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5.7 CONSIDERAÇÕES GEOPOLÍTICAS DO PERU EM 1941

5.7.1 Tecnologia

O Peru, ao longo de sua história, sempre considerou dispor de uma capacidade

militar dissuasiva que apoiasse suas decisões de política externa. Usou, de forma

dinâmica, os meios bélicos e pacíficos através do diálogo e da negociação.

No caso da guerra de 1941, todos os meios foram empregados da mesma forma

a fim de alcançar o objetivo, atendendo ao interesse nacional. As Forças Armadas

peruanas tinham um forte contingente militar, devidamente equipado com tecnologia

de ponta na época. Além disso, também contavam com o emprego de doutrinas

inovadoras, como o uso de tropas paraquedistas.

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6 CÓDIGO GEOPOLÍTICO DO EQUADOR 1995

6.1 FATOR HISTÓRICO

A invasão peruana de 1941 permitiu ver a realidade do Equador, um país

desorganizado, com escassez de recursos humanos e materiais, uma instituição

armada desatendida que, com entusiasmo e coragem, defendia a fronteira sul. A

invasão foi interrompida com a assinatura do protocolo do Rio de Janeiro, que

estabeleceu a linha limítrofe nos territórios do litoral e da Amazônia. O processo de

colocação dos marcos gerou discrepâncias devido a um erro geográfico na Cordilheira

do Condor, onde verificou-se que o texto do Protocolo estabelece como limite a

divisão de águas entre os rios Zamora e Santiago, enquanto que no solo há duas

divisões de águas, a que divide os rios Zamora e Cenepa, e a que divide os rios

Cenepa e Santiago.

Segundo a visão equatoriana, a presença do rio Cenepa, que é afluente direto

do Marañón, tornava o Protocolo do Rio de Janeiro inaplicável. Essa discrepância foi

submetida a uma mediação do especialista brasileiro Braz Diaz de Aguiar, para dar

continuidade ao processo de colocação dos marcos. Contudo, um setor de 78 Km foi

deixado sem delimitação, o que levou a uma tensão permanente entre os dois países,

que em várias ocasiões tiveram que mobilizar suas tropas para a fronteira.

A perda territorial foi um duro golpe para a história nacional, considerando a

perda equatoriana de 200.000 km² de território amazônico. Após a assinatura do

Protocolo, o povo equatoriano assumiu uma atitude de reivindicação às autoridades

governamentais, reagindo contra o presidente Arroyo del Río. Os movimentos

populares o derrubaram mediante a revolução que foi chamada de “A Gloriosa”,

acontecida em 28 de maio de 1944. Tal movimento popular buscava grandes

mudanças na administração estatal e Velasco Ibarra foi nomeado para administrar o

país, sendo ratificado em 1946 pela Assembleia Constituinte como Presidente da

República.

Entre 1948 e 1952, Galo Plaza Lasso governou o Equador, procurando

modernizar o Estado e projetar o desenvolvimento econômico apoiado nas relações

com os Estados Unidos. Entre 1952 e 1956, Velasco Ibarra foi nomeado pela terceira

vez Presidente do Equador, período em que impulsionou a construção de estradas e

o campo educacional. Entre 1956 e 1960, o Dr. Camilo Ponce foi nomeado presidente,

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liderando um governo liberal, o qual enfrentou o surgimento de conflitos sociais sobre

questões fundiárias.

Nas décadas de 1960 e 1970, foram incorporadas mudanças na sociedade,

como o fenômeno da urbanização e o desenvolvimento dos meios de comunicação,

que chegaram aos setores rurais, permitindo a incorporação do campo à cidade. Em

1972, produto de uma ditadura militar, chegou ao poder o general Guillermo

Rodríguez, que, com uma visão nacionalista e progressista, elaborou um plano de

desenvolvimento nacional. Ele iniciou o processo de expansão econômica de maior

repercussão na história nacional, dando início à produção de petróleo, o que permitiu

a modernização do Estado e o fortalecimento do aparato produtivo. Foi assim que a

soberania nacional sobre os recursos naturais foi defendida e as Forças Armadas

reforçaram sua preparação e equipamento.

O retorno à democracia no Equador aconteceu em 1979, com a ascensão ao

poder de Jaime Roldós Aguilera, que procurou implementar um plano de

desenvolvimento com pouco sucesso. Em 1981, enfrentou o ataque do Peru à

Cordilheira Condor nos postos Paquisha, Mayaycu e Machinaza. Roldos Aguillera

conseguiu consolidar uma unidade nacional para combater essa ameaça, tendo que

tomar medidas econômicas que afetaram a todos os equatorianos.

Nos governos democráticos se definiram os objetivos nacionais permanentes,

como integridade territorial, integração nacional, soberania, democracia,

desenvolvimento integral, justiça social e preservação do meio ambiente, sendo estes

elementos essenciais e aspirações do Estado, relativos ao território, à população e ao

governo. No Equador foi aplicada a Lei de Segurança Nacional, cujo principal

organismo foi o Conselho Nacional de Segurança, que tinha a responsabilidade de

analisar a solução de problemas com uma perspectiva realista e com participação

cidadã, mantendo sempre a orientação de defesa da integridade territorial e a garantia

da ordem constituída.

Em 1992, Sixto Duran Ballén chegou ao poder, buscando reduzir o Estado e

reorganizar suas finanças, além de eliminar os subsídios dos combustíveis, o que lhe

permitiu realizar muitas obras públicas. Contudo, a situação econômica sempre foi

observada pelo povo, que se sentiu bastante afetado. Em 1995, pela fragilidade do

status quo na área não delimitada da Cordilheira do Condor, o que para o Equador

era um problema territorial, para o Peru era um problema de delimitação. Isso criou

um conflito estrutural que não permitiu uma solução fácil.

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A história se repetiu mais uma vez, e o Peru atacou posições militares na área

não delimitada na cabeceira do rio Cenepa, no Leste equatoriano. O sistema

internacional reagiu através das delegações dos países garantidores e o presidente

Durán Ballén liderou o país firmemente, mas sempre aberto ao diálogo. Após uma

vitoriosa defesa militar do território, foi assinado um acordo de paz, que sem conseguir

recuperar a soberania nacional perdida em 1941, permitiu recuperar a dignidade e o

orgulho nacional (GALLARDO, 1995).

Por mais de 50 anos o Equador manteve sua posição sobre a nulidade do

Protocolo do Rio de Janeiro, devido a um grave erro geográfico no limite estabelecido

sob pressão e que não resolveu nada. Além disso, ainda causou uma ferida aberta

que sangraria constantemente, relembrando uma história de frustração equatoriana

nascida nas invasões do império inca e terminando na perda de metade de seu

território (ADRIANZÉN, 1999). Os combates ocorreram por quase dois meses, no vale

do Cenepa e os nomes dos postos equatorianos ganhavam notoriedade pela

veemência com a qual foram defendidos: Cueva de los Tayos, Base Sul, La Y, Maizal

e Tiwintza que se constituiu na chave da defesa.

No final dos combates, o Equador manteve suas posições e o Peru sofreu a

perda de 4 aeronaves e 7 helicópteros, todos derrubados em combate. Segundo

Gallardo, os resultados da guerra no campo de batalha se devem ao trabalho de várias

gerações de soldados que formaram uma instituição sólida, treinada, disciplinada e

hierarquizada. O cumprimento do dever, sem delongas, era uma constante entre os

militares de todas as patentes, os quais praticavam e fortaleciam o espírito corporativo

que permitia dispor de uma vontade irredutível e heroica de cumprir seu dever ao

custo de suas próprias vidas (GALLARDO, 1995).

6.2 FATOR FÍSICO

6.2.1 Área em Km²

Em 1995 o Equador tinha 270.670 km² de área territorial, incluindo as Ilhas

Galápagos. A partir da assinatura do Protocolo do Rio de Janeiro, foi determinada uma

área não delimitada de 78 quilômetros no Vale do Cenepa.

6.2.2 População

A população em 1995 era de 11.455.204 habitantes, com expectativa de vida de

70,9 anos e a urbanização acelerada gerou grandes grupos de colonos que

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consolidaram a propriedade como protagonistas dos grupos sociais. A população

equatoriana cresceu rapidamente porque a taxa de mortalidade baixou de 25 a 10 por

mil entre os anos de 1930 e 1990, e a taxa de natalidade cresceu para 45 por mil,

constituindo-se uma das mais altas da América Latina (DELER, 1987).

6.2.3 Geografia.

O enfrentamento bélico ocorreu no Vale do Cenepa, ao pé da Cordilheira do

Condor e da Cordilheira de Huaracayo, entre 1220 e 2.000 metros de altura, com

vegetação florestal e árvores não superiores a 25 metros de altura. O clima típico dos

sopés da Cordilheira é nublado e chuvoso, o que restringe as operações aéreas e

dificulta a observação e mobilidade terrestres. As operações militares ocorreram em

território não demarcado, correspondente à bacia do rio Cenepa, que é uma área de

selva de difícil acesso, onde fatores climáticos e logísticos dificultaram os

deslocamentos militares.

O território é muito acidentado, com encostas superiores a 60%. A orografia da

região determina a existência de três bacias hidrográficas: Santiago, Zamora e a do

Cenepa. Essa região é de muito difícil acesso, sendo apenas o helicóptero e certas

trilhas que permitem o trânsito. Além disso, a nebulosidade baixa durante as primeiras

horas da manhã limita bastante a visibilidade.