O Exército equatoriano nasceu com a República sem uma estrutura
organizacional estabelecida. Com o advento do Projeto Liberal, o poder político militar
se consolidou, e decidiu iniciar o processo de profissionalização militar. Eloy Alfaro
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reformulou o Colégio Militar para a formação técnica e acadêmica de oficiais e
soldados, e contratou uma missão chilena para este fim. Em 1899, assessores
militares reorganizaram o Colégio Militar, e a Lei Orgânica do Exército foi elaborada,
estabelecendo definições e a organização da estrutura militar.
No período de José Luis Tamayo, em 1922, a missão italiana foi contratada para
organizar o exército nacional. Foram criadas escolas de armas e serviços e a
Academia de Guerra do Exército. Os professores transmitiram os aprendizados da
Primeira Guerra Mundial, concentrando-se na cordilheira equatoriana, negligenciando
a defesa da fronteira (MACIAS, 2008).
O coronel Negroni, um oficial conselheiro italiano, em 1937 apresentou um
relatório detalhado sobre a potência militar do Peru e do Equador, no qual conclui uma
condição perigosa de inferioridade nas forças equatorianas. Anos depois, a
improvisação e a falta de planos não permitiram que o Equador possuir um exército
organizado, bem equipado e treinado.
Embora os soldados equatorianos tivessem o conhecimento e uma concepção
geral dos princípios da guerra, não foi iniciado o desenvolvimento de sua doutrina
própria, que cumprisse os requisitos estratégicos para a defesa do país. Na guerra de
1941, o exército enfrentou um inimigo em um cenário costeiro e selva, para o qual não
estava preparado. Os comandantes militares na época não desenvolveram um Plano
de Guerra, nem se planejaram em diferentes aspectos para enfrentar essa ameaça,
nem garantiram que o Governo alocasse os recursos que permitiriam garantir a
segurança da soberania do Estado.
O presidente do Equador, Carlos Arroyo del Río, durante seu mandato no
governo, priorizou o enfrentamento de problemas internos, concentrando seu
potencial de reação aos “Carabineros”, que eram uma polícia militarizada. Ele não
considerou todos os relatórios que evidenciavam uma grande ameaça no Sul,
tampouco mobilizou os recursos de guerra do país para a fronteira, onde os soldados
que estavam mal armados e equipados resistiram na fronteira sul (BETHELL, 2002)
A derrota militar e a perda territorial de 1941 foi um fator desmoralizante que
afetou o amor próprio da nação, e a percepção da instituição militar e de seu
pensamento estratégico. O Ministro da Defesa, General José Gallardo, afirmou em
entrevista a Gabriel Marcella que: “Entre os membros das forças armadas, o
conhecimento da imensa perda territorial da terra de nossos pais criou um sentimento
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de decisão de que o país nunca mais será vítima de desapropriação territorial, ou de
agressão contra sua dignidade e honra.” (MARCELLA, 1995).
4.5.1 Porcentagem do PIB em Gastos com Defesa
Após a crise da década de 1930 o Equador teve que despender muitos esforços
para manter sua economia agroindustrial. Em 1940, a elite política e os congressistas
equatorianos ordenaram uma redução no orçamento geral do Estado. Luis
Hernandez, em seu estudo sobre os gastos militares da guerra de 1941, afirma que o
relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos apresenta os custos de
compra de armas militares nos anos de 1939, 1940 e 1941 feitos pelo Peru, que
atingiram US$2.265.883, enquanto os do Equador foram de US$ 52.570
(HERNÁNDEZ, 1992).
As autoridades afirmavam que a situação econômica do país era insustentável
e dramática, de modo que as Forças Armadas também faziam parte dessa realidade.
As dificuldades fiscais não permitiam que o potencial da Instituição Armada fosse
aumentado ou cumprido para atender às suas necessidades.
4.5.2 Números das Forças Armadas do Equador
O Peru, desde 1939, preparou uma grande força militar composta por 15.000
homens, armados e equipados com as doações mais modernas da América Latina:
tanques blindados, artilharia de campo e antiaérea, aviões de combate e transporte,
destruidores e até submarinos. Parte desse armamento havia sido adquirida alguns
anos antes para enfrentar a Colômbia pelo Trapézio de Letícia (1932-1935).
O Equador, por sua vez, tinha 2.200 soldados que constituíam a linha de
vigilância da fronteira sul, que não foram reforçadas nem fornecidas em tempo hábil,
não podendo resistir à invasão, ainda que lutando heroicamente. Com o litoral da
província de El Oro ocupado, bem como alguns setores da região amazônica, o Peru
obrigou o governo equatoriano a assinar o Protocolo do Rio de Janeiro (GALLARDO,
2014).
O pesquisador dos EUA, Gabriel Marcella, formula uma impressão da guerra de
1941, e descreve que, enquanto as forças peruanas sob o comando geral de Eloy
Ureta invadiram com 15.000 homens, o Equador tinha apenas 3.000 soldados
malconduzidos e equipados. O objetivo do investimento era acabar de uma vez por
todas com a disputa fronteiriça.
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O Equador estava totalmente despreparado para a guerra, enquanto o Peru se
preparava para ela há algum tempo (MARCELLA, 1995). Isso é ratificado por Leslie
Bethell, que afirma que os soldados equatorianos, em desvantagem de dez para um,
foram derrotados no campo de batalha. Os atos heroicos não mudaram o resultado
inevitável e em pouco tempo a derrota do Equador foi total (BETHELL, 2002).
4.5.3 Equipamentos da Forças Armadas
Na década de 1930, o Peru iniciou um processo de fortalecimento de sua
instituição armada, o que permitia conquistar e manter um terreno fundamental. Isso
fez parte da estratégia gerada para alcançar uma faixa territorial que lhe permitisse a
realização de negociações territoriais nas melhores condições.
O Ministro da Defesa do Equador, Carlos Guerrero, em 27 de dezembro de 1941,
expôs uma apresentação ao governo na qual afirmava que o Equador não tinha
exército para a defesa de sua soberania. Na Aviação, zero; na Marinha, dois canhões
sem munição. A infantaria não poderia ser efetivamente atendida pela falta de
elementos materiais disponíveis, que eram a munição essencial (MACÍAS, 2008b).
As condições sob as quais os soldados dos destacamentos militares
equatorianos foram localizados eram deploráveis, sem armamento, sem meios e sem
alimentação adequada. Além disso, não havia rotas de abastecimento adequadas, e
o armamento disponível para o Equador foi o mesmo adquirido em 1910 e utilizado
nas guerras internas de 1911, 1912,1916, 1932.
O Governo não ouviu a recomendação de fortalecer o sistema defensivo com
recursos, com trabalhadores e meios. O resultado foi a perda da soberania nacional.
O Ministério das Relações Exteriores, no relatório sobre os destacamentos fronteiriços
equatorianos na região oriental, dizia que: “O Equador não mantém guarnições reais
lá, mas apenas representações da soberania nacional.” Tal frase resumia a situação
militar na região amazônica.
A proporção das tropas destinadas à defesa em relação à área territorial era
exagerada, sobretudo em comparação com as forças peruanas. Os destacamentos
foram separados uns dos outros por distâncias que são contadas não por quilômetros,
mas por dias de caminhada ou navegação. Um ou outro destacamento tinha um
dispositivo de rádio. As provisões, o correio e o contato com o mundo chegavam a
cada duas ou três semanas. Todo o transporte foi realizado por mulas e cargueiros
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nestas difíceis trilhas da selva, além de disporem de poucas canoas e pouquíssimos
motores de popa (DOBRONSKI, 2012).
Quadro 5: Pessoal e Equipamento usado pelo Equador e Peru na Guerra de 1941
EQUADOR PERU
Frente sul Frente
Oriente Frente Norte Frente Oriente Frente sul
V Brigada EL Oro e Loja
Nível de
Segurança Agrupamento do Norte V Divisão Leve.
Oficiais 74 33 611 50 Militares 2447 357 15.037 3450 Tanques LTP - - 24 - Canhões 105 - - 12 - Canhões 75 - - 24 - Canhões de campo 10 - 20 5 Canhões anti-ar 2 - 12 - Metralhadoras pesadas 71 - 71 5 Morteiros - - 42 4 Aviões 80 - 80 -
Cruzeiro 89 tripulações Hidroaviões 504
tripulações
Hidroaviões
Destruidores - - 256
tripulantes
Submarinos - - 62 tripulantes
Fonte: (LARREA, 1988a; MACIAS, 2008).
4.5.4 Treinamento das Forças Armadas
A organização militar estabelece o desenvolvimento de um planejamento
detalhado quando uma missão é recebida. Os planos permitem que se enfrente
ameaças, e as unidades devem preparar suas operações para cumprir esses
objetivos. Isso se faz através de treinamento para identificar pontos fortes e fracos de
planos em sua execução.
A falta de atenção do governo aos avisos sobre o ataque iminente do Peru não
permitiu que decisões oportunas fossem tomadas. O exército reagiu com o
fortalecimento improvisado de tropas do interior e o governo não chamou as reservas
que haviam se formado meses antes, que tinham completado seu treinamento de
guerra e poderiam ser empregadas em combate (DOBRONSKI, 2012).
Dentro da instituição militar, a falta de planos, a má preparação militar das
unidades enviadas para a fronteira, a falta de armamento e de recursos logísticos, e
o desconhecimento detalhado da área de operações aumentou a lista de causas para
a derrota militar e a invasão nacional. O historiador equatoriano Jorge Concha
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descreve a situação do Equador: “No início de 1941, o Equador se encontrava
praticamente indefeso”, o país havia sofrido as consequências das guerras civis em
1912, 1916 e 1932 (MACÍAS, 2008a).
O Peru tinha um plano de guerra pronto que considerava um grande teatro de
operações na costa do Pacífico equatoriano e um teatro secundário de operações na
região da selva oriental. A estratégia prevista pelo comando peruano foi semelhante
às aplicadas em conflitos anteriores com o Equador: bloqueio do Golfo de Guayaquil;
controle do espaço marítimo desde Puerto Bolívar até Manta; captura da região entre
Puerto Bolívar e Puerto Pizarra; destruição das defesas terrestres na fronteira comum
e operação combinada para a captura de Guayaquil, estimando, assim, que o Equador
se renderia. O alto comando equatoriano não tinha um plano de contingência para a
defesa em caso de invasão.
No documento
Os Códigos Geopolíticos no Equador de 1941 e 1995:
(páginas 57-62)