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Consciência Geopolítica e os Códigos Geopolíticos

3.1 DEFINIÇÕES NECESSÁRIAS

3.1.2 Consciência Geopolítica e os Códigos Geopolíticos

Figura 1: O Poder Nacional através da ação integradora do Estado

Fonte: Gráfico gerado pela interpretação do autor baseado no Modelo Duran de elementos estatais.

Na Figura 1, podemos ver as correlações entre os elementos do Estado. A

inter-relação entre os elementos atinge uma ação integral baseada na força do núcleo,

onde o Poder Nacional pode ser forte ou fraco, dependendo da inter-relação e

correlação dos componentes do Estado, Território e Governo. As relações se

manifestam com políticas centrípetas que fortalecem a interação, ou políticas

centrífugas que distanciam os componentes diminuindo a ação integral do Estado.

Para o general Gonzalo Santelices, a força de um Estado é medida por suas

instituições e pela confiança depositada nelas pela sociedade a que servem. O papel

social das instituições militares é o de manter a integridade nacional, e satisfazer a

necessidade de segurança que tem a sociedade, o que permite o desenvolvimento

harmonioso e em paz de um determinado território.

A nação, por sua vez, constitui-se por um grupo de pessoas que compartilham

laços históricos, culturais e linguísticos. Assim, a identidade nacional é o sentimento

de pertencer à coletividade de um Estado ou nação e fator fundamental para o

sentimento de coesão e unidade dos Estados.

3.1.2 Consciência Geopolítica e os Códigos Geopolíticos

Os Estados devem refletir sua visão geopolítica em sua política de relações

exteriores ou em sua geoestratégia. Quando fracassam nesse esforço, o sucesso

Governo

Território

População

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político e até mesmo a sobrevivência política correm risco (GRYGIEL, 2006). A partir

do surgimento de organizações sociais, que foram a base de nações e Estados, a

importância do homem e sua geografia já era considerada, sendo a geografia a

realidade geológica da terra, composta por montanhas, rios, oceanos, clima, etc.

Geopolítica, em contrapartida, é a combinação de aspectos geológicos (recursos

naturais), com a atividade humana (produção e tecnologia de comunicação), que

altera o valor do lugar (GRYGIEL, 2006). O valor geopolítico de um setor é

estabelecido pela localização dos recursos naturais e econômicos e pelas linhas de

comunicação que os ligam. A geopolítica atribui valor estratégico a lugares visando o

desenvolvimento de novas tecnologias, que podem usar os recursos disponíveis

naquele local e sendo uma realidade objetiva ela independente dos interesses e

aspirações do Estado que são determinadas pelas rotas e centros de recursos.

A dinâmica da geopolítica exige conhecimento dos recursos disponiveis e o

desenvolvimento da tecnologia, requerendo um estudo permanente para considerar

as mudanças geopolíticas. Contudo, é sempre importante considerar as atitudes

históricas dos Estados tendo em vista que quando novas tecnologias são descobertas

ou áreas que geram recursos são identificadas, uma região irrelevante pode se tornar

uma área de importância estratégica, como a descoberta de depósitos de petróleo,

por exemplo.

Os Estados que controlam as linhas de comunicação têm independência

estratégica e não dependem da proteção de outros Estados, nem das boas intenções

do sistema internacional. Suas rotas, sejam naturais ou criadas, proporcionam acesso

aos recursos naturais e econômicos, fornecendo a oportunidade de desenvolver sua

capacidade militar e industrial, além de alcançar uma vantagem estratégica para ter

um poder que lhe permite exercer influência sobre outros Estados.

A estrutura interna do Estado pode constituir um impedimento para projetar

poder para uma área geopolítica vital e, assim como os Estados com conflitos internos,

devem basear seu governo no autoritarismo e no apoio militar, constituindo um

obstáculo ao aumento do poder do Estado.

O teórico realista Hans Morgenthau afirma que “um Estado é seguro e poderoso

quando atinge a autarquia. A autossuficiência lhe dá uma vantagem sobre a outra,

porque não depende da vontade ou poder de outro Estado.” (MORGENTHAU, 1948).

A geoestratégia descreve para onde um Estado deve direcionar seus esforços

militares e diplomáticos. Devido aos poucos recursos existentes, um Estado deve

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escolher onde projetar seu poder e influência, dando uma direção geográfica clara

para sua política externa (GRYGIEL, 2006).

Quando um Estado considera a situação geopolítica e a ação geoestratégica

correspondente, o controle dos centros de recursos e suas linhas de comunicação é

alcançado, aumentando ou mantendo sua posição de poder (GRYGIEL, 2006). Se um

Estado não exerce controle sobre essa posição, outro ator fará isso e preencherá essa

lacuna. Assim, um Estado que comanda recursos e rotas também tem a capacidade

de acumular riqueza e exercer influência sobre outros Estados, garantindo acesso a

recursos-chave e negando acesso a outros.

Tendo uma visão geopolítica e ações geoestratégicas torna-se claro quando as

fronteiras de um Estado estão sendo ameaçadas e o Estado deve concentrar seus

esforços na preservação de sua segurança territorial. Os recursos diplomáticos,

econômicos e militares devem ser direcionados para a proteção das fronteiras,

fornecendo ao Estado a capacidade de projetar poder para pontos estrategicamente

importantes. Desta forma, a primeira prioridade do Estado é a proteção da segurança

territorial, e depois os aspectos de desenvolvimento. Na era atual, a geografia e a

geopolítica têm um impacto significativo no destino político dos Estados que não

reconhecem a necessidade de controlar rotas e recursos, pois perdem poder

(GRYGIEL, 2006).

Fatores como o desenvolvimento da tecnologia têm influenciado o controle de

certos objetivos geopolíticos na era da globalização, pois embora os Estados possam

acessar recursos no mercado, o controle de rotas e recursos não pode ser substituído.

Desta forma, a geografia torna-se vital para a política externa dos Estados, sendo os

códigos geopolíticos o conjunto de premissas estratégicas que um governo utiliza para

orientar sua política externa (TAYLOR & FLINT, 2018). Cada Estado busca definir

suas estratégias para ocupar seu espaço no sistema internacional e, para isso, deve

ter uma visão geopolítica e um código geopolítico que norteie suas ações.

Para determinar qual é o código geopolítico, os atributos e interesses de cada

Estado devem ser considerados e como os utilizam através de suas capacidades para

atingir seus objetivos. Desde a concepção do realismo neoclássico, estabelece-se que

é preciso saber quais são os atributos de poder de cada Estado, saber o que o país

possui, quais são seus interesses e, assim, projetar seu código geopolítico no exterior

(ROSE ET AL., 2010). Entre os atributos do Estado estão: fatores econômicos,

demográficos, geográficos, governamentais e militares.