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O PIBID no curso de Pedagogia/UFRN

A formação do pedagogo pensada de acordo com os para- digmas atuais (LIBÂNEO, 1996; MORIN, 1996) deve possibilitar uma visão global do fenômeno educativo, bem como o desen- volvimento de capacidades diversificadas e mais abrangentes para atuação/intervenção nos diversos contextos educacionais. O pedagogo assume múltiplas funções no seu fazer educativo, o que implica a construção de conhecimentos múltiplos

e contextualizados, articulados ao cenário de transformações sociais e às novas demandas socioeducativas.

Nesse ideal de uma formação abrangente para o pedagogo, alguns fatores se figuram como elementos a serem considerados. Esses fatores centram-se não só em uma sólida formação teórica sobre conhecimentos científicos, biopsíquicos, histórico-cul- turais, ético-políticos, lúdicos e estéticos, mas também no desenvolvimento de conhecimentos práticos, em procedimentos de ensino e de aprendizagem que permitam uma profícua relação entre teoria e prática na formação do pedagogo. Essa perspectiva denota uma abordagem de estudos que ultrapasse a simples preparação para o exercício de uma função específica, vindo a concentrar-se em saberes que oferecem uma ampla capacidade de construção e reconstrução de ações e práticas diversificadas, bem como essenciais ao fazer educativo. Assim, a formação do pedagogo deverá propiciar a produção de conhecimentos em educação e a intervenção competente nos processos peda- gógicos, com base em concepções de sociedade, de ser humano, de escola, de currículo, de ensino e de aprendizagem.

Outra dimensão a considerar nessa formação é a relação que se estabelece entre ser humano e conhecimento, a partir das novas formas de organização e gestão dos processos sociais. Essa relação não privilegia apenas a memorização e a repe- tição de procedimentos, mas exige atividades intelectuais e competências cognitivas que se desenvolvem em situações de aprendizagem interativas, dialógicas e dinâmicas envolvendo o aprendiz e os objetos de conhecimento. Essa perspectiva forma- tiva traz novas exigências que em muito superam o patamar existente hoje, implicando uma reinvenção da profissão docente, indo ao encontro do que defende Fazenda (1994) quando afirma que

a sala de aula deve ser um ambiente em que o autoritarismo seja trocado pela livre expressão da atitude interdisciplinar.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura (BRASIL, 2006, p. 1), orientando-se por essa perspectiva, explicitam as seguintes exigências como centrais na formação do pedagogo:

Art. 3º. O estudante de Pedagogia trabalhará com um reper- tório de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionada no exercício da profissão, fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensi- bilidade afetiva e estética.

Parágrafo Único. Para a formação do licenciado em Pedagogia é central:

I – o conhecimento da escola como organização complexa que tem a função de promover a educação para e na cidadania; II – a pesquisa, a análise e a aplicação de resultados de investigações de interesse da área educacional;

III – a participação na gestão de processos educativos e na orga- nização e funcionamento de sistemas e instituições de ensino.

Tal complexidade formativa se deve ao campo de atuação do pedagogo englobando o conhecimento que deve ser tratado na Educação Infantil (socialização, introdução ao mundo da leitura e escrita, desenvolvimento biopsíquico e motor,

desenvolvimento dos aspectos lógico-matemáticos da estru- turação do pensamento), no Ensino Fundamental (continuando a trabalhar os aspectos no nível anterior tratados, além do ensino sistematizado das diferentes áreas do conhecimento para os anos iniciais: Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências Naturais, Artes e Educação Física, trans- versalmente e também, nos anos finais, as questões relativas ao meio ambiente e à saúde, à pluralidade cultural, à ética e à orientação sexual, além da gestão e coordenação pedagó- gica, que inclui o acompanhamento dos professores das áreas específicas), e no ensino médio (com o ensino das disciplinas de formação pedagógica nos Cursos de Magistério).

Na UFRN, a formação de professores tem sido uma preocupação constante, evidenciando-se no esforço institu- cional de promover projetos que envolvam pesquisa, ensino e extensão nos cursos de graduação e pós-graduação, a exemplo dos Projetos PRODOCÊNCIA (Programa de Consolidação das Licenciaturas, cujos objetivos são promover a inte- gração entre os diversos cursos de formação de professores de Educação Infantil, do Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos e Ensino Médio dos Campi da UFRN, as Escolas dos Sistemas Estaduais e Municipais pertinentes, com o fim de melhorar a formação docente e a qualidade desses níveis de ensino) e PROCEEM (Programa Complementar de Estudos para Alunos do Ensino Médio), que se propõe a atuar junto à rede de escolas que ministram o ensino médio, desenvolvendo ações que estimulem a interlocução com estudantes, visando ao acesso à universidade; ao estímulo dos alunos das licen- ciaturas, como parte da sua formação docente, a lecionar no ensino médio, entrando em contato com outros contextos e com alunos reais; ao desenvolvimento de atividades de ensino

relacionadas aos componentes curriculares relativos ao ensino médio, entre outras ações).

Especificamente, o Curso de Pedagogia do Campus Natal, que obteve nota máxima no último ENADE, articula-se a um Programa de Pós-Graduação em Educação (também nível 05 CTC/CAPES). Os docentes desse Curso e do Programa estão vinculados ao Centro de Educação, formado por um corpo docente efetivo com aproximadamente 95% de professores com titulação em nível de doutorado. Outra característica desse esforço é assegurar a participação ativa dos licenciandos em projetos de pesquisa, ensino e extensão, além da preocupação do Colegiado do Curso em estar atento às novas demandas da área.

O PIBID/Pedagogia – Natal surge nesse contexto, assumindo fundamental importância, pois, se por um lado propicia uma oxigenação na dinâmica da escola, cujo espaço torna-se palco para operacionalizar metodologias inovadoras, sem perder de vista os saberes sistematizados, postos nos planos oficiais de ensino, por outro lado, busca melhorar as condições de formação dos alunos dessa Licenciatura, cujo perfil socioe- conômico exige atenção, por se tratar, na sua maioria, de alunos das camadas populares com baixo poder econômico. Portanto, além da formação enriquecida pelas experiências vivenciadas no Programa, os licenciandos podem permanecer no curso, tendo em vista não precisarem adentrar precocemente no mercado de trabalho para poder manter-se.

A condição socioeconômica dos estudantes de Pedagogia da UFRN pode ser verificada a partir dos dados fornecidos pelo Observatório da Vida do Estudante Universitário (OVEU), um centro de informações estatísticas sobre os estudantes que ingressaram na UFRN e de documentos de referência

sobre o acesso ao ensino superior que possibilita o cruza- mento de diversas variáveis informadas no ato da inscrição do vestibular, permitindo caracterizar o perfil socioeconô- mico dos estudantes. De acordo com o OVEU, 89,23% dos pais dos alunos do curso de Licenciatura em Pedagogia, turno vesper- tino, não possuem nível superior. No turno noturno, são 92,33% que não acessaram esse nível de ensino. No que diz respeito à renda familiar, 80,81% dos alunos do referido curso que estudam no período da tarde recebem até 05 salários mínimos, e dos que estudam no período da noite são 85,33% que estão nessa situação. O meio de transporte mais utilizado por esses alunos é o ônibus coletivo, sendo 87,77% daqueles que estudam à tarde e 85,53% dos que estudam à noite.

A realidade das escolas da zona urbana de Natal/RN também foi impactada com a presença do PIBID Pedagogia. As escolas selecionadas foram a Escola Estadual Prof. Luiz Antonio (IDEB 3,4); a Escola Municipal Professor Ulisses de Góis (IDEB 3,1); a Escola Municipal Juvenal Lamartine (IDEB 3,4), ambas oferecendo Educação Infantil, Ensino Fundamental e EJA; além do Centro Municipal de Educação Infantil – CMEI José Alves Sobrinho, ofertando Educação Infantil.

Tal conjunção de atuação nos oferece um campo rico para execução do PIBID, buscando colaborar com a qualidade do ensino em seus diferentes campos: a educação infantil, com crianças de três a cinco anos; o ensino fundamental, com crianças de seis aos onze anos de idade, matriculadas nos anos iniciais, e crianças e jovens com idade entre doze e dezesseis anos, alunos dos anos finais do ensino fundamental, e jovens e adultos no ensino médio, modalidade normal. Essa realidade tão diversificada e rica nas escolas favoreceu o desenvolvi- mento de um trabalho formativo com os licenciandos da UFRN,

os quais se envolveram em diferentes campos de atuação do peda- gogo, incluindo o campo da gestão e da coordenação pedagógica. Outro fator que concorreu para tal escolha se deve ao fato dessas escolas se localizarem em áreas centrais e atenderem a alunos das mais diversas regiões de Natal. Além disso, apre- sentavam IDEB abaixo da média dos municípios brasileiros (4,4), do estado do Rio Grande do Norte (3,9) e de Natal (3,7). Ainda como critério de escolha dessas escolas, foi considerada a adesão da direção da escola em colaborar com o trabalho a ser desenvolvido pelo PIBID e a diversidade de modalidades educa- tivas oferecidas, promovendo a formação do pedagogo em seus diferentes campos de formação; a capacidade de absorção dos bolsistas; as possibilidades de desenvolvimento das atividades; bem como a facilidade de acesso pelos bolsistas por se localizarem em regiões atendidas pela malha viária do município.

PIBID Pedagogia/UFRN – experiências e impacto