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A história da bioética e seus princípios

No documento Etica Na Saude (páginas 35-37)

Como estudamos no capítulo I, durante muito tempo as inovações culturais do mundo ocidental foram baseadas no éthos  com uma mínima sustentação

de uma metafísica mais ou menos compartilhada. As etapas da modernidade ficaram marcadas por serem as etapas pelas quais a ética comunitária ficou se- parada de toda metafísica. Especificamente após a II Guerra Mundial, com o aceleramento das inovações tecnocientíficas, a sociedade sentiu como um se- tor particularmente vulnerável o de sua saúde, tanto do corpo como da mente. E foi a partir deste fenômeno que se deu o nascimentoda bioética, através da observação dos males que uma higidez mal defendida fazia correr aos mem- bros de nossa espécie. Como sabemos todo fenômeno histórico de relevância não provém apenas de uma causa, mas é resultado de um conjunto de fatores, agentes e ocorrências. Porém, entrelaçado à aparição da bioética alinha-se a re- pulsa por paradigmas antigos como a absolutização de dogmas que trazem do céu todas as respostas, a sacralização do éthos  ancestral, a crença numa incon-

tornável lei da natureza, supostamente única e capaz de fazer a vontade divina.  Aprendemos que é quase impossível negar o impacto do éthos  ambiental, ou

seja, do costuma, pois a lei natural é absorvida pela mente humana através de uma inevitável interpretação. (LEPARGNEUR, 2009)

O problema da ética adquiriu maior visibilidade em 1930, momento em que ocorre o episódio conhecido como “o desastre de Lübeck”, que ocasionou a morte de 75 de 100 crianças submetidas a um teste com uma vacina para prevenção da tuberculose, os pesquisadores acharam que o vírus estava atenuado o suficiente para imunizá-las não estava e mais sem o consentimento dos seus responsáveis. Em 1931, a Alemanha estabelece as Diretrizes para Novas Terapêuticas e Pesquisa em Seres Humanos; porém, ao mesmo instante estava acontecendo a Segunda Guerra Mundial, que também ficou marcada por atrocidades - sob a denomina- ção de ‘pesquisas’ - com judeus, ciganos e com outros grupos vulnerados. Após o término da Segunda Guerra Mundial e a criação do Tribunal de Nuremberg, onde os nazistas eram julgados – incluindo os médicos, que usavam de seu prestígio para “eliminarimpuros”– foi elaborado um conjunto de 10 princípios norteadores da pesquisa envolvendo seres humanos – com bastante ênfase no consentimento informado –, os quais foram denominados Código de Nuremberg. Em 1949, esse código foi um documento internacional que marcou muito claramente a neces- sidade de que os seres humanos envolvidos em atividade científica tivessem seus direitos respeitados. (MOTTA; VIDAL; SIQUEIRA-BATISTA, 2012)

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• capítulo 2

Nas décadas de 50 e 60, com o uso generalizado de antibióticos e técnicas artificiais de respiração, abrem-se os olhares e as perspectivas para o prolonga- mento da vida humana. A partir daí, a medicina dá um salto em relação a trans- plante de órgãos (o primeiro bem sucedido em 1954) há contestações sobre os critérios de morte cerebral (hoje chamada de morte encefálica), a descoberta da técnica de depuração sanguínea em Seattle, pelo Dr. Belding Scribner em 1961. A introdução da pílula anticoncepcional no mercado impõe uma mudan- ça radical no comportamento sexual e abre novos horizontes de planejamento familiar e profissional inconcebíveis até os anos sessenta do século XX. O de- senvolvimento de técnicas mais seguras e legalmente acessíveis de aborto leva a uma reavaliação normativa das práticas usuais de interrupção da gravidez. (HECK, 2005)

Em 1970, o médico oncologista estadunidense Van Ressenlaer Potter, fez a proposta de defesa do nome bioética e a concebeu como uma ligação entre a ciência da natureza e as humanidades, dando maior ênfase no conhecimento biológico e os valores humanos, que julgava ser importante para o caminho da sabedoria. (REGO; PALÁCIOS; SIQUEIRA-BATISTA, 2009)

De 1932 a 1972, outro caso que marcou a história da bioética foi o Tuskegee SyphilisStudy– em que 399 negros que tinham contraído sífilis participaram de uma pesquisa sobre a entidade mórbida, sem sequer ter garantido o trata- mento com a penicilina e muito menos o acesso a tal intervenção terapêutica. (MOTTA, VIDAL, SIQUEIRA-BATISTA 2012)

Em fevereiro de 1975 aconteceu uma reunião com 140 cientistas norte-ame- ricanos e estrangeiros realizada no Centro de Convenções de Asilomar, locali- zado em Pacific Grove, Califórnia. Nesta reunião científica ocorreu da proposta de moratória nas pesquisas que envolvessem manipulação genética, feita em 1974, por um grupo de pesquisadores. Esta proposta foi publicada simulta- neamente nas revistas Nature e Science. Em abril de 1974, esta moratória foi discutida e implantada em uma reunião científica realizada no Massachusetts Instituteof Technology (MIT). Lá ficou decidido que o Comitê Assessor para DNA recombinante (RAC), que foi criado em 1974, seria o responsável pela elaboração das diretrizes de Asilomar para a segurança dos experimentos com DNA recombinante. Este documento foi aprovado em 23 de junho de 1976. A reunião de Asilomar também foi um marco na história da ética aplicada à pes- quisa, pois foi a primeira vez que foram discutidos os aspectos de proteção aos pesquisadores e demais profissionais envolvidos nas áreas onde se realiza o projeto de pesquisa. (BERG, et al 1974; MILANO, 1997, p. 182; BERG, et al 1975)

capítulo 2 •

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Em uma reação institucional aos absurdos relatados acima o governo e o congresso norte-americano constituíram em 1974 o Relatório Belmont, a

National Comission for the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research . Foi estabelecido, como principal objetivo da Comissão,

a identificação dos princípios éticos “básicos” que deveriam nortear a experi- mentação em seres humanos, o que ficou conhecido com Belmont Report, que apresentou os princípios éticos, considerados básicos, que deveriam nortear a pesquisa biomédica com seres humanos, segundo Alves; Costa, 2011:

PRINCÍPIO DO

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