5.5.1 Estabilidade Política
Durante a década de 1930 a política peruana se caracterizou pelas paixões no
acesso ao poder, pelo qual, inclusive, se deu vez a intervenções militares, imposições
baseadas no autoritarismo e embates internos que geraram grande instabilidade,
contando até mesmo com manifestações de subversão. No campo externo, de igual
maneira, ocorreram vários eventos que forçaram a dar uma atenção permanente às
questões de política externa.
5.5.2 Liderança e Perfil do Líder
O presidente Manuel Prado Ugarteche foi o presidente peruano que liderou o
país durante a guerra de 1941. Membro do império econômico, Prado contava com a
maioria no Congresso, o que lhe proporcionava facilidades na governança do país,
mas muitas vezes foi acusado de dar continuidade ao governo do General Benavides.
Líder firme em suas decisões, ele organizou a preparação do Agrupamento do Norte,
a mando do General Ureta. Descumprindo as disposições presidenciais, o General
Ureta ameaçou o presidente Prado com uma revolta resultante em um golpe de
Estado caso ele não autorizasse o ataque ao Equador (MACÍAS, 2008b).
72
5.5.3 Qualidade da Democracia
Os ditadores estendiam seus mandatos com a anuência das autoridades e das
empresas jornalísticas que disseminavam todo tipo de informação, o que chegava a
desestabilizar os governos. Foram lançadas, inclusive, até sombras de dúvidas nas
eleições de 1939, a qual Manuel Prado ganhou. Na época, falava-se de troca de poder
entre as Forças Armadas e a Oligarquia.
5.6 FATOR MILITAR
Em três de março de 1846, o presidente do Peru, Ramón Castilla, emitiu uma lei
que estabelecia: “Que é um dever de toda nação proteger suas fronteiras como um
meio necessário de evitar todos os tipos de desavenças com os Estados fronteiriços.”
Ato seguido, ordenou a criação de guarnições militares na fronteira com o Equador e
o Brasil. Já no Decreto de sete de janeiro de 1861 foi criado o Departamento Marítimo
e Militar de Loreto e, desde então, o Peru exerceu uma presença militar na Amazônia
(MACÍAS, 2008).
Após a Guerra do Pacífico, o Marechal Andrés Cáceres iniciou a reorganização
do exército peruano. Com o apoio do governo de Nicolás de Piérola recebeu a
assessoria da Missão Militar Francesa. Foi criada a Escola Militar de Chorrilho e, a
partir de 1939, foram criadas 5 Regiões Militares para cobrir o território peruano. Entre
1927 e 1930, uma missão alemã forneceu assessoria militar ao Peru e em 1937 eles
receberam a Missão Italiana Aeronáutica e a Missão Naval dos Estados Unidos.
Nos governos dos presidentes Oscar Benavides e Manuel Prado, o Peru
continuou com seu processo armamentista, comprando canhões de artilharia
Schneider, metralhadoras e morteiros franceses. Foi criada a Divisão de Tanques com
blindados tchecoslovacos e foram importados veículos blindados e motorizados, o que
“modernizou rapidamente” o exército peruano.
Em um estudo minucioso desenvolvido pelo historiador equatoriano Edison
Macias, determinou-se que o Peru, desde 1936, iniciou um avanço sistemático,
avançando seus postos militares na Amazônia, os quais permaneciam sem a
presença militar equatoriana. Guarnições militares foram criadas e avançadas de 1930
a 1940. Na confluência de Guepi e Putumayo foi criado, no rio Santiago, o posto “Cabo
Reyes”; no rio Pastaza, o posto “Soldado Eias Soplin”; no rio Nashiño, os postos
“Soldado Guerero” e “Soldado Revilla”; no rio Comaina, os postos “Soldado Mori” e
“Chávez Valdivia”, entre outros. A partir de 1940 eram realizadas visitas periódicas
73
aos postos avançados para verificar as necessidades e o cumprimento das instruções
(LARREA, 1988b).
Em dezembro de 1940, o presidente peruano Manuel Prado ordenou a criação
de uma grande unidade de combate, a qual foi denominada Agrupamento do Norte.
O general Eloy Ureta, que organizou o Estado-Maior, foi nomeado comandante das
unidades de apoio ao combate e aos serviços de combate. Também estava
subordinada a ele a Guarda Civil e Republicana da jurisdição. Em 19 de março, tropas
e tanques peruanos chegam a Tumbes e em cinco de julho de 1941 começaram as
hostilidades (MACÍAS, 2008b). Em junho de 1941 as operações foram projetadas por
dois eixos: um na costa em direção à província de El Oro, e outro pela região
amazônica nos sopés da Cordilheira do Condor, avançando no rio Santiago e Morona.
No final das operações militares, o Exército peruano estava em posse de parte
da província equatoriana de El Oro e Loja, onde estabeleceu bases amazônicas. As
tropas peruanas foram impulsionadas pelo direito de conquista, complementado pelo
abandono do território amazônico equatoriano, engajado em uma luta política direta,
com consideráveis perdas humanas e econômicas.
A história do Peru tem grandes evidências de que o militarismo peruano tenha
contado com uma participação ativa nas decisões políticas do país. O início das
operações foi pressionado pelo General Ureta, que ameaçou o Presidente Prado com
um golpe de Estado. Da mesma forma, quando o cessar-fogo foi alcançado pela
intervenção dos Estados Unidos, em 26 de julho, o Equador emitiu as ordens
imediatamente, mas o General Ureta acatou a ordem em 31 de julho, continuando os
ataques e a invasão, com a anuência do Ministro das Relações Exteriores do Peru,
Alfredo Solf. O militarismo tem pouca ou nenhuma subordinação ao poder político
(HERNÁNDEZ, 1992; MACÍAS, 2008b). Assim, a forte influência militar na política
interna e externa do Peru e do Equador teve uma relação marcante no
desencadeamento de conflitos na região (BARROSO, 2007).
5.6.1 Porcentagem do PIB em Gastos com Defesa
De acordo com Luís Hernandez, em seu estudo da Guerra de 1941, o orçamento
peruano em 1941 era de 101.107.000 soles de oro, ou seja, US$15.554.923,00. No
caso do Equador, o orçamento do estado não chegou a US$ 1.500.000. Na mesma
relação se encontravam as forças militares e os equipamentos (HERNÁNDEZ, 1992).
74
5.6.2 Números das Forças Armadas
O Decreto Presidencial do Peru, emitido em 21 de março de 1941, fazia o apelo
militar para integrar as unidades do Agrupamento. Até 30 de abril de 1941, 3.400
homens deveriam incorporar às Forças Armadas para se juntar às reservas (MACÍAS,
2008b). Com base nesta investigação, estabelece-se que a relação numérica dos
soldados era de 30.000 do Peru a 2.000 do Equador.
5.6.3 Equipamentos das Forças Armadas
A relação entre os dois países foi abismal. Segundo Luís Hernandez, as compras
militares feitas aos Estados Unidos nos anos 1939, 1940 e 1941 do Peru e do Equador
foram de US$2.265.883, e US $ 52.570, respectivamente.
Benjamin Welles, repórter do New York Times que viajou para a zona de conflito,
relatou em sua visita a Tumbes uma grande atividade militar pela tropa peruana, com
presença de caminhões e cavalos. E, ao contrário, as tropas equatorianas tinham
pedidos não atendidos feitos pelas tropas na fronteira (HERNÁNDEZ, 1992).
O historiador militar José Gallardo destaca o que foi expressado pelo diplomata
peruano Juan Miguel Bákula, que afirma que desde 1933 o Peru inaugurou seu
programa de compra de armas e treinamento militar. Entre 1933 e 1941, o efetivo
militar aumentou de 8.000 para 16.000. Foram compradas artilharia, tanques
blindados e aviação militar em vários países. O acesso ao Oriente também foi
melhorado e a Escola de Guerra foi reorganizada a mando do General Ureta
(GALLARDO, 2014)
5.6.4 Treinamento das Forças Armadas
A partir do conflito sobre a posse de Letícia sobre o Amazonas, no qual o Peru
foi derrotado pela Colômbia, decidiu-se impor uma decisão de força em seu conflito
com o Equador. Assim, o governo peruano de Benavides, em 1933, inaugurou o
vigoroso programa de aquisição de armas, bem como o treinamento de tropas.
Após o fracasso das reuniões em Washington, em 1938, o Peru começou a
preparar o país para a guerra. O General Ureta, diretor da Escola de Guerra, foi
nomeado para preparar o plano de campanha (DOBRONSKI, 2012). As aquisições
foram feitas e foram completados os orgânicos das unidades, sendo os
reconhecimentos e práticas iniciados para executar o planejamento.
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No documento
Os Códigos Geopolíticos no Equador de 1941 e 1995:
(páginas 74-78)