www.bjorl.org
Brazilian
Journal
of
OTORHINOLARYNGOLOGY
ARTIGO
ORIGINAL
Thyroid
gland
invasion
in
advanced
squamous
cell
carcinoma
of
the
larynx
and
hypopharynx
夽
,
夽夽
João
Mangussi-Gomes
a,
Fernando
Danelon-Leonhardt
a,∗,
Guilherme
Figner
Moussalem
a,
Nicolas
Galat
Ahumada
a,
Cleydson
Lucena
Oliveira
ae
Flávio
Carneiro
Hojaij
a,baUniversidadeFederaldeSãoPaulo,DepartamentodeOtorrinolaringologiaCirurgiadeCabec¸aePescoc¸o,SãoPaulo,SP,Brasil bUniversidadedeSãoPaulo,LaboratóriodePesquisasClínicas---LIM-32,SãoPaulo,SP,Brasil
Recebidoem2defevereirode2016;aceitoem23demarçode2016 DisponívelnaInternetem3deabrilde2017
KEYWORDS
Squamouscell carcinoma; Larynx; Hypopharynx; Laryngectomy; Pharyngectomy; Thyroidectomy
Abstract
Introduction:Squamous cellcarcinoma ofthelarynx andhypopharynx has thepotential to invadethethyroidgland.Despitethisrisk,thepropositionofeitherpartialortotal thyroidec-tomyaspartofthesurgicaltreatmentofallsuchcasesremainscontroversial.
Objectives: Toevaluatethefrequencyofinvasionofthethyroidglandinpatientswith advan-cedlaryngealorhypopharyngealsquamouscellcarcinomasubmittedtototallaryngectomyor pharyngolaryngectomyandthyroidectomy;todeterminewhetherclinic-pathological characte-risticscanpredictglandularinvolvement.
Methods:Aretrospectivecaseserieswithchartreview,fromJanuary1998toJuly2013,was undertaken inatertiary careuniversitymedical center.An inception cohortof83 patients withlarynx/hypopharynxsquamouscellcarcinomawasconsidered.Allpatientshadadvanced stagedisease(clinicallyT3---T4)andunderwenttotallaryngectomyortotal pharyngolaryngec-tomyinassociationwiththyroidectomy.Adjuvanttherapywasindicatedwhentumororneck conditions required. Frequencyofthyroid cartilage invasionwas calculated; univariateand multivariateanalysisofdemographic,clinicalandpathologicalcharacteristicsassociatedwith cartilageinvasionwereperformed.
DOIserefereaoartigo:http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2016.03.019
夽 Comocitaresteartigo:Mangussi-GomesJ,Danelon-LeonhardtF,MoussalemGF,Ahumada NG,OliveiraCL,HojaijFC.Thyroidgland
invasioninadvancedsquamouscellcarcinomaofthelarynxandhypopharynx.BrazJOtorhinolaryngol.2017;83:269---75.
夽夽EsteartigofoiapresentadocomoPosterdeDestaquenoEncontrode2014da
AmericanAcademyofOtolaryngology---Head&Neck SurgeryFoundation(AAO-HNSF)&OTOEXPOSM,de21a24desetembro,emOrlando,Flórida,EUA.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:fernandodanelon@me.com(F.Danelon-Leonhardt).
ArevisãoporparesédaresponsabilidadedaAssociac¸ãoBrasileiradeOtorrinolaringologiaeCirurgiaCérvico-Facial.
Results:The overallfrequency ofinvasion ofthethyroidglandwas 18.1%.Glandular invol-vementwasassociatedwithinvasion ofthefollowingstructures:anteriorcommissure(odds ratio=5.13; 95% confidence interval 1.07---24.5), subglottis (odds ratio=12.44; 95% confi-denceinterval1.55---100.00)andcricoidcartilage(oddsratio=15.95;95%confidenceinterval 4.23---60.11).
Conclusions:Invasionofthethyroidglandisuncommoninthecontextoflaryngopharyngeal squamouscellcarcinoma.Clinicalandpathologicalfeaturessuchasinvasionoftheanterior commissure,subglottisandcricoidcartilagearemoreassociatedwithglandularinvasion. © 2017 Associac¸˜ao Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C´ervico-Facial. Published by Elsevier Editora Ltda. This is an open access article under the CC BY license (http:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
PALAVRAS-CHAVE
Carcinoma espinocelular; Laringe; Hipofaringe; Laringectomia; Faringectomia; Tireoidectomia
Invasãodaglândulatireoidenocarcinomaespinocelularavanc¸adodelaringe ehipofaringe
Resumo
Introduc¸ão:Ocarcinomaespinocelulardelaringeehipofaringetem potencialpara invadira glândulatireoide.Apesar desserisco, aproposic¸ãode tireoidectomiaparcialoutotal como partedotratamentocirúrgicodetodosessescasospermanececontroversa.
Objetivos: Avaliarafrequênciadeinvasãodaglândulatireoideempacientescomcarcinoma espinocelularavanc¸adodelaringeouhipofaringesubmetidosalaringectomiatotalou faringo-laringectomiaetireoidectomia;determinarsecaracterísticasclínico-patológicaspodemprever oenvolvimentoglandular.
Método: Umasériedecasosretrospectivoscomrevisãodeprontuários,entrejaneirode1998e julhode2013,foifeitaemumcentromédicouniversitáriodecuidadosterciários.Umacoorte inicial de83pacientescomcarcinomaespinocelulardelaringe/hipofaringe foiconsiderada. Todosos pacientestinham doenc¸a em estágioavanc¸ado(clinicamente T3-T4) e foram sub-metidosalaringectomiatotaloufaringolaringectomiaemassociac¸ãocomtireoidectomia.Foi indicadaterapiaadjuvantequandootumorouascondic¸õesdopescoc¸oexigiram.A frequên-ciadeinvasãodecartilagemdatireoidefoicalculada;análisesunivariadaemultivariadadas característicasdemográficas,clínicasepatológicasassociadasàinvasãodecartilagemforam feitas.
Resultados: Afrequênciaglobaldeinvasãodaglândulatireoidefoide18,1%.Oenvolvimento glandularfoiassociadoàinvasãodasseguintesestruturas:comissuraanterior(oddsratio=5,13; intervalodeconfianc¸a95%,1,07-24,5),subglote(oddsratio=12,44;intervalodeconfianc¸a95%, 1,55-100,00)ecartilagemcricoide(oddsratio=15,95;intervalodeconfianc¸a95%,4,23-60,11).
Conclusões:Ainvasãodaglândulatireoideéraranocontextodecarcinomaespinocelular larin-gofaríngeo.As característicasclínicas e patológicas,como a invasãoda comissuraanterior, subgloteecartilagemcricoide,estãomaisassociadasainvasãoglandular.
© 2017 Associac¸˜ao Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C´ervico-Facial. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este ´e um artigo Open Access sob uma licenc¸a CC BY (http:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
Introduc
¸ão
O carcinoma espinocelular (CEC) da laringee hipofaringe temopotencialdeinvadiraglândulatireoide.Essainvasão ocorreprincipalmenteporextensãodiretadevidoà proximi-dadedessaglândulacomaregiãofaringolaríngea.1---3Apesar desserisco,aproposic¸ãodetireoidectomiaparcialoutotal comopartedotratamentocirúrgicodessescasospermanece controversa.2---6
A frequência de envolvimento neoplásico da tireoide em CECavanc¸ado dalaringevariana literaturaentre1 e 30%.4,5,7Deacordocom essesnúmeros,a cirurgiada tire-oideseriadesnecessariamentefeitaemaproximadamente
75% dos pacientes.3 Apenas adicionar hemitireoidectomia ao tratamentocirúrgicodeumcâncer delaringeaumenta osriscosdehipotireoidismoehipoparatireoidismopara23a 63%e25a52%,respectivamente.8---10
Adefinic¸ãodascaracterísticasclínicase anatomopatoló-gicasassociadasaoenvolvimentodatireoideseriadegrande valoremtaiscasos.Essadefinic¸ãopoderiadirecionaro tra-tamentocirúrgicoereduziramorbidade,semprejudicaros objetivosdecura.6,11
hemitireoidectomia (HT) ou tireoidectomia total (TT) e determinar seascaracterísticasclínicas epatológicas são capazesdepreveroenvolvimentodatireoide.
Método
Umestudotransversaldecoortehistóricoretrospectivofoi feitocombasenaanálisedegráficoserelatóriosdoexame anatomopatológicodeamostrascirúrgicas.Foramincluídos todosospacientes submetidosa LT ouFLT em associac¸ão comHTouTTparaCECdalaringeehipofaringe,dejaneiro de1998ajulhode2013.
Ospacientescomdoenc¸ametastáticaforamexcluídos, juntamentecom aqueles submetidos acirurgia parcial ou deresgateapósradioterapiaepacientescomdados incom-pletosnoprontuário.
Ascirurgiasforamfeitaseospacientesmonitoradosem umúnicoservic¸odeCirurgiadeCabec¸aePescoc¸odehospital universitáriodereferência. Nesseservic¸o,aexcisão cirúr-gica da tireoideem associac¸ão com LT ouFLT é indicada parapacientescomCECdelaringeehipofaringequandohá evidênciadeextensãodotumorparaasseguintesregiões: subglote,seiospiriformesetecidoextralaríngeo.HTouTT éfeitadeacordocomalateralidadedotumor---HT ipsilate-ralaotumorparatumoresunilaterais;TTparatumorescom envolvimentobilateral.
A escolha entre LT e FLT depende dolocal primário e da progressão do tumor para regiões adjacentes e visa a obter margens cirúrgicas livres de neoplasia. Os tumores avanc¸adosrestritosàlaringeexigemLT;tumoresdelaringe comextensãoparaafaringeoutumoresdahipofaringe,com ousemextensãoparalaringe,sãomaisbemtratadosporFLT. Osseguintesdadosclínicoseepidemiológicosforam ana-lisadosparatodosospacientes:
Sexo,idade,históriaatualoupregressadetabagismo; Localdotumorprimário;
TNMeestadiamentogeral,deacordocomooscritériosdo
AmericanJointCommitteeonCancer---AJCC;12 Cirurgiafeita--- LTouFLT,comHTouTT.
As seguintes informac¸ões anatomopatológicas também foramnotadas:
Maiordiâmetrodotumorsobexamemacroscópicodapec¸a cirúrgica;
Presenc¸aouausênciadeinvasãopelotumorprimáriodos seios piriformes,comissura anterior,subglote,tireoidee cartilagenscricoides.
Presenc¸aouausênciadeinvasãomacroe/oumicroscópica daglândulatireoide;
Grauhistológicodotumor;
Presenc¸aouausênciadeinvasãoangiolinfáticae perineu-ral.
Ainvasãosubglóticafoiconsideradaquandohouve exten-sãodotumor ouenvolvimento primáriopela neoplasiada regiãosituadaamaisde10mmabaixodasverdadeiras pre-gasvocais.
Afrequênciadeenvolvimentomacrooumicroscópicoda glândula tireoide foi calculada especificamente para CEC
Tabela 1 Pacientescom CEClaríngeo e/ou hipofaríngeo submetidosaLTouFLTCOMHTouTT---dadosclínicos
Variável n(%)
EstadiamentoTa
T3 26(31,3%)
T4a 57(68,7%)
EstadiamentoNa
N0 45(54,2%)
N1 10(12,0%)
N2a 8(9,6%)
N2b 7(8,4%)
N2c 11(13,3%)
N3 2(2,4%)
EstadiamentoMa
M0 83(100%)
M1 0(0%)
Estadiamentoglobala
III 15(18,1%)
IVa 66(79,5%)
IVb 2(2,4%)
Cirurgiafeita
LT/FLT+HT 54(65,1%)
LT/FLT+TT 29(34,9%)
CEC,carcinomaespinocelular;FLT,faringolaringectomiatotal; HT, hemitireoidectomia; LT, laringectomia total; LT/FLT+HT, laringectomiatotaloufaringolaringectomiatotalcom hemitire-oidectomia;LT/FLT+TT,laringectomiatotalou faringolaringec-tomiatotalcomtireoidectomiatotal;TT,tireoidectomiatotal.
a TNMeestadiamentotumoralglobal,deacordocomos
crité-riosdoAmericanJointCommitteeonCancer(AJCC).12
para todo o grupo de pacientes estudados. Os pacientes foramdivididos em dois grupos: 1) pacientes com envol-vimento da glândula tireoide; 2) pacientes com tireoide livredecarcinoma.Osdoisgruposforamcomparadospara diferenc¸ascomrelac¸ãoàsvariáveismencionadas anterior-mente.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituic¸ão.SPSSv.17,Minitab16eExcelOffice2010foram usadosparaanáliseestatística.AAnovaeostestesexatos de Fisher bicaudais foram aplicados para analisar variá-veisquantitativas equalitativas, respectivamente.O grau de associac¸ão entre o envolvimento da glândula tireoide eoutrasvariáveisfoianalisado pelocálculo dooddsratio
(OR) e seu intervalo de confianc¸a de 95% (IC 95%). Valo-resdep<0,05foraminterpretadoscomoestatisticamente significativos.
Resultados
Tabela2 Comparac¸ãoentregruposdepacientescomCEClaríngeoe/ouhipofaríngeosubmetidosaLTouFLTcomHTouTT ---dadosclínico-epidemiológicos
Variável TirPos TirNeg Valorp
n(%) n(%)
Sexo 1,000
Masculino 14(93,3%) 64(94,1%)
Feminino 1(6,7%) 4(5,9%)
Históriaatualoupregressadetabagismo 1,000
Sim 14(93,3%) 60(88,2%)
Não 1(6,7%) 8(11,8%)
Localprimáriodotumor 0,728
Laringe 13(86,7%) 55(80,9%)
Hipofaringe 2(13,3%) 13(19,1%)
EstadiamentoTa 0,129
T3 2(0%) 24(35,3%)
T4a 13(100%) 44(54,7%)
EstadiamentoNa
N0 8(53,3%) 37(54,4%) 1,000
N1 3(20,0%) 7(10,3%) 0,377
N2a 1(6,7%) 7(10,3%) 1,000
N2b 1(6,7%) 6(8,8%) 1,000
N2c 1(6,7%) 10(14,7%) 0,679
N3 1(6,7%) 1(1,5%) 0,331
EstadiamentoMa 1,000
M0 15(100%) 68(100%)
M1 0(0%) 0(0%)
Estadiamentoglobala
III 1(6,7%) 14(20,6%) 0,2849
IVa 13(86,7%) 53(77,9%) 0,7248
IVb 1(6,7%) 1(1,5%) 0,331
Cirurgiafeita 0,136
LT/FLT+HT 7(46,7%) 54(79,4%)
LT/FLT+TT 8(53,3%) 24(21,6%)
CEC,carcinomaespinocelular;FLT,faringolaringectomiatotal;HT,hemitireoidectomia;LT,laringectomiatotal;LT/FLT+HT, laringec-tomiatotaloufaringolaringectomiatotalcomhemitireoidectomia;LT/FLT+TT,laringectomiatotaloufaringolaringectomiatotalcom tireoidectomiatotal;TirNeg,glândulatireoidenegativaparamalignidade;TirPos,glândulatireoidepositivaparamalignidade;TT, tireoidectomiatotal.
aTNMeestadiamentoglobaldotumor,deacordocomoscritériosdoAmericanJointCommitteeonCancer(AJCC).12
AinvasãodaglândulatireoidepeloCECfoiidentificada em15pacientes.Afrequênciadeenvolvimentoglandularfoi de18,1%(15/83)paratodosospacientes.Dentreos tumo-reslocalizadosprincipalmente nalaringe, afrequênciade invasãodaglândulatireoidefoide19,1%(13/68). Conside-rando apenasos tumores dahipofaringe, a frequênciade envolvimentoglandular foi de13,3% (2/15). Ainvasãofoi macroscópica,porextensãodiretadotumor,em13(86,7%) pacientes.Ainvasãofoi identificadaapenas microscopica-menteemdois(13,3%)casos.
Acomparac¸ãoentreosgrupos come sem comprometi-mentodatireoiderevelouquepacientescomevidênciade invasãoglandularapresentaramasseguintescaracterísticas: Taxasmaiselevadasdeinvasãodasseguintesestruturas pelotumorprimário:
• Comissuraanterior(p=0,039); • Subglote(p=0,003);
• Cartilagemcricoide(p<0,001).
Otumorprimárioinvadiuoseiopiriformeemapenasdois casos deenvolvimento datireoide.Esses foramos únicos casos detumoresda hipofaringeem pacientescom carci-nomadetireoidepositivo.Oenvolvimentodoseiopiriforme foiestatisticamentemenosfrequenteempacientescom car-cinomadetireoidepositivo(p=0,039).
Nãohouvediferenc¸aestatisticamentesignificativaentre osgruposem relac¸ão asexo,idade, tabagismoatuale/ou pregresso, local do tumor primário, estadiamento T, N, M e global, tamanho do tumor, cirurgia, grau histológico e presenc¸a de invasão angiolinfática ou perineural. Uma comparac¸ão detalhada entre os grupos é mostrada nas
tabelas2---4.
Tabela3 Comparac¸ãoentregruposdepacientescomCEC laríngeoe/ouhipofaríngeosubmetidosaLTouFLTcomHT ouTT---idadeetamanhomaiordotumor
Variável TirPos TirNeg Valorp
Idade(anos)
Média±DP 60,7±11,5 59,2±9,9 0,678
Tamanhomaiordotumor(cm)
Média±DP 5,5±2,7 4,3±1,5 0,943
CEC,carcinomaespinocelular;DP,desviopadrão;FLT, faringo-laringectomiatotal;HT,hemitireoidectomia;LT,laringectomia total;Tirneg,glândulatireoidenegativaparamalignidade;Tir pos,glândulatireoidepositivaparamalignidade;TT, tireoidec-tomiatotal.
calculadosparacadavariável,comseusrespectivos inter-valosdeconfianc¸ade95%,sãoapresentadosnatabela5.
Discussão
CEC dalaringee hipofaringe, tambémchamadaderegião laringo-faríngea, tem o potencial de invadir a glândula tireoide. Esse evento era incomum nos casos apresenta-dos.Aglândulatireoidefoiafetadapelotumoremapenas 18,1, 19,1, e 13,3% dos casos de carcinoma da laringe e hipofaringe, laringe apenas e hipofaringe apenas, res-pectivamente.Essesdadossãosemelhantesaosresultados relatadosporoutrosautores,deacordocomquemosvalores variamde1a30%.3---5,7,9,13
A invasão da glândula tireoide é um fator de mau prognóstico no contexto do CEC laringofaríngeo.6,9,14 No entanto, as frequências encontradas neste estudo sugerem que a cirurgia de tireoide seria feita desneces-sariamente em mais de 80% desses casos. Sabe-se que o desempenhodatireoidectomia, totalouparcial, aumenta significativamente a morbidade terapêutica. A ocorrência de hipotireoidismo e hipoparatireoidismo, por exemplo, aumentamuito quandoatireoideéparcial outotalmente removida.4,8,9 Lo Galbo et al., por exemplo, mostraram que,de 37 pacientesque foramsubmetidos a LT com HT em sua série, 78,3% desenvolveram hipotireoidismo no período de cinco anos de acompanhamento.10 Da mesma forma,Mortimoreetal.demonstraramqueaincidênciade hipoparatireoidismofoide25%em pacientessubmetidosa LTcomHTeradioterapiaadjuvante.15
Por todasessas razões,asindicac¸ões para tireoidecto-miacomopartedotratamentodocarcinomalaringofaríngeo foram muito discutidas na literatura. O refinamento dos critérios mais fortemente associados à invasão glandu-lar seria de grande valor, particularmente na reduc¸ão de complicac¸õesdosistemaendócrino.2---6
Neste estudo, nenhuma associac¸ão do envolvimento da glândula tireoide foi demonstrada com estadiamento de linfonodo ou com a presenc¸a de invasões angiolin-fáticas e/ou perineurais e a análise microscópica dos tumores. Além disso, apenas dois (13,3%) casos de inva-são tumoral da tireoide não foram detectados com base na extensão macroscópica do tumor. Esses achados cor-roboram a teoria de que a invasão glandular pelo CEC laringofaríngeoocorremaiscomumenteporcontiguidadeou invasãodireta.Ainvasãoocorreupormeiodedisseminac¸ão
Tabela4 Comparac¸ãoentregruposdepacientescomCEClaríngeoe/ouhipofaríngeosubmetidosaLTouFLTcomHTouTT ---dadosanatomopatológicos
Variável TirPos TirNeg Valorp
n(%) n(%)
Invasãodeestruturasadjacentes
Seiopiriforme 2(13,3%) 30(44,1%) 0,039a
Comissuraanterior 13(86,7%) 38(55,9%) 0,039a
Subglote 14(93,3%) 36(52,9%) 0,003a
Cartilagemtireoidea 12(80,0%) 37(54,4%) 0,086
Cartilagemcricoide 11(73,3%) 10(14,7%) <0,001a
Grauhistológico(graudediferenciac¸ão)
Bemdiferenciado 5(33,3%) 30(44,1%) 0,568
Moderadamentebemdiferenciado 7(46,7%) 27(39,7%) 0,773
Precariamentediferenciado 3(20,0%) 11(16,2%) 0,711
Invasãoangiolinfática 0,766
Sim 6(40,0%) 23(33,8%)
Não 9(60,0%) 45(66,2%)
Invasãoperineural 0,474
Sim 4(26,7%) 12(17,6%)
Não 11(73,3%) 56(82,4%)
CEC,carcinomaespinocelular;DP,desviopadrão;FLT,faringolaringectomiatotal;HT,hemitireoidectomia;LT,laringectomiatotal;Tir neg,glândulatireoidenegativaparamalignidade;Tirpos,glândulatireoidepositivaparamalignidade;TT,tireoidectomiatotal.
Tabela5 Associac¸ãoentre invasãoda glândulatireoide porCEC edados anatomopatológicos--- oddsratio eintervalo de confianc¸ade95%
Variável TirPos TirNeg OR(IC95%)
Invasãodeestruturasadjacentes
Comissuraanterior 5,13(1,07-24,5)a
Sim 13 38
Não 2 30
Subglote 12,44(1,55-100,00)a
Sim 14 36
Não 1 32
Cartilagemcricoide 15,95(4,23-60,11)a
Sim 11 10
Não 4 58
IC95%,intervalodeconfianc¸ade95%;OR,oddsratio.
aValoresestatisticamentesignificativos.
linfática em apenas alguns casos e, mais raramente, hematogenicamente.2,5,9,11
Pode-seimaginarqueostumoresmaisagressivosemenos diferenciadosteriammaiorfrequênciadeinvasãoda glân-dulatireoide.Noentanto,nopresenteestudo,nãohouve relac¸ãodeenvolvimentoglandularcomograuhistológicodo tumor.Esseachadoécompatívelcomosachadosdeoutros autoresepodeserexplicadopelofatodequeostumores menosdiferenciados nãosão necessariamente maiores ou maisexpansivos.4,11
Embora a invasão do seio piriforme seja um critério clássico para a tireoidectomia como parte do tratamento deCEC laringofaríngeo, este estudo demonstrou que essa característicafoimaisfrequenteempacientescom tireoi-deslivresdeneoplasia(p=0,039).Osdoisúnicoscasosem quehouveinvasãodoseiopiriformeedaglândulatireoide foramrepresentados pelos únicos tumores da hipofaringe nogrupode tumorescom tireoidepositiva.Istoé, nesses casos o seio piriforme foi o local primário do tumor e a invasãodaglândulatireoideocorreudevidoaocrescimento docarcinomaparabaixo.Osachados,queestãodeacordo com outros estudos, indicam que o envolvimento apenas do seio piriforme não indica o envolvimento da tireoide glandular.3,13
Foidemonstradoqueoscasoscomtireoidepositivapara carcinomaforamassociados,com significânciaestatística, à invasão da comissura anterior (p=0,039), região sub-glótica (p=0,003) e cartilagem cricoide (p<0,001). Essa associac¸ãofoirepetidanocálculodooddsratioparaessas variáveis,queeramaisforteparao envolvimento da car-tilagem cricoide (OR=15,95, IC 95%, 4,23-60,11). Outros estudosmostraramassociac¸õessemelhantesàsencontradas aqui.2,3,5,7,9,16 Esses dadospodemser explicados pelo fato deque essasestruturassãoanatomicamente posicionadas próximas deáreas de fragilidade daestrutura laríngea:a membranacricotireoideaeoespac¸ocricotireoideo parame-diano. É precisamentepor intermédio dessas regiões que oscarcinomasseespalhamparaoutrostecidosdalaringe, especialmenteparaaglândulatireoide.5,7,8,11,14
Noentanto,nemtodososachadosmencionados anteri-ormentesãoconsideradospreditoresdeinvasãodaglândula tireoide por todos os autores. Uma metanálise feita por
Mendelsonetal.mostrouqueapenastumorestransglóticos ousubglóticosoutumorescomextensãosubglótica>10mm foramassociadosàinvasãodaglândulatireoide.Apesarda associac¸ão positiva,nenhuma correlac¸ão estatisticamente significativafoiidentificadacominvasãodascartilagens cri-coideedatireoide.11 Umadascríticasquepodeserfeitaa essametanáliseéqueapenaspoucosestudosforam incluí-dos na avaliac¸ão, particularmenteno que dizrespeito ao envolvimentodascartilagensdalaringe.
Emumestudomaisrecente,Gaillardinetal.compararam achados pré-operatórios com osresultados deestudo his-tológicodaglândulatireoide.Elesdemonstraramquemais de40% dospacientescomsinais deinvasãodacartilagem cricoidenatomografiacomputadorizada(TC)tiveram envol-vimentoglandularporcarcinoma.Elesconcluíramqueesse tipo deexame é essencial na definic¸ão dasindicac¸ões de tireoidectomia.3Damesmamaneira,sugere-sequea inva-sãodeestruturasmaisrelacionadascomoenvolvimentoda glândulatireoidedevaseravaliada,antesdacirurgia,com osmétodosdediagnósticodisponíveis,comoendoscopiae TC.Adecisãosobreodesempenhodatireoidectomiaesua extensãodevesertomadacombasenessesachados.
Este estudo tem limitac¸ões inerentes, pois é retros-pectivo, com base na análise de prontuários médicos e relatórios de estudos anatomopatológicos. Especialmente por essa razão, está sujeito a viés de informac¸ão. Além disso,emboraoscálculosdeoddsratiotenhamapresentado significância estatística, os intervalos de confianc¸a foram relativamente amplos. O pequeno número de pacientes com comprometimento da tireoide em nossa amostra poderia explicar esse resultado. Estudos com amostras maioresemelhormetodologiasãonecessáriosparadefinir mais precisamente as indicac¸ões para tireoidectomia no contextodoCEClaringofaríngeo.
Conclusão
cartilagemcricoidesãomaisfortementeassociadosà inva-sãodessaglândula.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
1.KirchnerJA.Pathwaysandpitfallsinpartiallaryngectomy.Ann OtolRhinolLaryngol.1984;93:301---5.
2.Sparano A, Chernock R, Laccourreye O, Weinstein G, FeldmanM.Predictorsofthyroidglandinvasioninglottic squa-mouscellcarcinoma.Laryngoscope.2005;115:1247---50. 3.GaillardinL,BeutterP,CottierJ-P,ArbionF,MorinièreS.Thyroid
glandinvasioninlaryngopharyngealsquamouscellcarcinoma: prevalence,endoscopicandCTpredictors.EurAnn Otorhino-laryngolHeadNeckDis.2012;129:1---5.
4.Elliott MS, Odell EW, Tysome JR, Connor SE, Siddiqui A, JeannonJP,etal.Roleofthyroidectomyinadvancedlaryngeal andpharyngolaryngealcarcinoma.OtolaryngolHeadNeckSurg. 2010;142:851---5.
5.DadasB,UsluB,CakirB,Ozdo˘ganHC,Calis¸AB,TurgutS. Intra-operativemanagementofthethyroidglandinlaryngealcancer surgery.JOtolaryngol.2001;30:179---83.
6.HillyO,RazR,VaisbuchY,StrenovY,SegalK,KorenR,etal. Thyroidglandinvolvementinadvancedlaryngealcancer: asso-ciationwithclinicalandpathologiccharacteristics.HeadNeck. 2012;34:1586---90.
7.Croce A, Moretti A, Bianchedi M. Thyroid gland involve-ment in cancer of the larynx. Acta Otorhinolaryngol Ital. 1991;11:429---35.
8.Biel MA, Maisel RH. Indications for performing hemithyroi-dectomyfortumorsrequiring totallaryngectomy.AmJSurg. 1985;150:435---9.
9.Kim JW, HanGS, ByunSS, Lee DY,Cho BH,Kim Y-M. Mana-gementofthyroidglandinvasioninlaryngopharyngealcancer. AurisNasusLarynx.2008;35:209---12.
10.LoGalboAM,KuikDJ,LipsP,vonBlombergBME,BloemenaE, Leemans CR, et al. A prospective longitudinal study on endocrine dysfunction following treatment of laryn-geal or hypopharyngeal carcinoma. Oral Oncol. 2013;49: 950---5.
11.Mendelson AA, Al-Khatib TA, Julien M, Payne RJ, Black MJ, Hier MP. Thyroid gland management in total laryngectomy: meta-analysisandsurgicalrecommendations.OtolaryngolHead NeckSurg.2009;140:298---305.
12.GreeneFL,PageDL,FlemingID,GritzAG,BalchCM,HallerDG, etal.AJCCcancerstagingmanual.6thed.NewYork:Springer; 2002.p.421.
13.JoshiP,NairS,ChaturvediP,NairD,ShivakumarT,D’CruzAK. Thyroidglandinvolvementincarcinomaofthehypopharynx.J LaryngolOtol.2014;128:64---7.
14.Gallegos-Hernández JF, Minauro-Mu˜noz G, Hernández-Hernández DM, Flores-Carranza A, Hernández-Sanjuán M, Reséndiz-ColosiaJA.Thyroidectomyassociatedwith laryngec-tomyinlaryngealcancertreatment.Isitroutinelynecessary? CirCir.2005;73:3---6.
15.MortimoreS,ThorpMA,NilssenEL,Isaacs S. Hypoparathyroi-dismafter thetreatmentoflaryngopharyngeal carcinoma.J LaryngolOtol.1998;112:1058---60.