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Índice de Risco de Inundação (INRISCO)

5 ÍNDICE DE RISCO DE INUNDAÇÃO (INRISCO) NA SEDE MUNICIPAL DE TOUROS – RN

5.3 Índice de Risco de Inundação (INRISCO)

Após a análise dos aspectos de vulnerabilidade e exposição, foi analisado o risco de inundação associado a esses setores. Para isso, foi elaborado um índice que levou em consideração a multiplicação dos resultados dos Ivs e do InEx discutidos anteriormente. Como já exemplificado, cada área prioritária claramente tem suas particularidades, e os índices variaram consideravelmente.

A priori, foi analisado o setor Frei Damião. Este teve vários destaques quanto aos resultados do índice de risco com valores considerados muito altos (TABELA 6). Isso porque o

setor é ambientalmente exposto e as pessoas, de acordo com o que foi investigado, possuem índices de vulnerabilidade elevada.

Tabela 6 – Resultados dos InRisco mais altos para o setor Frei Damião Código do Questionário IVS InEx InRisco (padronizado)

5FD09 0,808 0,638 1 5FD05 0,79 0,638 0,957 5FD42 0,755 0,638 0,878 5FD36 0,707 0,638 0,769 5FD07 0,7 0,638 0,753 5FD33 0,691 0,638 0,733 5FD12 0,687 0,638 0,724 5FD17 0,679 0,638 0,705 5FD30 0,679 0,638 0,705 5FD50 0,667 0,638 0,678 5FD27 0,662 0,638 0,667 5FD18 0,66 0,638 0,662 5FD49 0,66 0,638 0,662 5FD02 0,653 0,638 0,646 5FD25 0,648 0,638 0,635 5FD11 0,626 0,638 0,585 5FD46 0,624 0,638 0,58 5FD45 0,622 0,638 0,576 5FD21 0,619 0,638 0,569 5FD15 0,618 0,638 0,567 5FD40 0,611 0,638 0,551 5FD06 0,607 0,638 0,542

Fonte: Elaborado pelo autor (2020).

Esses dados foram representados cartograficamente (FIGURA 87), e trouxeram informações extremamente relevantes, principalmente porque as pessoas as quais habitam essa área demonstraram uma preocupação em comum: o aumento recorrente do nível das lagoas. Reconhecer de que forma essas pessoas teriam condições de conviver com esse risco constante comprovou que grande parte da área, pelo menos 23 famílias, estão correndo risco muito alto e, consequentemente, sofrem com medo da dificuldade evidente pela qual teriam caso algo lhe atingisse diretamente.

No entanto, essa preocupação, no contexto atual, não é somente da população. A prefeitura do município permanece em alerta naquela área, principalmente levando em conta que a dinâmica das lagoas sazonais daquela região são bem intensas e o aumento do nível da água é muito rápido. Por isso, são colocadas frequentemente bombas para retirada da água (FIGURA 88)

mesmo em períodos de menos chuva. Isso porque a inundação de 2018 foi muito impactante na vida das pessoas, gerando consequências variadas.

Figura 87 – Mapa do índice de risco a inundação no setor Frei Damião

F onte: Elaborado pelo autor (2020).

Figura 88 – Mapa do índice de risco a inundação no setor Frei Damião

Esse tipo de medida não passa de um paliativo, cuja proteção estaria associada apenas a níveis não muito elevados de precipitação, até porque, topograficamente, a área é propícia a acumular água rápido e a bomba tecnicamente não seria capaz por conta própria de sanar essa necessidade de imediato. Até hoje a área carrega consigo as marcas dos canais (FIGURA 89) abertos durante a inundação para que a água siga outro fluxo e escoasse mais rápido.

Figura 89 – Marca dos canais abertos durante a inundação

Fonte: Foto de Erick Jordan (2018).

Calçadas rachadas, paredes trincadas e até mesmo obras inacabadas de muretas/elevação das residências ou de suas respectivas calçadas (FIGURAS 90 A e B) é algo comum nessa área. Essa é uma das principais evidências de exposição e características de vulnerabilidade que se pode notar. Parte da população tentando se precaver de eventos danosos no futuro se utiliza de valores financeiros os quais, muitas vezes, não é suficiente para terminar os reparos que começam a fazer. Em alguns casos, tem um alto custo na renda daquela família, muitas vezes comprometendo suas atividades comuns e contas básicas como água, luz e alimentação.

Pode se perceber que essa é a área com mais necessidade de medidas preventivas, levando em consideração as evidências de inundações em seu histórico, o seu alto nível de exposição e os preocupantes dados de vulnerabilidade. Ficou muito claro que essas pessoas estão correndo um alto risco e necessitam de algo a ser feito urgentemente, pois a dinâmica ambiental é cíclica, e o ambiente o qual outrora já foi ocupado pela lagoa será novamente tomado por ela e as pessoas as quais, independente do motivo, acabaram habitando essas áreas, certamente vão sofrer as consequências.

Figuras 90 A e B – Obras inacabadas de muretas/elevação das residências ou de suas respectivas calçadas

Fonte: Foto de Erick Jordan (2019).

O setor Rio Maceió (Centro) registrou um índice de exposição mais baixo. Isso porque a presença de infraestrutura urbana é mais adequada levando em consideração o setor anterior. A presença de bueiros e a própria drenagem natural do rio (formando um estuário na praia de touros) acaba por diminuir consideravelmente a probabilidade de uma inundação.

No entanto, o índice de risco (TABELA 7) registou valores elevados. Isso porque a vulnerabilidade social foi um aspecto pelo qual se destacou nessa área, onde é facilmente perceptível que as casas com maior padrão social se localizam mais afastadas do rio ou em zonas mais altas do setor.

Apesar de a infraestrutura urbana servir como atenuante de uma inundação potencial percebe-se que o município carece de adaptações em sua rede de drenagem. A maior parte da população entende que o sistema de esgotamento da cidade existe. Porém, este não está correto, isso porque os bueiros e redes de escoamento de água tem o rio como destino. A longo prazo tal fato pode causar uma sobrecarga nesse sistema hidrológico, intensificando seu transbordamento.

Tabela 7 – Resultados dos InRisco mais altos para o setor Rio Maceió (Centro) Código do Questionário IVS InEx InRisco (padronizado)

1314RM46 0,781 0,525 1 1314RM35 0,745 0,525 0,934 1314RM57 0,74 0,525 0,925 1314RM45 0,724 0,525 0,896 1314RM49 0,69 0,525 0,834 1314RM09 0,681 0,525 0,817 1314RM08 0,664 0,525 0,786 1314RM48 0,649 0,525 0,759 1314RM56 0,641 0,525 0,744 1314RM11 0,63 0,525 0,724 1314RM43 0,623 0,525 0,711 1314RM28 0,617 0,525 0,7 1314RM01 0,614 0,525 0,695 1314RM37 0,608 0,525 0,684 1314RM02 0,605 0,525 0,678 1314RM52 0,603 0,525 0,674 1314RM05 0,595 0,525 0,66 1314RM26 0,592 0,525 0,654 1314RM14 0,569 0,525 0,612 1314RM22 0,568 0,525 0,61 1314RM47 0,567 0,525 0,609 1314RM24 0,563 0,525 0,601 1314RM32 0,556 0,525 0,589 1314RM39 0,554 0,525 0,585

Fonte: Elaborado pelo autor (2020).

Enquanto que casas com maior padrão social e infraestruturas resistentes se localizam em áreas mais elevadas e seguras levando em conta a distância do rio, as casas com maior nível de vulnerabilidade ficam muito próximas. Essas informações espacializadas através do mapa de risco (FIGURA 91) permitiram ver que, de fato, esse aspecto é real e essas áreas demandam maior atenção, levando em conta as dificuldades da população em conviver com esse risco.

Essa forma de ocupação é oriunda da construção histórica e social da cidade a qual cresceu muito as margens do rio, com pescadores os quais tiravam seu sustento dele ou do mar. Posteriormente, a cidade veio se desenvolvendo e com o avanço do tempo as desigualdades passaram a ser evidentes. Isso se percebe com o resultado dos índices, principalmente nas condições estruturais das moradias com materiais simples e, muitas vezes, estruturas comprometidas, deixando-os altamente vulneráveis caso o rio venha a transbordar.

Um aspecto que intensifica e tende a piorar ainda mais os impactos relacionados a inundações do rio Maceió, além do esgoto lançado livremente, é o lixo. Este é um problema

social pelo qual desencadeia consequências muito graves, atraindo vetores de doenças, causando mal estar e, até mesmo, aos banhistas da praia e turistas. Isso porque o estuário do rio está muito poluído e compromete a parte do oceano próxima as praias de Touros, algumas das mais turísticas do estado do Rio Grande do Norte.

Figura 91 – Mapa do índice de risco a inundação no setor Rio Maceió (Centro)

Fonte: Foto de Erick Jordan (2020)

No setor São Sebastião foi possível notar que as condições naturais da área são dinâmicas o suficiente para gerar transbordamento das lagoas, causando transtornos para os moradores os quais, desordenadamente, ocuparam as margens ou o leito de suas lagoas sazonais. O índice de risco desse setor (TABELA 8), apesar do valor da exposição ser baixo, em decorrência da quantidade de residências, apresentara, números de vulnerabilidade foram surpreendentemente elevados. Isso porque o setor de fato carece de infraestrutura urbana básica como bueiros, sistema de esgotamento sanitário e calçamento nas ruas.

Esses registros foram destaques no mapa de risco (FIGURA 92) e tomaram conta de uma parte significativa desse setor. O mais chamativo é que algumas das áreas mais problemáticas

estão muito próximas as lagoas sazonais. Isso faz com que, de fato, essas pessoas corram um alto risco associado a um evento repentino, podendo lhe causar danos de variadas magnitudes.

Tabela 8 – Resultados dos InRisco mais altos para o setor São Sebastião Código do Questionário IVS InEx InRisco (padronizado)

12SS29 0,705 0,216 1,000 12SS32 0,697 0,216 0,983 12SS28 0,696 0,216 0,981 12SS18 0,681 0,216 0,944 12SS02 0,671 0,216 0,919 12SS31 0,671 0,216 0,919 12SS06 0,668 0,216 0,911 12SS34 0,645 0,216 0,854 12SS16 0,637 0,216 0,834 12SS22 0,622 0,216 0,797 12SS09 0,621 0,216 0,795 12SS01 0,616 0,216 0,782 12SS14 0,614 0,216 0,777 12SS24 0,614 0,216 0,777 12SS30 0,614 0,216 0,777 12SS27 0,606 0,216 0,757 12SS35 0,587 0,216 0,710 12SS12 0,578 0,216 0,688 12SS03 0,573 0,216 0,675 12SS21 0,57 0,216 0,668 12SS19 0,559 0,216 0,641 12SS17 0,553 0,216 0,626 12SS25 0,553 0,216 0,626 12SS20 0,545 0,216 0,606 12SS26 0,542 0,216 0,599 12SS08 0,539 0,216 0,591 12SS04 0,526 0,216 0,559

Fonte: Elaborado pelo autor (2020).

Como já foi mencionado, é claramente perceptível o quanto essa área carece de serviços básicos. Mas, um dos aspectos pelos quais mais chama a atenção é a ausência de um sistema de drenagem em um ambiente tão propício a ser inundado. O menor índice de precipitação causa transtornos, a água acumula (FIGURA 93 A) com rapidez e escoa com dificuldade em um ritmo muito lento. Isso pode ser notado até mesmo nas áreas que dispõe de calçamento (FIGURA 93 B), por vezes gerando problemas ainda maiores, visto que tende a impermeabilizar o solo da área impedindo a infiltração da água.

Figura 92 – Mapa do índice de risco a inundação no setor São Sebastião

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Figuras 93 A e B – Água acumulada (A); acúmulo de água nas áreas com calçamento (B)

Fonte: Foto de Erick Jordan (2019)

As marcas de que as pessoas por conta própria seguem tentando conviver com esse risco já se encontram no solo desse ambiente. Quando as lagoas enchem e transbordam os moradores abrem canais (FIGURA 94) para permitir o escoamento mais rápido da água na tentativa

emergencial de diminuir o volume hídrico acumulado e, evidentemente, amenizar danos os quais podem vir a surgir.

Figura 94 – Canais para o escoamento da água

Fonte: Cedida por Lutiane Almeida (2019).

Desta forma, fica cada vez mais evidente que a sede municipal possui áreas muito problemáticas com relação à existência do risco de inundação. Porém, percebe-se que nem sempre as áreas mais expostas são proporcionalmente mais vulneráveis. Mas, ainda assim, isso não significa que o risco não existe. O mesmo possui características peculiares os quais se moldam de acordo com cada ambiente.

O principal destaque foi para o setor Frei Damião, não só pelos índices registrados serem altos, tanto em exposição quanto em vulnerabilidade, mas principalmente pelo histórico da área pela qual, frequentemente, sofre com inundações graduais e bruscas as quais variam de acordo com regime pluviométrico submetido. A precariedade de infraestrutura urbana intensifica esses efeitos, e o processo de ocupação do solo nessas áreas ainda existe muito pelo preço acessível dos terrenos.

As condições de infraestrutura beneficiam o setor do Rio Maceió (Centro), fazendo com que as inundações não sejam comuns. O aumento e a diminuição do volume do rio acompanham

o nível da maré, mas dificilmente transborda e não há muitos registros de danos gerados a população residente em suas margens.

No setor São Sebastião o problema acaba sendo maior que nos outros setores. Há falta de vários serviços básicos de qualidade. Isso porque a área é um assentamento e, por vezes, a gestão não consegue agir fortemente com medidas estruturais para minimizar o risco de desastre. Apesar de poucos moradores, sua vulnerabilidade é bem alta, o que é um aspecto muito importante ao se definir o quanto essas pessoas correm risco. O problema ainda é relativamente recente, data dos últimos 10 anos, e os impactos não geraram problemas tão representativos quanto no primeiro. Porém, apesar disso, é possível perceber no gráfico 3 que entre as cinco principais residências em risco da sede municipal, 3 estão no bairro São Sebastião.

Gráfico 3 – Residências com maiores níveis de risco a inundações

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

O gráfico também destaca que dentre os 5 maiores índices de risco da área de estudo nenhum deles registrou valores menores que 0,800 (o que é muito alto), e exige medidas urgentes para auxiliar na convivência dessa pessoa com o risco. Esse conhecimento e indispensável para servir como referência para a elaboração e efetivação de qualquer medida pela qual atue como atenuante desse tipo de desastre.