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Transplante de tecido fetal

No documento Etica Na Saude (páginas 77-81)

Movimento Bioético:

4.2 Transplante de órgãos e tecidos humanos

4.2.2 Transplante de tecido fetal

 A questão do uso do tecido fetal não é tão recente, embora somente nos últi- mos cinco a dez anos se tenha desenvolvido de fato. Nesse sentido, sabe-se que em 1928, na Itália, realizou-se sem sucesso o transplante de tecido pancreático em um paciente diabético; em 1939, repetiu-se a tentativa em dois pacientes, nos Estados Unidos,também sem êxito.No início da década de 50, também nos Estados Unidos, realizou-se um transplante de tecido fetal em um caso de leu- cemia, sem sucesso. O primeiro caso de sucesso, porém, ocorreu em 1968, nos Estados Unidos, com o transplante de tecido hepáticofetal no tratamento da

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síndrome de Di George. Mesmo assim, somente ao final da década de 80 que o transplante de tecido fetal assume posição de destaque, em decorrência das tentativas de tratamento da doença de Parkinson pelo transplante de células cerebrais do feto. Em experimentos, foi possível concluir, sob o ponto de vista histológico e funcional, o crescimento das células cerebrais fetais transplanta- das, a recuperação da célula do próprio receptor e a produção de dopamina,me- diador celular cuja deficiência leva ao quadro clínico da doença de Parkinson. Hoje, há experiência clínica em vários países, embora em fase experimental. (SEGRE; HOSSNE, 2009)

Para Segre e Hossne (2009), as células fetais possuem quatro propriedades altamente favoráveis para o êxito em transplantes:

• capacidade de crescer e proliferar;

• capacidade de diferenciação celular e tecidual (plasticidade intrínseca); • capacidade de produzir fatores de crescimento, estimulando células do

receptor, e;

• menor antigenicidade (por ausência de marcadores de membrana) do

que os tecidos adultos e, daí, possibilidade menor de rejeição.

Para o mesmo autor, existem algumas específicas indicações terapêuticas para uso de tecidos fetais:

1. Alterações de Imunodeficiência; 2. Alterações hematológicas;

3. Alterações Endócrinas; 4. Alterações neurológicas;

5. Alterações metabólicas e outras alterações genéticas.

Fazendo uma análise ética, transplante de tecido fetal, representa sempre uma reflexão crítica sobre valores de normas e costumes. Como em toda análi- se ética, três princípios fundamentais devem ser considerados: a autonomia ou autodeterminação do ser humano, a beneficência (incluindo a "não maleficên- cia") e a justiça. Considerando esses princípios nem sempre obtemos o mesmo resultado, ao contrário, na maioria das vezes estabelecem-se, aspectos confli- tantes. Esses princípios podem ser hierarquizados ou priorizados no equacio- namento da escala de valores, dependendo das convicções íntimas do aticista e da natureza de cada situação. (SEGRE; HOSSNE, 2009)

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4.2.3 Células tronco

 A célula-tronco é considerada uma célula indiferenciada. Assim, é suscetível de diferenciar-se em outros tipos de células, de formar tecidos nervosos, epiteliais e conjuntivos. Portanto, pode ser utilizada no tratamento de doenças em que a reposição de células germinativas é a alternativa. (NALINI, 2009, p. 228)

   ©    V    A    M    P    Y    1     |   D    R    E    A    M    S    T    I    M    E .    C    O    M

Esta diferenciação celular vai variar de acordo com o tipo de células-tronco, como afirma Martinez apud Nascimento e Moura:

Existem alguns tipos de células-tronco, como os de origem embrionária, que podem originar todos os tipos de tecidos presentes em um organismo adulto. Por outro lado, existem poucos tipos de células-tronco presentes em tecidos adultos, e sua capacida- de de especialização parece ser mais limitada. (NASCIMENTO; MOURA, 2014, p. 339)

Em seres humanos adultos as Células-tronco estão presentes em muitos te- cidos, no sangue e na pele, como diz Holland apud Nascimento e Moura:

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as células-tronco advindas de tecidos específicos só tinham condições de gerar tecidos desses tipos; assim, eram tidas como dotadas de grande capacidade mas de direciona- mento limitado. ...as células-tronco advindas de tecidos adultos podem ser mais maleá- veis do que se julgava até então; por exemplo, as células-tronco advindas do cérebro de camundongos adultos podem gerar outros tecidos além dos cerebrais. (NASCIMENTO; MOURA, 2014, p. 339)

Sobre as peso ético das células-tronco que, no momento atual, é fonte de muitas discussões no campo das ciências biomédicas, pois tem como princi- pais fontes encontradas presentes no corpo humano são, segundo Nascimento e Moura (2014):

• Embriões recém-fecundados chamados de blastocistos, ou mesmo cria-

dos por fertilização in vitro  – embriões disponíveis;

• Células germinativas ou órgãos de fetos abortados;

• Células maduras do tecido do cordão umbilical no momento do

nascimento;

• Células maduras de tecido adulto reprogramadas em laboratório para

terem comportamento de Células-tronco (medula óssea) – tecidos adultos do corpo humano.

 A lei 8.974/95, proibia a manipulação genética de células germinativas hu- mana, assim como também proibia o armazenamento e a manipulação dos embriões humanos quando se tratava a servir como material biológico disponí-  vel. (NALINI, 2009, p. 229)

Nesse sentido,

... em 29 de maio de 2008, o Superior Tribunal Federal aprovou as pesquisas com células- tronco embrionárias, transformando o Brasil no primeiro país da América Latina e o 26º no mundo a permitir esse tipo de pesquisa e colocando-o no rol de países como Finlândia, Grécia, Suíça, Holanda Japão, Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Estados Unidos, Reino Unido e Israel. O artigo 5º da Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005) libera no país a pesquisa com células-tronco de embriões obtidos por fertilização

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O debate ético é aberto e influenciado pela religião que contribui para um aprofundamento. Mas o caminho a ser trilhado ainda é longo, até que se atinja o consenso em relação às práticas e suas consequências, sobretudo para os in- divíduos neles gerados. (NALINI, 2009, p. 230)

O principal argumento em torno do qual se agruparam os agentes – religio- sos ou não – que se posicionaram contra a liberação do uso das células tronco em pesquisa foi a “defesa da dignidade da pessoa humana”, inserindo em seu centro a questão da definição da condição humana. (SALES, 2014)

Religiosos defendem que processo de produção de legitimação do argumen- to “em defesa da vida humana”- defendida pela linha não-religiosa - não pas- sou por uma articulação discursiva exclusivamente teológica. A concepção de que a vida humana se inicia no momento da fecundação se tornou convincente por meio do uso paralelo de argumentos doutrinários e científicos. Concepções teológicas e razões científicas se mostraram profundamente imbricadas nesta controvérsia. (SALES, 2014)

O fato é que, a favor do avanço científico, os principais fundamentos da bio- ética: a autonomia, a beneficência e a justiça, ganham uma nova cara, pois, o campo da ciência destinado a salvar vidas, na grande maioria das vezes a des- trói em seu estágio inicial. Vivendo e concordando com essa realidade deixa- mos a questão, onde estaria a eticidade presente nas pesquisas com células- tronco embrionárias? (NASCIMENTO, MOURA, 2014)

CONEXÃO

Para um conhecimento mais aprofundado em células-tronco, acesse:

O vídeo células-tronco - UNIVESP: https://www.youtube.com/watch?v=lQSEejmmcVw

No documento Etica Na Saude (páginas 77-81)