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Ética, Bioética e construção de conhecimento

No documento Etica Na Saude (páginas 71-75)

Movimento Bioético:

4.1 Ética, Bioética e construção de conhecimento

Os métodos e as estratégias de ensino não devem consolidar uma prática de transmissão de valores e normas a serem acatadas e cumpridas pelos alunos. O pano de fundo do ensino e da aprendizagem da ética devem ser os contextos, os conflitos de convivência e de trabalho, na qual os alunos e os professores estabelecem o diálogo. Quando falamos de ensino e aprendizagem da ética, ob- servamos que nas experiências reais e diretas da vida coletiva e do processo de trabalho em saúde são os contextos em que elas se dão de maneira mais eficaz. Dessa maneira, é fundamental que se tenha um ambiente em que a ética e a prática da ética seja uma vivência concreta. Alguns modelos de ensino como a problematização e a aprendizagem baseada em problemas são tidas como efi- cazes, porém para a formação moral é preciso que os educadores fundamen- tem sua prática em uma determinada epistemologia ou teoria do conhecimen- to. Não é suficiente metodologias e meios inovadores, se o docente não tiver uma concepção pedagógica bem estruturada para fundamentar e direcionar sua prática educativa. (FERREIRA; RAMOS, 2006)

Quando pensamos em métodos e instrumentos de ensino logo nos repor- tamos a uma reflexão teórica consistente sobre o processo de aprender e, para isso, os conceitos centrais da psicologia genética de Jean Piaget são de grande relevância. Segundo ele, para o reconhecimento de alguma coisa, o indivíduo desenvolve formas de ação, variando desde formas externas e visíveis, quando manipula objetos e interage com a natureza, como internas e não visíveis, des- critas como operações mentais. Para a psicologia, a conduta moral e a compe- tência ética são questões quem vem do próprio desenvolvimento sociocognitivo do sujeito no seu meio, na sua cultura. O julgamento moral e o comportamen- to moral são uma questão de desenvolvimento cognitivo que precisa de matu- ração biológica das estruturas mentais, bem como da qualidade de interação do ser humano com o ambiente como desenvolvimento psicossocial. Assim, é possível compreender que a aprendizagem para o desenvolvimento moral en- contra fundamentos nas teorias psicológicas interacionistas e socioculturais, pois explicam que as aprendizagens advém da interação entre o indivíduo que aprende e o objeto do conhecimento,em um determinado ambiente cultural.  A aceitação de que o conhecimento se concretiza através das representações mentais que o indivíduo estabelece a partir de sua relação com o objeto e deste

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com os outros objetos, nos leva a afirmar que a problematização, sendo uma categoria de construção de conhecimento, é uma alternativa plausível para o ensino da ética e da bioética. A problematização requer experimentação, traba- lho em grupo e pesquisa como elementos de provocação, de desafio, de signifi- cação para diversas atividades pedagógicas. (FERREIRA; RAMOS, 2006)

 Assim, objetiva-se com o ensino, contribuir com a formação integral do fu- turo profissional da área de saúde, transmitindo conhecimentos que norteiam uma prática profissional com conteúdo ético incluindo noções sobre prin- cípios, regras e virtudes comuns. Neste contexto, a bioética surge como uma disciplina para esclarecer valores e escolhas para pacientes e profissionais de saúde. (MUSSE et al, 2007)

 A transversalidade do ensino da ética e da bioética em cursos da área da saú- de deve vir de um processo participativo, que envolve ativamente professores, alunos, profissionais da saúde e representantes dos usuários dos serviços de saúde .Oficinas para revisão e reformulação de conceitos relacionados à ética e à bioética são de extrema importância e,mais do que isso, conceitos pedagógi- cos devem ser exaustivamente discutidos para a transformação da práxise para o resgate do verdadeiro sentido da enfermagem:o respeito à vida do ser huma- no. (FERREIRA; RAMOS, 2006)

CONEXÃO

Assista a esse vídeo sobre construção do conhecimento, acesse: Construção Do Conhecimento Prof. Ms. Bruno Tamancoldi: https://www.youtube.com/watch?v=NU3WYrDJgYo

4.1.1 Avaliação de riscos e benefícios nas pesquisas em seres

humanos à luz dos princípios éticos

Quando estudamos os princípios da bioética, observamos que no princípio da beneficência não bastava tratar o indivíduo como autônomo, mas também deveríamos contribuir para seu bem-estar. Além da compaixão, bondade, cari- dade, altruísmo, amor, humanidade, o princípio da beneficência, em pesqui- sa envolvendo seres humanos, deve ser visto de modo que contemple todas as

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formas de ação que tenham o propósito de beneficiar outras pessoas. Deve-se, portanto, proceder a uma ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos, buscando o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos. (CASTILHO; KALIL, 2005).

Toda vez que realizamos um avanço científico ou tecnológico, a humanidade fica diante da possibilidade de obter benefícios, porém os riscos devem ser con- siderados. O risco na pesquisa com seres humanos deve ser compreendido como probabilidade de dano que, obrigatoriamente, estará associado ao experimen- to. Potencialmente, devemos considerar que todo experimento pode provocar danos eventuais ou permanentes de natureza física, psicológica, social, moral, intelectual, cultural, espiritual e econômica. Mesmo porque até as intervenções terapêuticas de rotina, estão associadas a efeitos colaterais. (ARAÚJO, 2003)

Na condução de uma pesquisa médica, quando o sujeito da pesquisa é o ser humano, devemos nos atentar para todos os conceitos éticos, que já estudamos anteriormente. Pragmaticamente, baseia-se em ter princípios para avaliação ética de um projeto, a saber: 1) consentimento do sujeito; 2) manutenção da privacidade das informações do sujeito; 3) aprovação pelos pares e pela comu- nidade. A aprovação pelos pares se baseia na relevância da questão científica, a relação entre o benefício da informação que será obtida com a pesquisa e o ris- co do sujeito, e a qualidade científica da proposta para responder as questões levantadas. (CASTILHO; KALIL, 2005).

Nesse sentido o TCLE, que estudamos no capítulo III, este é um importante documento na pesquisa envolvendo seres humanos no sentido de precaver ris- co/benefício, pois tem o compromisso de esconder riscos inerentes à pesquisa, ou ser direcionado aos pares que analisarão à proposta. Em sua redação não deve tomar direcionamento visando à proteção do pesquisador, de instituição ou de patrocinador. Além disso, deve estar claramente especificados os possí-  veis desconfortos, os riscos e os possíveis benefícios; como o paciente consegui- rá obter continuidade se caso venha a se beneficiar do tratamento e como será indenizado ou tratado por problemas decorrentes da pesquisa. (CASTILHO; KALIL, 2005).

Sempre que envolvemos seres humanos em pesquisa científica, jamais po- demos contar com a sorte! Tudo deve ser metodologicamente e rigorosamente precavido, documentado e consentido pelo paciente.

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4.1.2 Uso de animais em pesquisa biomédica

O uso de animais em pesquisas científicas, sempre tiveram e continuam tendo papel inquestionável na maioria dos avanços relacionados com a melhora da saúde humana no último século. Doenças como câncer, diabetes, aterosclero- se, entre outras, tiveram seus mecanismos de doenças conhecido graças a essas pesquisas. Além disso, da descoberta do antibiótico, analgésico, anestésicos e antidepressivos, até mesmo o sucesso no desenvolvimento dos transplantes de órgãos, cateterismo cardíaco, marca-passo cardíaco e muitas outras técnicas cirúrgicas, a grande maioria de protocolos de pesquisa sobre segurança, toxi- cidade, eficácia e controle de qualidade de novos fármacos passam pelo uso de animais de laboratório. Nos últimos 100 anos, a expectativa de vida aumentou em quase 30 anos, graças as pesquisas científicas na área médica, praticamente todas realizadas em animais. Prova disso são que 75% dos vencedores de prê- mio Nobel de Medicina e Fisiologia, desde sua origem até os dias atuais, traba- lhavam com animais de laboratório. (FEIJÓ; BRAGA; PITREZ; 2010, p. 68)

Importante lembrar também, que essas pesquisas também levaram a incal- culáveis benefícios para os animais. Vários estudos resultaram em importantes avanços para a medicina veterinária, beneficiando animais domésticos, de fa- zenda, silvestres e em risco de extinção. Assim, eles estão vivendo melhor devi- do as vacinas, fármacos e procedimentos cirúrgicos, muitas vezes descobertas em estudos em animais para benefício humano. (FEIJÓ; BRAGA; PITREZ; 2010)

   ©    I    S    S    E    L    E    E     |   D    R    E    A    M    S    T    I    M    E .    C    O    M

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Com esse crescente e abusivo uso de animais em pesquisa científica nos úl- timos anos, cientistas e movimentos de defesa do bem-estar e dos direitos dos animais, não concordando com essa rotina, procuram propor disciplina a essa prática em harmonia com o princípio dos três erres, que são: reduzir ao máxi- mo o uso de animais em experimento; refinar as técnicas de criação e de experi- mentação; e repor ou substituir os animais por alternativas tecnológicas ou por animais menos sensíveis. Passando assim, a intensificar a busca de alternati-  vas tecnológicas ao uso de animais em experimentos científicos, mesmo dian- te das tantas dificuldades em alcançar resultados nesse sentido. (MACHADO, FILIPECKI; TEIXEIRA; KLEIN; 2010)

É essencial aos comitês de ética avaliar e aprovar ou não o uso dos animais em pesquisa, realizar orientação ética de linhas de pesquisa e criar novas ideias e discussões para melhorias do bem-estar animal e para busca de métodos al- ternativos dentro e fora das instituições.

No documento Etica Na Saude (páginas 71-75)