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O ÚLTIMO DIA DO RESTO DA MINHA VIDA

Os primeiros raios do sol atravessavam as colunas do Partenon quando o carcereiro entrou em minha cela. Além do copo de leite de cabra e do pão que o acompanharam todos esses dias, hoje ele trazia algo a mais, que foi logo anunciando em sua chegada. Trago comigo as chaves que vão libertá-lo desses grilhões, disse-me ele. Sim, eu sei, hoje é o último dia de minha vida – lhe respondi. Ele se aproximou, e pude ver em seus olhos um misto de curiosidade e de estranheza. Percebi que ele, por um instante, pensou em perguntar como eu sabia que hoje seria o dia da execução da minha sentença, mas, como não seria apropriado que um funcionário da justiça se dirigisse desse modo a um condenado a morte, ele controlou seu impulso, e, em silêncio, começou a destravar os grilhões de meus pés. Enquanto a sensação de liberdade ia substituindo a dor nos meus músculos já cansados, contei-lhe que ontem eu havia ouvido o som das trombetas anunciando a chegada do navio, vindo da ilha de Delo. Naquele momento – pensei comigo – tudo está chegando ao seu termo.

Há trinta dias, consumou-se meu julgamento diante do Tribunal de Atenas, no qual fui julgado e condenado. Porém, um dia antes do julgamento, o navio partira para o Festival que comemora a vitória de Teseu sobre o Minotauro, o monstro terrível que habitava o labirinto de Creta. Quando Teseu partiu em sua missão, os atenienses prome- teram a Apolo, que todos os anos enviariam uma comitiva a Delos, no caso de Teseu voltar a salvo, e desde então, este ritual de agrade- cimento ao deus tem se repetido. E como a lei de Atenas determina que desde os preparativos iniciais da viagem, até o retorno do navio, nenhum cidadão ateniense pode ser executado, tenho estado preso a esses grilhões no último mês.

Estava ainda a me recordar desses eventos que marcaram a história da minha cidade, quando ouvi a voz de minha esposa Xantipa,

chegando com nossos filhos para a despedida final. Logo atrás dela, alguns bons amigos também se aproximam. Vejo que hoje vocês acor- daram mais cedo, digo, dirigindo-me a eles. Pois preferíamos que esse dia não tivesse chegado, lastima-se um deles, ao que os outros fazem coro. Pois, de minha parte, nada tenho a reclamar, portanto, sentem-se todos e aproveitemos esse nosso encontro.

[...]

Hoje, já não terei tempo para compor versos, e talvez por isso, algo de estranho me aconteceu. Já perto do raiar do dia, acordei recor- dando-me de um sonho estranho, que passo a lhes contar: no sonho, encontrava-me em um ambiente totalmente desconhecido. Um espaço pequeno e frio, com suas paredes caiadas e rudes, como é comum nesses ambientes que servem para acolher pobres viajantes. Sob a janela, via-se uma mesa que fora feita com muita presteza e cuidado, posto que as bordas eram lisas e o tampo fazia a luz do fim de dia refletir sobre todo o espaço, trazendo para dentro o cinza-azulado dos dias nevados. Sim, nevados. Percebi-me, de pronto, que aquela estalagem não se localizava em Atenas, pois, como vocês sabem, os atenienses nunca foram premiados com os flocos leves que uma vez por ano visitam os países do Norte. Diante desta introdução, um dos amigos presentes me perguntou se eu reconhecera em que parte do mundo se passava o sonho, e eu logo afirmei que nunca estivera naquele país. E continuei: o mais estranho naquele espaço, era a presença de um homem de pele alva e levemente ruborizada, como acontece com todos os que estão vivendo uma grande emoção. Perguntei-lhe o nome e a origem e ele se identificou: sou de um país que ainda há de surgir e meu nome é Iessienin. Logo depois, acordei e não me lembrei de nenhum outro detalhe, mas trago comigo, como algo que eu tivesse ouvido há muito tempo, as palavras que ele pronunciou antes do sonho terminar. Disse-me ele: Até logo, até logo, companheiro,/Guardo-te no meu peito e te asseguro:/O nosso afastamento passageiro/É sinal

de um encontro no futuro./Adeus, amigo, sem mãos nem palavras,/ Não faças um sobrolho pensativo,/Se morrer, nesta vida, não é novo,/ Tampouco há novidade em estar vivo.

Em seguida, Sócrates decide que já falaram demais da morte e pede aos presentes que sugiram um tema para a última conversa. Alguém pede que Sócrates explique uma vez mais a sua frase “só sei que nada sei”. Sócrates, então, recorda que o Oráculo de Delfos, consultado por Querofonte, afirmou que não havia homem mais sábio que o próprio Sócrates, e segue recordando sua vida e como suas ideias filosóficas foram sendo construídas.

Considerações finais

Avaliando as ações desenvolvidas pelo PIBID/Filosofia nos seus cinco anos de existência, podemos afirmar que o seu impacto mais forte está na superação da dicotomia entre teoria e prática, já que as teorias são estudadas a partir de problemas reais viven- ciados pelos bolsistas nos ambientes de aprendizagem das escolas onde realizam as atividades de intervenção pedagógica.

Também é importante para a obtenção desse impacto a interação entre os licenciandos e os supervisores, já que permite ao bolsista ir identificando os procedimentos adotados pelos professores da educação básica no desenvolvimento das atividades cotidianas da sala de aula. O supervisor, por um lado, tem a oportunidade de ter continuamente observadores críticos e companheiros para analisar seu trabalho e ajudá-lo a encontrar novos caminhos para o fazer filosófico nas escolas de ensino médio do RN. Por outro lado, a experiência pedagó- gica nas escolas de ensino médio permitem aos licenciandos

bolsistas identificarem falhas em seus processos de formação, criando maior foco no processo de autoformação.

As ações realizadas no ano de 2014 forjaram uma equipe e trabalho mais coesa e com maior clareza dos objetivos a serem buscados, o que já está impactando positivamente as ações em 2015. Já no final desse ano, iniciamos o planejamento das próximas ações e o grande objetivo estabelecido é a elaboração de um programa de ensino de Filosofia para as três séries do ensino médio para ser aplicado nas duas escolas.

Referências

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AÇÃO E FORMAÇÃO: