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PIBID Pedagogia/UFRN – experiências e impacto na formação docente e na realidade escolar

O PIBID/Pedagogia – Natal tem possibilitado a ampliação do campo formativo dos licenciandos além do contexto de sala de aula na universidade, colocando-os em constante confronto com a multiplicidade da prática que a atuação profissional envolve, desenvolvendo no discente o compromisso ético-político e técnico que esperamos de um profissional bem formado. Além disso, desenvolve a capacidade de reflexão crítica a partir de uma articulação da teoria com a prática de forma situada, pois, como afirma Nóvoa (1995), as decisões pedagógicas devem ocorrer com base no processo de reflexão que o professor leva

a cabo sobre sua própria ação. Ademais, o Programa busca fomentar a carreira do magistério e contribuir para a articu- lação teoria-prática, permitindo que o licenciando em pedagogia se familiarize com os espaços escolares, propiciando uma formação mais sólida, com vistas à melhoria da qualidade da educação ofertada nesses níveis de ensino.

Há um efetivo acompanhamento e orientação acerca da participação dos alunos nas diferentes atividades nas escolas, como: semanas pedagógicas, reuniões de planejamento, ativi- dades recreativas e pedagógicas dentro e fora do espaço escolar, atividades das secretarias de educação no espaço escolar (pales- tras, reuniões, campanhas), assembleias profissionais (tendo em vista que passamos por um período de greve em ambas as redes de ensino) etc. Tais vivências têm proporcionado uma ampliação da perspectiva profissional dos envolvidos, no sentido de consi- derar as diversas dimensões que atravessam a carreira docente. Identificamos a consolidação de uma visão mais participativa e interventiva diante dos desafios do cotidiano escolar, no sentido de não apenas apontar os problemas a serem enfrentados, mas construir, coletivamente, estratégias de superação.

O enfrentamento das questões político-econômicas inerentes à profissão no espaço público, emergidas mais fortemente nos períodos de greve pelos quais passamos, levou os licenciandos a uma reflexão mais rigorosa sobre as políticas de carreira, cargos e salários das redes de ensino e sobre como a categoria se organiza e pensa as estratégias de busca da conso- lidação dos seus direitos.

A metodologia usada para o desenvolvimento dos trabalhos no Programa, com base na investigação participativa, tem levado os discentes a consolidar práticas de busca de soluções coletivas,

bem como a um amadurecimento de como lidar com as duas faces desta participação, a individual e a coletiva.

No final de 2010, em conjunto com as escolas que estavam prestes a participar das avaliações Provinha e Prova Brasil (2011), decidimos proceder a um diagnóstico sobre a aqui- sição e sistematização da leitura e da escrita nas instituições. Momento riquíssimo de aprendizagens, pois abrangeu desde a formulação dos instrumentos para cada nível de ensino, como sua aplicação, tabulação e proposições interventivas. Tal ação contou com a colaboração da Profa. Denise Maria de Carvalho Lopes, que coordenou o Diagnóstico da Alfabetização de Crianças matriculadas no 3º ano nas escolas da rede pública do estado, realizado pela UFRN em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME, com o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF e a Agenda Potiguar pela Alfabetização de Crianças no Estado do Rio Grande do Norte. Embasados nesse documento, adaptamos os nossos instrumentos e procedemos a ação.

Tal atividade, desenvolvida nas escolas ao longo do ano de 2011, resultou em projetos interventivos nos diferentes níveis atendidos pelas escolas, obtendo resultados que, segundo os depoimentos dos professores das escolas, tornaram-se visíveis nas atividades de avaliação da aprendizagem no segundo semestre letivo. No entanto, queremos chamar atenção para as repercussões formativas nos licenciandos que, confron- tados com a realidade de aprendizagem da leitura e escrita, condição básica de escolarização de qualidade, propuseram-se a enfrentar, não sem angústias, os desafios da intervenção com vistas à alteração do quadro.

Tendo em vista essa proposição, foram organizados grupos de estudos para análise dos dados e formulação de atividades interventivas; realizadas reuniões nas escolas com os professores envolvidos, para planejamento conjunto; buscaram-se novas metodologias de ensino que pudessem colaborar com uma aprendizagem mais efetiva e superação das próprias lacunas conceituais sobre os processos de alfa- betização nas crianças, nos jovens e nos adultos das escolas envolvidas. Tamanha mobilização resultou numa reflexão profunda sobre o papel do profissional de pedagogia nas escolas e as possibilidades e contextos de intervenção na aprendizagem das pessoas, a partir de diversificadas abordagens teórico- -metodológicas, bem como na compreensão da formação para além do sentido de prontidão, mas numa perspectiva da busca continuada frente às demandas da realidade.

Reafirmamos a grande relevância desse subprojeto no sentido de propiciar a ampliação da realização de ações de ensino, pesquisa e extensão no âmbito do PIBID, que venham a contribuir para a melhoria da formação oferecida pelo curso de pedagogia da UFRN, bem como para a melhoria da qualidade da educação nas escolas participantes do programa, tendo em vista que as atividades são pensadas e propostas conjuntamente pelos bolsistas, supervisores e professores envolvidos. Tal carac- terística promove uma reflexão sobre as dinâmicas mecânicas de atuação, tão facilmente estabelecidas no espaço escolar devido à sua forma de organização, promovendo o interesse dos professores em novas estratégias de intervenção, bem como possibilitando a recuperação da crença nas suas capacidades de mudança da realidade enfrentada. Notamos que, se por um lado, a energia e vontade dos licenciandos contaminavam novamente os professores com a possibilidade de acreditar em novas ações,

por outro lado, a experiência e maturidade dos professores levavam os bolsistas a uma reflexão e aprendizagem mais realistas das possibilidades de atuação.

A esse respeito, Silva (2011) explicita que:

O PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência configura-se, atualmente, como uma relevante alternativa de potencializar a formação integral do pedagogo e dos demais docentes de outras licenciaturas na medida em que pode possibilitar a inserção do licenciando num contexto educacional de forma planejada, orientada e reflexiva acerca da sua própria e pretensa prática docente (SILVA, 2011, p. 20).

Temos observado o crescimento acadêmico e profissional dos bolsistas por meio da implementação dos miniprojetos de ensino desenvolvidos nas escolas, e também com a parti- cipação deles em eventos locais e regionais, apresentando os trabalhos desenvolvidos no âmbito do projeto, inclusive com premiações, em alguns casos. É claro o desenvolvimento do espírito de colaboração e trabalho coletivo, do espírito investigativo e da capacidade de transposição dos conteúdos formativos do curso para uma prática de cunho reflexivo e ativo com vistas à solução dos desafios cotidianos encon- trados na escola em que atuam. Esses atores têm tido uma participação mais ativa e crítica nos componentes curricu- lares do curso, qualificando as discussões em salas de aula e possibilitando uma melhor compreensão, por parte dos demais discentes, por relacionarem teoria-prática com maior propriedade, segundo o depoimento de diferentes docentes do curso. Esse senso crítico é de fundamental importância, pois, conforme Contreras (2002), a tomada de consciência

dos valores e significados ideológicos implícitos na atuação docente e nas instituições poderia orientar uma ação transformadora capaz de atenuar a injustiça na instituição escolar, assim como o processo de reflexão crítica permitiria aos professores avan- çarem num processo de transformação da prática pedagógica mediante sua própria transformação como intelectuais críticos.

Considerações finais

O PIBID, enquanto política pública de incentivo à iniciação à docência, atua na melhoria da qualidade da formação de professores, na valorização do magistério, na elevação do padrão de qualidade da educação básica pública brasileira e tem atendido a uma demanda reprimida, posto que, no âmbito das universidades, historicamente, as bolsas e incentivos eram destinados à iniciação científica. Desse modo, esse Programa inaugura uma nova conjuntura possibilitando a permanência com qualidade de alunos nos cursos de licenciatura.

O Programa tem proporcionado aos licenciandos o contato inicial com a atividade docente em escolas públicas, ainda nos primeiros anos do curso, fazendo emergir um dife- rencial na formação dos estudantes, que só teriam tal inserção no período das Práticas de Ensino ou do Estágio Supervisionado. Dessa forma, ainda na graduação, o aluno se compromete com a ação docente em instituições públicas de ensino, levando à valorização desse espaço, entendendo-o como um palco de experiências que contribui para a formação do conhecimento e para o aperfeiçoamento da atividade docente.

Os licenciandos experimentam a oportunidade de criar e desenvolver projetos a serem aplicados nas escolas públicas de ensino de forma a contribuir no avanço coletivo da escola, dos alunos e dos próprios acadêmicos. Estes projetos também permitem a aplicação de procedimentos metodológicos e de práticas docentes diferenciadas considerando a realidade local. Este contato direto com as escolas possibilita uma formação dos licenciandos mais qualificada, por meio da qual os futuros professores aprendem a administrar as situações cotidianas no contexto escolar e a perceber as necessidades existentes nas instituições educacionais públicas. Além disso, o Programa ainda contribui para romper com uma antiga sectarização entre o que é produzido e estudado na academia e o espaço escolar. Nesse sentido, reiteramos a importância desse Programa para a consoli- dação dos cursos de licenciatura, para a melhoria da qualidade da formação docente e para a oxigenação das práticas pedagógicas ocorridas no espaço escolar.

Referências

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