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Os Códigos Geopolíticos no Equador de 1941 e 1995:

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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Col. MIGUEL FERNANDO ITURRALDE MAYA

Os Códigos Geopolíticos no Equador de 1941 e 1995:

aplicação e sua relação com a perda territorial

Rio de Janeiro

2020

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Col. MIGUEL FERNANDO ITURRALDE MAYA

Os Códigos Geopolíticos no Equador de 1941 e 1995:

aplicação e sua relação com a perda territorial

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Orientador: Professor Doutor PAULO GILBERTO FAGUNDES VISENTINI

Rio de Janeiro

2019

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M467c Maya, Miguel Fernando Iturralde

Os Códigos Geopolíticos no Equador de 1941 e 1995: aplicação e sua relação com a perda territorial. / Miguel Fernando Iturralde Maya. 2020.

143 f. : il. ; 30 cm.

Orientação: Paulo Gilberto Fagundes Visentini

Tese (Doutorado em Ciências Militares) Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2020.

Bibliografia: f. 131-135

1. GEOPOLÍTICA 2. CÓDIGOS GEOPOLÍTICOS. 3. EQUADOR – 1941 e 1995 4.

PERDA TERRITORIAL I. Título.

CDD 327.1

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Col. MIGUEL FERNANDO ITURRALDE MAYA

Os Códigos Geopolíticos no Equador de 1941 e 1995:

aplicação e sua relação com a perda territorial

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

BANCA EXAMINADORA

Professor Doutor PAULO GILBERTO FAGUNDES VISENTINI, PPGCM/ECEME Professora Doutora ANALÚCIA DANILEVICZ PEREIRA, PPGCM/ECEME

Professora Doutora SELMA LÚCIA DE MOURA GONZALES, ESG Professor Doutor TASSIO FRANCHI, PPGCM/ECEME

Professor Doutor JACINTHO MAIA NETO, ESG

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AGRADECIMENTOS

À minha amada pátria Equador, que leva o sangue de seus soldados e os sonhos de seu povo em suas fronteiras.

Ao Exército Equatoriano que me treinou como soldado, e semeio amor incondicional por meu país.

Ao Exército Brasileiro, ESAO, ECEME e Instituto Meira Mattos que me deram as ferramentas e orientações para enfrentar com capacidade e conhecimento todos os desafios que se apresentam.

Ao meu orientador, Professor Doutor Paulo Visentini, por confiar no meu entusiasmo e dedicação, orientando meu esforço e projetando minhas capacidades.

À minha esposa Lorena, e aos meus filhos Maria del Carmen e Miguel Gustavo, meu motor e motivação permanente, que com seu apoio incondicional que me permitiu atingir esse objetivo na carreira do conhecimento.

Aos meus amigos do IMM, que abriram as portas do conhecimento para mim e

me ensinaram o valor do compromisso.

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A geopolítica permite que a história seja escrita dia a dia.

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RESUMO

O conceito de geopolítica surgiu no início do século XX e o estudo e a aplicação desta ciência permitiu aos países projetar seu crescimento e ocupar um lugar no mundo. A falta de uma visão geopolítica, em contrapartida, faz com que os países arrisquem a perda de seu território ou até mesmo seu desaparecimento. Surge, então, uma pergunta: por que um Estado precisa de uma visão geopolítica? As respostas são várias e dependem da história e das circunstâncias de cada país. A dinâmica do Estado no sistema internacional exige que cada Estado estabeleça as políticas que norteiam as ações que sua população irá desenvolver, onde a história de um povo é a soma de seus sucessos e fracassos. No caso do Equador, sua história mostra a ausência de uma visão geopolítica em seus líderes e uma falta de ação estatal abrangente, que permita um equilíbrio entre desenvolvimento e segurança do Estado.

Depois da guerra contra o Peru e a grande perda territorial equatoriana em 1941, o Conflito do Cenepa de 1995 é uma referência na história militar do Equador devido ao apoio de todos os setores do Estado, revertido com uma vitória militar que permitiu estabelecer a relação e os limites definitivos do país. Esta pesquisa busca determinar a diferença entre o código geopolítico do Equador durante a guerra de 1941 e o de 1995, na guerra de Cenepa, bem como os resultados na defesa de sua soberania territorial.

Palavras-chave: Geopolítica; Cenepa; Equador; Estado; Código Geopolítico, Dissuasão; Perda territorial.

RESUMEN

El concepto de geopolitica surgio en el inicio del siglo XX. El estudio y la aplicación de

esta ciencia permitió a los paises proyectar su crecimiento y oupar un lugar en el

mundo, la falta de una visión geopolítica hace que los paises se arriesguen a perder

su territorio y hasta pueden desaparecer. Surge una pregunta ¿Porque un país

necesita de una visión geopolítica? Las respuestas son variadas y dependen de la

historia y la realidad de cada pais. La dinámica del Estado en el sistema internacional

exije que cada Estado establezca las politicas que guiaran las acciones que desarrolle

su población. La historia de los pueblos es la suma de sus exitos y fracasos; en el

caso del Ecuador, su historia demuestra la ausencia de una visión geopolítica en sus

(10)

líderes y una falta de acción estatal que permita un equilibrio entre el desarrollo y la seguridad del Estado. Después de la guerra contra el Perú y la gran perdida territorial ecuatoriana en 1941, el conflicto del Cenepa de 1995 es una referencia en la historia militar del Ecuador debido al apoyo de todos los sectores del Estado, lo que generó una victoria militar que permitió establecer los limites definitivos del país. Esta investigación busca determinar las diferencias entre los códigos geopolíticos que aplico el Ecuador en las guerras de 1941 y 1995 y los resultados en la defensa de la soberanía territorial

Palabras-clave: Geopolítica; Cenepa; Ecuador; Estado; Código Geopolítico;

Disuasión; Pérdida territorial.

(11)

ABSTRACT

The concept of geopolitics emerged at the beginning of the 20th century. The study and application of this science allowed countries to project their growth and positioning in the world. The absence of a geopolitical vision exposes countries to the risk of losing their territory and even disappearing. On this matter, we can question why does a country need a geopolitical vision? The answers are varied and depend on the history, context and reality of each country. The dynamics of the State in the international system requires that each State establish the policies that guide the actions carried out by its population. The history of the countries is the sum of their successes and failures;

In the case of Ecuador, its history shows the absence of a geopolitical vision in its leaders and the lack of comprehensive state action failing to achieve a balance between development and state security. As a consequence of the military defeat in 1941, Ecuador lost a great territorial extension, especially in the Amazon region. On the other hand, the Cenepa Conflict of 1995 is a reference in the history of Ecuador, due to the national support which allowed the achievement of military victory, giving way to the establishment of the definitive limits between Ecuador and Peru. This research seeks to determine the differences between the geopolitical codes that Ecuador applied in the wars of 1941 and 1995, and the results in the defense of territorial sovereignty

Keywords: Geopolitics; Cenepa; Ecuador; State; Geopolitical Code; Deterrence;

territorial loss.

(12)

LISTAS DE QUADROS

Quadro 1: Fatores Geopolíticos, indicadores e descrição...23

Quadro 2: Análise FOFA dos atributos, características do Estado...24

Quadro 3: Departamento que pertenciam à Grande Colômbia ... 38

Quadro 4: Linha do Tempo de marcos importantes………...……... 43

Quadro 5: Pessoal e Equipamento usado pelo Equador e Peru em 1941.………....58

Quadro 6: Perdas do Peru...66

Quadro 7: Relação das Forças Armadas do Equador e Peru... 86

Quadro 8: Influência do indicador nos resultados da guerra de 1941... 102

Quadro 9: Fator Histórico Equador-Peru 1941... 102

Quadro 10: Fator Físico Equador-Peru 1941... 103

Quadro 11: Fator econômico Equador-Peru 1941... 104

Quadro 12: Fator Psicossocial Equador-Peru 1941...104

Quadro 13: Fator político e ordem jurídica Equador-Peru 1941...105

Quadro 14: Fator Militar Equador-Peru 1941...106

Quadro 15: Resumo dos fatores geopolíticos Equador-Peru 1941...107

Quadro 16: Fator Histórico Equador-Peru 1995...109

Quadro 17: Fator Físico Equador-Peru 1995...110

Quadro 18: Fator econômico Equador-Peru 1995...111

Quadro 19: Fator Psicossocial Equador-Peru 1995...112

Quadro 20: Fator político e ordem jurídica Equador-Peru 1995...113

Quadro 21: Fator Militar Equador-Peru 1995...114

Quadro 22: Resumo dos fatores geopolíticos Equador-Peru 1995...115

Quadro 23: Matriz de identificação do código Equador 1941...119

Quadro 24: Matriz de identificação do código Peru 1941...122

Quadro 25: Matriz de identificação do código Equador 1995...125

Quadro 26: Matriz de identificação do código Peru 1995...128

(13)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: O Poder Nacional através da ação integradora do Estado...31

Figura 2: Desmembração do Equador...45

Figura 3: Mapa das ferrovias do Equador... 60

Figura 4: Mapa das operações do Cenepa... 88

Figura 5: Esboço de Tiwintza... 89

Figura 6: Visão dos limites com ótica do Cedula de 1802... 94

Figura 7: Representação gráfica da comparação de fatores em 1941... 108

Figura 8: Representação gráfica da comparação de fatores em 1995... 115

Figura 9: Representação gráfica da comparação de fatores em 1995... 131

Figura 10: Pintura localizada no Museu da Escola Militar...136

(14)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

1.1 O PROBLEMA ... 15

1.2 HIPÓTESES ... 15

1.3 OBJETIVO GERAL ... 15

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 16

1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ... 16

1.6 CONTRIBUIÇÃO DA INVESTIGAÇÃO ... 16

2 REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLÓGICO ... 17

2.1. O PODER, O ESTADO, A GEOPOLÍTICA E A CULTURA ESTRATÉGICA ... 17

2.2 PROPOSTA EPISTEMOLÓGICA ... 19

2.3 PROPOSTA METODOLÓGICA ... 20

2.4 ANÁLISE DE DADOS ... 21

2.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ... 25

3 ARCABOUÇO ANALÍTICO ... 26

3.1 DEFINIÇÕES NECESSÁRIAS ... 27

3.1.1 Integração dos Elementos do Estado: população, governo e território .... 29

3.1.2 Consciência Geopolítica e os Códigos Geopolíticos ... 31

3.1.3 Marco Geo-histórico do Equador ... 34

4 O EQUADOR DE 1941: FATORES DA ANÁLISE GEOPOLÍTICA ... 36

4.1 FATOR HISTÓRICO ... 36

4.2 FATOR FÍSICO ... 46

4.2.1 Área em Km² ... 46

4.2.2 População ... 46

4.2.3 Geografia. ... 46

4.2.4 Rede de Comunicações e Acesso e Áreas Estratégicas ... 47

4.3 FATOR ECONÔMICO ... 48

4.3.1 PIB em Dólares ... 49

4.3.2 Produção ... 49

4.3.3 Geração de Energia ... 50

4.3.4 Recursos Naturais ... 50

4.4 FATOR PSICOSSOCIAL ... 51

4.4.1 Identidade e Nacionalidade ... 51

4.4.1 Integração ... 53

4.4 FATOR POLÍTICO E ORDENAMENTO JURÍDICO ... 53

4.4.1 Estabilidade Política ... 53

4.4.2 Liderança e Perfil do Líder ... 54

(15)

4.4.3 Qualidade da Democracia ... 54

4.5 FATOR MILITAR ... 54

4.5.1 Porcentagem do PIB em Gastos com Defesa ... 56

4.5.2 Números das Forças Armadas do Equador ... 56

4.5.3 Equipamentos da Forças Armadas ... 57

4.5.4 Treinamento das Forças Armadas ... 58

4.6 CONSIDERAÇÕES GEOPOLÍTICAS DO EQUADOR EM 1941 ... 59

4.6.1 Visão Geopolítica ... 59

4.6.1 Tecnologia e Ideologia ... 60

4.6.2 Interesses Nacionais ... 61

4.6.3 Sistema Internacional ... 62

5 O PERU DE 1941 ... 65

5.1 FATOR HISTÓRICO ... 65

5.2 FATOR FÍSICO ... 66

5.2.1 Área em Km² ... 66

5.2.2 População ... 67

5.2.3 Geografia. ... 67

5.2.4 Rede de Comunicação e Acesso a Recursos Estratégicos ... 67

5.3 FATOR ECONÔMICO ... 68

5.3.1 PIB em Dólares ... 68

5.3.2 Produção ... 68

5.3.3 Geração de Energia ... 69

5.3.4 Recursos Naturais ... 69

5.4 FATOR PSICOSSOCIAL ... 70

5.4.1 Identidade Nacional ... 70

5.5 FATOR POLÍTICO E ORDEM JURÍDICA ... 71

5.5.1 Estabilidade Política ... 71

5.5.2 Liderança e Perfil do Líder ... 71

5.5.3 Qualidade da Democracia ... 72

5.6 FATOR MILITAR ... 72

5.6.1 Porcentagem do PIB em Gastos com Defesa ... 73

5.6.2 Números das Forças Armadas ... 74

5.6.3 Equipamentos das Forças Armadas ... 74

5.6.4 Treinamento das Forças Armadas ... 74

5.7 CONSIDERAÇÕES GEOPOLÍTICAS DO PERU EM 1941 ... 75

5.7.1 Tecnologia ... 75

6 CÓDIGO GEOPOLÍTICO DO EQUADOR 1995 ... 76

(16)

6.1 FATOR HISTÓRICO ... 76

6.2 FATOR FÍSICO ... 78

6.2.1 Área em Km² ... 78

6.2.2 População ... 78

6.2.3 Geografia. ... 79

6.2.4 Rede de Comunicação e Acesso a Áreas Estratégicas ... 79

6.3 FATOR ECONÔMICO ... 80

6.3.1 PIB em Dólares ... 80

6.3.2 Produção ... 81

6.3.3 Índice de Capital Humano ... 81

6.3.4 Geração de Energia ... 81

6.3.5 Recursos Naturais ... 82

6.4 FATOR PSICOSSOCIAL ... 82

6.4.1 Identidade Nacional ... 82

6.4.2 Integração ... 83

6.5 FATOR POLÍTICO E ORDENAMENTO JURÍDICO ... 83

6.5.1 Estabilidade Política ... 83

6.5.2 Nível de Liderança ... 84

6.5.3 Qualidade da Democracia ... 85

6.6 FATOR MILITAR ... 85

6.6.1 Porcentagem do PIB em Gastos com Defesa ... 85

6.6.2 Números das Forças Armadas do Equador ... 86

6.6.3 Equipamentos das Forças Armadas ... 87

6.6.4 Treinamento das Forças Armadas ... 87

6.7 CONSIDERAÇÕES GEOPOLÍTICAS DO EQUADOR EM 1995 ... 90

6.7.1 Tecnologia e Ideologia ... 90

6.7.2 Interesses Nacionais ... 90

6.7.3 Sistema Internacional ... 91

7 O PERU DE 1995 ... 93

7.1 FATOR HISTÓRICO: VISÃO HISTÓRICA ... 93

7.2 FATOR FÍSICO ... 95

7.2.1 População ... 95

7.2.2 Geografia ... 95

7.2.3 Rede de Comunicações e Acesso ... 95

7.3 FATOR ECONÔMICO ... 95

7.3.1 PIB em Dólares ... 96

7.3.2 Produção ... 96

(17)

7.3.3 Índice de Capital Humano ... 96

7.3.4 Recursos Naturais ... 96

7.4 FATOR PSICOSSOCIAL ... 96

7.4.1 Identidade Nacional ... 97

7.4.2 Integração ... 97

7.5 FATOR POLÍTICO E ORDENAMENTO JURÍDICO ... 97

7.5.1 Estabilidade Política ... 97

7.5.2 Liderança e Perfil do Líder ... 98

7.5.3 Qualidade da Democracia ... 98

7.6 FATOR MILITAR ... 99

7.6.1 Porcentagem do PIB com Gastos em Defesa ... 99

7.6.2 Números das Forças Armadas do Peru ... 99

7.6.3 Equipamento das Forças Armadas ... 99

7.6.4 Treinamento das Forças Armadas ... 99

7.7 CONSIDERAÇÕES GEOPOLÍTICAS DO PERU EM 1995 ... 99

7.7.1 Visão Geopolítica ... 100

7.7.2 Tecnologia e Ideologia ... 100

7.7.3 Interesses Nacionais ... 100

7.7.4 Sistema Internacional ... 101

8 ANÁLISE DOS CÓDIGOS GEOPOLÍTICOS ... 102

8.1 ANÁLISE DO FATOR GEOPOLÍTICO EQUADOR - PERU EM 1941 ... 102

8.2 ANÁLISE DO FATOR GEOPOLÍTICO EQUADOR – PERU EM 1995 ... 109

8.3 O DESENVOLVIMENTO DE CÓDIGOS GEOPOLÍTICOS ... 116

8.4 ANÁLISE DOS CÓDIGOS GEOPOLÍTICOS APLICADOS PELO EQUADOR EM 1941 E EM 1995 ... 129

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 132

APÊNDICE A ... 136

APÊNDICE B ... 137

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 138

(18)

15 1 INTRODUÇÃO

O Protocolo do Rio de Janeiro, assinado em 29 de janeiro de 1942, foi um episódio fundamental na vida do Equador e do Peru, tendo em vista a pressão exercida sobre os países garantidores da solução do conflito (Argentina, Brasil, Chile e Estados Unidos), impelindo-os a resolver um problema de fronteira na América do Sul. Enquanto isso, no outro lado do mundo desenvolvia-se uma guerra que concentraria a atenção mundial. A decisão, por fim, foi favorável aos interesses peruanos e as negociações foram realizadas enquanto o Equador encontrava-se invadido, estando os soldados peruanos ocupando o território desde 1941.

A dificuldade da aplicação in loco do Protocolo de Paz, Amizade e Limites firmado no Rio de Janeiro fez com que as áreas em disputa não fossem claramente definidas, gerando mais conflitos armados em 1981, 1991 e 1995. A grande assimetria entre os dois países, a visão geopolítica de seus líderes e seu posicionamento estratégico no sistema internacional ficaram evidentes na firmeza das negociações sobre questões fronteiriças ao longo de sua história. No caso do Equador, a ausência de uma visão geopolítica por parte de seus líderes, bem como de uma resposta integral do Estado, geraram incerteza, falta de clareza e incoerência em suas decisões para enfrentar o conflito fronteiriço com o Peru.

1.1 O PROBLEMA

Qual é a diferença entre os códigos geopolíticos usados pelo Equador nos problemas de fronteira com o Peru em 1941 e 1995 e quais são os seus resultados?

1.2 HIPÓTESES

Os códigos geopolíticos usados pelo Equador para enfrentar os conflitos armados com o Peru de 1941 e 1995 foram diferentes e isso se evidenciou nos resultados

uma derrota e uma vitória militar.

1.3 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral desta pesquisa consiste em estabelecer a diferença entre os

códigos geopolíticos do Estado e o seu impacto na Defesa Nacional do Equador nas

Guerras com Peru em 1941 e 1995.

(19)

16 1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Entre os objetivos específicos deste trabalho constam:

a) Identificar os fatores geopolíticos do Equador;

b) Compreender a influência do código geopolítico do Equador em 1941 na perda territorial;

c) Compreender a influência do código geopolítico do Equador em 1995 para a vitória militar e o estabelecimento definitivo de limites;

d) Determinar como a ação integral do Estado influenciou na defesa militar do Equador nas guerras com Peru em 1941 e 1995.

1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

Em relação ao período histórico, o estudo enfocará nos anos de 1941 e 1995, enfatizando os problemas de fronteira entre Equador e Peru.

1.6 CONTRIBUIÇÃO DA INVESTIGAÇÃO

O tema proposto enquadra-se nas disciplinas de geopolítica, estratégia e

relações internacionais, na linha de estudos de paz e guerra, com foco na área de

pesquisa sobre Defesa Nacional. A relevância desta tese reside no fato de que o

produto final constitui uma ferramenta informativa para a análise da tomada de decisão

do Estado, e na compreensão da importância de manter um código geopolítico – e

uma real dissuasão – que permita ao Estado proteger seus interesses. Além disso,

esta tese contribui para o diálogo civil-militar em nível político e estratégico,

incentivando a incorporação de uma visão geopolítica de segurança e defesa nas

políticas públicas.

(20)

17

2 REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLÓGICO

Os códigos geopolíticos são ferramentas estratégicas que um governo desenvolve para orientar sua política externa e as relações internacionais entre os países também se estabelecem por meio dos mesmos. Existem vários estudos sobre a aplicação desses códigos, uma delas é a pesquisa de Juan Mendoza, que trata das relações do Chile com seus vizinhos (MENDOZA, 2017).

Existem estudos anteriores realizados sobre a relação conflituosa de fronteira entre o Equador e o Peru a partir de sua própria perspectiva e de visões imparciais.

Documentos de vários autores serão analisados para identificar os aspectos históricos investigados, desenvolvendo-se um estudo geo-histórico concentrado nas guerras de 1941 e 1995 (MACÍAS, 2008a), (JOSÉ GALLARDO, 1995), (DOBRONSKI, 2012), (CAYO, 1995), (ADRIANZÉN, 1999), (BETHELL, 2002), (PALMER, 1997). A abordagem geo-histórica busca enfatizar os fatores geográficos e históricos e todos aqueles que influenciam a tomada de decisões diante de conflitos. Procura-se, deste modo, uma análise sistêmica para abordar os atores envolvidos na determinação do código geopolítico do Estado (GERARDO & ÁLVAREZ, 2003).

Vários autores geraram modelos políticos que permitem identificar as visões geopolíticas dos países e sua classificação no sistema internacional por meio do uso de indicadores que atendem às suas preocupações (MENDOZA, 2017), (MONCAYO, 2016), (BLÁZQUEZ, 2018), (JORDAN, 2018). Para contemplar os objetivos desta pesquisa, foi gerado um modelo com requisitos específicos a fim de identificar os componentes do código geopolítico e como eles influenciaram o resultado de sua aplicação em conflitos. Assim, esta investigação começa com definições que permitem enquadrar-se no contexto do Estado.

2.1. O PODER, O ESTADO, A GEOPOLÍTICA E A CULTURA ESTRATÉGICA

O Estado deve ter uma política nacional para estabelecer claramente seus interesses e objetivos nacionais e emitir diretrizes setoriais de coordenação ao governo. Desta forma, a aplicação de uma estratégia estabelecida prepara e implementa o poder nacional para alcançar ou manter tais interesses e objetivos nacionais.

A política, os códigos geopolíticos e o pensamento estratégico são fundamentais

para analisar a abordagem da segurança nacional, que vai muito além das áreas de

segurança e defesa. Para tal, os aspectos conceituais de segurança e defesa serão

(21)

18

analisados usando: (SAINT-PIERRE & SILVA, 2008); (FUCCILLE & REZENDE, 2013); (WIRITZ, 2000); (NYE, 2012); (PROENÇA JÚNIOR & DUARTE, 2007);

(FREEDMAN, 2013); (BUZAN, 2012); (HERTZ, 2011); (KELSEN, 1965); (WEBER, 2007).

Em relação à geografia, geopolítica e geoestratégia para analisar as origens e os fundamentos das teorias clássicas da geopolítica e sua relação com a estratégia nacional serão utilizados os trabalhos de (GERARDO & ÁLVAREZ, 2003); (MEIRA MATTOS, 2011); (MONCAYO, 2016); (CRUZ, 2016); (JORDÁN, 2018); (DURÁN, 2016); (DELER, 1987); (GRYGIEL, 2006);(TAYLOR & FLINT, 2018).

Para investigar a existência de uma visão geopolítica dos principais pensadores equatorianos, e como eles consideraram que o Estado nacional deveria ser conduzido, os trabalhos dos seguintes autores serão analisados: (OCHOA, 1976);

(MACÍAS, 2008B); (DOBRONSKI, 2012); (ORDOÑEZ & CRUZ, 2017); (MARTIN FELIX, 2006). Já a principal base teórica para analisar a cultura estratégica e a visão geopolítica serão as definições estabelecidas por Coutau-Bégarie no livro “Tratado da Estratégia” (HERVÉ, 2000).

A cultura estratégica tem uma influência direta sobre como um Estado interage com outros Estados em questões de segurança e defesa. Inclui tradições, hábitos, valores, atitudes, formas de comportamento, símbolos, abordagens e processos nacionais especiais, escolhidos para influenciar o ambiente externo e formas de resolver problemas para enfrentar ameaças e o uso da força. Para isso, vamos usar Uz Zaman (2009). A cultura estratégica no Equador, por sua vez, é analisada e estudada por Oswaldo Hurtado e Ojeda (OJEDA, 2006); (HURTADO, 1977), entre outros autores.

Para tentar responder à questão de pesquisa e entender como um Estado se

desenvolve no Sistema Internacional, a Teoria das Relações Internacionais do

Neorrealista Kenneth Waltz será utilizada como base. Adicionalmente, serão utilizadas

outras leituras desenvolvidas durante o mestrado e o doutorado em ciências militares,

que serão a base desta discussão: (VISENTINI, 2012); (BRZEZINSKI, 2012); (SÁENZ,

2014); (ANGELL, 1910); (MORGENTHAU, 1948); (BOBBIO, 1994); (ROSE,

CHRISTENSEN, & BROWN, 2010).

(22)

19 2.2 PROPOSTA EPISTEMOLÓGICA

Os Estados têm um plano para atingir seus objetivos, onde a estratégia é o caminho para obtê-los. Por isso os tomadores de decisão e sua população devem entender a importância de se ter uma visão e códigos geopolíticos que permitam exercer uma ação integral do Estado, como uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento, segurança e defesa de seus interesses no sistema internacional.

Para realizar esta pesquisa, será utilizada a análise sistêmica, considerando que um Estado é um sistema composto por subsistemas e ao mesmo tempo faz parte do sistema supra internacional. Para isso, será utilizada a teoria dos sistemas de Niklas Luhmann (GERARDO & ÁLVAREZ, 2003).

O caminho para saber como o Estado funciona e como os códigos geopolíticos são gerados é composto por três lentes. Inicialmente será utilizada a teoria neorrealista de Kenneth Waltz, que enfatiza que o sistema internacional é anárquico e que cada Estado deve buscar seus próprios interesses sem se subordinar aos interesses dos demais. Muitos conflitos são gerados pelo dilema de segurança e pela incerteza das ações de outro Estado.

“A guerra pode acontecer a qualquer momento, e isso implica que, na anarquia, não há nada que impeça os Estados de usar a força, se desejarem, mas o emprego só se tornará realidade se houver uma vontade do Estado.”

(WALTZ, 1980).

A segunda se trata da lente geo-histórica de Fernand Braudel, que estuda a dinâmica entre uma sociedade do passado e a estrutura geográfica que a sustenta. A geo-história aborda a geografia humana do ponto de vista histórico, fundindo história e geografia em um método de partes iguais.

E, finalmente, o tratado estratégico de Hervé Coutau-Bégarie e sua análise da cultura estratégica baseada na cultura, buscando determinar o impacto da cultura nacional em sua falta de compromisso com o planejamento estratégico e os objetivos nacionais com a ação integral do Estado.

“O método ligado à cultura busca destacar a cultura estratégica como um conjunto de atitudes e crenças preferidas....”. “É o conhecimento transmitido de geração em geração, não formalmente, mas por impregnação.” (Hervé, 2000)

Nesta linha, seguiremos o pesquisador Colin Gray (1986) sobre a influência da

cultura estratégica no planejamento de segurança e defesa, que diz que “a cultura

(23)

20

estratégica é o ambiente no qual as ideias e decisões estratégicas sobre política e defesa são discutidas e decididas.”

O desenvolvimento desta pesquisa será consolidado em forma de tese, buscando, adicionalmente, apresentar o trabalho em fóruns e seminários, bem como publicar artigos que respondam à questão de pesquisa, e relacionem-se com a visão de códigos geopolíticos, a cultura estratégica, a ação integral do Estado e a dissuasão.

2.3 PROPOSTA METODOLÓGICA

Para o desenvolvimento desta pesquisa, será utilizada uma abordagem da teoria de sistemas de Niklas Luhmann. Por tratar de questões que abarcam diversas ciências e disciplinas (geopolítica, história, estratégia, ciência política e relações internacionais), contaremos com a metodologia multidisciplinar, que integrará os conhecimentos adquiridos e verificará os resultados da pesquisa, alcançando generalizações que respondam à questão da investigação.

A teoria de Niklas Luhmann conceitua o sistema como a conjunção de partes ou subsistemas que preenchem uma função específica na organização, diferenciada por sua particularidade e limitada em seu ambiente (GERARDO & ÁLVAREZ, 2003).

Nesta pesquisa será utilizada a teoria de sistemas aplicada à sociedade moderna, na qual o princípio central da diferenciação é o princípio funcional, onde as partes se formam sob diferentes pontos de vista, seja ele econômico, político, social, militar, etc.

Em cada caso, eles são organizados como subsistemas e possuem funções específicas.

A pesquisa terá abordagem qualitativa, baseada em dados produzidos a partir dos aspectos e dos autores investigados. A técnica que será utilizada é o estudo de caso, “com uma abordagem qualitativa, que busca entender o processo pelo qual certos fenômenos ocorrem, e alcançar uma generalização analítica” (MARTÍNEZ, 2006).

O estudo de caso será utilizado para analisar conflitos de fronteira entre o Equador e o Peru, entre 1941 e 1995, empregando o modelo de análise geopolítico desenvolvido considerando como base os modelos de Loreto Marchés B.

1

e Juan Mendoza

2

, buscando atender às necessidades desta pesquisa. O modelo analisa seis

1 Loreto Marchés Blázquez. Espanhola. Analista de inteligência, formada em Relaciones Internacionales.

2 Juan Mendoza Pinto, geopolítico chileno, Doctor en Estudios Políticos y estratégicos.

(24)

21

fatores que são medidos por indicadores específicos para cada um deles (fator histórico, fator físico, fator econômico, fator psicossocial, fator político e ordenamento jurídico e fator militar) (BLÁZQUEZ, 2018); (MENDOZA, 2017).

A soma dos fatores e das conclusões obtidas apoiará a teoria da importância de uma ação integral do Estado e de um código geopolítico no Equador como aspecto fundamental para os resultados favoráveis ou desfavoráveis na defesa nacional. A coleta de dados começa com uma pesquisa bibliográfica na literatura (livros, manuais, revistas especializadas, jornais, artigos, internet, teses acadêmicas), formando o sustento teórico e o estado da arte que será analisado com os dados pertinentes ao assunto investigado. Posteriormente, serão feitas consultas aos bancos de dados utilizando as palavras-chave-filtro, “código geopolítico” e “Estado” para limitar o volume de material relacionado à tese. Também serão obtidos dados estatísticos para o Equador e o Peru, de 1941 e 1995.

Para trabalhar com as informações coletadas, será utilizada a análise de conteúdo. Segundo Bardin, a análise de conteúdo é um conjunto de instrumentos metodológicos aplicados que buscam descobrir a estrutura interna da informação, seja em sua composição, forma ou estrutura organizacional, ou em sua dinâmica (LOPEZ, 2002). Nesta tese a análise de conteúdo será usada para projetar o código geopolítico, as decisões dos líderes políticos e as consequências no campo da defesa e da perda territorial, assim como na vitória militar do país.

Para atender aos aspectos específicos da pesquisa, a análise FOFA (Fortalezas, Fraquezas, Oportunidades, Ameaças) será utilizada a fim de projetar os códigos geopolíticos usados em 1941 e 1995 pelo Equador e pelo Peru. As informações disponíveis serão analisadas da perspectiva externa do Estado com o sistema internacional, e interna dos subsistemas estaduais, visando entender como elas influenciam e contribuem para o código geopolítico.

2.4 ANÁLISE DE DADOS

A análise dos dados é um processo dinâmico e criativo. Ao longo da análise, o

estudo dos fenômenos permite uma compreensão e interpretação que possibilita

estabelecer um sentido para os dados e fenômenos estudados (TAYLOR & BOGDAN,

1987). A pesquisa possui abordagem qualitativa dos documentos que permitem a

análise de fatores geopolíticos durante as guerras de 1941 e 1995 entre Equador e

Peru, uma vez que a pesquisa busca determinar as relações de todos os atores e sua

(25)

22

influência na ação integral do Estado frente ao conflito e, principalmente, como estes influenciaram os resultados para o Equador.

Esses fatores serão analisados utilizando o modelo projetado para esta

pesquisa, que estabelece seis fatores e seus respectivos indicadores para analisar a

relação do poder geopolítico no ambiente internacional. A seguir, é apresentada um

quadro, na qual será estabelecida uma comparação entre os fatores e o poder

geopolítico na Guerra entre Equador e Peru em 1941 e 1995.

(26)

23

Quadro 1: Fatores Geopolíticos, indicadores e descrição

FATOR INDICADOR DESCRIÇÃO

Histórico Visão Histórica São os eventos históricos significativos que marcaram o destino de pais

Físico Área em Quilômetros Área do país, para o exercício de sua soberania

População Número de habitantes existentes na época Geografia Características geográficas mais

representativas na época.

Redes de transporte e comunicação

Rede rodoviária e rotas de comunicação mais utilizadas

Econômico PIB em dólares Valor dos bens e serviços produzidos pelo país durante um ano.

Produção Bens e serviços que o país produz Geração de energia Número de quilowatts que produz

Recursos naturais Elementos da natureza que ajudam o desenvolvimento dos países Psicossocial Identidade nacional Sentimento de pertencer ao Estado,

construído sobre aspectos relacionados à cultura e história.

Integração Interações, capacidades e limitações nacionais que afetam o desenvolvimento Ordem

política e legal

Estabilidade política Cumprimento do plano do governo com disciplina

Nível de Liderança Personalidade e características do líder.

Qualidade da democracia

Processos, eleitorais, nível de participação, liberdades.

Militar % do PIB em defesa Índice de despesas de acordo com o PIB Numérico das Forças

Armadas

Número de militares envolvidos na campanha

Equipamento das Forças Armadas

Material usado, tecnologia utilizada

(27)

24 Nível de treinamento das Forças Armadas

Nível de eficiência e eficácia das forças Interesses Nacionais Aspectos necessários para o

desenvolvimento.

Sistema Internacional Relação do Estado e organizações internacionais

Fonte: Elaboração própria, baseado no (Marchés, 2018).

O quadro 1 será gerada com base nas informações coletadas e será analisada detalhadamente, buscando estabelecer como os códigos geopolíticos influenciaram na defesa nacional no Equador e no Peru. Os fatores geopolíticos serão medidos usando uma tabela Likert, que permitirá estabelecer valores para aspectos qualitativos, a fim de medir sua influência através da aplicação dos indicadores e, com essas informações, projetar o código geopolítico. Os indicadores quantitativos serão medidos com seus valores correspondentes.

Uma segunda análise será desenvolvida com base na integração de informações usando o método FOFA, a fim de mostrar o poder geopolítico que teve no país na Guerra entre Equador e Peru em 1941 e no Conflito do Cenepa em 1995, buscando compreender a importância dos códigos geopolíticos do Equador e Peru em 1941 e 1995.

Quadro 2: Análise FOFA dos atributos, características do Estado

FOFA INTERNA

FORTALEZAS FRAQUEZAS

EXTERNO OPORTUNIDADES AMEAÇAS

Fonte: Elaboração própria.

O quadro 2 permitirá demonstrar em sua análise a importância da integração dos

atributos do Estado e suas características particulares, bem como sua capacidade de

usar esses atributos para alcançar seus interesses. A análise dos dados terminará

fornecendo as informações que permitirão estabelecer o código geopolítico que o país

usou em 1941 e em 1995 para enfrentar conflitos territoriais com o Peru.

(28)

25 2.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

A metodologia escolhida para esta pesquisa apresenta algumas limitações em

relação à coleta de dados e acesso aos especialistas. Foram realizadas coordenações

para obter acesso às informações necessárias.

(29)

26 3 ARCABOUÇO ANALÍTICO

A história da humanidade mostra, com grande evidência, que o conflito nasceu com o homem. Sua sobrevivência determinou que a vida dos seres humanos fosse uma luta permanente, na qual o uso da força, da inteligência e da iniciativa lhes permitissem enfrentar todas as ameaças. Quando a população cresceu, os espaços entre os grupos humanos diminuíram e, buscando satisfazer suas necessidades e aspirações, impuseram seu poder sobre os outros. Essas disputas deram origem a conflitos e guerras, onde os exércitos nasceram com a missão de garantir a sobrevivência do Estado.

Vários autores da teoria clássica afirmam que o Estado é composto por três elementos: população, território e soberania, e esses elementos, por sua vez, são compostos de fatores que os caracterizam individualmente. Assim, o Estado é a ordem jurídica que exerce seu poder soberano em determinado território (BOBBIO, 1994;

DURÁN, 2016; KELSEN, 1965); e é por isso que os Estados devem cuidar do seu território, uma vez que “a fronteira representa o patrimônio territorial; ali começa e acaba a soberania.” (MEIRA MATTOS, 2011).

Os Estados planejam seu desenvolvimento com base em sua história, realidade e interesses e estabelecem objetivos projetados ao longo do tempo, promovendo seu desenvolvimento simultaneamente com sua segurança, buscando uma interação equilibrada entre ambos. A ação integral projetada pela execução desses planos gera um Poder Nacional fortalecido pela efetiva imbricação de todos os seus componentes.

A ausência dessa integralidade dialética, contudo, é apresentada como uma vulnerabilidade do Estado.

A teoria dos sistemas afirma que “a sociedade é um sistema composto de indivíduos e comunicações que são geradas entre eles, que usa códigos especializados: políticos, econômicos, religiosos, legais, militares, nos quais os subsistemas estão inter-relacionados.” A relação entre as partes, entre os sistemas e outros sistemas sociais, permite entender o problema de uma perspectiva geral e identificar possíveis soluções (GERARDO & ÁLVAREZ, 2003; RAMIREZ, 2016).

Existe uma relação crucial na noção de sistema, entre o todo e as partes

conectadas de uma forma organizada. Todas as coisas estão conectadas umas às

outras, as mais distantes estão conectadas de uma maneira mediata e imediata, onde

algumas têm um efeito sobre outras; as partes não são concebidas sem se conhecer

o todo (MORIN, 1999). A Teoria da Complexidade considera o sistema como um

(30)

27

conjunto composto de partes interrelacionadas que manifestam um comportamento não evidente a partir da soma das partes.

O sistema político é o conjunto de relações humanas (comportamentais) que têm sua origem no exercício do poder, comando e autoridade política em um espaço territorial (RAMIREZ, 2016). Um sistema complexo funciona como um todo e os processos que ocorrem lá são determinados pela interação de elementos ou subsistemas que pertencem a diferentes domínios disciplinares e cuja contribuição para cada processo não é totalmente separável das outras contribuições (KENNY, LOCATELLI, ZARZA 1982).

3.1 DEFINIÇÕES NECESSÁRIAS

Os Estados desenvolvidos seguem um planejamento estatal de forma rigorosa, ao passo que os Estados subdesenvolvidos improvisam e seguem a conjuntura.

Quando o planejamento se faz ausente nos Estados, eles tornam-se reféns das circunstâncias, limitando suas ações para responder a eventos críticos, porque não conseguem resolver os problemas importantes, nem direcionam seus esforços para as causas estruturais que os causam, perdendo a possibilidade de enfrentar o futuro com sucesso (ANGOTTI, 2017).

O planejamento geral da ação de um governo só é útil na medida em que é transformado em uma ação prática. Os processos de governo nos países da América Latina mostram, em geral, uma lacuna considerável entre os planos e o processo real de elaboração e tomada de decisões que orienta a ação dos governantes. Assim, a ineficácia do planejamento estimula um estilo de governo improvisado que tende a reagir de maneira atrasada e espasmódica aos problemas (MATTOS, 1982).

O Estado equatoriano não é a exceção da realidade latino-americana, ao longo

de sua história caracterizada pela violação do planejamento do desenvolvimento,

executando uma política clientelista em resposta à situação. Assim, este estudo é de

grande importância, pois permite demonstrar a relevância da ação integral do Estado

(OJEDA, 2006). O desenvolvimento nacional é um processo de mudança social, que

gera modificações no modo de viver, nas relações de poder e na disponibilidade e uso

de recursos e é o Estado que elabora a Estratégia Nacional que orienta a preparação

e aplicação do Poder Nacional para conquistar os Objetivos Nacionais previstos. A

elite política dos Estados que exerce a condução pelo governo deve estabelecer os

interesses e os objetivos nacionais, uma vez que a Estratégia Nacional estabelece,

(31)

28

entre outras, uma política de defesa que, se necessário, permite enfrentar todos os conflitos por meio do uso da força, garantindo o exercício de sua soberania e contribuindo para o desenvolvimento e a segurança do Estado.

A Escola Superior de Guerra do Brasil (ESG), conceitua segurança nacional, como “o grau relativo de garantia, que por meio de ações políticas, econômicas, psicossociais e militares, pode proporcionar um Estado, em um determinado momento, à nação no país” e “realização e salvaguarda dos objetivos nacionais, apesar do antagonismo interno ou externo, existente ou previsível.” (ESG, 2014).

Vários autores referem-se ao poder nacional como a “expressão integrada de todos os meios disponíveis ao Estado para promover a realização e/ou manutenção de objetivos nacionais” (DURÁN, 2016; MEIRA MATTOS, 2011; MONCAYO, 2012).

O poder nacional deve ser integrado, indivisível e dinâmico; sua força reside no seu uso unificado, considerando que na particularidade das situações prevalecerá as formas ou expressões de poder econômico, social, político, psicossocial e/ou militar.

A integralidade permite identificar os sujeitos como um todo, mesmo que não sejam alcançados em sua plenitude, e considerar todas as dimensões possíveis em que se pode intervir (CLINE, 1994).

Desta forma, o Estado precisa ser analisado sob uma visão de integralidade dialética em que as partes formam um todo. Não são a soma de componentes, mas sim o resultado da sobreposição de seus componentes projetando um Poder Nacional forte, representativo e dissuasivo. A ausência de uma Política e Estratégia Nacional que ordene e gere um alinhamento sinérgico das políticas e estratégias das áreas de interesse da Segurança Nacional afeta significativamente o Sistema Estadual. O método sistêmico trata o sistema como um corpo único, formado por subsistemas. Os subsistemas mantêm conexões e comunicações entre os subsistemas, enfatizando as interrelações entre os subsistemas, sistemas e supra sistemas e a dinâmica dos sistemas e do ambiente permite seu desenvolvimento e adaptação.

A abordagem realista do Poder estabelece que os Estados devem se defender, pois os conflitos são resolvidos com o uso da força. De acordo com Moncayo (2012), as ações do Estado devem considerar todas as formas de intervenção econômica, política, social e ideológica, e, principalmente, garantir as fronteiras através de forças militares, como um impedimento para evitar violações do espaço nacional.

Além disso, o sistema do Estado deve estar aberto, o que permitirá que ele seja

saudável e mantenha contato com os diferentes níveis sistêmicos, tendo em vista que

(32)

29

os sistemas fechados são tóxicos e não conseguem se comunicar com seu ambiente (LASZLO, 1972). Em 1864, o presidente Abraham Lincoln ordeneu ao general Ulysses Grant aplique uma estratégia para restaurar a União do Norte, que consistia em neutralizar a capacidade de fazer a guerra das forças confederadas na frente do general Lee. Foi assim que ele usou o poder industrial do Norte, o bloqueio, o isolamento diplomático e o poder de seu exército para conduzir uma ofensiva massiva, constituindo um exemplo onde a Potência Total do Estado foi usada procurando um efeito combinado (SULLIVAN HARPER, 1998).

O poder nacional deve ser entendido como a soma de todos os pontos fortes de uma nação, o que lhe permite estabelecer sua estratégia de desenvolvimento na busca de objetivos nacionais (MONCAYO, 2012). Além disso ele é o conjunto integrado de todos os meios disponíveis para o Estado, impulsionados pela vontade nacional, para alcançar e manter, interna e externamente, os objetivos nacionais. Na forma de uma metáfora, pode-se afirmar que o Estado necessita de um efetivo esforço holístico, materializado em políticas que permitam uma inter-relação integral e integradora.

O Estado é uma unidade política composta por população, território e governo soberano, mas não é uma entidade monolítica ou corporativa. A estrutura do Estado é composta por classes e grupos sociais que querem ser representados na arena internacional e o sistema internacional representa a estrutura formada pelo conjunto de relações dos Estados entre si e com outros organismos sujeitos ao Direito Internacional (VALDÉZ & SALAZAR, 1979).

Segundo Silviu Brucan, a desigualdade entre nações e Estados caracteriza todo o sistema internacional e constitui o principal componente da política internacional.

Organizar as relações internacionais em um ambiente no qual a dominação ou influência de Estados poderosos sobre os fracos, lutando pela ameaça do uso da força como ferramenta de política externa, é um comportamento usado no mundo (BRUCAN, 1971).

3.1.1 Integração dos Elementos do Estado: população, governo e território

O Estado precisa de uma instituição política que organize a população em seu

território e administre as relações internacionais. A interrelação dos elementos do

Estado: população, governo e território constitui o Poder Nacional, que se fortalece

com a efetividade da aplicação de políticas públicas centrípetas, que permitem uma

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30

maior coesão. Políticas centrífugas distanciam elementos e debilitam o Estado (DURÁN, 2016).

A população é o povo herdeiro das características, história comum, cultura, idiossincrasia, costumes, direitos, fatores que forjam a identidade nacional. Já o território é a área física onde os recursos são encontrados, onde uma nação se desenvolve fisicamente, coexiste e trabalha. O Governo, por fim, é constituído pelos atores e organizações sociais, políticas e econômicas que constituem sua estrutura e suas instituições.

A correlação e a inter-relação entre os componentes do Estado geram novas relações e componentes que possuem características particulares. Na relação população-território, o desenvolvimento humano e econômico é importante por meio da ocupação efetiva do território e de atividades que visam gerar o desenvolvimento de todas as regiões do Estado. A relação população-governo se preocupa com o desenvolvimento do arcabouço institucional político-legal e os direitos dos habitantes, a melhoria da infraestrutura para o desenvolvimento humano (saúde, educação, trabalho) e a segurança cidadã. O relacionamento território-governo, por sua vez, identifica a importância da integridade territorial, o desenvolvimento e o cuidado com a infraestrutura física, os recursos naturais, o meio ambiente, e os faz através das agências de segurança e defesa para enfrentar as ameaças que afetam o Estado.

Mas, realmente, é a interação população-governo-território (PGT), que gera a ação integral. Para o Estado, a inter-relação da PGT é o seu núcleo de poder, o mesmo que se incrementa pelo fortalecimento das correlações entre os elementos.

Um núcleo forte, baseado em instituições que buscam um objetivo comum, projeta a

força de um Estado forte no sistema internacional. Assim, a política de Estado

obedece ao interesse fundamental do conglomerado, devendo ser conservada

permanentemente, envolvendo a alocação de recursos públicos ou privados.

(34)

31

Figura 1: O Poder Nacional através da ação integradora do Estado

Fonte: Gráfico gerado pela interpretação do autor baseado no Modelo Duran de elementos estatais.

Na Figura 1, podemos ver as correlações entre os elementos do Estado. A inter- relação entre os elementos atinge uma ação integral baseada na força do núcleo, onde o Poder Nacional pode ser forte ou fraco, dependendo da inter-relação e correlação dos componentes do Estado, Território e Governo. As relações se manifestam com políticas centrípetas que fortalecem a interação, ou políticas centrífugas que distanciam os componentes diminuindo a ação integral do Estado.

Para o general Gonzalo Santelices, a força de um Estado é medida por suas instituições e pela confiança depositada nelas pela sociedade a que servem. O papel social das instituições militares é o de manter a integridade nacional, e satisfazer a necessidade de segurança que tem a sociedade, o que permite o desenvolvimento harmonioso e em paz de um determinado território.

A nação, por sua vez, constitui-se por um grupo de pessoas que compartilham laços históricos, culturais e linguísticos. Assim, a identidade nacional é o sentimento de pertencer à coletividade de um Estado ou nação e fator fundamental para o sentimento de coesão e unidade dos Estados.

3.1.2 Consciência Geopolítica e os Códigos Geopolíticos

Os Estados devem refletir sua visão geopolítica em sua política de relações exteriores ou em sua geoestratégia. Quando fracassam nesse esforço, o sucesso

Governo

Território

População

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32

político e até mesmo a sobrevivência política correm risco (GRYGIEL, 2006). A partir do surgimento de organizações sociais, que foram a base de nações e Estados, a importância do homem e sua geografia já era considerada, sendo a geografia a realidade geológica da terra, composta por montanhas, rios, oceanos, clima, etc.

Geopolítica, em contrapartida, é a combinação de aspectos geológicos (recursos naturais), com a atividade humana (produção e tecnologia de comunicação), que altera o valor do lugar (GRYGIEL, 2006). O valor geopolítico de um setor é estabelecido pela localização dos recursos naturais e econômicos e pelas linhas de comunicação que os ligam. A geopolítica atribui valor estratégico a lugares visando o desenvolvimento de novas tecnologias, que podem usar os recursos disponíveis naquele local e sendo uma realidade objetiva ela independente dos interesses e aspirações do Estado que são determinadas pelas rotas e centros de recursos.

A dinâmica da geopolítica exige conhecimento dos recursos disponiveis e o desenvolvimento da tecnologia, requerendo um estudo permanente para considerar as mudanças geopolíticas. Contudo, é sempre importante considerar as atitudes históricas dos Estados tendo em vista que quando novas tecnologias são descobertas ou áreas que geram recursos são identificadas, uma região irrelevante pode se tornar uma área de importância estratégica, como a descoberta de depósitos de petróleo, por exemplo.

Os Estados que controlam as linhas de comunicação têm independência estratégica e não dependem da proteção de outros Estados, nem das boas intenções do sistema internacional. Suas rotas, sejam naturais ou criadas, proporcionam acesso aos recursos naturais e econômicos, fornecendo a oportunidade de desenvolver sua capacidade militar e industrial, além de alcançar uma vantagem estratégica para ter um poder que lhe permite exercer influência sobre outros Estados.

A estrutura interna do Estado pode constituir um impedimento para projetar poder para uma área geopolítica vital e, assim como os Estados com conflitos internos, devem basear seu governo no autoritarismo e no apoio militar, constituindo um obstáculo ao aumento do poder do Estado.

O teórico realista Hans Morgenthau afirma que “um Estado é seguro e poderoso quando atinge a autarquia. A autossuficiência lhe dá uma vantagem sobre a outra, porque não depende da vontade ou poder de outro Estado.” (MORGENTHAU, 1948).

A geoestratégia descreve para onde um Estado deve direcionar seus esforços

militares e diplomáticos. Devido aos poucos recursos existentes, um Estado deve

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33

escolher onde projetar seu poder e influência, dando uma direção geográfica clara para sua política externa (GRYGIEL, 2006).

Quando um Estado considera a situação geopolítica e a ação geoestratégica correspondente, o controle dos centros de recursos e suas linhas de comunicação é alcançado, aumentando ou mantendo sua posição de poder (GRYGIEL, 2006). Se um Estado não exerce controle sobre essa posição, outro ator fará isso e preencherá essa lacuna. Assim, um Estado que comanda recursos e rotas também tem a capacidade de acumular riqueza e exercer influência sobre outros Estados, garantindo acesso a recursos-chave e negando acesso a outros.

Tendo uma visão geopolítica e ações geoestratégicas torna-se claro quando as fronteiras de um Estado estão sendo ameaçadas e o Estado deve concentrar seus esforços na preservação de sua segurança territorial. Os recursos diplomáticos, econômicos e militares devem ser direcionados para a proteção das fronteiras, fornecendo ao Estado a capacidade de projetar poder para pontos estrategicamente importantes. Desta forma, a primeira prioridade do Estado é a proteção da segurança territorial, e depois os aspectos de desenvolvimento. Na era atual, a geografia e a geopolítica têm um impacto significativo no destino político dos Estados que não reconhecem a necessidade de controlar rotas e recursos, pois perdem poder (GRYGIEL, 2006).

Fatores como o desenvolvimento da tecnologia têm influenciado o controle de certos objetivos geopolíticos na era da globalização, pois embora os Estados possam acessar recursos no mercado, o controle de rotas e recursos não pode ser substituído.

Desta forma, a geografia torna-se vital para a política externa dos Estados, sendo os códigos geopolíticos o conjunto de premissas estratégicas que um governo utiliza para orientar sua política externa (TAYLOR & FLINT, 2018). Cada Estado busca definir suas estratégias para ocupar seu espaço no sistema internacional e, para isso, deve ter uma visão geopolítica e um código geopolítico que norteie suas ações.

Para determinar qual é o código geopolítico, os atributos e interesses de cada

Estado devem ser considerados e como os utilizam através de suas capacidades para

atingir seus objetivos. Desde a concepção do realismo neoclássico, estabelece-se que

é preciso saber quais são os atributos de poder de cada Estado, saber o que o país

possui, quais são seus interesses e, assim, projetar seu código geopolítico no exterior

(ROSE ET AL., 2010). Entre os atributos do Estado estão: fatores econômicos,

demográficos, geográficos, governamentais e militares.

(37)

34

Assim, o interesse nacional é evidenciado na política externa de um país, por meio de suas ações e seu posicionamento no sistema internacional. Quando um país é claro sobre seu interesse nacional, projeta suas ações aproveitando as oportunidades e enfrentando os desafios da dinâmica internacional. Finalmente, um dos aspectos fundamentais que devem ser considerados é a vontade de exercer poder, que repousa sobre os líderes políticos que representam o povo.

3.1.3 Marco Geo-histórico do Equador

O Estado é um organismo vivo, diz Ratzel, e a fronteira é a epiderme de seu corpo, que expande ou morre quando o corpo morre. Este ponto de vista gerado pelo

“determinismo geográfico” afirma que o homem é um produto do seu meio ambiente e as condições naturais são o que determinam a sua vida em sociedade. Os deterministas afirmam que o homem é escravo de seu próprio espaço e realidade, e sua capacidade de preparar uma defesa adequada de seus direitos e interesses pode levar à perda de sua soberania e até a perda de seu Estado (RATZEL, 1914).

Os Estados nacionais surgiram na América do Sul no século XIX, com limites ambíguos e a aplicação de uti possidetis juris com base na divisão territorial administrativa colonial estabelecida por decretos reais, causando grandes disputas entre vizinhos, que foram resolvidas com o uso da diplomacia e com o uso da força em busca de manter a soberania territorial. O território equatoriano atual foi baseado no antigo território do povo Quitu, onde a conquista espanhola reconheceu a Real Audiência de Quito para exercer o governo. Deste lugar, novas conquistas foram projetadas como a descoberta do rio Amazonas, em 1542, por Francisco de Orellana.

Em 1563 a Real Audiência de Quito tinha uma área de 1,037,890 km², já o Equador atual tem 270,670 km².

A colônia espanhola projetou suas cidades como um instrumento de dominação, buscando, através de seu governo, garantir o controle militar, econômico e político das terras conquistadas, através da criação de núcleos populacionais estáveis e bem organizados (AYALA, 2011). A independência nos países da América do Sul foi um processo doloroso e sangrento. No caso dos países andinos do norte da América do Sul, eles foram integrados no ideal de Bolívar, formando a Gran Colômbia, que foi administrada a partir de Bogotá e Caracas neste período.

Em 1830, o Equador separa-se da Grande Colômbia, declara sua

independência e, com a constituição elaborada neste ano, cria-se o Estado

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35

equatoriano. Grandes esforços foram feitos pelos pais da pátria para escrever a norma suprema; no entanto, o elemento fundamental do Estado – o território – não tinha limites claramente definidos, o que gerou conflitos permanentes ao longo de sua história. “A assembleia determinou a organização de um governo mais análogo a seus costumes, circunstâncias e necessidades.” (CARMEN, 1978).

No período republicano, o Equador não definiu suas fronteiras, negligenciou sua preparação militar e, nas regiões fronteiriças, não contava com a presença efetiva de nenhuma agência estatal que promovesse o desenvolvimento. Essa falta de preocupação teve um custo muito alto para o país quando sua soberania foi afetada por diferentes tratados, entre os mais importantes que podemos mencionar:

O Acordo de Pedemonte-Mosquera: Em 1830, que consistia na demarcação das fronteiras, ficou acertado que entre o Equador e o Peru estavam limitados no rio Amazonas (CAROLINA, 2017, pág. 5)

O Acordo de Pando-Nóvoa: Com o objetivo de mediar com um árbitro os problemas de fronteira existentes, permitindo que o Peru exerce soberania sobre Túmbez, Jaén e Mainas (CAROLINA, 2017, pág. 6)

O Acordo de Mapasingue: Reconheceu no Peru um grande número de territórios reivindicados pelo Equador. Neste Tratado foi indicado o prazo de dois anos para a fixação definitiva dos limites territoriais, de acordo com o Certificado Real de 1802 (CAROLINA, 2017, pág. 8).

O Protocolo de Paz, Amizade e Limites do Rio de Janeiro: Após o conflito de 1941, o Equador é obrigado por armas e pela diplomacia internacional a assinar o primeiro protocolo do Rio de Janeiro, em 29 de janeiro de 1942; aqui o Equador perderia aproximadamente 200.000 Km² de seu território, sendo este o maior desmembramento territorial (CAROLINA, 2017, pág. 8).

O Acordo de Paz entre Equador e Peru, assinado em Brasilia: O acordo assinado

em 26 de outubro de 1998 encerrou as disputas territoriais. Os paises garantes Brasil,

Chile, Argentina e Estados Unidos foram represntados por seus presidentes,

terminando la última guerra sulamericana.

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36

4 O EQUADOR DE 1941: FATORES DA ANÁLISE GEOPOLÍTICA

Os códigos geopolíticos são as estratégias geradas pelos governos estatais para orientar sua política externa. Neste capítulo procura-se fornecer os insumos necessários para realizar a análise dos fatores que permitirão o estabelecimento do código utilizado pelo Equador para resolver o problema territorial de 1941.

4.1 FATOR HISTÓRICO

A história passada dos povos nos permite conhecer como eles foram moldados ao longo de sua vida estatal. Além disso, nos permite saber como o sistema internacional se comportou, como foi empregado o Poder Nacional que dispunha, qual foi a atitude de seu adversário e sua reação frente aos conflitos apresentados.

O problema fronteiriço entre Equador e Peru é uma das mais antigas disputas fronteiriças do Hemisfério Ocidental, sendo um legado da administração colonial espanhola, que não tinha interesse em delimitar as fronteiras de suas posses (BRUCE, 1997). Diz Scott Palmer que é um dos problemas mais complexos desenvolvidos na América, devido ao tempo que se levou para resolvê-lo e os agentes que participaram para a resolução (SCOTT, 1997).

No século XV, os povos que habitavam os atuais territórios do Equador tiveram que enfrentar os guerreiros que vinham do Sul, os incas liderados por Tupac Yupanqui começaram a conquista dos povos do Norte. Com sua morte, seu filho Huayna Cápac continuou sua visão expansionista, e o sucesso militar alcançado se consolidou com seu casamento com uma mulher Caranqui (da comunidade de Cara), como fruto dessa união o Inca teve um filho, Atahualpa (AYALA, 2008).

No ano de 1492, Cristóvão Colombo chegou à América e iniciou a conquista do continente impondo a cruz com a espada. Francisco Pizarro e Diego de Almagro foram incumbidos de conduzir suas expedições em direção ao Sul, chegando em 1526 às praias onde hoje é o Equador.

Com a morte do Inca Huayna Cápac, em 1528, inicia-se uma disputa pelo controle de Tahuantinsuyo entre seus filhos, o líder de Quito, Shyri Atahualpa, e Huáscar, imperador de Cuzco. Shyri Atahualpa se fez prevalecer e chegou à cidade imperial Cusco. Logo os espanhóis vieram conquistá-los e assassinaram Atahualpa, dando-se início ao período colonial na América.

Segundo o historiador peruano Adrianzén, as visões nacionalistas do Equador

e do Peru se reportam às “invasões imperialistas Incas” ao Reino de Quito, ratificando

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a antiguidade e a complexidade do contexto das relações fronteiriças entre os países vizinhos (ADRIANZÉN, 1999).

A partir de 1540 buscou-se organizar a administração religiosa, criando-se a diocese com jurisdição no Equador, no sul da Colômbia e no norte do Peru. Em 1556 a Coroa criou a província de Quito, e em 1563, o rei Felipe II emitiu a Cédula criando a Audiência Real de Quito. Seus territórios se estendiam pelo Sul, até porto de Paita e pelo interior até Piura, Cajamarca, Chachapoyas, Moyobamba e Motilones; pelo Oriente, os povos de Canela e Quijos (AYALA, 2008).

Um dos eventos relevantes de 1717 foi a criação do vice-reinado de Santa Fé ou Nueva Granada. A Audiência Real de Quito inicialmente tornou-se parte desta jurisdição, e em 1720 torna-se subordinada ao Vice-reinado de Lima. Em 1723 foi extinto o Vice-Reinado de Nova Granada e em 1739 foi restabelecida e assumida novamente a jurisdição da Audiência Real de Quito (BARROSO, 2007).

O rei Felipe V da Espanha emitiu a Carta Real de 1740 para definir os limites e responsabilidades dos administradores coloniais dos Vice-reinos de Nova Granada e do Vice-reino do Peru (Altamirano, 1997). Por centenas de anos, esses limites não foram importantes porque estavam sob o domínio espanhol.

No ano de 1774 os portugueses avançaram em territórios da América Espanhola e criaram o Forte de Tabatinga, no rio Amazonas. A presença dos jesuítas quitenhos (de Quito), impediam o avanço impetuoso dos bandeirantes nos territórios espanhóis.

No entanto, em 1º de outubro de 1777 foi assinado o Tratado de San Ildefonso, pelo qual Portugal confirmava legalmente a posse territorial das terras conquistadas. A Espanha enviou o engenheiro Francisco Requena a Quito, para que participasse na delimitação dos territórios ultramarinos com Portugal (MONCAYO, 2011).

Quando Requena foi nomeado Governador de Maynas, solicitou que seu Quartel e o Governo de Quijos passassem à jurisdição territorial e administrativa do Vice-rei de Lima, retirando-os de Quito. Este pedido foi aceito e difundido com a Cédula Real de 15 de julho de 1802. O Equador sempre afirmou que a citada Cédula tinha escopos exclusivamente religiosos e militares, com o objetivo de criar o Bispado e a Capitania de Maynas. Já o Peru interpretou que os limites deveriam ser traçados pela Cordilheira Oriental dos Andes e esse foi o argumento apresentado pelo Peru como base para sua tese territorial.

No início do século XIX surgiram ideias emancipadoras, e após a Batalha de

Pichincha, em 24 de maio de 1822, a independência da Espanha foi assim alcançada,

Referências

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