deuses, lim itando- se apenas a enum erá- los e a

dest acar as suas propriedades, ( pois j á exist iam e cont inuariam exist indo) , int errogar- se- ia quant o à possibilidade e ao sent ido da crença num m undo cont endo cam pos e part ículas, deuses e dem ónios.

Aludiria ent ão, às dificuldades com que se t eriam deparado os realist as cient íficos quando se confront aram com os problem as decorrent es da dist inção ent re a exist ência e a crença e procuraram

int roduzir o pressupost o da separabilidade m odificada para j ustificar a

irracionalidade da crença na exist ência dos deuses hom éricos, ( por não ser razoável de um pont o de vist a cient ífico) , porque, com o ent ão defendia, não se refut avam os deuses com argum ent os cient íficos. As ent idades proj ect adas pelas crenças com uns não se elim inariam

(7)

deveria, no seu ent endim ent o, fundam ent ar um a decisão de adm issibilidade.

Cont est ava a pret ensão de usar o razoável com o crit ério de

elim inação da exist ência separável das coisas, porque invert ia os dados do problem a. A prát ica cient ífica não o caucionaria e declarava ent ão, que:

O procedim ent o seria desaj ust ado no caso das part ículas alfa, e que os crit érios em uso para ident ificar as part ículas alfa de nada serviriam quando se t rat asse de galáxias, de neut rinos, de quarks, da t em perat ura do cent ro do sol e que a t em perat ura de acont ecim ent os t ais com o os prim eiros segundos do universo nem sequer est ava definida ant es da segunda lei da t erm odinâm ica. E que: «( …) Em t odos est es casos, os crit érios se t eriam adapt ado às coisas, m udando e proliferando quando entravam em cena, coisas novas. E dizer que os deuses hom éricos não exist iam porque não se podiam encont rar com experim ent os ou porque os efeit os dos seus act os não podiam reproduzir- se, era violar esse procedim ent o». 3

Feyerabend pensava que a redução im plícit a nos pressupost os da separabilidade e da separabilidade m odificada gerava perplexidade.

Considerava t am bém , não isent a de dificuldades a pret ensão realist a de separar o ser da hist ória. Mas com o sublinhava. O recurso a ent idades

científicas e outras, ( enquanto proj ecções culturais ideológicas e teóricas) por part e de alguns filósofos e cient ist as, para reduzir a abundância, era problem át ica enquant o est rat égia invest igacional. Avançava à m argem do enquadram ent o dos m ecanism os proj ect ores ( e est es est avam longe de est ar com preendidos) e seria incom preensível fora da hist ória onde enraizava e se lia.

Reivindicava por isso que nem o supost o de separabilidade nem o

supost o de separabilidade m odificado poderiam fundam ent ar a aceit ação

3

(8)

dos át om os e a exclusão dos deuses. E j ust ificava- o, afirm ando que um realism o que separasse o ser, da história, seria confrontado com a necessidade de aceit ar t odo o t ipo de ent idades consideradas por cient ist as, profet as e out ros.

«A afirm ação de que cert as coisas são independent es da invest igação ou da hist ória pert ence a uns m ecanism os de proj ecção part iculares que "obj ect ivam " a sua ont ologia e não t em sent ido algum à m argem do cenário hist órico que cont ém esses m ecanism os. A abundância dá- se na hist ória; não se dá no m undo.»4

Feyerabend considerava, que a proj ecção ( e a acum ulação, segundo depreendem os) de novos conceit os cient íficos invest idos de int em poralidade, obscurecera e ret irara sent ido à crença na exist ência dos deuses. Não haveria no ent ant o, em sua opinião, j ust ificação para que a ciência elim inasse ideias alt ernat ivas ou prot o- cient íficas. ( A persist ência do problem a m ente/ corpo, t am bém ilust raria o caso) . A redução, de acont ecim ent os ( ant es at ribuídos a causas divinas) , a leis fundam ent ais de nat ureza int em poral, era inaceit ável um a vez que não exist iriam reduções desse género. Porque em seu ent ender: «Os cam pos especiais int roduzem m odelos especiais cuj a derivabilidade da física fundam ent al, se supõe, em bora não se dem onst re».5

Relem brava que t ant o Descart es ( quando abordara o fenóm eno da luz) com o Newt on ( quando discut ira as propriedades do m ovim ent o em m eios resistentes) , teriam contrariado essa redução, sugerindo hipót eses diversas e dando- lhes um t rat am ent o diferent e do que seria de adm it ir em função de seus princípios. Tam bém não lhe parecia que fizesse sent ido duvidar da física do cont ínuo por não poder ser derivada da física nuclear. Ou ignorar o caráct er conj ect ural da relação ent re a t eoria da relat ividade geral e as leis planet árias. E que o fact o de se encont rarem longe da unificação, a m et eorologia, a geologia, a psicologia, a biologia e os est udos sociais, o levavam a afirm ar que «em vez de um a m ultidão de

4

Realism in CA, p. 139

5

(9)

part iculares firm em ent e ligados a um conj unt o de leis fundam ent ais invariant es no t em po, t em os pois, um a variedade de enfoques cuj os princípios unificadores se m ant êm indist int am ent e em segundo plano».6

Considerava que: a inexist ência de um conj unt o unificado de leis fundam ent ais na física, supost a raiz de t odas as reduções; a exclusão dos

elem ent os subj ect ivos ( fundam ent ais nos processos de aquisição e

cont rolo) das ciências nat urais e a consequent e insolubilidade do problem a m ent e/ corpo, afect avam os fundam ent os da invest igação cient ífica.

Faziam cair no dom ínio da m et afísica, as pret ensões de unidade e alcance universal que a ciência reivindicava, e acrescent ava que:

«( …) aquelas de ent re as suas proj ecções que funcionam provêm de áreas isoladas e carecem , port ant o, do poder dest rut ivo que se lhes at ribui. Most ram com o cert os sect ores respondem a t oscas aproxim ações, m as não nos oferecem nenhum a chave acerca da est rut ura do m undo com o um t odo.» 7

Dest acaria ainda, o fact o, de a t eoria quânt ica, enquant o t eoria fundam ent al e m elhor confirm ada da física desse t em po, rechaçar as

proj ecções incondicionais, fazendo depender a exist ência de circunst âncias específicas e hist oricam ent e det erm inadas. 8

Quest ionaria ent ão a supost a superioridade das pont as solt as da ciência desse t em po, cont rast ando- a com as colecções análogas do passado, para relançar a crít ica, quer à visão cart esiana da nat ureza, quer à escolha do cam inho hist órico de m enor resist ência que est a induzia e

que im pregnaria ou condicionaria ainda, algum a investigação científica, lim it ando- lhe o alcance e alim ent ando a ilusão de com m et odologias firm es poder com pensar a insuficiência da experim ent ação.

6

Realism in CA, p. 141

7

Realism in CA, pp. 141-142

8

(10)

Feyerabend considerava que t ant o o senso com um com o a ciência t eriam esquecido que as nossas form as de pensar e falar eram produt os de desenvolvim ent os hist óricos idiossincrát icos e sugeria ent ão «um a m elhor m aneira de cont ar a hist ória».9

1 .2 . Recusa do fundacionalism o

Em know ledge w it hout a foundat ion10 cont est aria a visão idealizada

da filosofia e da t eoria do conhecim ent o, t al, com o se proj ect avam ent ão na hist ória do pensam ent o, enquanto guias para a verdade, ou com o m edidas para a dist inção ent re o que t eria valor ou não.

«I deal elevado que se confront a com o fact o de que sem pre que um a escola o cum pre ou pensa t er cum prido, surge out ra que a quest iona, inst alando- se ent ão a dúvida, a confusão e a suspeit a de que as t ent at ivas para providenciar um a m edida universal de sent ido e validade deve ser abandonada.» 11

Em 1961, m anifest ava ainda opt im ism o m oderado quant o à possibilidade de est abelecer as fundações de um a ét ica e de um a

epist em ologia que fosse m ais que um exercício de sofist icação e profundidade. Sugeria ( t alvez t am bém com o t erapia) , o ret orno à leit ura dos fragm ent os dos nat uralist as Jónios. Just ificava a necessidade desse retorno, com o fact o de o cosm opolit ism o dos Jónios surgir associado ao espírit o crít ico, nascer da crença na m edida hum ana das inst it uições sociais e das leis, e expressar um opt im ism o acent uado relat ivam ent e ao poder do int elect o. Feyerabend considerava ainda, t erem os Jónios acredit ado na m udança e nas capacidades hum anas para a est im ular.

9

Realism in CA, p. 144

10 FEYERABEND P. K., «Knowledge without Foundations» in Philosophical Papers Volume 3Knowledge, Science and Relativism, Cambridge University Press, 1999, pp. 50-77. De aqui em diante, este volume será referenciado por «KSR» e este texto por «Knowledge»

11

(11)

Na leit ura e int erpret ação que desse período propunha, sugeria, que ao t em po, a indist inção ent re a filosofia e as out ras disciplinas t eria sido út il, m as que m ais im port ant e que essa indiscrim inabilidade, fora, o fact o de a diversidade das ideias discut idas, t er possibilit ado alargar os horizont es da descobert a, para além dos pont os de vist a filosóficos rest rit ivos de ent ão, não apenas, porque a diversidade dos pont os discut idos, proj ect avam e expandiam a interrogação e o conhecim ento, ou solucionavam problem as, m as sobretudo porque não se rest ringiam à invest igação dos aspect os m ais óbvios desses m esm os problem as. Feyerabend lam ent ava ent ão que alguns dos seus colegas enfat izassem ainda, a precisão e a t écnica, em prej uízo do alcance e sugeria que se clarificassem os assunt os de um a form a acessível a t odos.

1.2.1.Tales

Apont ava Tales com o caso exem plar das qualidades dos Jónios porque criara a prim eira t eoria da m at éria e era ent ão sua pret ensão, part ir da análise dessa t eoria, para at ingir o cent ro da t eoria do conhecim ent o.

Na sua perspect iva, a t eoria de Tales podia ser apresent ada em dois passos: no prim eiro, adiant ar- se- ia que os vários m ateriais que exist iam na nat ureza eram basicam ent e um a e a m esm a subst ância, configurar- se- ia assim a hipót ese da unidade na diversidade ( hipót ese que, em sua opinião, est im ulara o desenvolvim ent o das ciências nat urais) , no segundo passo, adiant ava- se com o elem ent o, a água.

(12)

Confront aria ainda o m ét odo desenvolvido por Tales bem assim com o, a sua at it ude de crit icism o ( face a t odos os dom ínios da vida, cient íficos e não só) , ao pont o de vista restrit ivo de algum as doutrinas filosóficas. polít icas e religiosas de ent ão, para realçar em cont rast e, a superioridade da at it ude crít ica dos Jónios.

Destacaria ainda as caract erísticas gerais que a teoria de Tales part ilhava quer com as t eorias cient íficas, quer com os esquem as m it ológicos de explicação e que não est ariam , na sua perspect iva, a ser bem com preendidas. Fazendo por essa razão, sent ido, o processo da sua reavaliação.

Caract erizaria sum ariam ent e a t eoria de Tales, expondo as suas qualidades. Na sua int erpret ação, a t eoria de Tales ( report ar- se- ia à generalidade) , referiria o geral, não se rest ringiria a um grupo

seleccionado de obj ectos, pelo contrário, expandir- se- ia, pois acom odava potencial para absorver o m aior núm ero possível de novos obj ect os. Era

explicat iva, não se lim it ava a sum ariar propriedades de obj ect os,

ant ecipava t am bém razões para a sua ocorrência e sua m udança. Mas porque confront ava as crenças m ais arreigadas e avançava conj ect uras que desafiavam os quadros m ent ais corrent es era sobret udo cont

ra-int uit iva e cont ra- indut iva.

Est a concepção alargada de t eoria, era, em sua perspect iva, m uit o diferent e das generalizações em píricas do t ipo «m et ais aquecidos dilat am » que se inferem por indução a part ir de um a colecção de observações relevant es dos com port am ent os dos m et ais quando subm et idos a diferent es t em peraturas e cuj a pret ensão assert iva repet e e vai além do conhecim ent o observacional. Pret ensão essa, que na

perspect iva do em pirist a caut eloso, precisaria de ser j ust ificada,

(13)

Em sua opinião, a t eoria de Tales, levant aria ao em pirist a

caut eloso, ainda m ais suspeit as que as generalizações em píricas. Pois não

só não repet ia a evidência, com o at é a cont radizia. Asseria a unidade onde se observava a diversidade. Cont radit ava a evidência. Não ia apenas, além da experiência, ia t am bém contra a experiência. Teria no ent ant o, enquant o t eoria, m aior pot encial de invest igação e induziria por isso, m ais

crit icism o, progresso e crescim ent o, que as t eorias que não descolavam do nível observacional.

Considerava que a t eoria de Tales, apesar de ingénua, era definit ivam ent e superior a m uit as das teorias ( dos anos cinquenta e sessent a) que apenas ofereciam , acordo com os result ados experim ent ais, ( est e pont o, est a crít ica ao reducionism o para que apont ava algum em pirism o, seria aliás desenvolvido ao longo das conferências) . 12

1.2.2. Mit os e Teorias

A necessidade de escrut ínio dos ant ecedent es m ít icos e m it ológicos das t eorias proporcionar- lhe- ia a int rodução de um a out ra linha de argum ent ação, ( cara, aliás a out ros hist oriadores da ciência e a Popper) e a abert ura à com paração das diferent es m undividências de que os m it os e as t eorias seriam apenas as proj ecções.

Considerava que os m it os part ilhariam algum as caract eríst icas com t eorias, com o a de Tales, com dout rinas religiosas e com teorias científicas abst ract as. Aceit ava o m it o, com o um a const rução sonhada im post a aos

fact os «sem com eles est ar relacionado» que se reivindicava de

verdadeiro, que revelava a «espant osa plast icidade» da m ent e hum ana e

que, ao cont rário da crença popular, não se dist inguiria da t eoria cient ífica por ausência de suport e fact ual.13

12

Knowledge in KSR , p56 Afirmava também ser sua pretensão: "prevenir uma condenação prematura dos

Pré-socráticos em termos empíricos" 13

(14)

Com a int erpelação observacional, ingénua, que de seguida fazia, à

lei da inércia ( Nenhum m ovim ent o t errest re cont inua para sem pre, nem

se observa o m ovim ent o circular nunca) , int ent aria pôr a descobert o, as dificuldades da sua aplicação sim ult ânea ao com port am ent o dos fenóm enos celest es e t errest res, e sublinhar a necessidade de se t er em m ent e esse fact o, sem pre que alguém pret endesse associar o nascim ent o da ciência m oderna aos nom es de Copérnico, Galileu, Kepler e

Newt on.

Declarava ser de Arist ót eles ( em bora com alguns ret oques) a t eoria

do m ovim ent o, ou, esquem a dinâm ico, que confront ara com a lei de

Galileu e reivindicava ainda, com o início para a ciência m oderna o t em po

em que as pessoas m ais do que especular, procuravam observar. Relem brava ainda, o pont o de vist a adopt ado pelos indutivist as para defender Galileu e New t on, e a lógica dos seus argum ent os do suport e

fact ual, para quest ionar a elim inação da t eoria Arist ot élica, porque considerava que est a, est ava t am bém , firm em ent e apoiada na observação e nos fact os. As diferent es int erpret ações dos fact os sugeridas, levá- lo-iam , a salient ar, a dificuldade em est abelecer as diferenças ent re t eorias cient íficas e m it os e a perguntar − «se não seria a ciência, o m it o de hoj e e os m it os, a ciência do passado?» E se − «t eria algum fundam ent o, a ideia de progresso em direcção a um a m aior racionalidade?»14

Avançava t am bém a ideia, da sem elhança das t eorias cient íficas de

New t on e Einst ein, com os esquem as m it ológicos alargados, pois, t al

com o os m it os, t am bém pret endiam explicar t udo, eram cont ra indut ivos e precipit avam a reint erpret ação dos result ados observacionais, pelo que elim inavam quaisquer desacordos iniciais que pudessem exist ir ent re a t eoria e os fact os. Salient ava t am bém a circunst ância de exist irem out ras sem elhanças, na inércia das inst it uições e dos indivíduos responsáveis pela t ransm issão do m it o/ t eoria. Est abelecia ainda, o paralelo com o m odo com o nas instituições religiosas e polít icas se procuravam elim inar os

14

Knowledge in KSR, pp. 59-60. Esta sugestão de continuidade entre mitos e ciência, que será desenvolvida

(15)

pont os de vist a dissident es. Com parando- o com o m odo com o os edit ores de publicações científicas se esforçavam por não edit ar art igos que desagradassem à com unidade cient ífica e concluindo com a ausência de referência às dificuldades e às alt ernat ivas das act uais t eorias cient íficas, nos m anuais de ciência.

Discut iria ainda alguns exem plos de conservadorism o científico e as sem elhanças ent re as com unidades cient íficas e religiosas abordados por

Kuhn e salient aria que apesar dest as sem elhanças cont radizerem os

pontos de vista em píricos sobre as caract eríst icas da ciência, exist irem ainda assim diferenças, ( ou deveriam exist ir) , um a vez que a reivindicação de esclarecim ento e racionalidade era um a reivindicação das ciências. Para Feyerabend as diferenças est ariam , quer na at it ude psicológica das pessoas que aceit avam o m it o ou as t eorias cient íficas,

quer na est rut ura lógica dos m it os e das t eorias. Com o sublinhava, essas

diferenças eram claras para Tales e os seus sucessores e teriam sido em larga m edida adopt adas pelas ciências em bora nem sem pre t ivessem sido expost as de m odo claro e com o t al reconhecidas. 15

Caract erizava a at it ude daqueles que acredit avam no m it o, com o um a at it ude de com plet a e resolut a aceit ação, porque acredit avam que o

m it o dizia a verdade, ( não seria adm issível, que est ivesse errado, e seria

m esm o suposto absorver as dificuldades que event ualm ent e o confront assem ) . Quando confront ado com a realidade, o m it o, não

evidenciaria as suas fraquezas, m as deixaria a descobert o, as dos suj eit os que o quest ionassem . A infalibilidade dos m it os prender- se- ia t am bém com a sua origem e com o processo da sua t ransm issão. O ensino do m it o reproduziria e perpet uaria a relação do professor infalível com o aluno ignorant e, passivo e incapaz de j ulgar. Dout rinação, m ét odo de ensino

que lhe correspondia. Os rit uais, as t áct icas de choque e o m edo aj udariam a criar o am bient e propício à im plant ação irreversível do m it o.

Feyerabend não deixaria de considerar surpreendent e que est as

15

(16)

caract eríst icas se m anifest assem ainda e em lugares que se esperava, deveriam assegurar progresso e razão.

A ocult ação de códigos m orais no m it o, era t am bém obj ect o da sugest ão que adiant ava, com o propósit o de evidenciar o m odo com o operavam e se reproduziam as sociedades fechadas. O m odo com o est as

nat uralizavam a ordem social. O m odo com o se m ant inham e perpet uavam , rest ringindo a responsabilidade e a liberdade. Os processos de condicionam ento m ecânico da consciência a que recorriam e que t eriam levado nat uralm ent e à perda da espont aneidade e à afirm ação e repet ição da crença. E, por fim , a t ransform ação das crenças em

argum ent os a favor da cert eza, que precedia a const it uição do «sist em a de crença dogm át ico».

Com o exem plos do uso de sist em as explicat ivos fechados ( que na sua perspect iva não eram at ribut o exclusivo das sociedades prim itivas) , apont ava, part es da dout rina cat ólica rom ana, o m arxism o, a psicanálise , alguns desenvolvim ent os da t eoria quânt ica. Dest acava, no ent ant o, dest e conj unt o, a psicanálise, pelo m odo com o, enquant o t eoria da m ent e, absorvera as dificuldades e se colocara a salvo de refutação.16

Para Feyerabend, a at it ude face ao m it o replicada na adesão cega a certas teorias que com o tem po se t eriam t am bém t ornado m ít icas, revelava um a atitude de com pleta e incondicional aceit ação, sust ent ada de um pont o de vist a m at erial, por inst it uições que considerava t ot alit árias e reforçada de um pont o de vist a espirit ual por um a ét ica que prem iava o conform ism o e cast igava a divergência. «Os m ais alt os valores» que essa ética proj ectava seriam , na sua perspect iva, m uit o diferent es dos valores de um a sim ples ét ica hum anist a preocupada com a felicidade e com a liberdade e independência de pensam ent o num a perspect iva racional.

16

(17)

Feyerabend ent endia que o m it o replicava a sua aut o- validação argum ent at iva e int elect ual e absorvia as dificuldades, t ransform ando- as em elem ent os de prova e de legit im ação da excelência e da cert eza absolut a. No lim it e, im por- se- ia à razão ou confundir- se- ia com est a. E que «( …) no ent ant o e apesar dest e t rem endo poder de pressão inst it ucional, m edo, corrupção espirit ual, e invet erados hábit os de pensar, e apesar do esplendor de um sist em a que pode dar segurança dando verdade absolut a, t eria havido sem pre, hom ens que procuraram algo m enos im pressionant e, algo 'm ais elem ent ar' ( t al com o é m edido pelo código de um a ét ica ad- hoc) , algo m ais hum ano. Os Jónios nem

precisaram de procurar − para eles esta form a m ais hum ana de vida era óbvia.»17

Ao descrever o m odo com o as teorias dos Jónios se diferenciaram dos m it os. Sublinharia que para os Jónios era óbvia, a origem hum ana, das t eorias que avançavam e das leis sociais com que se com prom et iam , pelo que, não viam necessidade de invocar deuses ou ant epassados dist ant es para as j ust ificar. Sendo criações do hom em , vinham sat uradas da sua nat ural falibilidade. Podiam est ar erradas, m as t am bém podiam ser m elhoradas um a vez det ect adas e discut idas as suas dificuldades. Em ergia t oda um a nova at it ude face ao conhecim ent o, à sociedade e à nat ureza.

«A at it ude para com um pont o de vist a geralm ent e aceit e, t ais com o um a t eoria cosm ológica ou um sist em a social seria daí em diant e um a at it ude de crit icism o .»18

1.2.3. Sociedades Fechadas e Sociedades Abert as

Seria t am bém , em sua opinião, est a at it ude de crit icism o, a caract eríst ica que diferenciaria a sociedade fechada dom inada pelo m it o,

da sociedade abert a. Só nest a últ im a, seria possível reivindicar a

17

(18)

necessidade de int roduzir m elhorias nas t eorias e nas inst it uições pois só nest a últ im a exist iria a consciência dos lim it es das criações hum anas.

Dest acaria ainda, com o caract eríst icas m ais im port ant es dessa

sociedade abert a, a inexist ência de um a ét ica da apologia ( apologét ica) e

dos «m ais alt os valores» um a vez que nem a cosm ologia nem as leis ou inst it uições sociais est ariam acim a do respeit o devido ao hom em que as criara e as poderia j ulgar e m odificar. Acrescent ava, t am bém não ser despicienda, a dist inção ent re nat ureza e convenção que levara ao

desenvolvim ent o de um a ét ica da aut o- suficiência e a um subst ancial aum ent o da responsabilidade, um a vez que se pressupunha que o hom em est abelecia at é as m ais elem ent ares regras para a sua condut a e por elas se responsabilizava e que esse fact o t razia consequências.

Considerava, que ao libert ar- se da cosm ologia, a ét ica sofrera t ransform ações e a própria cosm ologia se alt erara radicalm ente. Mais que a dout rinação, t eria com eçado a valer a part ilha. A at it ude t eria passado a cont ar m ais que a dout rina e a t roca de opiniões e a discussão de ant igas e novas t eorias t er- se- ia generalizado. As t eorias não m ais deveriam ser consideradas sist em as fechados, perfeit os ou em definit ivo acabados. A m udança ocorrida desde a adesão cega e incondicional aos m it os nas sociedades fechadas at é à em ergência de um a at it ude de

crit icism o nas sociedades abert as e ao consequent e pressupost o da falibilidade de t oda a t eoria induzia um a nova abordagem .

Desse t em po em diant e as t eorias não m ais seriam ( ou não seria

supost o deverem ser) const ruídas com o dogm as ou esquem as m it ológicos alargados, não deveriam por isso as suas part es, garant ir ant ecipadam ent e ao t odo, validade absolut a e a absorção de dificuldades. Nem seria legít im a, a reint erpret ação de evidências que refut assem post ulados previam ent e est abelecidos. A criação de t eorias que

18

(19)

part ilhassem as caract eríst icas acim a descrit as t razia im plícit a um a nova at it ude.

1.2.4. O Problem a Fundam ent al da Epist em ologia

Para Feyerabend, o problem a fundam ent al da epist em ologia: «que

at it ude devem os adopt ar e que t ipo de vida querem os viver?» não t ivera por part e da epist em ologia t radicional um a respost a sat isfat ória, um a vez que est a, na procura pelos fundam ent os, m it ificara os dados sensíveis e

as int uições claras e dist int as, e dest as e daqueles fizera derivar t eorias que garant iam absolut a cert eza ( apont ava a reverência com que os em pirist as encaravam ainda os factos) e em consequência asseria que qualquer decisão cont ra m et odologias para garantir a cert eza seria t am bém um a decisão cont ra os fundam ent os e nessa m edida «um a decisão a favor de um a form a de conhecim ent o que não possui fundam ent os».19

Para Feyerabend a epist em ologia, enquant o est rut ura do conhecim ent o que aceit arm os, enraizava- se num a decisão ét ica.

Convicção m uit o diferent e do que parecia ser ent ão o pont o de vist a corrent e. Pois era habit ualm ent e asserido, que os fundam ent os do conhecim ent o t eriam ont ologia própria, independentem ent e dos seres hum anos, podiam ser esquecidos, m al com preendidos, sobreavaliados m as não elim inadas com a aj uda de um a decisão. E que isso seria correct o apenas por se t er aceit e o pont o de vist a dogm át ico que

t rabalhava com cert ezas.

O pont o de vist a dogm át ico reforçara, com cert eza, as suas próprias fundações, «com o algo que é dado e não pode ser influenciado por decisões hum anas. Cont udo o próprio pont o de vist a dogm át ico não é dado ( except o, t alvez, hist oricam ent e) , é o resultado de ( conscientes ou

19

Knowledge in KSR, p.71. Na nota 6 remete para Popper, The Open Society and its Enemies, volume I: Plato

(20)

inconscient es) m edidas, inst it ucionais, lógicas e out ras, e pode ser elim inado t om ando diferent es m edidas. Assim som os de novo cham ados a decidir sobre o que gost am os m ais, um a t eoria que é aceit e com fé com plet a, que é const ruída de m aneira que t orna a refut ação im possível, que infilt ra considerações ét icas, ou um a t eoria que é olhada crit icam ent e, que é capaz de m elhoria e que ainda nos deixa liberdade para arranj ar as nossas vidas da m aneira que acham os m ais convenient e.»20

1.2.5. Os Pré- Socrát icos. Exem plo de um a com unidade crít ica

Para Feyerabend, o desenvolvim ent o da cosm ologia dos pré-socráticos tipificava a vida e o pensam ent o num a com unidade crít ica.

«Com eçam os com a ideia que t udo é basicam ente um a substância_ água. Em m enos de duzent os anos chegam os à t eoria at óm ica que ainda hoj e const it ui a base da física cont em porânea. O desenvolvim ent o é por crit icism o e m elhoria.»21

A t eoria de Anaxim andro result ara da crit ica da t eoria de Tales

( em bora dest a ret ivesse a ideia de um a subst ância básica ou de um arquét ipo) , o indefinido, t om ara o lugar da água, ( refere a exist ência de

desenvolvim ent os int eressant es da t eoria de Anaxim andro nas

especulações de Heisenberg) . O m onism o e a im possibilidade de m udança

de Parm énides seriam por sua vez cont rast ados com o at om ism o, o

pluralism o e a m udança, quer nos At om ist as, quer em Arist ót eles, Anaxágoras, Heraclit o e out ros.

Os At om ist as e Arist ót eles confront aram o m onism o e o problem a

da im possibilidade de m udança de Parm énides com a possibilidade da

t ransform ação das subst âncias. A t eoria de Arist ót eles abrira- se à

invest igação das possibilidades da m udança e ao desenvolvim ent o de

novas ideias relat ivas às causas de t oda a m udança possível, ao avançar

as ideias de pot encialidade e act ualidade. Est es desenvolvim ent os, t eriam

20

Knowledge in KSR, pp. 71-72

21

(21)

na sua perspect iva, sido absorvidos durant e a I dade Média e post eriorm ent e crit icados pelas Escolas de Paris e de Mert on e est ariam na

génese da m ecânica m oderna.

Recordava não t erem sido só os at om ist as e Arist ót eles, os únicos a

quest ionarem o problem a de Parm énides, e aludia ao fact o de t am bém

Em pédocles, Anaxágoras, Heraclit o e out ros t erem desenvolvido t eorias e

avançado novas ideias. Nunca at é à dat a, houvera t al abundância de novas ideias e t eorias. Mas com o afirm ava ent ão, o fim est ava próxim o, surgira no horizont e a am eaça do pont o de vist a dogm át ico.

Com a invest igação das font es do conhecim ent o, em ergira a

epist em ologia t radicional. Procurava t am bém refut ar, algum as das obj ecções dos gregos do século I V aos nat uralist as j ónios. Considerava que est as obj ecções eram m uit o claras e breves e que nada de novo t eria sido acrescent ado post eriorm ent e à hist ória do pensam ent o. Cont inuava, sublinhando que as m esm as possuem um grande pendor int uit ivo e que são os argum ent os m ais fort es que a t radição dogm át ica possui. Just ificando assim a conclusão do ensaio, com a exposição desses argum ent os e sua refut ação.22

Dest acaria dois dos argum ent os m ais popularizados quer pelos escritos filosóficos ( não os particulariza ou sit ua hist oricam ent e em bora depreendam os que não se refere apenas aos gregos do século I V) , quer pela Com édia Át ica e present es, t ant o nos escrit os post eriores da I grej a cont ra a filosofia ant iga quant o em algum as das m ais recent es escolas de física.

Quant o ao prim eiro argum ent o: «as ideias dos Jónios eram

absurdas». Feyerabend sublinhava que de um pont o de vist a analít ico e

em part icular, do pont o de vist a, da corrent e de análise linguíst ica que fazia da linguagem corrent e, a sua m edida padrão, est e argum ent o,

22

(22)

colocava no m odo m at erial do discurso ( coisas e suas propriedades) o que

repet ia no m odo form al ( palavras e suas relações) .

Para além disso, est e argum ent o, não levant ava a m enor dificuldade, porque a pret ensão de qualificar de absurdas as ideias dos

Jónios, seria um bom indicador, pois evidenciava o fact o de com est as

ideias se t erem quest ionado as crenças m ais popularizadas ( que de t ão fam iliares se t eriam t ornado expressão do óbvio) , e que assim deveria ser, na m edida em que esses pensadores desej avam o progresso do conhecim ent o.

A acusação de absurdidade, em sua opinião, indicava_ «que um a

m udança radical t ivera lugar». Seria um a m udança para pior?

«O argum ent o assum e que era, t om ando com o garant ido que em m at érias do int eresse com um , o senso com um t eria chegado à verdade.» Essa pret ensa crít ica popular aos Jónios, considerava- a Feyerabend desculpável, a m esm a t olerância não m anifest ava cont udo para com aqueles de ent re os seus cont em porâneos que usavam «( …) t oda e qualquer oport unidade para proclam ar a sua própria m odernidade: t odas as subt is e aborrecidas análises das escolas linguíst icas de hoj e,

Wit t genst einianos inclusive( …) »que part ilhavam o pressupost o fundacional

de que a linguagem corrente e a crença que a sust ent ava, seriam um a boa plat aform a para a filosofia, levavam - no ent ão a declarar: «Não é preciso ser filósofo para nos aperceberm os de quão errada é est a ideia.»23

O segundo argum ent o, part ia da diversidade das ideias avançadas

pelos Jónios para inferir que a verdade não t eria sido encont rada, nem desse m odo, o seria. Para Feyerabend, nada m ais nat ural, se t ivéssem os em cont a que os Jónios t inham desenvolvido as suas próprias ideias sem se preocupar com a verdade. Fact o, at é recorrent e na hist ória da filosofia.

23

(23)

Plat ão, os t eólogos, os em pirist as dos séculos XVI I e XVI I I t eriam usado a

m esm a argum ent ação com o propósito de m ostrar o que acontecia, quando abandonada a Bíblia ou o chão da experiência. Dest acava ainda a

form a com o alguns físicos cont em porâneos com paravam t am bém o m onolit ism o da Escola de Copenhagen com a variedade de ideias

discut idas no cam po opost o. Na sua int erpret ação, est es casos ilust rariam a valorização da uniform idade e a desvalorização da im aginação. Este argum ento pressupunha que a apreensão das verdade se fazia com um a só t eoria, ou sej a, e para usar as suas palavras, com a aj uda de um m it o.

O t erceiro argum ent o pressupunha que a cert eza era um a part e

essencial do conhecim ent o, na m edida em que, o significado da palavra «conhecim ent o» acondicionaria t am bém a ideia de cert eza. Para Feyerabend a respost a era sim ples e est ava t am bém dada de antem ão, na

recusa da cert eza enquant o fundam ent o.

Out ro dos argum ent os present e nas crít icas feit as aos Jónios

sublinhava a ingenuidade da pret ensão im plícit a na decisão de const ruir t eorias sobre o universo sem se t erem prim eiro int errogado se a m ent e

hum ana teria capacidade para t al. Considerava que, essa seria t am bém um a falsa quest ão, um a vez que a história do pensam ent o dem onst rava essa possibilidade. Por out ro lado, e porque out ras quest ões se levant avam . Com o, a de decidir da capacidade ( ou ausência dela) da m ent e hum ana para conhecer o universo? Pergunt ava, se seria um a t eoria da m ent e, m ais sim ples, que um a t eoria cosm ológica? Para concluir que:

«No fundo dist o exist e, cert am ent e, de novo, a ideia de cert eza: podem os est ar cert os acerca das caract eríst icas da nossa m ent e, à qual t em os acesso direct o. Não podem os est ar t ão cert os acerca das est relas, que, além do m ais, est ão m uit o longe. Nada est á m ais longe da verdade.»24

24

(24)

Out ro dos argum ent os ( que tam bém discutia) presentes nas críticas frequent em ent e dirigida aos Jónios e a t oda a invest igação t eórica era o da ausência de prat icabilidade.

À part ida parecia- lhe um argum ento fort e: «( …) O que t em o fact o de que t udo é feit o de água a ver com a nossa felicidade? A respost a é que não sabem os. O que sabem os é que part icipando na act ividade de sugerir e criticar teorias desenvolverá t rem endam ent e a im aginação hum ana, libert ará a m ent e hum ana. E é im possível aum ent ar a felicidade sem possuir algum a im aginação.»25

A apresent ação da principal t ese, que em sua opinião, result aria do

confront o ent re as duas form as de vida possíveis ( a que corresponderiam

duas form as de conhecim ent o) , obrigaria a um a escolha. A escolha caberia, no seu ent ender, aos indivíduos e seria em função das suas próprias exigências e ideias. Ent endia que a filosofia e em part icular a

epist em ologia t eriam t ent ado durant e anos abat er o voo da im aginação,

referindo- se às font es do conhecim ent o. Ter- se- ia despendido dem asiado

t em po, sofist icação e energia para legit im ar essas font es. Não cont ent es

com as ideias avançadas, m uit os pensadores t ê- las- iam , t ransform ado em m it os. A epist em ologia acolhera e m uit as vezes legit im ara form alm ent e

essa t ransform ação. Esforço inútil, lição não aprendida, razões que o levaram a adm it ir ser preciso, ret ornar à liberdade de t eorizar dos Jónios.26

25

Knowledge in KSR, p.77

26

(25)

1 .3 . O que cont a? O que observam os? Ou as considerações abst ract as que fazem os acerca das proposições elem ent ares e das t eorias? O que pensava W it t genst ein?

Na sua aut o- biografia, Feyerabend, recorda o convit e a Wit t genst ein para discut ir proposições básicas no Círculo de Kraft e do que est e

'pareceu dizer' a propósit o do que se observava ao m icroscópio e que seria m ais im port ant e que as considerações abstractas acerca da relação ent re " enunciados básicos" e t eorias.27

Wit t genst ein foi t am bém um dos prim eiros autores, que Feyerabend discut iu e recenseou.28 As I nvest igações ( em part icular a sua prim eira

part e) foram o obj ect o de um dos seus prim eiros ensaios,( «resum o eficient e», t eria dit o Ryle; t endo Malcom sido m ais com placent e) . Confessa que o t ext o lhe resist iu, de um m odo que não esperava. Cont rast ava a sua leit ura com a que fizera das " Rem arks on t he

Foundat ions of Mat hem at ics". Dava cont a de com o t ent ara ir ao fundo das

quest ões que levant ava, reescrevendo- o, e de com o os seus arranj os o

falsificaram e o fizeram expressar um a teoria. O «m onstro» teria por fim sido publicado em 1955 na Philosophical Review.

Em «Wit t genst ein's Philosophical I nvest igat ions» 29 , Feyerabend

propôs- se discut ir a obra, fixando prim eiro, um a t eoria filosófica ( T) , expondo em seguida o m odo com o essa t eoria era crit icada por Wit t genst ein e procurando por últ im o clarificar o que parecia ser a própria posição de Wit t genst ein, dando- lhe expressão na form a de um a t eoria filosófica ( T') que Wit t genst ein não t inha t ido int enção de est abelecer.

27 Feyerabend, Paul K., Killing Time

, The Autobiography of Paul Feyerabend, The University of Chicago

Press, 1995, p. 76, de agora em diante referenciada como KT. 28 KT., p. 92.

29 Feyerabend, Paul K., «

Wittgenstein's Philosophical Investigations» in Philosophical Papers Volume 2

(26)

A t eoria crit icada, o «essencialism o», est aria relacionada com o

realism o m edieval acerca dos universais e segundo Feyerabend t eria sido expost a por Wit t genst ein em cinco pont os: ( 1) problem as de denot ação e

sent ido; ( 2) cont rast ação da pureza e exact idão do sent ido com o seu uso

act ualizado, ( que considerava) «profanado»; ( 3) a) o problem a da

represent ação da palavra ( P) problem a da descobert a da «essência» do

obj ect o designado por ( 'P') no uso da linguagem de t odos os dias, ( um a vez supost o que do conhecim ent o da «essência» se seguirá o conhecim ent o do «t odo» do seu uso) ; b) a necessidade de const rução de

um a linguagem ideal cuj os elem ent os est ivessem relacionados com as essências de um m odo sim ples. A solução para ( a), a análise, a qual, por

sua vez, part e do pressupost o que «a essência est á escondida de nós»

m as que deve ser procurada. Quaisquer que sej am os m ét odos de análise em pregues: análise linguíst ica do uso de 'P'; análise fenom enológica de P; int uição int elect ual da essência de P. A respost a para ( a) é para ser dada

em definit ivo e independent em ent e de t oda experiência fut ura e sob a form a de definição. A solução de ( b) segue a solução de ( a) um a vez que

providencia os t erm os do enquadram ent o das definições que solucionam

( a); ( 4) À quest ão relat iva ao m odo com o pode ser confirm ada

det erm inada análise, a respost a é que a essência pode ser experienciada (

at ravés de im agens m ent ais, sensações, fenóm enos, ou processos int ernos de nat ureza m ais et érea) . 'Com preender o sent ido' é o m esm o que 't er a im agem diant e da visão int erna'. A essência do obj ect o denot ado, o sent ido da expressão denot at iva são a m esm a coisa e result am da análise dessa im agem , dessa sensação e da presença do processo. A presença da im agem dá sent ido às nossas palavras; obriga-nos ao uso correct o da palavra; possibilit a- obriga-nos o desem penho correct o de act ividades. Com preender, calcular, pensar, ler, são, pois, processos m ent ais. ( 5) De t udo ist o se concluía que ensinar um a linguagem

significaria m ost rar a relação ent re palavras e sent idos.30

30

(27)

Na perspect iva de Feyerabend, Wit t genst ein analisara T( 4) e daí

depreendera a im possibilidade de T( 3). O que im plicava que o

conhecim ent o do sent ido de ( P) nos est ava vedado em ( T) , apesar de em pregarm os ( P) t odos os dias e de as quest ões relat ivas ao seu uso só se colocarem quando em preendem os invest igação filosófica. Paradoxo que result aria do pressupost o do «sent ido» com o obj ect o de um cert o t ipo ( e de as palavras só assum irem sent ido pleno, quando em correspondência com esses obj ect os) e da assunção da verdade de T( 1) ,( 2). Mas, o que

acont eceria se abandonássem os T( 1) ,( 2)? Se o sent ido das palavras

flut uasse, que seria da lógica? Mas não est aria est a t am bém em risco no caso prim it ivo? A rem oção do preconceit o da «pureza crist alina» só seria ent ão possível, deslocando a invest igação para T'.31

Ant es de passar à exposição de T', isola do conj unt o das análises de casos especiais, que Wit t genst ein desenvolve e cuj o nexo confessa não ser fácil de apreender, a invest igação do uso da palavra «ler» feit a ainda na perspect iva de T.

De acordo com T( 1) , a palavra «ler» seria supost o det erm inar um caso singular de represent ação. Confront ar- nos- íam os, no ent anto, com um a pluralidade de casos, um a pluralidade de represent ações que est ilhaçavam essa pret ensão. Eram t am bém problem át icas, as hipót eses das experiências fisiológicas e m ent ais. Feyerabend considerava que, Wit t genst ein conseguira com a invest igação em pírica do uso da palavra «ler» m ost rar as dificuldades que surgiam quando se lhe associavam cont eúdos m ent ais part iculares e com est es, se pret endia det erm inar a sua essência, t al com o era pressupost o em T( 4).

Que conclusões se poderiam retirar desta análise? «( …) Que não há crit ério para decidir se um enunciado com o ' "A" representa a' ou 'a

frase "p" designa a proposição que p' é verdadeiro ou não; ( …) Mas

habit ualm ent e t ais quest ões não nos incom odam . Falam os e resolvem os

31

(28)

problem as ( m at em át icos, físicos, económ icos) sem nos incom odarm os com o fact o de não haver possibilidade de decidir se est am os ou não a agir razoavelm ent e, se est am os ou não a fazer sent ido. Mas não seria esse fact o paradoxal? Não seria paradoxal assum ir que um a expressão que usam os const ant em ent e para t ransm it ir, com o pensam os, inform ação im port ant e, não t em realm ent e sent ido e que não t em os possibilidade de descobrir esse fact o?"32

Para Feyerabend, um a grande part e das I nvest igações Filosóficas

são dedicadas à reavaliação do paradoxo decorrent e de T( 1) ,( 2), sendo o

fenóm eno da linguagem est udado a partir das suas form as prim it ivas de aplicação, com o «j ogos de linguagem ». Num dest es j ogos pret ende- se m ost rar com o o const rut or A prepara o assist ent e B para o desem penho da t arefa que é supost o realizar, apont ando obj ect os e pronunciando ost ensivam ent e as palavras que os nom eiam , dando em seguida ordens m ais com plexas envolvendo cores, núm eros e descrições.

Os problem as de int erpret ação associados a est a assim ilação prim it iva de expressões e aos seus ganhos t al com o são expost os por Wit t genstein sugerem , na perspect iva de Feyerabend, um a t eoria inst rum ent al, pragm át ica e const rut ivist a da linguagem.33

Est a ideia t eria um a im port ant e consequência. Os inst rum ent os seriam descritos por referência ao m odo de operar.34 O sent ido não

poderia ser apreendido, com o é supost o em T( 4), a sua apreensão

decorreria apenas do uso. Est e 'parece' ser um dos corolários da nova

teoria T'.

Feyerabend, considerava que est e corolário de T' pelas dificuldades que descobre, t eria levado Wit t genst ein a um a reavaliação de T', porque a

32

Wittgenstein in PE, pp. 108-109

33

Wittgenstein in PE, p.111, cf. n. 12: (…)" estou inclinado a dizer--e há forte evidência a favor desta visão--que

a teoria da linguagem de Wittgenstein pode ser compreendida como teoria construtivista do sentido, i.e. como construtivismo aplicado não só aos sentidos das expressões matemáticas mas aos sentidos em geral".

34

(29)

art iculação dos elem ent os de um j ogo de linguagem com a acção que o seu uso pressupunha, não esgot ariam a descrição do sent ido. Com as palavras, seria t am bém supost o dar expressão, a desej os, pensam ent os e int enções, e a com preensão dest as out ras dim ensões forçaria um regresso à invest igação dos processos m ent ais ( cuj a leit ura, int erpret ação e descrição só se proporcionaria, contudo, a part ir do cont ext o de sua elocução) . É esta t ensão ( ent re as condições de assert abilidade e a

dim ensão inst rum ent al e pragm át ica da linguagem ) que Prest on 35

denunciava.

No ent ant o Prest on considerava, que apesar da t ensão que

Feyerabend deixava a descobert o na exposição que fizera das

I nvest igações, a posição que oficialm ent e at ribuía a Wit t genst ein era, a de

um a represent ação não t eórica e inst rum ent alist a da linguagem e que provavelm ent e essa int erpret ação o t eria conduzido a um a «adequada concepção do sent ido dos t erm os cient íficos.»36 E, t erá, em nossa opinião,

levado, a um a propost a herm enêut ica alt ernat iva para a int erpret ação das t eorias cient íficas, que at ravessa, ( com o nos é dado descobrir) , o conj unt o de art igos, recensões, ensaios e conferências coligidos e editados nos volum es um dois e três dos Philosophical Papers

(30)

2 . TEORI A E I N COMEN SURABI LI DADE

2 .1 . I ndefinição int encional

Na int rodução aos volum es um e dois dos seus Philosophical Papers,

Feyerabend afirm ava pret ender discut ir t rês ideias que na sua perspect iva, t eriam desem penhado um im port ant e papel na hist ória da ciência, da filosofia e da civilização: o crit icism o, a proliferação e o realism o. Afirm ava que o crit icism o poderia ser descobert o em quase

t odas as civilizações e em filosofias com o o budism o e o m ist icism o, const it uiria m esm o a pedra de t oque da ciência e filosofia da ciência do século XI X e significaria não aceit ar passivam ent e ( e port ant o exam inar e transform ar) os processos, os fenóm enos e as inst it uições. O crit icism o desenvolver- se- ia, apost ando na proliferação, pois com o sust ent ava, não

nos lim it aríam os ao uso de um a só t eoria, sist em a de pensam ent o, quadro inst it ucional, at é que as circunst âncias nos forçassem a m odificá- los ou a

desist ir. Reivindicava que usaríam os desde o princípio, um a pluralidade de

t eorias, sist em as de pensam ent o, form as de vida, quadros inst it ucionais.

A noção de t eoria aí avançada ( com o sist em a de pensam ent o, form a

de vida e organização social ou quadro inst it ucional) era para ser usada

na sua versão fort e e não com o esquem a para processar acontecim entos ( ver t am bém volum e um , capít ulo onze, secção quinze, «An Argum ent For Maint aining The Cont radict ion») e ordenaria um a prim eira cadeia

argum ent at iva:

crit icism o→proliferação→realism o.

No prim eiro volum e est a cadeia era aplicada ao problem a da int erpret ação de t eorias cient íficas. Adiant ava ent ão que nenhum a das

(31)

e ent endera dever deixar que os seus conceit os preservassem a frut uosa

im precisão dessa prát ica.

Advertia tam bém para que não se lesse a sequência das set as, com o im plicações lógicas, m as ant es com o sugest ões para um debat e dialéct ico

a ocorrer com o consequência de um percurso que se iniciaria do lado esquerdo e envolveria «princípios físicos, suposições psicológicas, conj ect uras cosm ológicas plausíveis, advinhas absurdas e sim ples pont os de vist a com uns.»37

2 .2 . O problem a da int erpret ação das t eorias cient íficas

Os capít ulos dois a set e do volum e um t rat am do problem a da int erpret ação das t eorias cient íficas. A noção de t eoria adopt ada é a acim a

referida.

No capít ulo um do volum e um dos Philosophical Papers

(I nt roduct ion: scient ific realism and philosophical realism) defenderá que

o realism o afirm ado na t ese I, deriva de out ros t ipos de realism o

discut idos por cient ist as. Adiant aria que a t ese adm it ia, quer, um a leit ura filosófica, quer, um a leit ura hist órica. Lida com o t ese filosófica, reforçaria a im port ância do papel das t eorias na observação e det erm inaria que as observações e respectivos term os observacionais, não seriam apenas cobertos de teoria ( theory- laden) , com o defendiam Hanson e Hesse, m as

int egralm ent e t eóricos. Lida enquanto t ese hist órica acerca do uso dos t erm os t eóricos pelos cient ist as, evidenciaria o m odo com o os cient ist as se serviriam das t eorias, t ant o para reform ular problem as abst ract os, quant o fenóm enos.

37 Exemplos dessa opção pelo debate dialéctico são os argumentos para a proliferação, no volume um dos Philosophical Papers no capítulo um de "Reply to criticism: comments on Smart, Sellars and Putnam"; na

introdução da parte dois do volume um, "proliferation and realism as methodological principles"; na sexta

secção do capítulo quatro,"Explanation, reduction and empiricism"; e também os argumentos para o realismo no

(32)

A sua discussão da relação entre im pet us e m om ent um , em

«Explanat ion, Reduct ion and Em piricism» era, adm it ia- o, int eiram ent e do

segundo t ipo. Não era um a t ent at iva para t irar consequências de um a t eoria cont ext ual do sent ido, um a vez que, t eorias do sent ido, não desem penhavam nenhum papel nessa discussão. O que procurava sim plesm ent e m ost rar era que, quer os fact os, quer as leis da m ecânica Newt oniana nos im pediam de usar o conceit o de im pet us com o part e da

t eoria Newt oniana de m ovim ent o. Advert iria t am bém para que não se generalizasse o result ado a t odas as t eorias em com pet ição. Dem arcar- se-ia desse m odo das posições de Kuhn para quem as asserções gerais sobre

a incom ensurabilidade seriam em seu ent ender m ais apropriadas.

2 .3 . Teoria e experiência

Para Feyerabend, os problem as que levant avam as int erpret ações que at ribuíam à act ividade cient ífica o pot encial para enquadrar, sist em at izar e alargar a experiência, deveriam ser obj ecto de escrutínio

pelas consequências que im plicavam quer para o m ét odo cient ífico em geral, quer para a filosofia em part icular, um a vez que não reconhecia

ent ão, à experiência, o papel de fundam ent o. A sua recusa do

fundacionalism o em pirist a perm anecerá const ant e nos prim eiros anos.

Em «At t em pt at a Realist ic I nt erpret at ion of Experience» ( 1958)38

quest ionaria as consequências da int erpret ação posit ivist a da ciência, quer na sua versão inst rum ent alist a quer na versão reconst rucionist a

sofisticada de Carnap. Essas consequências seriam ent ão sint et izadas na t ese da est abilidade, cuj as dificuldades seriam t am bém expost as, assim

com o as habit uais t ent at ivas para a defender, fundam entando- a quer no

38 Feyerabend, Paul K, «Attempt at a realistic interpretation of experience», in Philosophical Papers Volume

(33)

princípio do sent ido pragm át ico quer no princípio do sent ido fenom enológico. Avançaria ainda nest e ensaio um a t ese alt ernat iva, a t ese I, e desenvolveria as suas consequências. Discut iria t am bém aí o

est at ut o lógico dos argum ent os cont ra a t ese da est abilidade e a disput a ent re posit ivism o e realism o.

As reservas que m anifest ava quer quant o à pret ensão

inst rum ent alist a de redução das t eorias cient ífica a inst rum ent os de

predição sem sent ido descrit ivo, quer quant o à pret ensão

reconst rucionist a m ais sofist icada de at ribuição de sent ido às t eorias com o

consequência da sua relação com a experiência levá- lo- iam à discussão da problem át ica dist inção ent re linguagem e observação.

2.3.1. Linguagem e observação

As dificuldades da dist inção ent re linguagem e observação result ariam , na perspect iva de Feyerabend, de apenas se considerar a sua

caract eríst ica, negligenciando a int erpret ação.

A caract eríst ica de um a linguagem observacional seria dada por dois

conj unt os de condições. O prim eiro conj unt o de condições, o pragm át ico, est ipularia qual o com port am ent o sensorial e verbal dos observadores quando expost os a sit uações físicas observáveis, e pressuporia: a) que os observadores, após um a série de estados e operações associadas ( result ando da função de associação da linguagem ) , aceit assem ou rej eit assem cada um a das proposições at óm icas dessa linguagem quando com elas confront ados em sit uações físicas apropriadas, condição de

decidibilidade; b) que em sit uações apropriadas as séries associadas

fossem percorridas depressa, condição de decidibilidade rápida; c) que se

em situações apropriadas, as proposições at óm icas fossem aceites ou rej eit adas por um observador, fossem t am bém aceit es ou rej eit adas por ( quase) todos os observadores, condição de decidibilidade unânim e; d)

(34)

proposição at óm ica expost a ou do est ado int erno do observador ou observadores, condição de relevância.

Est as quat ro condições pragm át icas, diriam apenas respeit o à

relação ent re proposições observacionais e com port am ent os de observadores em sit uações det erm inadas, m as não est ipulariam , ou condicionariam , o que essas proposições seriam supost as asserir. Para que t al acont ecesse, para que se pudesse efect ivam ent e desenvolver e especificar um a linguagem observacional part icular, seria ainda

necessário associar- lhes um segundo conj unto de condições, a

int erpret ação. Um a linguagem observacional só seria dada com o est ando

com plet am ent e especificada, quando às condições pragm át icas que const it uíam a sua caract eríst ica se acrescent ava um conj unt o de

condições est ipulando um a int erpret ação e não houvesse am biguidade na

sua dist inção. É essa dist inção não am bígua entre a caract eríst ica de um a

det erm inada linguagem observacional e a sua int erpret ação, que

Feyerabend considerava t er sido negligenciada nas dout rinas que se propôs ent ão discut ir.

Para m elhor explicit ar o argum ent o, Feyerabend sugeria que se com parassem , as reacções de organism os a det erm inadas sit uações físicas, com a aceit ação ou rej eição de det erm inadas proposições de um a linguagem observacional por part e de observadores hum anos.

(35)

observacionais apenas det erm inariam a aceit ação ou a rej eição das proposições observacionais.39

2.3.2. A t ese da est abilidade

Para Feyerabend, quer os inst rum ent alist as, quer os

reconst rucionist as lógicos, part ilhariam o pressupost o que as t eorias

científicas eram apenas m eios eficazes de sist em at ização da experiência e sust ent avam a t ese, a que cham ava de t ese da est abilidade, que as

int erpret ações ( t al com o foram expost as acim a) não dependeriam do

est ado do conhecim ent o t eórico.

De acordo com a versão inst rum ent alist a do posit ivism o, as t eorias

pouco m ais eram que instrum ent os de predição, de acont ecim ent os de cert o t ipo, desprovidas de sent ido descrit ivo. No ent ant o, para que um a predição desses acont ecim ent os acontecesse ou se desenvolvesse, era exigida um a linguagem que os descrevesse e cuj as proposições fossem observáveis e int erpret adas. Cont udo, ao ret irar sent ido descrit ivo às t eorias, ret irava- se- lhes t am bém a int erpret ação ( no sent ido acim a referido) e a ext ensão dessa int erpret ação a qualquer out ra linguagem . Em result ado do expost o, era supost o, a superest rut ura t eórica não

condicionar nenhum a das int erpret ações que um a linguagem observacional viesse a estabelecer.

Em sua opinião, no caso da versão m ais sofist icada de Carnap, a

reconst rução da linguagem da ciência far- se- ia recorrendo a um a linguagem observacional int erpret ada e a um a linguagem t eórica. Nest a versão, assum ir- se- ia que os t erm os prim it ivos da linguagem t eórica pudessem ser com plet am ent e explicados, em result ado da relação de alguns desses t erm os, com os t erm os observacionais. Não seriam , no

39

(36)

ent ant o, aceit es, int erpret ações independent es para os t erm os t eóricos, o que im plicaria que a int erpret ação da t eoria dependeria apenas da linguagem observacional usada e est ipular- se- ia que a linguagem observacional fosse com plet am ent e int erpret ada, pelo que t am bém nest e caso, a int erpret ação da linguagem observacional seria int roduzida

independent em ente do est ado da superest rut ura t eórica.40

Apart e est as breves not as crít icas com que de cert a form a se

sim plificavam os cont eúdos das versões inst rum ent alist a e

reconst rucionist a do posit ivism o, o sent ido do seu at aque à t ese da est abilidade, visava, em nosso ent ender, evidenciar, o quant o, est as

concepções, excessivam ent e det erm inadas pela percepção da experiência, rest ringiam o uso argum ent at ivo da linguagem , e no lim it e, conduziam ao subj ect ivism o e levavam a um a ont ologia m et afísica com consequências indesej áveis, e no lim it e, à redução do cont eúdo em pírico das t eorias.

A t ít ulo de exem plo, Feyerabend recorrerá ainda ao processo de cont agem usando núm eros nat urais ( que t am bém se pode considerar um processo part icular de observação de um núm ero de um a det erm inada classe) , de obj ect os, para pôr em evidência as pret ensões nem sem pre explicit am ent e assum idas, no int erior da linguagem , para o efeit o em pregue, de que ( 1) esses obj ect os seriam ent idades discret as que se podiam ordenar em séries e ( 2) que o result ado da sua cont agem final, seria, t ant o independent e da ordem seguida, quant o do m ét odo part icular de cont agem adopt ado. Procurando assim j ustificar ( apesar da sua plausibilidade) , não haver, a priori, razão para que essas pret ensões

fossem verdadeiras.

A qualquer enunciado im plicado na asserção de que det erm inada linguagem L seria aplicável, quer universalm ent e quer em det erm inado

dom ínio, cham ava Feyerabend, um a consequência ont ológica de L e é à

40

Referências

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