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A experiência religiosa de Yokaanam no contexto da saúde mental: uma leitura fenomenológica

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Academic year: 2017

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DISSERTAÇÃO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE MESTRADO EM PSICOLOGIA

UCB – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

A EXPERIENCIA RELIGIOSA DE YOKAANAM NO CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL:

Uma leitura fenomenológica

Pró-Reitoria Acadêmica

Escola de Saúde

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia

A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA DE YOKAANAM

NO CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL:

UMA LEITURA FENOMENOLÓGICA

Autora: Paula Rey Vilela

Orientador: Profa. Dra. Marta Helena de Freitas

Brasília - DF

2015

Pró-Reitoria Acadêmica

Escola de Saúde

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PAULA REY VILELA

A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA DE YOKAANAM NO CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL:

UMA LEITURA FENOMENOLÓGICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Senso em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia.

Orientadora: Prof.ª Drª. Marta Helena de Freitas

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7,5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

V114e Vilela, Paula Rey.

A experiência religiosa de Yokaanam no contexto da saúde mental: uma leitura fenomenológica. / Paula Rey Vilela – 2015.

114 f.; il.: 30 cm

Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2015. Orientação: Profa. Dra. Marta Helena de Freitas

1. Psicologia. 2. Yokaanam. 3. Experiência religiosa. 4. Delírio místico. 5. Saúde mental. I. Freitas, Marta Helena de, orient. II. Título.

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Dedico este trabalho a Françoise,

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AGRADECIMENTO

Agradeço a minha filhinha Françoise que, com sua doce presença, fortaleceu minha alma e não me permitiu desanimar diante do desafio deste trabalho.

Francisco Martins, sou grata pelo apoio, incentivo, afeto. Agradeço por me apresentar a história de Yokaanam e ter disponibilizado sua obra escrita.

Marta Helena, minha orientadora, agradeço a paciência em esperar meu tempo de produção, a sensibilidade, atenção e cuidado em conduzir esta pesquisa comigo, a transmissão dos conhecimentos em Fenomenologia e em Psicologia da Religião, que levarei com eterna gratidão para a práxis clínica.

Aos familiares, Marilu, minha mãe, José Gumercindo, meu pai, Florence, minha madrasta, Milenna e Higor, meus irmãos, agradeço a presença sempre amorosa, de cuidado e cumplicidade.

Às minhas avós, prendadas e sábias, agradeço a presença sempre amorosa e a transmissão de valores acerca da importância da família, do amor ao próximo, da fé cristã.

Tia Marilê, minha segunda mãe, querida presença em meu coração. Obrigada pelo seu amor.

Agradeço as boas conversas e amizade sincera de Jaqueline Alvarenga Soares, Cíntia Salume, Cláudia Valadares, Aline Durães, Fanny Miranda, Joyce Leslliane, Tatiana Soriano, Paula Viana.

Aos colegas do trabalho, que se tornaram bons amigos, Betânia, Caroline, Alessandra, Rosivânia e a toda a equipe de Psicologia do Hospital Infantil de Palmas.

Agradeço a João Marcos Viana, Wellington Castro pela leitura do abstract e a Marcos André pelo designer da apresentação no prezi.

Aos colegas queridos da pós-graduação, Sérgio, Suely (in memorian), Hellen e Nicole.

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Agradeço aos professores Alexandre Simões, Heloisa Borges, Mateus Henrique Pereira e Luciana Santos, boas referências a serem lembradas.

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RESUMO

VILELA; Paula R. A experiência religiosa de Yokaanam no contexto da saúde mental: uma leitura fenomenológica. 114 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Escola de Saúde, Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2015.

Esta pesquisa tem como foco uma pessoa líder de um movimento messiânico no Brasil, Mestre Yokaanam, originalmente chamado Oceano de Sá. Este recebeu o diagnóstico de paranóia religiosa pela psiquiatria. Não obstante, Mestre Yokanaam efetivou uma rica vida religiosa e comunitária. Questionamos como ocorreu sua experiência religiosa e suas possíveis conexões e distinções com o delírio místico, tal como proposto pela psicopatologia tradicional. O objetivo foi descrever sua experiência religiosa e examinar criticamente seu diagnóstico, de um ponto de vista ético, epistemológico e prático. Considerou-se para tais discussões os saberes da psicopatologia jasperiana, psicanáliConsiderou-se freudiana, psicologia da religião, sobretudo em Willian James, fenomenologia de Husserl e Merleau-Ponty, e uma introdução à filosofia kantiana.O método foi a historiografia e a história de vida. Vemos que Yokaanam iniciou suas atividades “mediúnicas” na infância, contudo, ele só veio a assumi-las em 1944, após a queda do aviãodo presidente Vargas, do qual era piloto oficial. A partir deste episódio, ele diz que aceitou seu chamado de continuar a missão de Emmanuel, transformando-se no Mestre Yokaanam, o Chefe Espiritual da Instituição religiosa Fraternidade Espiritualista Universal. Sua experiência religiosa se apresenta na criação da doutrina eclética, no trabalho assistencial a crianças abandonadas, na mediunidade, na crença de personagens da história reencarnados e na incorporação de entidades da umbanda. A partir disso, passou a ter seguidores que lhe procuravam inicialmente em busca de cura espiritual. Sem se pronunciar sobre a realidade ontológica do transcendente, a postura fenomenológica adotada nesta pesquisa levou a vislumbrar tais fenômenos sem deslegitimar a experiência de Yokaanam com o transcendente, com o tempo e o espaço, bem como com o que ocorre em seu mundo da vida, na intencionalidade da consciência. Ou seja, numa clínica compreensiva, suas experiências religiosas não são apreciadas simplesmente pela sua forma ou seu conteúdo, que se assemelham ao delírio religioso, ou pelos discursos de poder que vigoram no Ocidente, que tendem a dicotomizar as percepções humanas entre falsas e verdadeiras. Em vez disso, elas são vistas como intrínsecas à sua própria história de vida e, nesta, ao seu destino vivido como profético, comportando sentidos fundamentais em seu contexto e junto aos que o cercam.

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ABSTRACT

This research focuses on one person leader of a messianic movement in Brazil, Master Yokaanam, originally called de Sá Ocean. This was diagnosed with religious paranoia psychiatry. Nevertheless, Master Yokanaam effected a rich religious and community life. Question as it did his religious experience and their possible connections and distinctions with the mystic delirium, as proposed by traditional psychopathology. The aim was to describe their religious experience and critically examine their diagnosis, from an ethical point of view, epistemological and practical. It was considered for such discussions the knowledge of jasperiana psychopathology, Freudian psychoanalysis, psychology of religion, especially in William James, phenomenology of Husserl and Merleau-Ponty, and an introduction to Kantian philosophy. The method was the historiography and the history of life. We see that Yokaanam started its activities "psychic" in childhood, however, he only came to take them over in 1944 after the fall of President Vargas plane, which was official pilot. From this episode, he says he accepted his call to continue the Emmanuel Mission, becoming the Master Yokaanam, the Spiritual Head of the Religious Institution Universal Spiritual Brotherhood. His religious experience presents itself in the creation of eclectic doctrine in relief work for children abandoned in mediumship, the characters of belief reincarnated history and incorporation of Umbanda entities. From this, now has followers who sought him initially in search of spiritual healing. Without commenting on the ontological reality of the transcendent, the phenomenological approach adopted in this research led to glimpse such phenomena without delegitimizing Yokaanam experience with the transcendent, with time and space, as well as what happens in your world of life, the intentionality of consciousness. That is, a comprehensive clinic, their religious experiences are not just appreciated by its form or its contents, which resemble religious delusion, or the speeches of power that prevail in the West, they tend to dichotomizing human perceptions between false and true. Instead, they are seen as intrinsic to his own life story, and in this, their destination lived as prophetic, behaving fundamental sense in their context and with those who surround him.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1 A EXPERIÊNCIA DE YOKAANAM NA HISTÓRIA DO MESSIANISMO NO BRASIL ... 19

1.1 UMPOUCODATRAJETÓRIADOMESTREYOKAANAM ... 19

1.2 ADOUTRINAECLÉTICAESEUSRITUAIS ... 23

1.3 OESTIGMA:YOKAANAMÉUMLOUCO? ... 27

1.4 ASVISÕESEAMISSÃOPROFÉTICA ... 29

1.5 AMEDIUNIDADE ... 38

1.6 OSTRABALHOSDECURA ... 40

1.7 OTRABALHOASSISTENCIAL ... 42

2 A FENOMENOLOGIA DO DELÍRIO MÍSTICO ... 45

2.1 DAPOSSESSÃOAOSTRANSTORNOSMENTAIS ... 45

2.2 ODELÍRIOEANOÇÃODEJUÍZO... 48

2.3 ODELÍRIO:UMPARADIGMAPSIQUIÁTRICO... 50

2.4 CARACTERIZAÇÕESDODELÍRIOMÍSTICO ... 58

2.5 ODELÍRIOMÍSTICONAPSICANÁLISE ... 61

2.6 OREENCONTROCOMANOÇÃODEFENÔMENO ... 65

3 A FENOMENOLOGIA DA EXPERIENCIA RELIGIOSA ... 72

3.1 AEXPERIÊNCIA:UMCONCEITOFILOSÓFICO ... 72

3.2 AEXPERIÊNCIARELIGIOSANAPSICOLOGIAESENSORELIGIOSO:UMA INTRODUÇÃO ... 75

4 EXPERIÊNCIAS RELIGIOSAS E PSICÓTICAS: UM EXAME CLÍNICO ... 80

4.1 MISTICISMOOUPSICOSE?PERSPECTIVACOGNITIVISTADEJACKSONE FULFORDEASDESEUSCOMENTADORES ... 80

4.2 OPENSAMENTOFENOMENOLÓGICODECAROLINEBRETT:UMA INTRODUÇÃO ... 87

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5.1 YOKAANAMEOMUNDODAVIDA ... 93

5.2 YOKAANAM,APOSTURACOMPREENSIVAEAFÉFILOSÓFICA EM JASPERS ... 96

5.3 APRÁXISCLÍNICANOTRATOAOSFENÔMENOSRELIGIOSOS ... 101

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 106

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INTRODUÇÃO

A relação entre religião e saúde mental tem sido bastante discutida e problematizada por profissionais psicólogos, psiquiatras e pesquisadores comprometidos com o paradigma da reforma psiquiátrica. Consideramos que estas discussões ocorrem, pois, o binômio religião e saúde é marcado por um complexo de fenômenos que se entrecruzam, dificultando a conduta clínica do profissional que se depara com esta realidade e cuja formação se deu a partir de uma perspectiva não apenas secularizada, mas também de suspeita em relação ao fenômeno religioso. Deste modo, buscamos recuperar estudos que articulam a psicologia da religião, a psicopatologia e a filosofia, numa tentativa de revisar a epistemologia da ciência do psicológico e contribuir para a reconstrução de um saber que deixou para trás questões cruciais para uma ciência que se pretenda intitular de humana. Estas questões esquecidas, que explicitaremos no decorrer do trabalho, muitas vezes estiveram a serviço de garantir um determinado estatuto de ciência, mormente ancorada no racionalismo e/ou no positivismo. Quando as ciências humanas se veem completamente comprometidas com este estatuto, acabam por não reconhecer o aspecto sensível, que é uma premissa ao seu rigor e o que garante sua existência. Immanuel Kant (1781), por exemplo, reconhecia este aspecto sensível como necessário à psicologia, mas questionava a possibilidade desta se constituir como ciência.

Diante do impasse epistemológico entre a ciência do psicológico e a experiência religiosa humana, ocorre hoje um movimento crítico no campo da psicologia da religião que se coaduna com os ideais da reforma psiquiátrica brasileira, quando pensamos no trato de questões religiosas no contexto da saúde mental. Podemos citar, por exemplo, o retorno proposto por Carrete (2012) à perspectiva de William James (1902), que aprofundou-se na compreensão da noção de experiência religiosa. Também no campo da psicopatologia, vemos psiquiatras como Jackson e Fulford (1997) que, há cerca de duas décadas, levantaram discussões clínicas e éticas em torno das distinções e conexões entre as experiências místicas e psicopatológicas. Atualmente, temos alterações dos DSMs com maior reconhecimento e qualificação do aspecto cultural. O modelo da atenção psicossocial trouxe também uma perspectiva que contempla o potencial da rede social disponível no próprio território em que se situa o indivíduo, incluindo-se aí a dimensão religiosa.

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do assunto, atentando-nos para o alerta já apontado por Antoine Vergote (1969), de que nós, como pesquisadores em psicologia da religião, devemos consentir com a exclusão metodológica do transcendente, segundo princípio enunciado por Flournoy em sua obra Les príncipes de la psychologie religieuse (1902), e que Vergote faz menção. Consideramos, então, que o mesmo princípio deve se aplicar aos profissionais de saúde ao lidar com a dimensão religiosa, cotidianamente, junto aos seus pacientes.

É com este pensamento que descrevemos, numa perspectiva fenomenológica, a experiência religiosa do mestre espiritual Yokaanam, líder de um movimento messiânico no Brasil que recebeu o diagnóstico de paranóia religiosa pela psiquiatria.

Consideramos que Yokaanam se vincula a fenômenos do messianismo, pois sua experiência religiosa é dada num campo intersubjetivo em que sua experiência não é legitimada simplesmente pelo seu dom, mas também pelo seu contexto e o imaginário social. Importante considerar o momento histórico do país no contexto de seu movimento, e que seu carisma foi também nutrido pelas necessidades e anseios daquelas pessoas que decidiram segui-lo.

Cerqueira (2014) diz que os movimentos messiânicos não nascem por decreto ou por voluntariedade de um indivíduo iluminado. Estes movimentos só acontecem quando pessoas estão incomodadas e começam a canalizar seu mal-estar na busca de alternativas de solução. Há que se considerar, portanto, que o movimento messiânico do Mestre Yokaanam foi impulsionado pelo processo de interiorização do país e inserido na perspectiva de uma Brasilia erguida sob o ímpeto do sagrado, como nos mostra Araújo (2009). A autora chama a atenção para a pressão social, econômica e religiosa que os migrantes ecléticos fraternários enfrentavam no contexto da criação da Fraternidade Eclética. Também destaca o imaginário social em que a capital de Brasília foi construída, num ideário de paraíso de fartura e abundância, que resultaria em uma civilidade ideal, numa perspectiva de desenvolvimento e integração nacional com uma ideia visionária da terra prometida.

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propiciam o surgimento de seitas e grupos responsáveis por uma nova visão de mundo. Sensível a este aspecto, mestre Yokaanam instaura sua cidade santa nos arredores da mística Brasília e consolida assim o ideário da terra prometida.

Vemos em Yokaanam um líder polêmico, em que há diferentes discursos a seu respeito. Assim, questionamos como ocorreu sua experiência religiosa e suas possíveis conexões e distinções com o delírio místico, tal como proposto pela psicopatologia tradicional, fazendo um exame crítico do seu diagnóstico. Foram utilizados, nesta pesquisa, os livros escritos por Yokaanam ainda em vida: “Yokaanam fala a posteridade”, “O cristianismo reúne, não divide”, “Entre apupos e Homenagens” e “Evangelho da Umbanda Eclética”.

Consta, na história escrita pelo Mestre Yokaanam (1974), que seu movimento teve início na década de 40 (cronologia que será detalhada no decorrer do trabalho), quando ele mobilizou e converteu centenas de famílias para sua religião, a Fraternidade Eclética Espiritualista Universal. Esta foi depois fundada oficialmente no Estado do Goiás, mas remanescente da sua origem no Rio de Janeiro. Yokaanam passou a realizar curas espirituais e se experimentava como um profeta. Mudou então as suas vestimentas e a sua aparência. Com cabelos e barbas longas, vestido com seu balandrau, Yokaanam pregava a união das religiões, dava assistência a crianças carentes e acolhia aqueles que estavam dispostos a seguir seus mandamentos inspirados na doutrina cristã, espírita e umbandista. Também vemos uma aproximação de Yokaanam à maçonaria, ao budismo e às filosofias que falam do cosmos universal. Devido a este destino, Yokaanam foi julgado como louco por muitos, inclusive por psiquiatras, como o Doutor cubano Emílio Mira y Lopez (1957), criador do teste psicodiagnóstico miocinético (PMK), que atestou ser a experiência de Yokanam uma paranóia religiosa. Este fato constitui-se em nossa principal motivação para rever a história dele a partir de seus próprios escritos. Sabemos que este diagnóstico clínico torna-se polêmico e controverso, tendo em vista o legado deixado por Yokaanam, que está vivo entre seus fiéis e na história do messianismo no Brasil. Neste sentido, nosso intuito neste estudo foi contribuir para um maior refinamento da clínica e, mais especificamente, no trato a esses fenômenos.

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interessa ao pesquisador é o ponto de vista do sujeito. Neste caso, a história contata ficou registrada, sob a forma escrita, nas obras do próprio Yokaanam. O objetivo desse tipo de estudo é justamente apreender e compreender a vida conforme ela é relatada e interpretada pela própria pessoa.

O início do interesse por esta temática “Religião e Saúde Mental” se deu desde os estágios da graduação em Psicologia. Após experiências clínicas estagiando no Sersam (Serviço de Referência em Saúde Mental) de Divinópolis (MG) e em uma comunidade em situação de vulnerabilidade social conhecida como Lajinha, também em Divinópolis (MG), começaram a surgir questionamentos diante de casos em que a experiência religiosa se esbarrava no campo da saúde mental ou vice-versa. Um exemplo determinante nesta trajetória foi o caso que aqui chamaremos de Jorge. Tratava-se de um homem de 35 anos, morador da Lajinha, acompanhado pelo Sersam, com um diagnóstico de psicose decorrente do uso abusivo de álcool. Num dos seus encontros com a autora deste trabalho, Jorge se transformou em uma outra pessoa. Um homem que falava de sua vida de repente se transformou num outro, com outra voz, outro olhar, outra expressão, que ria dela dizendo que ela era corajosa por estar ali. Presentificou-se uma suposta entidade bem diferente do paciente necessitado de atendimento psicológico. Quando Jorge foi questionado onde se encontrava, ele disse que estava atrás desta suposta entidade que se apresentava, com risos e um olhar devorador para a estudante. A despeito dos receios por parte da então estagiária em psicologia, a conversa continuou. Foi então que aquele que ali estava foi questionado se ele sabia das crenças de Jorge, já que este era um assunto que já havia sido abordado noutras sessões e Jorge dizia ser crente em Deus e devoto de Nossa Senhora. Naquele momento, como que num efeito de mágica, aquele que se apresentou desapareceu e Jorge reaparece, como que perdido, sem saber onde estava. Foi questionado se ele estava bem e assim Jorge foi reorientado no tempo e espaço, no porão da igreja, local onde realizávamos os atendimentos que chamávamos de plantão psicológico. Desde então, a estagiária, atualmente psicóloga e pesquisadora, passou a questionar acerca daquilo que havia vivido naquele atendimento. Seria possessão, incorporação, despersonalização, transe, personalidade múltipla, um delírio ou uma experiência religiosa?

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desta, houve o encontro com a história de vida de um ser polêmico, santo, bizarro, um profeta, o Messias, um paranóico, o enviado, hoje não mais presente entre nós, senão em nossa memória, ou como diria seus adeptos, em espírito, e mais ainda na mente daqueles que creem e seguem seus ensinamentos: mestre Yokaanam. De fato, a história messiânica do Mestre Yokaanam tem chamado a atenção de antropólogos, sociólogos, historiadores (NEGRÃO, 2001; MELLO, 2013; CIPRIANO, 2005) e também a nossa, psicólogos, já que buscamos, enquanto clínicos, compreender a complexidade da experiência humana.

Consideramos que um problema se apresenta quando casos como os de Yokaanam e os fenômenos religiosos ali envolvidos em sua experiência passam a ser categorizados como delírio místico pelo discurso da psicopatologia e psiquiatria tradicional. Ser coniventes e adotarmos ao pé da letra este modelo, implicaria em facilmente psicopatologizarmos homens da Bíblia, Antônio Conselheiro em Canudos, Padre Cícero em Juazeiro e o contestado dos monges João e José Maria, para citar os clássicos movimentos messiânicos no Brasil. Mencionamos ainda outros novos movimentos, como o caso do Demônio no Catulé, ocorrido entre adventistas da promessa em um grotão mineiro e propiciador da peça teatral e do filme Vereda da Salvação, o caso Exército da Salvação, organizado por Aparecido Galdino, na década de 60, no interior paulista, o movimento terrorista e ufologista de Galdino Félix, surgido na década de 60, em São Paulo e o movimento dos borboletas azuis, de Campina Grande, conduzido por Roldão Mangueira, na década de 70.

Todos estes casos foram contextualizados por Negrão (2001) de um ponto de vista antropológico. Temos ainda outros mais próximos de nós, nas mediações da Capital Federal, que não se caracterizaram como messiânicos, mas levantam questões relacionadas aos critérios adotados pela psicopatologia para diagnosticar os fenômenos delirantes, como Inri Cristo, Tia Neiva, João de Deus.

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Dalgalarrondo (2008) aponta que é interessante observar as semelhanças entre esse caso de Madeleine e o caso Schreber. O autor nos diz que, nestes casos e noutros vistos na clínica diária, a ideia de união profunda, às vezes total, com Deus, talvez expresse um desejo humano de completude total, de encontro com um ser amado cujos gozos, divinos e eróticos ao mesmo tempo, sejam de abrangência e perfeição total.

Este mesmo autor, em sua obra intitulada “Religião, Psicopatologia e Saúde Mental”, apresenta-nos importantes reflexões que contribuíram para estes campos teóricos e o diálogo entre eles. Também Edênio Vale, no livro “Psicologia e experiência religiosa” (1998), trouxe uma boa revisão da literatura concernente ao pronunciamento da psicologia frente aos fenômenos religiosos e como estes são definidos a partir de uma extensa lista de autores. Estes autores nos ofereceram uma visão geral do campo.

Mencionamos também o quanto a religiosidade no Brasil é marcante, como podemos constatar a partir do último censo demográfico (IBGE, 2010). Desde o recenseamento de âmbito nacional até a década de 1970, o perfil religioso da população brasileira manteve a hegemonia da filiação a religião Católica Apostólica Romana, característica herdada do processo histórico de colonização do país e do atributo estabelecido de religião oficial do Estado até a Constituição da República de 1891. Porém, no decorrer das últimas décadas, tem ocorrido uma diminuição do índice de catolicismo e um crescimento da diversidade de grupos religiosos no Brasil, revelando uma maior pluralidade nas áreas mais urbanizadas e populosas do país. Isto mostra que o Brasil tem uma sociedade religiosa marcada por uma certa porosidade, como aponta Sanchis (2003), no seu convite a pensarmos a dinâmica religiosa pluralista do país.

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A partir destes índices, temos mais razões para, enquanto clínicos, atentarmo-nos para os fenômenos religiosos com um olhar para o aspecto cultural, social, simbólico, sem precipitações diagnósticas da nosografia psiquiátrica. Embora alguns modos de existência sejam vistos como patológicos pela psicopatologia, como o próprio conceito de delírio, propomos aqui um exercício de compreensão destes fenômenos de um modo contextualizado, evitando pronunciarmo-nos sobre a realidade ontológica do transcendente justamente para não incorrermos no erro de sermos tão somente empiristas e lógicos formais – por decorrência, reducionistas - em se tratando da complexidade da experiência humana.

O próprio Kant (1781), ao tratar da ciência psicológica, recusou-lhe o título de legitimidade científica. Sabemos que estas críticas com relação à ciência do psicológico estão até banalizadas atualmente, mas insistimos na revisão criteriosa deste status da ciência do psiquismo, já que ainda vemos de modo também banal a reprodução de discursos e pressupostos científicos que muitas vezes não condizem com aquilo que se mostra na realidade particular subjetiva de experiências vivenciadas.

Ao escolhermos a fenomenologia como postura metodológica nesta pesquisa, garantimos a legitimidade humana de nossa leitura, que foi empírica, descritiva, compreensiva. O encontro com os escritos do mestre Yokaanam nos foram apresentados num exercício constante da epoché,

proposta por Husserl (1931), que é a suspensão do juízo em relação a tudo que é oferecido, numa redução de cunho fenomenológico, atingido pela intencionalidade da consciência. Consideramos que esta intencionalidade é que nos permite o encontro com um fenômeno específico, numa percepção que é também intuitiva, sensitiva.

Assim é que, quando trazemos como tema a relação entre os fenômenos místicos e psicopatológicos, enfatizamos a importância de pesquisadores e clínicos mostrarem-se abertos para encontrar o inusitado, o inesperado, numa reação de espanto, encantamento, estranhamento, diante do que se nos apresenta à nossa consciência.

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A seguir, pensando no diagnóstico dado a Yokaanam, buscamos uma contextualização acerca da história da loucura e suas relações com o que, na idade média, era chamado de possessão. Partimos então para os conceitos de delírio, em Jaspers (1973; 1979), recorrendo a filósofos e fenomenólogos como Kant (1781) e Merleau-Ponty (1945), que nos ajudaram a pensar a noção de juízo, que pensamos ser a problemática que envolve o paradigma do delírio. Na sequência, apresentamos as contribuições da psicanálise para pensar o delírio e suas limitações quando tendem a psicopatologizar experiências religiosas. Numa outra proposta, que não deslegitima saberes como o da psicopatologia e psicanálise, mas nos permite a partir de um exame crítico, revisá-los, retomamos as noções de fenômeno e reflexões importantes para a epistemologia da ciência.

No capítulo 2, continuamos escavando a epistemologia da ciência, com Husserl (1931), que nos inspirou a pensar o conceito de experiência e outros autores, como Willian James (1902), que trouxe a noção de experiência religiosa e que aqui articulamos aos conceitos de Husserl.

No capítulo 4, apresentamos discussões clínicas de autores contemporâneos como Jackson e Fulford (1997 a; 1997b) e Caroline Brett (2002; 2002a) acerca das distinções e conexões entre experiências religiosas e psicóticas.

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1 A EXPERIÊNCIA DE YOKAANAM NA HISTÓRIA DO MESSIANISMO NO BRASIL

1.1 UM POUCO DA TRAJETÓRIA DO MESTRE YOKAANAM

Despir a camisa do orgulho e da escuridão mental, que a ciência materialista nos veste, para entrar no ambiente meditativo e sensitivo das coisas e dos fenômenos espirituais, é o primeiro gesto de quem quer honestamente chegar ao conhecimento da verdade. (YOKAANAM, 2010, p. 62)

Este capítulo é reservado para descrevermos a experiência religiosa de Yokaanam, a partir de sua obra escrita. Assim, buscamos explicitar sua história enfatizando como ocorreu sua passagem de profano a profeta, a criação da doutrina eclética, o seu estigma de louco, as visões e missão profética, a sua mediunidade, os trabalhos assistenciais e de curas espirituais.

Através do que descreve como ditado mediúnico de Tomás de Aquino, Yokaanam (2010) nos diz que nasceu no dia 23 de fevereiro de 1911, as 03:40 horas da manhã, sob os auspícios de um tema búdico, no dizer dos iniciados templários do oriente. Assim, ele diz ter nascido no instante sideral de uma conjunção planetária que lhe dá a proteção do manto mágico potencial e divino do triângulo Austral de Piscis (Peixes) e, sob o governo de Netuno, tendo a sua cabeça, como domicílio divino de origem psíquica, Júpiter, e como guardião de lei, Saturno, o grande juiz, pelo fato de haver recebido, no templo do mistério (o plano Y, ou residência dos três graus de Messias), o selo das cinco chagas e as sete lâminas da estrela superior e da rosa de Brahma.

Neste ditado mediúnico, Yokaanam (op. cit.) nos diz que sua função psico-nervosa nasceu sob a trama vibratório-dinâmica do Tau da Luz. Portanto, com sintonia de correspondência com o diapasão da escala musical ou cromática dos acordes fundamentais divinos dos planos superiores, para manter e garantir sua permanente sensibilidade vibrante e imune da predominância dos assaltos das legiões negativas que constituem as potências dos contrários ou do sinal menos (-) e sua ligação com os arcanos do Templo da Luz.

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Daniel, o profeta; Bhagavã Ramacharaka, o instrutor dos instrutores messiânicos; Sri Ramakrishna; São Mateus, o apóstolo; Moysés, o Mestre de Israel, hoje reencarnado na pátria do cruzeiro; Buddha, o iluminado, também reencarnado; Sócrates, o pai da filosofia; Platão, o divino e grande discípulo de Sócrates; e outros tantos que nasceram nos meses vizinhos e próximos da mesma constelação e configuração planetária, como São Bento, São Joao Crisóstomo, São Gregorio I, São José, Santo Eleutério, São Romualdo, León Denis, São Francisco de Sales e outros.! (YOKAANAM, 2010, p.27).

Conforme consta em sua biografia, vemos que Yokaanam nasceu em Maceió, Alagoas, Brasil-América do Sul. Filho de Joaquim C. de Sá e Barbara de Sá, que tiveram 14 filhos. Sua mãe morreu em março de 1915 e seu pai em 1935. Yokaanam foi-lhe o último filho. Vemos em sua história que houve um pedido de sua mãe, minutos antes de morrer, a uma mulher chamada Maria Pastora, que Yokaanam soube pelos seus familiares. Ela pediu à Pastora, conhecida como Mãe Preta, que prometesse tomar conta do seu caboré e disse-lhe que, quando ele crescesse, seria a glória da família. Ela, a Mãe Preta, Maria Pastora, cumpriu a promessa. (YOKAANAM, 2010)

Yokaanam (op.cit.) diz que o termo caboré é nome tupi guarani de um pássaro caboclo notívago, muito abundante ao cair da noite e muito conhecido no norte. Ave da família dos

bubônidas-claucidium brasilianum. No folclore nordestino, a pequena coruja que faz seu ninho em buraco no solo, tem a característica de estar fazendo a ligação entre as entranhas da terra e os céus. Desde então, temos Yokaanam já com seu destino especial traçado.

Assim, Maria Pastora da soledade criou Yokaanam, foi sua madrinha e isto fez com que Yokaanam tivesse sempre muito apreço, respeito e carinho por ela. Diz que ela é o símbolo mais perfeito de todas as mães terrenas, que foi ela a mãe preta anônima e escrava de todos os filhos brancos do mundo durante séculos, que sofreu e amou os filhos de seus amos ou patrões, em lugar de seus próprios filhos (YOKAANAM, 1974).

Segundo Yokaanam, seu pai, contra a vontade de sua família, casou-se pela segunda vez em 1927, na cidade de Alagoas, e teve só uma filha, de nome Teresinha de Jesus, que foi membro reingressante da fraternidade, sendo conhecida sob o nome espiritual de Consuelo de Varuna.

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espiritualista; reitor das academias ecléticas exo-exotéricas da Fraternidade Eclética Espiritualista Universal, aviador, instrutor de voo cego e aterrisagem cega, etc. Astrofísico, atomista, filólogo, crítico de letras e artes. (YOKAANAM, 1974)

Como podemos constatar pelos seus escritos, desde os 13 anos, Yokaanam (op.cit.) se dizia médium espontâneo, vidente, ouvinte, psicógrafo, mas desde os 11 anos tem consigo o espírito do Mestre e conselheiro Lanuh. Ele diz que, em sua vida familiar e profana, sempre foi criticado a distância, sempre foi visto como orgulhoso, por uns, e lunático por outros, pois fugia dos prazeres da carne.

Aos 16 anos, quando Yokaaanam diz ter sido de retirado do internato católico por falta de recursos de seu pai e ter sido expulso de casa, em consequência das segundas núpcias de seu pai, ingressou no 20º batalhão de caçadores, para enfrentar a vida sozinho. Ali, Yokaanam (op.cit.) nos diz que conquistou a simpatia geral no meio dos sargentos e oficiais, devido a seu preparo e à sua excelente caligrafia, o que lhe valeu passar a auxiliar o serviço de escrita do capitão comandante da companhia e, logo depois, passar a professor da escola regimental, onde lecionava para soldados, cabos e sargentos.

Yokaanam lembra de sua participação em uma escolta com destino ao Rio de Janeiro, a fim de conduzir um desertor da escola de aviação. Ele diz que no momento exato em que o comandante o incluiu nessa escolta, disse-lhe pessoalmente: “Menino, seu lugar não é aqui...Você tem um futuro muito grande e diferente disto daqui...Vá embora e não volte mais!” (YOKAANAM, 2010, p. 24). E assim o fez Yokaanam.

Na época em que era o Sr. Tenente Oceano de Sá, Yokaanam (op.cit.) comenta que passou pela capital do país a serviço de sua profissão de aviador militar. Naquela ocasião, fez uma conferência acerca do ecletismo como base da unificação espiritual do planeta, sendo convidados a comparecer os espíritas e interessados. Yokaanam diz que alguns o consideravam demente ou maluco, sustentando a unificação das religiões, mediante a doutrina eclética. Ele dizia que desde então lutava contra os impulsos que os afastavam das coisas materiais para as tarefas de espírito.

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orientados, por ignorância, por miopia espiritual ou mental, e falta de cultura geral de seus dirigentes, apoiados apenas em ilusória boa vontade ou boa fé. Também diz ter estado em alguns centros pseudo-espíritas kardecistas ou umbandistas, clandestinos ou domésticos. (YOKAANAM, 1974)

No dia 19 de julho de 1930, em Mato Grosso, Yokaanam (2010) diz ter casado com Adiles Ramos, praticamente diplomada dos telégrafos, goiana de nascimento. Com ela, teve dois filhos. Uma menina, formada em medicina já na época em que Yokaanam faz este relato, e um menino que, nesta mesma época, já era homem feito. Com este menino Yokaanam diz não ter tido convívio, pois ele sempre esteve mais próximo da mãe. Yokaanam diz que seu matrimônio foi conflituoso, forçando-o a viver solteiro a partir de 1936. Este é um capítulo que ele diz ser confidencial de sua vida, que ele próprio preferiu silenciar. Yokaanam relata que muitos se valeram desse assunto para explorá-lo, negociando informações com a imprensa.

Mais tarde, Yokaanam (op. cit) diz ter sido enviado em comissão para o Mato Grosso, com incumbência de projetar e fundar uma rede de estações rádio telegráficas nas cidades fronteiriças e nas cidades situadas no leito da estrada de ferro noroeste, até Porto Esperança, e, depois, Corumbá, fronteira com o Paraguai, com o intuito de proteger futuras bases e campos de aviação, ao mesmo tempo que serviriam de progresso nas organizações. Foi alcançado em São Paulo pela revolução de 1932, tendo servido no quartel general da revolução. Mais tarde, depois de terminadas as consequências da revolução, já em Corumbá, Yokaanam diz ter passado para a aviação alemã, onde se preparou em rádio telegrafia, meteorologia, mecânica, aerodinâmica, pilotagem, navegação estimada e voo cego, tendo quase completado dois milhões de quilômetros voados em linhas internacionais. Após estas vivências, Yokaanam relata ter sido piloto particular do presidente Getúlio Vargas.

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venerável da instituição hermética Ordem Mística da Regeneração com o seu grupo inicial de discípulos ecléticos e volantes.

No dia 14 de 1944, Yokaanam (op.cit.) diz que recebeu um aviso do além e, em seguida, seu avião projetou-se na Baía de Guanabara e despedaçou. Yokaanam, que estava junto com um piloto aluno, diz ter ressuscitado em circunstancias incríveis e inexplicáveis, e a partir de então, decidiu não contrariar a sua vocação, encerrando sua promissora carreira aviatória. A partir de então, Oceano de Sá, como Yokaanam era chamado, despiu o uniforme de aviador e vestiu a túnica de profeta, passando a intitular-se Mestre Espiritual Yokaanam. Após esta transformação no seu eu, deixou crescer as barbas negras e os cabelos. Ele se descrevia como um homem de olhos profundos e negros, com hábitos da leitura, estudioso nos mistérios de buda, Krisharmurti, Franklin de Oliveira e Edgard Allan. Prezava a higiene no corpo, pois acreditava que esta acompanhava a higiene do espírito.

Desde então, Yokaanam (op.cit.) diz ter intensificado suas atividades, credenciado como missionário das estrelas, em nome do divino Mestre Jesus. Ele dizia ser o apóstolo das religiões, que aparecia na arena terrena para trazer, com palavras e exemplos edificantes, o apelo da cúpula espiritual, dirigido aos homens de bem. Assim, pretendia restaurar todas as coisas profanadas das religiões e escolas nobres do planeta. Foi assim que Yokaanam começou a elaborar sua própria doutrina, a partir da união das religiões, conforme descrevemos a seguir.

1.2 A DOUTRINA ECLÉTICA E SEUS RITUAIS

A religião nunca é apenas metafísica ou ética. O mundo outro representado pela dimensão do sagrado orienta e conduz a conduta humana e atribui sentido a existência, auxiliando o homem na tarefa de encontrar seu espaço, como discurso capaz de levar a realização de desejos e superação de crises, de instituir alianças e definir identidades. (CHOCON, Vamireh, 1998, p. 10)

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A partir de então, a Fraternidade Eclética Espiritualista Universal tornou-se pessoa jurídica de direito privado, uma associação sócio-religiosa, com sede matriz a Av. Presidente Vargas, 1733. (YOKAANAM, 2011).

Yokaanam (1974) relata que neste velho casarão da Av. Presidente Vargas, funcionava, desde sua fundação até ao advento do governo provisório ao Sr. Getúlio Vargas, uma caixa de auxílios mútuos da central do Brasil e também a Fraternidade Eclética Espiritualista Universal.

Até 1945, como podemos ler em seus escritos, a nascente doutrina era ambulante e era sustentada apenas sob os auspícios de outras instituições e ambientes onde era divulgada. Em 1938, começou a tomar novas proporções, quando um grupo de discípulos de Yokaanam falava em toda parte sobre ecletismo e difundia a ideia de unificação condigna das religiões em torno de Cristo. Nesse momento, vários iniciados, esoteristas, teóricos, intelectuais e cientistas surgiram neste grupo.

O Mestre relata ter sido resistente à fundação da Fraternidade, porque era contra atitudes de homens que se improvisavam como chefes espirituais sem acervo missionário espiritual, sem moral, sem competência, sem conhecimento para dirigir e sem cultura, incapazes para dignificar e defender a causa. (YOKAANAM, 1974). Mas diz ter prosseguido peregrinando por uma determinação divina. No dia 4 de novembro de 1956, transferiu a Fraternidade Eclética do Rio e Barra Mansa para Anápolis-GO, com 300 famílias.

Diz o Mestre que chegaram no local descampado e armaram 76 barracas de lona, fincando a bandeira universalista, pioneira da unificação de todas as religiões restauradoras no mundo inteiro, com o propósito nunca visto, antes e depois de Moises, de fundar, com os seus próprios recursos internos, morais e espirituais; e construir a eclética cidade Fraternidade Universal.

Assim, Yokaanam diz ter promovido, junto aos seus seguidores, a instalação e inauguração, em Anápolis, de um Pronto Socorro de emergência, numa matriz regional que já funcionava naquela cidade, proporcionando assistência social e espiritual gratuita a uma média de 500 a 1000 pessoas às quartas, quintas, sextas e domingos. Os serviços médicos eram chefiados pelo irmão Arnóbio, Dr. Oswaldo Faustino de Santana. (YOKAANAM, 1974). Não há em seu relato maiores informações sobre este Pronto Socorro, sendo pois interessante conhecer melhor esta história em pesquisas futuras, a partir da própria história de Anápolis.

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sem recorrer a subterfúgio, de forma pública e notória. Adquiriu, legalmente, e por orientação espiritual, na Fazenda Boa Vista deste município, as primeiras áreas de terras exigidas para seus vastos planos de trabalho espiritual e assistência social aos necessitados. (YOKAANAM, 1974). Relata, ainda, que, antes da fundação da cidade eclética, tinha pretensões de ir residir na cidade de Simla, no Oriente, para o que já havia reservado dinheiro e preparado as malas, mas diz que seu Mestre desmanchou suas malas e deu-lhe as ordens definitivas e amplas.

Houveram situações em que Yokaanam se revoltava com pessoas que queriam imitá-lo, plagiando seus hinos. Assim, um dia fez uma campanha de reeducação social, planejada pelo seu departamento de imprensa, divulgação, educação e rádio cinema. Consta em seus escritos que foram feitos boletins e mais de cem quilos da propaganda foram distribuídos por meio de avião esporte pelo DF e RJ. No avião tinha escrito na cauda: “examina tua própria mão... e não te esqueças de que: quando o teu dedo indicador aponta o teu irmão, há sempre três dedos apontando para ti. Não me fales mal de ninguém!” (YOKAANAM, 1974, p. 52).

Nos primeiros anos da década de 50 do século vinte, Mestre Yokaanan diz ter escrito diariamente, ora para o jornal “O radical”, ora para “O mundo”, depois para a “Gazeta de notícias”, jornais editados na cidade do Rio de Janeiro. A seção sob sua responsabilidade no jornal “O radical”, depois na “Gazeta de notícias”, tinha o título de “Tribuna Eclética” e se tornou conhecida dos leitores, especialmente de todas as pessoas que acompanhavam com interesse as realizações da fraternidade eclética e de seu fundador. Nesta pesquisa, não conseguimos a coleta deste material, mas se mostra muito importante na obra escrita deixada por Yokaanam.

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Yokaanam (1974) pensa que assim pode-se restaurar todas as coisas, num eixo de gravidade universal, onde se estabelecerá um comando de conjunto pacífico e moral de todas as atividades sociais e religiosas no solo de uma catedral eclética que servirá de templo universal para todas as religiões. Neste sentido, ser eclético para Yokaanam, impõe escolha, limpeza, honestidade, pureza, renúncia, decência, desprezo a tudo que é mundano e transitório, verticalidade, moralidade e lealdade vigilante a toda prova. A doutrina eclética tem, então, os critérios descritos a seguir, traçados como roteiro incorruptível, conforme define Yokaanam (1974):

1- cogitar e trabalhar intensa e exclusivamente pela união de religiões e escolas em geral, selecionadas entre as melhores e mais credenciadas;

2- não pretender, de modo nenhum, ser mais uma religião ou doutrina teórica, formada de pedaços de outras.

No que se refere a sua doutrina, Yokaanam relata que muitos a boicotaram, denegrindo-a, sabotando-a e desprestigiando-a para afastá-la ou apagá-la da história dos acontecimentos unificadores inspirados e vanguardeados por ela sob todos os aspectos. Ele diz que, primeiro, combateram suas ideias de unificação de religiões. Depois, moveram guerra silenciosa, resolveram imitar suas ideias, nomes, símbolos, palavras, e até distintivos, roupas, hinos, discos, abusando dos termos eclético, fraternidade, universal, unificação de religiões, etc.

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admoesta e mostra o caminho a seguir por todos. Já os demais 27 departamentos da casa distribuem na prática seu pensamento e as leis estabelecidas. (YOKAANAM, 1974).

Yokaanam mostra-se decepcionado com homens que fingiam possuir sentimentos espiritualistas depois de serem salvos física e moralmente da ruína e da morte pela sua mão benfazeja e piedosa e daqueles abnegados obreiros da fraternidade. Ele menciona as mentiras surgidas contra ele, de que os irmãos expulsos da fraternidade eram revelados contra a ditadura imposta nas ordens pelo mestre, o qual também manobrava os dinheiros da casa, o que foi uma acusação que Yokaanam declarava ser falsa e monstruosa, já que ele nunca quis ele saber desse assunto e fez questão de ser pobre e de não tocar em dinheiro.

Estas pessoas, segundo Yokaanam (1974), tinham o objetivo de destruir a ele e a fraternidade e encontraram o apoio dos financiadores jesuítas denegrindo a honra de milhares de irmãos associados e do próprio mestre. Assim, estas mesmas pessoas publicaram na revista “O Cruzeiro”, um processo julgado e ganho no judiciário em que sua ex-esposa, aliada às mesmas potências, há muitos anos tramava dar-lhe fim, internando-o num hospital como louco, para ficar de posse dos bens do casal. Yokaanam dizia que nunca abandonou a família e sim fora forçado a afastar-se, humilhado, sigilosamente, e a viver só, sem deixar de contribuir para a família, regularmente, por intermédio de procurador, mas ainda assim sua ex mulher quis julgá-lo. Sobre o processo judicial, temos alguns escritos de Yokaanam sobre o assunto, o que mostraremos a seguir.

1.3O ESTIGMA: YOKAANAM É UM LOUCO?

Yokaanam (1974) se refere, com indignação, ao slogan que a imprensa criou a seu respeito de que ele era um louco. Alegavam que Yokaanam se tornara espírita e místico, depois do desastre de aviação. Ele se justificou dizendo que muitos anos antes desse desastre histórico, já em 1931, ele pregava em São Paulo.

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período que trabalhou intensamente na ordem mística. Reiniciou com cerca de 70 discípulos, os chamados comandos ecléticos volantes.

Yokanam diz que em todos os recantos do país e do mundo por onde andou, até 1944, deixou discípulos e admiradores. Assim, ele questiona por que o caluniaram, deturpando a verdade, dizendo que só depois do desastre ele ficou espirita e doente da mente. Neste contexto, diz ter respondido a um processo judicial para exame de sua saúde mental, preparado por Stélio Galvão, em que o juiz Dr. As. Ribeiro detalhou:

Do processo verifica-se que falharam todos os recursos indicados, no sentido de submeter-se o interditando Oceano de Sá, Mestre Yokaanam, da Fraternidade Eclética Espiritualista universal, a exame médico, a fim de poder ser verificado o seu estado de sanidade mental. E isto porque, embora se tenha operado um manifesto, e confessado divórcio entre o interditando e a sociedade em que viveu antes de sua voluntária clausura, não acusa ele, evidentemente, um estado de alienação mental capaz de justificar, face aos inúmeros atestados médicos que exibiu em juízo, a interdição pretendida! Trata-se de um místico que, a sua maneira, e segundo suas concepções religiosas e filosóficas, vem-se dedicando aos seus semelhantes. Pessoa que abandonou sua família real, para, mediante laços mais amplos, entregar-se a atividades espirituais, em benefício da humanidade, hoje sua única família! (YOKAANAM, 1974, p. 93)

Acerca deste relato, infelizmente não tivemos acesso à fonte original, que pode estar nos arquivos dos órgãos judiciais do Rio de Janeiro.

O Mestre espiritualista questiona como um louco pode receber tantos convites como ele recebeu. Disse que quando encerrou sua carreira aviatória, foi chamado à atividade e foi convidado para instruir pilotos e dirigir companhias, ser presidente de honra de partidos políticos, deputado, senador e prefeito do DF e outros cargos vantajosos, inclusive com a oportunidade de ir para o estrangeiro para ensinar segredos de voo cego alemão, mas recusou a tudo e resistiu a todos. Na página 35 do livro “O cristianismo reúne não divide” (2011), vemos uma menção ao médico psiquiatra José Alves Garcia, que teria citado Yokaanam em sua psicopatologia forense, mas o Mestre nos diz que este psiquiatra também o reconheceu como um benfeitor da humanidade, juntamente com seus fraternários. Este livro de José Alves Garcia também não foi encontrado para esta pesquisa.

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1.4AS VISÕES E A MISSÃO PROFÉTICA

A sabedoria, irmãos meus, é o resultado da amadurecida cultura interior do espírito. (YOKAANAM, 2010, p. 65)

Yokaanam diz ser conhecido por todo o Brasil, pois a doutrina eclética já se encontra espalhada por toda parte. Ele considera que conhecer sua personalidade é tarefa difícil e não está ao alcance do nosso intelecto e nem da nossa imaginação. Assim, ele descreve que suas vestimentas eram semelhantes às do Cristo e simbolizavam todas as religiões. Destaca que não se importava com o que os homens pensavam, pois não estava aqui para agradá-los. Tinha convicção de que foi o divino Mestre quem alterou o rumo da sua vida. Em suas palavras:

Reparai as insígnias que trago em minhas mãos!...Não sou um magistrado, possuidor de grandes recursos intelectuais; não sou a Glória; não sou a Paz; não sou o mago da fortuna, que podereis hoje entrevistar para viverem os homens em conforto com sua família, libertados das dolorosas privações, da burocracia que vos traz no mundo acorrentados aos bancos de trabalho dia e noite, sem outros ideais... Perscrutai os depósitos da minha experiência; neles ireis vislumbrar os bens que na terra ficam intactos para a maioria. As fundas cicatrizes que trago visíveis atestam que sofri! No emblema da humanidade, estampado na minha pálida e magra fisionomia, acabareis por saber que, também, no passado fui acusado, condenado e supliciado. Rasguei as feridas da infâmia no próprio corpo! Não sou, portanto, aquele que poderíeis pensar, que a tudo se impõe, que traça os destinos e dirige os homens, do qual pretendo ser um servo carinhoso e submisso. Trago-vos, portanto, a luta; não a luta armada, não a guerra, nem os instrumentos de barbaria, com todos os seus trágicos troféus, onde o gênio inventivo do homem revelou-se infernal para destruir o seu semelhante, mas a luta para a liberdade da consciência, para a harmonia, adquirindo as riquezas do gênio e do espirito, com a frescura, com a claridade e com a beleza da primeira alvorada do mundo desconhecido e, com ela, a convicção pura, a fé, a realeza do crente com o seu cetro e a sua coroa imortais!...Sabeis demais do Cristo. Quais foram as realizações suas no meio ambiente? Caridade generosa e fecunda, paciência no sofrer e coragem na luta. Quando falo de caridade, refiro-me à caridade que age sobre a alma em todos os seus sentidos; que faz viver os que estão fora de si mesmos. Aquela que leva a tomar a forma de Deus, para que se una a todos os seus irmãos e faça de todos legítimos herdeiros universais da mesma herdade, chamados a usufrutuar dos bens entrevistos nas vossas visões palpitantes com os eleitos do Senhor e do outro mundo.(YOKAANAM, 2010, p. 39)

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Sofres!... Tinhas, antes, ódios violentos?...imaginavas mesquinhas vinditas?...Um delírio de ambições te arrastava aos mais torpes feitos?...Não! Agora somente um desespero quieto, mudo, conturba o teu cérebro, excitando-o a dirigir-se a uma outra realidade...Por isso me invocaste e te inclinas mentalmente sobre a minha pessoa invisível, criando em ti o desejo de tornar a me ver e de provocar, sem exaltação, simplesmente, a presença do teu guia ou de outro ser de emoções sutis, que se ocupasse das artes superiores a que virão abençoar-te na gloria, diante de escárnio do mundo e dos movimentos belos e sensíveis que sintetizam os nossos passos para a felicidade!...(YOKAANAM, 2010, p. 48)

Sofreste em silencio sem acusações às tuas pobres quimeras que a ingratidão e os pensamentos mal destruíram...Mesmo assim queres construir o teu templo com entusiasmo, de acordo com a ideia ampla da justiça, colocando a própria alma ao calor das chamas, para que o fogo sagrado dos pensamentos favoráveis a torne reta e a conserve. (YOKAANAM, 2010, p. 48)

Bem haja a nota harmoniosa dos espíritos elevados, porque te auxiliaram a enfrentar os sacrifícios nobres edificando o pedestal de grandeza para que nele se instale a estátua perfeita do belo verdadeiro, a estátua que concentra o teu único ideal! (YOKAANAM, 2010, p. 49)

O conforto da minha palavra sobre ti expressa unicamente a concepção da divindade, centelha imortal da fé que dirige as almas nos surtos da vida...Quem tiver a fortuna de se fazer dirigir por ela, obterá tudo o que é valor real e perpétuo, porquanto ela procura voltar tudo e transformar para o lado do bem. O guia advoga a causa dos que sofrem, dos que-como tu- são repelidos na verdade e dos que são submetidos ao julgamento mesquinho da humanidade, condenada pela ignorância primordial a se acusar dos mesmos delitos monstruosos!...(YOKAANAM, 2010, p.49)

O guia do verdadeiro espírita confere à inocência, a sua eterna beleza. Impele-o a força de ajudar o progresso do homem nessa jornada sem fim, auxiliando-o a sair do seu estado mórbido de incapacidade para a potência das mentalidades superiores e dos justos! (YOKAANAM, 2010, p. 49)

Assim, compreenderás porque estou aqui e te autorizo a me chamares espirito consolador, pronto a fazer tudo por ti, desde que me dês a oportunidade de encontrar o teu espírito e penetrar na tua consciência...(YOKAANAM, 2010, p.49)

Se sabes, se estas no lugar conveniente a entrar em comunicação direita com o mundo espiritual, no qual volteio como um besouro azul sob uma esfera de ouro, vive constantemente no espírito e logo saberás que houve um motivo superior pelo qual me encontro contigo neste momento. (YOKAANAM, 2010, p. 50)

Saberás também que a dor, o amor, a saudade, foram uma das causas divinas que concorreram para que tivéssemos contacto mais íntimo. Saberás também que chegará o momento em que teremos de nos mudar de um plano para outro e te será outorgado o poder de escolher, novamente o primeiro lugar no banquete que a sabedoria superior oferece a todos aqueles que-como tu-viram a luz do espírito consolador a guiar-lhes os passos, na escolha do caminho claro e do escuro. E, em vez dessa agonia, dos prantos que te estou fadado a enxugar, das adversidades das limitações constantes do prisma, da desolação que a pobreza alheia te causa, terás um prazer especial a se renovar abertamente! (YOAAKANAM, 2010, p. 50)

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racistas ou de posição social, religiosos, filosóficos ou culturais profanos, dentro de um critério saudável de moralidade, fraternidade, equidade e justiça, visando, sobretudo e ao alcance de todos, a prática do bem.

No que se refere à relação Ciência e Religião, Yokaanan (op. cit.) diz que a ciência é o meio do caminho, ela nasceu com o homem, filho de Deus, e irá com ele até os limites de sua investigação. Ele diz que o combate tenaz entre as duas representa o estado confuso e tormentoso que até hoje tem empolgado os povos e as almas.

Yokaanam (op. Cit.) esclarece pela sua doutrina que a matéria existe em função de veículo. Cumprida a missão deste, quer no messianismo ou apostolado, quer resgatando ou amenizando culpas, o sopro vital abandona a matéria, o espírito libera-se e ela principia a sua desintegração, o seu retorno, por outro caminho, ao todo cósmico, pela transformação. Assim, o espiritualista diz que o aperfeiçoamento do espírito se processa pela estatuária moral, cujo artista é o cristianismo, no ocidente. Esse aperfeiçoamento pode traduzir-se por duas fórmulas: a da regeneração moral pela fé, ou a do adiantamento moral pela abnegação e investigação cientifico experimental altruística do espiritualismo dinâmico.

Só na caridade há cristianismo e só no amor há divindade, diz Yokaanam. E é pela caridade e pelo amor que o homem chegará até a casa do pai. Assim, o Mestre diz que é preciso o respeito às leis da terra; respeito a si mesmo, pela humildade; respeito a eternidade, pela fé, respeito a humanidade, pela caridade, respeito a fraternidade, pelo amor, respeito ao próximo, pela visão da trave que nos cega os olhos; respeito ao passado, pela modéstia; respeito ao futuro, pela renúncia; respeito ao presente, pelo trabalho, e respeito a verdade, pela luta espiritual, permanente, em prol da justiça, da ciência e do bem. Aí, diz Yokaanam (op. cit), dar-se-á o almejado amplexo universal de todas as religiões, filosofias e escolas, pelo abandono de todas as armas do corpo e do espírito com que os homens se dividiram. Com esse propósito, o Mestre nos diz que está fundada a Fraternidade Eclética Espiritualista Universal.

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que ele mesmo assistirá, já presente em espírito, orientando, inspirando, dando rumo àqueles que escolheu, para dar cumprimento e ampliar sua obra divina. (YOKAANAM, 2010)

Assim, Yokaanam (op.cit.) convoca aos sacerdotes e discípulos de boa vontade de todas religiões e escolas para o breve concerto ecumênico evangélico de que somos personagens relevantes, bem como a todos aqueles que, sincera e humildemente, desejam abandonar suas armas, para lutar pela restauração definitiva do evangelho no coração dos homens. Professa que a hora presente é de transição cíclica e criações espirituais. Ele se referia aqui à época em que escreveu esta obra, na década de 40. Assim, dizia que matéria e energia completam o seu ciclo no exaurimento, já não podendo o homem mudar o rumo destas invioláveis trajetórias da evolução; e em face das coisas supremas. A intuição, naquele momento, para o Mestre, estaria reabrindo para os humildes as portas da verdade, como há dois mil anos.

Pela emancipação moral do planeta, Yokaanam (op. cit.) diz que a fraternidade eclética espiritualista universal fundará no Brasil e para o mundo a cidade iniciática, a Shangrilá do Ocidente e do Novo Mundo, o marco inderrocável da visão imorredoura entre o passado e o porvir.

Diz então da importância de sua presença como sendo um convite que renova os versículos de Mateus, no capítulo 9. Ele menciona a passagem em que Joao Batista envia dois discípulos seus a Jesus a fim de saber se Jesus é aquele que havia de vir. Jesus responde-lhes para que estes testemunhem o que viram e ouviram: os cegos veem, os paralíticos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem; mais ainda: os mortos são ressuscitados e o evangelho é anunciado aos pobres. Tal como ocorrido no passado, Yokaanam diz que este é o Elias que ainda há de vir.

Assim ele diz que o divino Mestre virá; e não haverá tempo para preparação. Ele diz estar escrito no Cruzeiro do Sul, que é daqui do Brasil que se irradiarão as leis soberanas para o resto do mundo; e este Brasil, coração do mundo, Pátria do Evangelho, servirá de modelo a todos os pensamentos voltados para Deus e cantará a vitória com os legítimos troféus espirituais desta fase apocalíptica sem precedentes na história de todos os tempos. Ele alerta para que os homens de todas as religiões se preparem, porque a joeira é autorizadamente eclética. Que é preciso unir corações leais a Cristo e restaurar tudo o que está profanado.

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desarmamento, não o dos exércitos materiais, mas, sim, o das hostes mentais, dissolventes dos mandamentos mais esperançosos da alma nos planos do bem. Esta pregação de Yokaanam foi feita em 26 de maio de 1951. Assim, Yokaanam (op. cit.) insiste para que possamos trabalhar para Deus, cumprindo a missão trazida ao encarnarmos neste Brasil, a terra que segundo ele foi escolhida pelo desígnio supremo para ser o altar da renovação, a mão do triunfo glorioso do reinado do bem.

O Mestre diz ainda que a mediunidade será o baluarte e o altar sagrado onde todas as gerações, no advento do terceiro milênio, virão render a mais alta homenagem das aleluias imortais das reencarnações (YOKAANAM, 2010).

Cada espírito, para Yokaanam (op.cit.) liga-se à carne através de seu organismo fluídico intermediário, constituindo o ternário principal dos sete princípios outrora subdivididos pelas doutrinas orientais, levando hoje a convicção exata de que a carne por si mesma nada mais é do que energia condensada, ou um composto de fluidos condensados pela sua baixa velocidade vibratória e dinâmica. Com sua doutrina, Yokaanam (op. cit.) diz que a sua missão não é criar mais religião, nem perturbar a ordem moral e os costumes da sociedade, mas ser um baluarte de cooperação com as autoridades públicas, fazendo profilaxia moral.

Ao falar da umbanda, o Mestre afirma que ela nasceu quando a mediunidade foi ameaçada. Assim, ela representa os discípulos de Kardec que arrancaram o colarinho duro do orgulho e da vaidade teórica inoperante e saltaram para a arena, para o meio do povo, para realizarem aquilo que outros falaram das tribunas através das gerações, e viverem Cristo através da caridade dinâmica. São espíritos guias da humanidade, obreiros das gerações que passaram na vertigem dos milênios, que vem agora, convocados por Cristo e seus delegados, a fim de, vestidos de macacão, descalçarem os sapatos das vaidades humanas para falarem a linguagem do caboclo simples, porque o mundo está cansado de palavras bonitas.

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Yokaanam (op. cit.) professa que o mundo oscila como um pêndulo entre as suas pobres verdades provisórias. Assim, para eles, a humanidade atual vive suas próprias desilusões, arrastada por um mundo infeliz e fadado a desaparecer como civilização ao tropeçar no túmulo e será consumida pelas próprias tragédias na transformação biológica da matéria e na rejeição da porta estreita que reconduz à imortalidade.

Numa pregação feita em 21.09.1952, Yokaanam (op.cit.) menciona acerca da convocação que está ecoando no firmamento da América, com vibrações saindo do Brasil para o mundo, chamando os homens de intelecto e de coração para lutarem por este ideal sacrossanto, de que Cristo nos deu o mais alto significado de exemplificação incondicional no gólgota, deixando-se crucificar pelo bem da humanidade inteira. Yokaanam (op.cit.) declara que será aqui no Brasil edificado o templo universal de todas as crenças e que aqui será reunido o maior rebanho espiritual do mundo.

Yokaanam faz também profecias de que não haverá mais guerras, porque as estrelas não o permitirão mais, porém, haverá coisa muito mais eficiente e terrível como punição de toda a humanidade delinquente e transviada. Ele alerta para os sinais infalíveis desses próximos tempos de tribulação que anunciou pela imprensa ao mundo, desde 1936. Ele diz que as ilhas da bacia do mediterrâneo estão submergindo repentinamente e a Europa está condenada a desaparecer. Os outros continentes como a Ásia, a Oceania, a Austrália, o Canadá e a América do Norte estão condenados a sofrer terrível demolição de lado a lado. A América do Sul sobreviverá sofrendo menos, e vão ficar uns poucos em grupos aqui, ali e acolá. Assim, diz o profeta que, após esta lavagem expurgatória e gigantesca sobre a terra, então teremos preparado pelo sofrimento os corações que ficarem para edificarem unidos o templo da fraternidade universal, onde estarão reunidos por fim, pacificamente unidos, por amor sincero e incondicional, todos os rebanhos de Cristo, indissoluvelmente abraçados ao mesmo ideal de seu evangelho imortal, aos clarões aurorais e apoteóticos do terceiro milênio.

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para entrar no ambiente meditativo e sensitivo das coisas e dos fenômenos espirituais, sendo este o primeiro gesto de quem quer chegar ao conhecimento da verdade.

Yokaanam (op.cit), na época que fez surgir a doutrina eclética, em 1936, e na época que escrevia para o jornal “o mundo”, “Gaveta de notícias”, numa sessão que tinha o título de “Tribuna Eclética”, já preocupava-se diante da gravidade dos acontecimentos sociais, tendo a convicção de que estávamos na mais dramática encruzilhada do nosso destino espiritual, na qual iríamos nos defrontar com o tremendo dilema: lutar para sobreviver ou acompanhar a torrente e perecer com ela! O apelo é feito quanto ao seu desejo de nos tornarmos seus discípulos, mesmo ressaltando que para segui-lo é preciso muita coragem, decisão, estoicismo, desapego e renuncia para suportar as leis morais e disciplinares que nos impomos a face das verdades eternas, antes e muito longe de pretender qualquer posição ou evidência no mundo transitório e infeliz em que vivemos. (YOKAANAM, 2011).

O Mestre crê que a doutrina eclética é uma forma interpretativa de restauração do pensamento e da vontade divina, sendo a manifestação dos universais desígnios de Deus e o cumprimento sagrado do mandato espiritual de Jesus, a fim de que a humanidade inteira aceite abraçar-se em nome desse mesmo evangelho (YOKAANAM, 2010). Assim, ele fala a seus fiéis com convicção de que muitos estão em sofrimento, enfermos ou desesperados pelas lutas da vida, mas que terão amanhã um esclarecimento, terão a paz, terão a luz. Ele diz que sua certeza está nas faixas luminosas que se estendem sobre eles, que são uma graça divina.

O trabalho de Yokaanam (op. cit.), conforme ele nos diz, é feito no meio da pobreza, e muitos homens não sabem quem é ele e demonstram curiosidade com sua figura estranha, supondo que ele seja um homem diferente ou esquizofrênico.

Mas ele tranquiliza seus fiéis citando o exemplo de Jesus, e diz para que não se escandalizem por chamarem-no de doido, pois todos sabem que ele não é doido; apesar de terem querido colocá-lo dentro de um manicômio. Yokaanam (op.cit.) explica esse fato dizendo que aqueles cientistas que tiveram estas intenções sabem que ele é uma parada dura nesta jornada dos dias que precedem ao fim dos tempos, sabem que ele é o delegado previsto para restaurar, antes, todas as coisas, e por isto quiseram interná-lo.

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ele, como graves pecados da carne, os impulsos deprimentes de ódio, vingança, ingratidão, ciúme, má fé, traição, orgulho, vaidade etc., coisas que nunca foram da carne e, sim, do espírito obstinado na repetição dos erros, e na purga eterna e compulsória de seus crimes.Descreve ainda os dez princípios da doutrina eclética, que podem ser assim resumidos:

1-religião é ponte entre a criatura e o criador, sua função é a de reunir os homens em torno de um ideal comum, único e divino.

2-não te importes a cor nem o credo de ninguém, porque todos são filhos do mesmo criador e, embora por caminhos diferentes, porém não em essência, procuram atingí-lo.

3-Se olhares o teu semelhante como teu irmão e sentires os seus sofrimentos e problemas como se teus próprios fossem, estarás palmilhando a estrada certa.

4-não te importes com o nome que se dê ao Criador, o que te interessa é alcançá-lo, caminhando sempre em direção e sentido capaz de te levar a Ele.

5- a pressa te preocupa; mas, como não há dois seres perfeitamente idênticos, também a velocidade na caminhada varia de um para outro. A medida da velocidade é a paciência e a resignação no sofrimento; o amor e a dedicação ao seu semelhante; o coração aberto aos ensinamentos divinos.

6-tem fé no teu Deus e age sempre de acordo com os princípios morais que Ele te dita; não te prendas, porém, ao passado, porque os ensinamentos e princípios morais que regem a vida terrena sofrem modificações condizentes com o progresso espiritual da humanidade.

7- não te esqueças nunca de que és humano e essa contingência te é inseparável; a vida terrena é a arena em que o espírito que anima teu corpo luta pela sua elevação. Não te preocupe a queda; levanta e continua.

8- despreza os insultos e esquece as ingratidões dos homens, procura perdoar os que te apupam, com a certeza de que os atos de cada um estão sendo medidos e pesados pela única justiça verdadeira que é a justiça divina.

9- procura no teu semelhante o que ele tem de bom, exalta essas qualidades, que ele próprio procurará vencer as inferioridades que ainda se aninham o coração.

10-ama a Deus, segue teu caminho; respeita o que está palmilhando os outros e auxilia-os sempre que te for dada essa oportunidade; todauxilia-os se encontrarão no mesmo ponto. Ajoelha-te e, contrito, entrega ao criador o teu coração. (YOKAANAM, 2011, p. 235)

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verdadeiros obreiros de Cristo se conhecem pelas suas obras e pelos seus exemplos edificantes de cada dia e acima de palavras e discursos, conforme admoesta o próprio Mestre Emmanuel.

Ele acrescenta que é crime de lesa o evangelho fazer mercado velado, dentro ou fora dos templos destinados aos serviços espirituais, conforme também admoesta Allan Kardec, em seu livro Obras Póstumas. Diz ainda não estar certo, seja qual for a muleta da desculpa, o fato de homens espiritualistas transformarem os altares em palcos, para neles se instalarem sua feira vergonhosa de interesses políticos e mercenários, tomando dinheiro, joias, bens, valores, haveres vários do próximo, como através de tômbolas, rifas, quermesses, leilões, sacolas, bandejas, sorteios, festivais, excursões, piqueniques, caravanas fraternais... e outras barbaridades, sob a desculpa de fazer obras filantrópicas, sociais fragmentárias em bases profanadas, fazendo arranjos e acordos vergonhosos, condenados pelo evangelho.

Ele acredita que tudo isso, de que se reveste arrogantemente o atual espiritismo pagão oficioso em toda parte, não pode ser outra coisa, senão legítimo sinal de fim dos tempos, pela ostensiva e generalizada prostituição consciente e criminosa das coisas sagradas, contra as quais não silenciaram aqui Jesus e seus apóstolos, nem instrutor mercenário algum; que, afinal, não pode servir a dois senhores ao mesmo tempo - a Jesus e a Calígula - sem que aborreça a um, para ser fiel ao outro, doam em quem doerem as verdades nuas que se não devem esconder por conveniência alguma ou contemporização de conivência de qualquer espécie.

Yokaanam (op.cit.) faz referência a uma publicação sua feita em 1926 no seu almanaque a partir de uma revelação autorizada pela sua direção espiritual, recebida do oriente, na qual se lia que o comando espiritual do mundo se voltaria dentro em pouco e seria centralizado para uma doutrina cujo chefe espiritual surgiria no Brasil pregando a unificação de todas as religiões e escolas do planeta. Assim, Yokaanam (op.cit.) faz profecias de que o mundo corre vertiginosa e irresistivelmente para a órbita da doutrina eclética. E as religiões estão se convencendo da necessidade de um acordo definitivo entre as sete principais religiões do mundo, a fim de traçarem novo rumo de ação conjunta, harmônica e indefectível, baseada no abandono de todas as armas e armistício perpétuo que traçará um acordão de mútuo respeito e de não agressão por qualquer forma falada ou escrita.

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escritos, na fraternidade eclética, Yokaanam teve uma didática que fez parte do amplo programa da academia eclética desde a abertura. Às terças feiras a noite, realizava-se sempre o ensino didático, público, de todas as religiões e escolas, sob base eclética, inclusive o de medicina espiritualista, este destinado a justificar os fenômenos que se operam no corpo físico como moléstia ou síndromes de origem psíquica, o que a ciência, sozinha, não consegue explicar. (YOKAANAM, 1974)

Yokaanam (op.cit.) declara que Deus é uma verdade só, substancialmente idêntico em todas as religiões, na ciência como na fé. Assim, ele diz que se as vias e as aproximações são diversas, o princípio e a meta são a mesma ideia pura e simples do amor fraterno. O Mestre espiritual afirma que a humanidade tende para as grandes unidades políticas como para as espirituais e que é preciso que as religiões que já se formaram estreitem-se dignamente numa fusão de crenças que abraçará o mundo.

Nesse magnífico acordo, Yokaanam (2011) nos diz que as ciências fornecerão a precisão e o método na ordem dos fatos; as filosofias, o rigor das suas deduções lógicas; a religião juntar-lhes-á as qualidades do sentido e a noção de estética elevada. Assim, realizar-se-á a beleza na força e na unidade do pensamento. A alma orientar-se-á para os mais altos cimos, mantendo, ao mesmo tempo, o equilíbrio de relação necessário, para regular a marcha paralela e ritmada da inteligência e da consciência, na sua ascensão para a conquista do bem e da verdade (problemas do ser, do destino e da dor). Todas estas visões e perspectivas do Mestre, como podemos constatar pelos seus escritos, são inspirados em seus guias espirituais. Ele cita guias orientais, Emmanuel, Jesus, Lanuh e outros. A seguir apresentaremos alguns de seus relatos acerca destas influencias espirituais em sua vida e os pressupostos de sua mediunidade a partir do seu evangelho da umbanda eclética.

1.5A MEDIUNIDADE

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