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Paradigmas da bioética

No documento Etica Na Saude (páginas 46-51)

PRINCÍPIO DA JUSTIÇA

2.4 Paradigmas da bioética

Os paradigmas da bioética são divididos em quatro tópicos diferentes: secular, confessional, principalista e fenomenológico. Os três primeiros são referentes à bioética da área da saúde e o último é mais abrangente ao postular a bioética da solidariedade antropocósmica.

2.4.1 A bioética secular

No trabalho monumental de H. Tristram Engelhardt, titulado: Os fundamentos da bioética, uma obra do princípio neokantiana, específica dois princípios: a autonomia e a beneficência.

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2.4.1.1 O ponto de partida

 A constatação do fracasso da filosofia moderna em tentar elaborar uma dou- trina moral, de conteúdo universal, com capacidade de reunir convicções e co- munidades morais diferentes. Isso seria o triunfo da razão e que abriria mão do auxilio da metafisica e da religião, que secularmente fundamentavam a mo- ralidade. Se fosse assim, a ética seria racional, universal e secular, não tendo ligações com tutelas religiosas e metafísicas. (PEGORARO, 2010)

Para Engelharde, apud Pegoraro, 2010 p. 80:

“as tecnologias biomédicas oferecem um meio de tornar nossa natureza conforme as metas por nós escolhidas.”

Com essa frase, o autor quer expressar que o desenvolvimento da ciência não tem limites a priori, pois nela é realizada os fins que o indivíduo, enquanto agente moral, dá a si mesmo.

Segundo Engelhard tapud Kuhlmann, 1993, pág.45, seu projeto pode ser sintetizado em três pontos:

a) construir uma ética normativa;

b) fundar uma ética pluralista que tenha condições de refletir problemas cotidianos na área da saúde.

c) e a elaboração da ética fundamentada na racionalidade que se posiciona acima das exigências formais e vazias.

2.4.1.2 O pluralismo ético

 Assim como estudamos nos aspectos distintos da ética, aqui na bioética tam- bém não é adotado um discurso de conteúdo global ou canônico a ser seguido por todas as sociedades. Mesmo porque a sociedade e os estados liberais con- temporâneos são pluralistas, e sendo assim, englobam vários tipos de comu- nidades de variadas convicções e têm decisões legais que podem ou não serem aceitas por entidades particulares.

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O pluralismo se define como uma concepção ética e política indicada ao desenvolvimento de sociedades compostas por indivíduos e grupos que não compartilham das mesmas convicções culturais, morais, políticas, religiosas e filosóficas, mas que, no entanto, decidem conviverem em conjunto e que, para isso, acordam entre si um conjunto de regras que assegure uma boa convivên- cia em sociedade. (BORBA; HOSSNE, 2010)

 A pluralidade existe indiscutivelmente em toda a sociedade, é boa e deve ser preservada. Porém, o problema que surge é a intolerância diante da indi- ferença, ou seja, o conflito é gerado pela intolerância diante do exercício da Liberdade, segundoEngelhardt 2004, a solução para o conflito é simples: a pos- sibilidade de manutenção da diferença através da tolerância e da Liberdade. O mesmo autor defende que a preocupação, na verdade, não está no conflito, mas sim, naquilo que o gera.

 Assim, cria-se uma questão: como criar uma bioética capaz de falar com autoridade, em um contexto culturalmente pluralista? Em qual justificativa de pauta, em termos éticos e bioéticos, a moralidade da reprodução humana in vi-  tro  ou da eutanásia? Como construir uma bioética com capacidade de englobar

o pluralismo moral e os “estranhos morais” e ser um marco de encontro de paz, entre muitas tendências? Engelhardt tem as resposta com a tentativa de cria- ção de uma ética procedimental, mínima e secular. (PEGORARO, 2010, p. 82) 2.4.1.3 Ética procedimental, mínima e secular

Engel hardt apud Pegoraro 2010 p. 82, toma como tarefa descobrir uma manei- ra pacífica dos indivíduos debaterem sobre um problema ético controvertido, ou seja, o autor supõe que exista de um leque de perspectivas éticas, mas que de alguma forma encontram um modo pacífico, um ponto de convergência, ainda que mínimo. Esse diálogo é conhecido como “desconhecidos morais”, os que não convergem das mesmas discussões éticas. Aos “estranhos morais”, Engelhardt contrapõe os “amigos morais” como àqueles que convivem em um mesmo grupo social, de orientações éticas definidas ou em comunidades reli- giosas protestante, católica, judaica ou muçulmana. A cada uma dessas, o autor supõe uma “comunidade particular” que são aceitas com seus princípios éti- cos, derivados de uma filosofia ou da fé. Basta somente a elas, seguir o caminho escolhido.

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O maior problema gira em torno dos “estranhos morais”, compostos de in- divíduos que queiram resolver-se pacificamente os problemas, sem recorrer a princípios metafísicos ou a autoridade divina. Para Engelhardt apud Pegoraro 2010:

“O resultado do diálogo entre os “estranhos morais” deveria remeter pelo menos a uma ética mínima e secular que embora não ilumine todo o campo moral, ou seja, pelo menos, capaz de, através da negociação, estabelecer critérios de retidão moral e determine, no seio de uma sociedade construída por numerosas comunidades morais, aqui que é eticamente aceito fazer.” (ENGELHARDT apud PEGORARO, 2010, p. 82)

 A ética procedimental oferece um quadro para a resolução de problemas inseridos nas sociedades complexas e plurais. Trata-se de uma teoria comuni- cativa que se define como única maneira de fazer normas justas e válidas ssur- girem de discussões baseadas em argumentos realizada em lugares públicos abertos, pluralista e igualitário entre todos os envolvidos. Porém, vale destacar, que muitos questionamentos bioéticos surgem da vulnerabilidade ou até inca- pacidade comunicacional do interlocutor, como por exemplo o caso dos ani- mais e dos embriões. (BORBA; HOSSNE, 2010)

Os princípios que regem as discussões, escolhas e decisões consensuais de uma bioética mínima e secular são os da autonomia e beneficência, que já estu- damos anteriormente. Porém aqui, há outro paradigma, o primeiro proíbe toda e qualquer imposição externa ao agente moral e o segundo ordena que se faça o bem a todos. Ora, como é possível fazer o bem a um sujeito moral, se ele tem o direito de recusar a ação, se baseando no conceito da autonomia. Engelhardt soluciona esse impasse substituindo o “faça o bem aos outros” por: “faça aos outros o bem que eles entendem que é o seu bem. (PEGORARO, 2010, p. 83)

2.4.2 A bioética confessional

Para a bioética confessional, existem dois esquemas éticos globais:

• um, que parte do absoluto, criador do mundo e fundamento metafísico

de todas as normas éticas – elaborado na Antiguidade Medieval, mais rígido;

• o segundo, que parte do homem como corpo, psiquismo e espírito e se

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como apoio à filosofia moderna e à psicologia contemporânea, mais flexível aberto ao diálogo. (PEGORARO, 2010, p.86)

 Vamos observar que os dois modelos chegarão às mesmas conclusões éti- cas e as mesmas normas bioéticas quando falamos em problemas impostos pela genética humana contemporânea. Também verificaremos que ambos os modelos tem um enfoque central na dignidade humana.

2.4.2.1 O personalismo

Em Manual de bioética, Elio Sgreccia, um dos mais significativos representan- tes deste modelo escreve um trabalho completo sobre o tema.

CONEXÃO

Assista a esse vídeo sobre bioética confessional, acesse:

Bioética Confessional Personalista: https://www.youtube.com/watch?v=p6jN1m5lLHI

 A bioética traz características centrais, que são:

• Reconhecermo-nos como seres racionais: o corpo é regido pelo espírito,

pela alma racional que o torna capaz de refletir e tomar suas decisões morais.

• Na decisão ética existem dois momentos: o subjetivo e o objetivo, ou seja,

a avaliação subjetiva e livre é o primeiro momento da ação moral; e o segundo é objetivo, onde prevalece a norma moral.

O personalismo clássico entende-se como um método triangular, onde no primeiro ângulo está o fato científico basicamente, no segundo a análise filosófica e antropológica do fato científico e no terceiro ângulo está a solu- ção ética frente aos valores fundamentais do indivíduo e às normas objetivas. Oferecendo assim critérios que demonstrem que o que é tecnicamente possí-  vel, muitas vezes é moralmente lícito. (PEGORARO, 2010, p. 86)

 Assim como visto no vídeo, observamos que na cultura contemporânea des- cobrimos que temos direitos e justamente esses são seus deveres, assim como o inverso também é verdadeiro. Isso é na verdade o atuar respeitando as exigên- cias que os outros contrapõe.

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2.4.2.1.1 Lei natural, normas e valores

 A Lei Natural, com notáveis ligações com a religião, esta inserida no modelo pela qual o homem não é sujeito, em relação ao seu destino, e sim objeto de algo pré-determinado que ele não poderá modificar (ou mesmo entender). As- sim, segundo o filósofo italiano Mori, apudSegre; Silva; Scharamm, 2009: (...) o matar e o deixar morrer assumem idêntica situação ética. (MORI apud SEGRE; SILVA; SCHARAMM, 2009)

Isso significa que apesar de nos parecer óbvio, inclusive juridicamente, que pelo dano resultante da ação ou da omissão de quem quer que seja, o autor é igualmente responsabilizado. (SEGRE, SILVA, SCHARAMM 2009)

Em resumo, a lei ética é a lei natural, inseridas na estrutura ontológica do homem, que exige que se faça o bem e evite o mal. Sendo considerado o bem como aqui que corresponde à essência de cada coisa e mal tudo o que é oposto a esta estrutura. (PEGORARO, 2010, p. 90)

 Assim, a lei natural, é o espelho da lei transcendente e divina que construiu a ordem dos valores. Portanto, as leis positivas, religiosas ou políticas jamais podem transgredir a lei moral fundamental. (PEGORARO, 2010, p. 90)

2.4.2.1.2 Princípios derivados: a metabioéica

Neste esquema doutrinário geral estão inseridos alguns corolários que norteiam a intervenção humana sobre a vida, na área da saúde. Esses princípios metabioé- ticos, descritos abaixo, são os orientadores das normas práticas da bioética:

PRINCÍPIO DA DEFESA DA

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