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4.6 CONSIDERAÇÕES GEOPOLÍTICAS DO EQUADOR EM 1941

4.6.3 Sistema Internacional

Desde a época da independência, Equador e Peru disputam a bacia amazônica.

Por mais de cem anos foram feitas tentativas de definir os limites, mas nenhuma

solução foi alcançada o que, inclusive, gerou confrontos armados. O Equador e sua

chancelaria não se mantiveram firmes em sua posição nas abordagens e

reivindicações em face às ações políticas e militares contra o país e os direitos dos

equatorianos. Assim, a grande instabilidade política não permitiu o desenvolvimento

do país, nem de sua economia, e a defesa militar foi permanentemente negligenciada,

não alcançando a coesão nacional que fornecesse solidez e força interna.

Quanto à política externa, a chancelaria equatoriana não dispunha de orientação

clara, não tinha apoio, aliados internacionais, tampouco força militar. A passiva política

externa equatoriana entendeu que sua abordagem por lei seria aceita, insistindo na

estratégia em busca de uma solução definitiva através da diplomacia, algo que nunca

ocorreu. Em 21 de junho de 1924 foi assinado um protocolo entre o Equador e o Peru,

que estabelecia que seriam enviadas delegações a Washington para submeter-se à

mediação do Presidente dos Estados Unidos da América a fim de definir a questão

fronteiriça. Na década de 1930, as relações eram muito distantes e até considerou-se

por diversas vezes que a guerra fosse algo iminente.

Entre 1936 e 1940 o Peru assumiu extensos territórios equatorianos na região

amazônica, e procurou controlar os cursos navegáveis dos rios equatorianos lá. A

estratégia apresentada pelo Peru foi forçar a aceitação do tratado, aproveitando-se da

desorganização, desamparo e desunião do Equador como resultado de 10 anos de

guerras fratricidas, o que desencadeou a invasão de 1941 (GALLARDO, 2014).

Bloqueadas as saídas diplomáticas, o Peru se aproveitou de uma situação na qual a

atenção continental estava fixada na guerra mundial, e optou por uma saída de força

(BETHELL, 2002).

A década de 1930 foi muito agitada no Equador devido à migração estrangeira,

inicialmente chinesa, e de judeus que impactaram a economia do país. Segundo o

pesquisador equatoriano Francisco Nuñez, o serviço de inteligência dos Estados

Unidos, viu com preocupação como muitos políticos equatorianos simpatizavam com

o Eixo, enquanto o Peru continuava com os Aliados liderados pelos Estados Unidos

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(NÚÑEZ, 2013). Posições radicais foram adotadas, levando à expulsão dos judeus do

Equador em 1938, atitudes que geraram muita tensão com os atores internacionais.

Já durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos ordenaram que suas

embaixadas e delegações internacionais na América Latina elaborassem listas de

cidadãos alemães e japoneses que poderiam liderar atividades subversivas potenciais

destinadas a afetar o Canal do Panamá e os Estados Unidos. Muitos desses

estrangeiros foram deportados para os Estados Unidos, apesar da ausência de

evidências confiáveis da possível ameaça. Foi uma medida exagerada que não surtiu

o efeito pretendido (FRIEDMAN, 2000).

Em 1941, o presidente equatoriano Arroyo do Rio acreditou que o sistema

internacional não permitiria tal invasão ao Equador. No entanto, as preocupações com

a guerra mundial colocaram em segundo plano o projeto equatoriano e a necessidade

de resolver o problema rapidamente. A ocupação durou mais de seis meses, indo até

janeiro de 1942. No Rio de Janeiro, reuniu-se com a Conferência Interamericana para

apoiar os Estados Unidos pelo ataque japonês a Pearl Harbor. A guerra peruana-

equatoriana foi ali tratada e, sem maior discussão sobre o assunto, foi assinado o

“Protocolo de Paz, Amizade e Limites”, em nome da “unidade continental”. O Equador

teve que aceitar a renúncia de 200.000 km² de território, que antes havia reivindicado

por mais de um século (BETHELL, 2002). Para estabelecer a fronteira, foi utilizada a

“Fórmula Oswaldo Aranha”, gerada como resultado das negociações em Washington.

O Chanceler brasileiro lançou uma linha baseada nas aspirações peruanas e

equatorianas em um mapa do Itamaraty, no Rio de Janeiro, em 1942 (DOBRONSKI,

2012).

Segundo Leslie Bethell, o Protocolo do Rio de Janeiro escondia grandes

interesses econômicos internacionais em conflito, como a “guerra do petróleo”

(BETHELL, 2002). Este conflito tinha um forte cheiro de petróleo e demonstrava a luta

de duas companhias petrolíferas, uma anglo-saxônica e outra americana (DELER,

1987). Essa ideia é reafirmada por Jaime Galarza na Festa do Petróleo, afirmando

que os depósitos de petróleo da região adjacente aos rios Marañón, Morona e

Santiago do Equador foram entregues para exploração à Royal Dutch Shell. Estes

territórios, quando passaram ao poder do Peru, foram concedidos para a exploração

da Standard Oil, de Nova Jersey. Se em 1935 a Standard Oil foi derrotada na Bolívia,

em 1942, no Equador, aconteceu o contrário. A dívida estava paga (GALARZA, 1970).

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A posição do representante do Equador, Tobar Donoso, foi frequentemente

questionada, já que muito pouco havia sido feito para ocupar estrategicamente uma

linha de fato, ou que houvesse evitado novos avanços estrangeiros. Nunca se

prepararam fronteiras vivas que pudessem defender o patrimônio nacional, não sendo

desenvolvido o território (GALARZA, 1970).

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5 O PERU DE 1941

5.1 FATOR HISTÓRICO

A República do Peru tem uma história muito ampla desde o período incaico, com

Manco Cápac e Mama Ollo. Culturas como o Chavín de Huantar foram desenvolvidas

e com a influência da civilização Tiahuanaco surge o Império Inca, com sua capital em

Cuzco. Tupac Yupanqui, filho do Inca Pachacuti, começou a conquista das terras do

norte que chegam à fronteira do atual Equador. Com a morte de Tupac Yupanqui em

1493, seu filho Huayna Cápac assumiu a liderança do império, continuando sua

expansão. Seus dois filhos, Huáscar e Atahualpa, disputaram a posse do império após

sua morte.

Atahualpa derrotou Huáscar e enfrentou o domínio do espanhol Francisco

Pizarro em sua chegada em 1532. O Inca Manco Cápac II continuou a resistência

após a morte de Atahualpa, e confrontou a implantação do sistema colonial, o qual

gerou a destruição das comunidades aborígenes (ayllus) que estruturavam o império

incaico. Em seu lugar foram implantadas las encomiendas, tipo de serviço a favor da

Coroa. A cidade de Lima foi fundada em 1535, e em 1544 foi instalado o Vice-Reinado

do Peru, o mesmo que gerou grandes recursos para os reis espanhóis. Vários

conquistadores se estabeleceram nas cidades, estruturando uma sociedade

estratificada que gradualmente incorporou crioulos, mestiços, indígenas e negros.

Neste período, o Peru atingiu sua extensão máxima, cobrindo grande parte da

América do Sul. Os Reis da Espanha, devido à dificuldade na administração das

Capitanias, Audiências e novos Vice-reinados, não se preocuparam em estabelecer e

cuidar de seus domínios até a chegada dos portugueses à América.

A Coroa espanhola, para definir seus territórios diante do avanço dos

portugueses na Amazônia, enviou o engenheiro Francisco Requena. Já com base em

seus relatórios, foi emitida a Cédula Real de 15 de julho de 1802, na qual subordinava

o governo da província de Maynas ao Vice-Reino de Lima. Como dito anteriormente,

ao nascer dos novos Estados na América, o princípio do uti possidetis foi aplicado –

quem era o dono continuaria a sê-lo enquanto a terra estivesse em sua posse (CAYO,

1995).

Na sequência, o Peru tornou-se independente da Espanha com a intervenção de

San Martin, em 1821, consolidando sua independência com a Batalha de Ayacucho,

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em 1824, liderada por Sucre. A Confederação Peruano-Boliviana, liderada pelo

Marechal Santa Cruz, foi dissolvida com a derrota na Batalha de Yungay, em 1839.

Em 1870, o governo conservador de José Balta contratou a empresa Dreyfus

para a operação e venda de guano, em troca de empréstimos que seriam utilizados

na construção de ferrovias, bem como na irrigação para a região costeira. Na

administração de Manuel Prado, em 1875, a remessa de guano e salitre foi revertida

para o Estado.

Em 1879, começou a Guerra do Pacífico entre Peru e Bolívia contra o Chile pelas

províncias que possuíam minas de sal, na área fronteiriça entre o Peru e o Chile.

Nesta guerra o Peru foi derrotado e entregou os povos de Arica e Tarapacá ao Chile.

Após a Guerra do Pacífico, vários governos militares tomaram o poder, então políticos

que lideraram a República Aristocrática impulsionaram uma política de exportação e

desenvolvimento. No início do século XX, foi projetado o que foi chamado de “Nova

Pátria”, o que provocou muitas mudanças, as quais foram interrompidas pela

depressão mundial de 1930. O poder foi novamente assumido pelos militares, que

implantaram ditaduras rígidas.

Ainda no século XX o Peru enfrentou disputas territoriais com a Colômbia. Em

1911, pela La Pedrera, em 1932 por Leticia, que terminou com o Tratado

Salomão-Lozano. Com o Equador em 1941, inicialmente, e depois em 1995, pela Cordilheira

do Condor.

5.2 FATOR FÍSICO

5.2.1 Área em Km²

A República do Peru tem uma área de 1.285.215,6 km² e faz fronteira com cinco

países: ao Norte, com o Equador e a Colômbia, a Leste com o Brasil e a Bolívia, e ao

Sul com o Chile. Além disso, possui uma área de 7.073 quilômetros de fronteira, o que

constitui um desafio para a sua integração, seu desenvolvimento e sua segurança.

Quadro 6: Perdas do Peru

TRATADO PAIS DATA Km²

Convenção do Rio BRASIL 23/10/1851 80.000 Km²

Concessão BRASIL 1867 267.703 Km²

Velarde Rio

Branco

BRASIL 08/09/1909 103.340 Km²

Polo- Sánchez BOLIVIA 17/09/1909 91.726 Km²

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Salomón Lozano COLOMBIA 24/03/1922 127.272 Km²

Protocolo Rio de

Janeiro ECUADOR 29/01/1942 110.000 Km²

Tratado Ancón CHILE 20/10/1883 44.320 Km²

Tratado Lima CHILE 03/06/1929 21.093 Km²

Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base em (CAYO, 1995).

5.2.2 População

O primeiro censo populacional foi desenvolvido em 1940, estimado em 7.023.111

habitantes, com crescimento de 12,1%. Em Lima, viviam 577.000 pessoas,

correspondendo a 8,21% do total da população peruana. Já em 1941 havia 8.369.825

habitantes (LARREA, 1988c).

5.2.3 Geografia.

O país possui três regiões geográficas: o litoral, as montanhas e a Amazônia. A

região costeira corresponde a uma faixa que cruza o país de Norte a Sul, onde foram

estabelecidas várias aldeias, contanto com um litoral de 3.080 km de extensão de

praia.

A região serrana é atravessada pela Cordilheira dos Andes, onde ao longo do

país foram criados vales que assentam as cidades. A região amazônica, em sua parte

norte, é uma planície de selva, rica em seus recursos hídricos, com rios que são os

principais afluentes do rio Amazonas, cujo curso chega ao Oceano Atlântico. Já as

principais elevações são: Huascarán, Ampato e Huandoy, e os principais vulcões são:

Omate, Misti, Ubinas e Coropuna.