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CAPÍTULO 3. BIOTECNOLOGIA X BIOÉTICA: UMA APROXIMAÇÃO

3.1. O SURGIMENTO DA BIOÉTICA

3.1.2. Ética, biotecnologia e genética

Através do termo bioética, tenta-se direcionar os questionamentos éticos aos assuntos que visam tratar do fenômeno vida. Verifica-se, com isto, que existem diversas formas e modos de vida diferentes, principalmente se levarmos em consideração os ditames éticos a eles relacionados, de maneira que a ética ambiental (com seus deveres

utilizam cada vez mais a técnica dos testes”. (In. GARRAFA, Volnei ; COSTA, Sérgio Ibiapina F; OSELKA, Gabriel.A Bioética no século XXI, p. 20)

337GARRAFA, Volnei ; COSTA, Sérgio Ibiapina F; OSELKA, Gabriel.A Bioética no século XXI, p. 20-

para com os animais)338, a ética do desenvolvimento e a ética da vida humana (relacionadas com o uso adequado e o abuso das diversas biotecnologias aplicadas à medicina), são exemplos dessa diversificação. É esse último, contudo, o significado que tem primazia na prática. Com os avanços da biologia molecular, da engenharia e da manipulação genética, a humanidade tem avistado novos questionamentos de cunho ético nunca antes imaginados.

Estes questionamentos repercutem, por exemplo, quando consideramos as seguintes indagações339: a) em que medida o bem da humanidade é melhor atingido com novas formas de vida por meio da engenharia genética?; b) como avaliar os resultados da experimentação genética, sabendo que alguns dos seus efeitos só serão manifestados nas gerações futuras?; c) quais os critérios utilizados no momento de fixar os riscos e benefícios da experimentação genética?; d) quais os critérios de justiça que deverão ser estabelecidos e como deverão ser vistos os empreendimentos de grande custo como a terapia gênica, quando é sabido e referenciado que grande parte da população não tem garantidas as suas necessidades de saúde mais elementares e essenciais?; e) quais as doenças genéticas que deveriam ser submetidas a diagnóstico pré-natal visando à interrupção da gravidez?; f) quais os limites da pesquisa e/ou aplicação de alterações genômicas de células germinativas?; g) quais as fronteiras da eugenia?; h) até que ponto a sensibilidade ética tem conseguido atingir seu enfoque global – a dimensão ética começa quando entra em cena o outro?; i) como deverão ser tratadas as questões relativas ao direito ao respeito pela corporalidade do outro?; enfim, inúmeros são os questionamentos que evidenciam uma relação direta entre a genética e a ética.

338 Em relação à “ética dos animais”, destaca-se Peter Singer. (Ética Prática. 2.ed. São Paulo: Martins

Fontes, 1998). Este autor, um dos precursores da bioética, também escreve a respeito da ética voltada aos animais.Neste sentido pondera pela defesa do princípio da igualdade, também para os animais: “O argumento para estender o princípio da igualdade além da nossa própria espécie é simples, tão simples que não requer mais do que uma clara compreensão da natureza do princípio da igual consideração de interesses. Como já vimos, esse princípio implica que a nossa preocupação com os outros não deve depender de como são, ou das aptidões que possuem (muito embora o que essa preocupação exige precisamente que façamos possa variar , conforme as características dos que são afetados por nossa ações). É com base nisso que podemos afirmar que o fato de algumas pessoas não serem membros de nossa raça não nos dá o direito de explorá-las e, da mesma forma, que o fato de algumas pessoas serem menos inteligentes que outras não significa que os seus interesses possam ser colocados em segundo plano. O princípio, contudo, também implica o fato de que os seres não pertencem à nossa espécie não nos dá o direito de explorá-los, nem significa que, por serem os outros animais menos inteligentes do que nós, possamos deixar de levar em conta os seus interesses.” (In.Ética Prática, p. 66).

Como explica-nos Joaquim Clotet: “não se trata de dar respostas últimas e definitivas a esses questionamentos, o que é uma ambição do ser humano, mas sim, de dar respostas provisórias que podem ao menos servir de subsídios para soluções mais significativas e precisas que poderão surgir nas décadas dos descobrimentos científicos que estão por vir”.340

Devido a estas preocupações, várias entidades, nacionais e internacionais, vieram a explorar ainda mais estes temas. Diversos documentos internacionais, por hora ainda sem poder normativo-coercitivo, têm sido produzidos (em sua maior parte na qualidade de declarações e recomendações), como por exemplo: o Código de Nuremberg /1947; Relatório de Belmont /1978; Declaração de Valência /1990; Declaração de Bilbao /1993 e a Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos da UNESCO /1997.341

De maneira geral, podemos afirmar, que a engenharia genética humana atual, acaba contribuindo a favor de uma análise mais profunda e ampla dos princípios gerais da ética por nós já conhecidos. Adriana Diaféria entende:

[...] que a questão engenharia genética extrapola as áreas específicas da medicina e da ética, por atingir também áreas do direito, da política, das ciências humanas e da religião. A dinâmica do processo, da tecnociência atropelou a reflexão ética, as instituições do saber e as instâncias legisladoras [...].342

Temos a consciência, que os problemas éticos relativos e inerentes ao grande desenvolvimento da genética estão apenas no início. A análise, estudo, reflexão, tratamento e solução, eticamente plausíveis, destes temas, é uma exigência emergente, que significa um desafio à humanidade. Devendo ser tratada com interesse, seriedade e responsabilidade por todos os indivíduos, indiscriminadamente. Este é o contexto em os termos “tolerância” e “pluralismo” mais se destacam.343 O desafio iminente, sugere a

340Cf. CLOTET, Joaquim. Bioética como Ética Aplicada e Genética.In: Revista Bioética. p.16.

341 DIEDRICH, Gislayne Fátima. Genoma Humano: Direito Internacional e Legislação Brasileira. In:

SANTOS, Maria Celeste Cordeiro Leite (org.).Biodireito: Ciência da vida, os novos desafios. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p.217-225.

342Cf. DIAFÉRRIA, Adriana.Clonagem, aspectos jurídicos e bioéticos. p.99.

343 Um dos aspectos que tornam difícil este pluralismo é a presença de setores religiosos, marcadamente

necessidade de uma melhor re-contextualização dos já citados “direitos de quarta dimensão”, com a complexidade e diversidade de interesses e valores existentes na sociedade global contemporânea.