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Ação de anulação dos atos fraudulentos

No documento Marina Pacheco Cardoso.pdf (páginas 140-143)

8 INSTRUMENTOS JURÍDICOS DE COMBATE À DESPROPORÇÃO DA PARTILHA DE BENS

8.1 Na fase processual do processo de partilha dos bens 1 Arrolamento de bens

8.1.5 Ação de anulação dos atos fraudulentos

Todo o negócio jurídico celebrado para fraudar a lei ou a terceiro pode ser desconstituído mediante ação anulatória, em virtude do dolo ou da mera simulação. Nos casos de fictícias transferências de participações societárias a outro sócio, ou pagamento de dívidas com bens comuns do casal, ou ainda, quando adquirido bens em nome de interpostas pessoas entre outras artimanhas recorrentes no Direito de Família, muitas vezes são solucionadas mediante a anulação do negócio simulado, principalmente quando não forem bem aceitas ou eficazes a desconsideração da personalidade jurídica e de interposta pessoa439.

437 BECKER, Alfredo Augusto. Teoria geral do direito tributário, 1972 apud QUEIROZ, Mary Elbe. A elisão e a evasão fiscal: O

planejamento tributário e a desconsideração de atos, negócios e personalidade juridical. In: (Coords.) TORRES, Heleno Taveira; QUEIROZ, Mary Elbe. Desconsideração da personalidade juridical em matéria tributária. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p.105-106.

438 MADALENO, Rolf Hanssen. A desconsideração judicial da pessoa jurídica e da interposta pessoa física no direito de

família e no direito das sucessões. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p.96.

439 APELAÇAO CÍVEL – AÇAO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL LITIGIOSA CUMULADA COM PEDIDO DE ALIMENTOS

PROVISIONAIS – DOCUMENTOS TRAZIDOS SOMENTE NO RECURSO QUE NÃO SÃO NOVOS – IMPOSSIBILIDADE – MÉRITO – REGIME DE COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS – PARTILHA – TRANSFERÊNCIA DE QUOTAS DA SOCIEDADE LIMITADA AO GENITOR – VENDA SIMULADA – FRAUDE CARACTERIZADA – NEGÓCIO JURÍDICO

Nas fraudes patrimoniais normalmente as simulações são absolutas, não passando o negócio de uma mera aparência, portanto, quando anulada a transação fantasiosa, as partes são transportadas para o estado em que se encontravam (CC, art.182)440, sendo este o motivo pelo qual todos os envolvidos no negócio fraudulento devem figurar no polo passivo da demanda anulatória, sob pena de nulidade.441

A gravidade da simulação é tamanha que o enunciado nº152 do Conselho da Justiça Federal, estabelece ser toda a simulação invalidante, inclusive a inocente. Pelo mesmo motivo, Paulo Lôbo, adverte

a partir de 11.1.2003, o negócio simulado não pode ser mais convalidado pelo decurso do tempo, tampouco confirmado pelas partes. A simulação deve ser declarada de ofício pelo juiz, independentemente de provocação das partes, pois desfaz a função socioeconômica do ato jurídico. Neste particular, o legislador brasileiro acompanhou a orientação já existente nas codificações alemã e portuguesa.442

Nos casos de simulação, as provas são de difícil produção, sendo, inclusive, em alguns casos a inversão do ônus probandi insuficiente, pois normalmente as fraudes são feitas mediante contratos lícitos, sem nenhuma ilegalidade aparente. Dada dificuldade, no âmbito das relações familiares e das espécies de interesses e direitos indisponíveis envolvidos merece imperar como regra a viabilidade de demonstração indireta dos fatos, evidenciando outro fato, do qual, por raciocínio lógico e global de todo o processo se chega a conclusão a respeito da fraude.

Nessa linha de intelecção, Yussef Said Cahali escreve que tanto a simulação como a fraude contra credores podem ser provados por indícios e circunstâncias.443Isso porque, os indícios, que nada mais são que sinais isolados, geram as presunções relativas, as quais,

INVÁLIDO – NA MESMA LINHA DE RACIOCÍNIO, DEU–SE A ALIENAÇAO DO VEÍCULO DO CASAL – JÁ QUANTO À VENDA DO IMÓVEL, CONSTATA-SE ANUÊNCIA DE AMBOS OS CÔNJUGES NA ESCRITURA DE COMPRA E VENDA – PRESUME–SE A PERCEPÇÃO DOS VALORES POR AMBOS, NÃO HAVENDO COMPROVAÇÃO DE QUE SÓ UM DELES TENHA RECEBIDO OS VALORES SEM O CONSENTIMENTO DO OUTRO – REQUERIDA QUE NÃO CONSEGUIU FAZER PROVA DO ALEGADO – INTELIGÊNCIA DO ART. 333, I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇAO TAMBÉM DA QUANTIDADE DE RESES OBJETO DE DIVISÃO NO DECISUM COMBATIDO – REDUÇAO – OBRIGAÇÃO ALIMENTAR – EXTIRPADA – REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA MONOCRÁTICA – INEXISTÊNCIA DE NULIDADE – RECURSO QUE SE CONHECE, PARA LHE DAR PARCIAL PROVIMENTO – DECISÃO UNÂNIME. (BRASIL. Tribunal de Justiça. AC: 2011207222 SE, 1ªCâmara Cível, Rel. Des. Cláudio Dinart Déda Chagas, j.09/04/2012).

440 LERRER, Gelipe Jakobson. Ação anulatória. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p.94.

441 Nesse sentido: CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. INGRESSO DE TERCEIRO PREJUDICADO.

PREQUESTIONAMENTO. DESNECESSIDADE. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. AÇÃO DE NULIDADE E RESCISÃO DO CONTRATO. ACUSAÇÃO FEITA PELA AUTORA AO EX-MARIDO, DE FRAUDE NA ALIENAÇÃO. RECONHECIMENTO PELO TRIBUNAL ESTADUAL. DEMANDA MOVIDA EXCLUSIVAMENTE CONTRA OS ADQUIRENTES DO BEM. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO DO EX-ESPOSO CARACTERIZADO. CPC, ARTS.499 E 47, PARÁGRAFO ÚNICO. NULIDADE PROCESSUAL DECRETADA. (BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Recurso Especial nº116.879-RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, j.27/9/2005).

442 LOBO NETTO, Paulo. Direito Civil: parte geral. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.311. 443 CAHALI, Yuseef Said. Fraude contra credores. 5.ed. São Paulo: RT, 2013, p.59.

conforme esclarece Cândido Dinamarco, conduzem “à aceitação de um fato controvertido como existente, sem que esteja provado e até que o contrário venha sê-lo”. Equivale dizer, uma vez imperada a presunção no caso concreto, comprovado estará o direito do cônjuge vítima da fraude, até que o fraudador prove cabalmente o contrário, pois não dependem de prova os fatos em cujo favor milita a presunção legal de existência ou de veracidade (CPC 1973, art.334, IV – CPC 2015, art.374, IV).

Rolf Madaleno com razão assevera que a vida pregressa dos cônjuges também contribui muito na apreciação da simulação, principalmente quando se tratam de indivíduos desonestos, sendo além desse outros fortes indícios as transações ocorridas às vésperas do divórcio; as alienações de bens sem a efetiva tradição do bem alienado; compra e venda e empréstimos entre parentes e amigos próximos; alienação das quotas da empresa, sem a efetiva desvinculação do consorte, entre outros estratagemas realizados com objetivo de produzir efeito diverso do ostensivamente indicado.444

Em suma, se o conjunto de indícios foram sérios, contundentes e harmônicos entre si, certamente formaram elementos de convicção a evidenciar a simulação, a qual quando utilizada como artimanha para desviar os bens comuns ou ocultar o conteúdo real do ato praticado e dificultar a prova de violação da ordem jurídica, deve ser descaracterizada, porquanto veda, ou no mínimo, pretende vedar diretamente a lei imperativa que garante à meação oriundo do regime de bens adotado pelo casal no início das núpcias,445 e mais que isso, ferem as regras gerais de boa-fé objetiva, pelo nítido enriquecimento ilícito.

444 MADALENO, Rolf Hanssen. A desconsideração judicial da pessoa jurídica e da interposta pessoa física no direito de

família e no direito das sucessões. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p.312-318.

445 RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ART.535 DO CPC.

NÃO OCORRÊNCIA. SIMULAÇÃO. MANIFESTA FRAUDE À LEI IMPERATIVA. VIOLAÇÃO DO DIREITO À MEAÇÃO. PARTILHA DISSIMULADA. ALIENAÇÃO FICTÍCIA DO PATRIMÔNIO. PREÇO VIL. AÇÃO PAULIANA. VIA PRÓPRIA. ADEQUAÇÃO. 1. Cuida-se de ação ordinária proposta contra o ex-marido da autora e seus respectivos irmãos com a finalidade de obter declaração de nulidade de compra e venda de bens que deveriam ter sido partilhados ante o direito à meação em virtude do fim do casamento submetido ao regime de comunhão parcial de bens. 2. Há simulação quando, com intuito de ludibriar terceiros, o negócio jurídico é celebrado para garantir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem ou transmitem. 3. O patrimônio do casal beligerante foi transferido pelo varão a seus irmãos, por preço fictício, pouco antes da separação de corpos do ex-casal, tendo retornado ao então titular logo após a sentença de separação judicial e do julgamento do recurso de apelação pelo tribunal de origem. 4. A alienação forjada é, sobretudo, uma violação da ordem pública, podendo ser reconhecida em ação pauliana. 5. Recurso especial provido. (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, Terceira Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j.21/10/2014).

8.1.6 Compensação ou indenização do montante correspondente aos bens excluídos

No documento Marina Pacheco Cardoso.pdf (páginas 140-143)

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