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Aspectos éticos na redução embrionária

No documento Etica Na Saude (páginas 86-88)

Movimento Bioético:

4.3 Ética e reprodução humana

4.3.3 Aspectos éticos na redução embrionária

O status moral do embrião é uma das questões mais antigas em pauta relacio- nada à reprodução humana assistida. A principal controvérsia é o momento exato em que a vida se inicia. Assim, não há consenso se o embrião é uma vida humana e deve ser tratada como tal, ou não. A Sociedade Americana de Medici- na Reprodutiva (ASRM) entende que o embrião deve ser considerado uma vida em potencial e por isso deve ter status especial em relação a outros tecidos do organismo, mas isso não justifica ser visto e protegido como uma pessoa. Os grupos religiosos, na grande maioria das vezes, têm uma posição mais conser-  vadora. Eles acreditam que a vida humana se origina no momento em que ocor-

re a fecundação e por esse motivo o embrião deve ser considerado uma vida humana em desenvolvimento, tendo todos os direitos garantidos, inclusive o direito à vida. (LEITE; HENRIQUES, 2014)

Baseado nesse conceito mais conservador sobre o status do embrião, inicia- se a controvérsia gerada em relação ao procedimento de redução embrionária. Nos tratamentos de reprodução assistida, gravidezes múltiplas são frequentes devido à transferência de múltiplos embriões para o útero materno. Porém, seja por motivos médicos ou por desejo do casal, é possível reduzir o número de fetos a serem gerados através da redução embrionária. O procedimento con- siste em eliminar alguns embriões, geralmente os menos viáveis ou com locali- zação pouco favorável dentro do útero, e dar continuidade à gravidez. O grande debate desse procedimento é que a técnica se assemelha ao aborto e tem as mesmas questões éticas e morais envolvidas. (LEITE; HENRIQUES, 2014)

 A redução fetal é um procedimento controverso, porém de grande utiliza- ção, principalmente em caso de gestação múltipla. Quando observamos ou- tros países que realizam essa técnica, observamos que somente o Brasil faz essa proibição. Essa restrição se dá porque no Brasil o aborto não é permitido (DECRETO-LEI nº 2.848, de 07/12/1940 - Código Penal Brasileiro). Em um olhar amplo, a redução fetal e o aborto estão associados. Nos países onde o aborto é permitido, geralmente também se permite a redução fetal. Destaque para Itália, que proíbe congelamento porque causaria injúrias ao embrião, mas per- mite o aborto e a redução fetal. (IFFS, 2010)

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4.3.4 Aconselhamento genético e engenharia genética

 Aconselhamento genético é definido como uma comunicação que lida com problemas humanos associados com a ocorrência, ou risco de ocorrência, de uma doença genética em uma determinada família, envolvendo a participação de uma ou mais pessoas treinadas para ajudar o indivíduo ou sua família, que consiste em 1) compreender os fatos médicos, incluindo o diagnóstico, prová-  vel curso da doença e as condutas disponíveis; 2) apreciar o modo como a he- reditariedade contribui para a doença e o risco de recorrência para parentes específicos; 3) entender as alternativas para lidar com o risco de recorrência; 4) escolher o curso de ação que pareça apropriado em virtude do seu risco, objeti-  vos familiares, padrões éticos e religiosos, atuando de acordo com essa decisão; 5) ajustar-se, da melhor maneira possível, à situação imposta pela ocorrência do distúrbio na família, bem como à perspectiva de recorrência do mesmo. (BRUNONI, 2002)

O dilema que aparece quando, ao realizar um teste genético para diagnós- tico de uma doença hereditária, descobre-se que o pai da criança não é seu pai biológico, registrando que cerca de 10% dos testes de paternidade que são rea- lizados incidem neste resultado. Qual a melhor maneira de informar tal fato à família, especialmente quando o resultado do exame de paternidade está vin- culado ao de uma doença genética grave? Seria viável denunciar tal situação, que certamente terá reflexos na estrutura familiar, mesmo sem o consentimen- to das pessoas envolvidas? Também há outras questões polêmicas, tais como os diagnósticos genéticos que apontam uma pré-disposição para o desenvolvi- mento de determinadas doenças poderiam ser utilizados pelos empregadores e planos de seguro e de saúde para negar – ainda que veladamente – a contra- tação com determinados indivíduos? Nos Estados Unidos, por exemplo, para evitar esse tipo de situação, foram criadas leis, que vedam a disponibilidade de informações sensíveis, dentre as quais se encontram aquelas relativas aos dados genéticos. (BRANDÃO, WALDMANN, 2015)

 Ainda em relação aos diagnósticos genéticos, será válido disponibilizá-los quando ainda não desenvolvido tratamento para a doença nele prevista? Qual seria a utilidade de ter conhecimento da possibilidade de ter uma determinada doença se não há tratamento para ela? (BRANDÃO, WALDMANN, 2015)

Os testes genéticos são geralmente conhecidos como exames para diagnos- ticar síndromes decorrentes de anomalias em determinados genes, tais como a

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Distrofia de Duchenne, Anemia Falciforme. Em algumas enfermidades, como o câncer de mama por exemplo, os referidos testes são fornecidos pelos planos de saúde e em alguns hospitais públicos. No entanto, além de fornecer o diag- nóstico de doenças raras, são cada vez mais comuns os testes genéticos reali- zados com caráter de prevenção de doenças, bem como visando aprimorar a performance na execução de exercícios físicos e personalizar a dieta mais ade- quada para cada pessoa. (BRANDÃO, WALDMANN, 2015)

 Atualmente já existem cerca de 14.000 testes genéticos, que avaliam desde ancestralidade, aspectos nutrigenômico até pré-disposição para sofrer deter- minadas enfermidades. Entretanto, falta uma regulamentação específica que discipline, desde a confidencialidade dos dados, bem como os procedimentos relativos à eficácia dos exames e a sua disponibilização no mercado, sendo que, no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é a regulamen- tadora dos produtos do teste genético, enquanto que o procedimento fica sob a fiscalização de outros órgãos, tais como o Conselho Federal de Medicina. (BRANDÃO, WALDMANN, 2015)

Quando falamos em engenharia genética, estamos falando da ideia do emprego de técnicas científicas preordenadas à modificação da constituição genética de células e organismos, através da manipulação de genes. (NALINI, 2009, p. 212)

Um dos grandes desafios da engenharia genética é a modificação laborato- rial do genoma, permitindo assim o isolamento, a identificação e a manipula- ção dos genes, podendo assim produzir produtos químicos ou até mesmo no-  vos seres. (NALINI, 2009, p. 213)

 A análise jurídica, para os dois temas abordados nesse tópico, deverá se aprofundar ao máximo, fornecendo o substrato necessário - de forma tempes- tiva e qualificada - viabilizando o prosseguimento da pesquisa genética e os benefícios dela decorrentes, bem como inibindo práticas lesivas e promoven- do a responsabilização daqueles que inferem as normas estabelecidas sobre a matéria.

No documento Etica Na Saude (páginas 86-88)