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Criação de offshore e holdings patrimoniais

No documento Marina Pacheco Cardoso.pdf (páginas 124-126)

7 OMISSÃO COMO FRAUDE À PARTILHA DE BENS 1 Omissão direta dos bens

7.2 Omissão indireta

7.2.1 Mau uso da pessoa jurídica na partilha de bens

7.2.1.7 Criação de offshore e holdings patrimoniais

Entre as fraudes cometidas mediante a intervenção de pessoas jurídicas, está a criação de

offshores ou holdings patrimoniais.

As offshores são empresas constituídas no exterior, regidas de acordo com a legislação do país em que está sediada e com atuação no Brasil via representação396. Normalmente os locais escolhidos são os chamados paraísos fiscais397 que consistem em

394 ANULATÓRIA – Ação objetivando sejam declaradas insubsistentes as transferências das quotas sociais levadas a efeito pela

corre, casada com o autor no regime da comunhão universal de bens, ao fundamento de não haver tido ciência ou anuído ao ato societário – Descabimento –Transferência de quotas sociais que não está inserida no rol elencado no art.1647 do CC – Ausência de nulidade – Observação no tocante à possibilidade de discussão sobre a partilha das quotas discutidas em sede própria – Redução da verba honorária que se impõe, em observância ao §4º do art.20 do CPC –Apelo parcialmente provido, com observação. (BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Ap.994080465183. 6ª Câmara de Direito Privado, Rel. Sebastião Carlos Garcia, j.11/11/2010, DJ: 03/12/2010).

395 BRASIL. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. 200000047968340001 MG 2.0000.00.479683-4/000 (1), Rel. Pedro Bernardes,

j.10/01/2006, DJ: 25/02/2006.

396 RIBEIRO, Antonio Carlos Silva; GUARIENTO, Daniel Bittencourt; BARBETI, Rodrigo Luciano. Proteção patrimonial.

Guaxupé: Tatico, 2013, p.163.

territórios nos quais inexiste a intervenção do Estado na atividade econômica no plano tributário, permitindo que as atividades e transações de natureza comercial e financeira, desde que de caráter internacional, sejam conduzidas sem que delas se origine a obrigação do recolhimento de quaisquer tributos.398

Além dos benefícios fiscais, para os cônjuges fraudadores os locais se tornam ainda mais paradisíacos pela blindagem concedida às empresas, principalmente pelos sigilos fiscal, bancário e societário, conforme lembra Hoyt Barber, ao escrever que entre os principais atrações da

offshore está a maior privacidade, flexibilidade, proteção e segurança nas operações bancárias;

maximização da privacidade pessoal e financeira; evitar divulgação da sua nacionalidade ou aliança política, mantendo em segredo a localização física e fácil acesso aos fundos da offshore, independente do lugar que acionista estiver,399 o que certamente facilita a movimentação de ativos fora da esfera da massa do patrimônio comum.

A ocultação da identidade do investidor internacional é efetivada na prática através da figura da ação ao portador, cujo título, que não tem registro do nome do titular nos órgãos competentes, representa a propriedade parcial do capital social de uma dada pessoa jurídica –

offshore. A fraude está justamente no uso desta espécie societária para impedir que o cônjuge

acionista seja titular dessas ações, resultando um verdadeiro entrave à tentativa de desvendar o real beneficiário do ilícito, pois, o sócio será aquele que estiver com as ações em mãos, não havendo nenhum cadastro, público ou privado, nos quais se possa encontrar a identidade dos sócios da empresa. Por outro lado, o sigilo bancário é outro fator-chave para o desvio do patrimônio, pois oculta a origem e o destino do capital administrado, bem como os montantes transferidos e as datas das movimentações financeiras.400

A fraude é de fácil concretização, pois a transmissão de capital pode ser feita mediante empréstimo à offshore previamente adquirida, a qual normalmente está em nome de escritórios especialistas no assunto, que atuam por procuração ou por pagamento de “prestação de serviços”. Os empréstimos, regulamentados pelo Banco Central do Brasil, não exigem a necessidade de prévia autorização do BACEN, e são instrumentalizados através de contratos de câmbio. Apesar da facilidade do empréstimo, a figura mais hábil é a prestação de serviços, pois o fraudador

398 SILVA, Ruben Fonseca; WILLIAMS, Robert E. Tratados dos paraísos fiscais. São Paulo: Observador Legal, 1998, p.20. 399 BARBER, Hoyt L. Tax havens today: the benefits and ptfalls ok banking and investing offshore. New Jersey: John Willey &

Sons, Inc, 2006, p.34.

400 WALCHER, Guilherme Gehlen. Paraísos fiscais: a utilização de empresas offshore em Finanças Internacionais e os limites

da licitude. Monografia de conclusão de curso de Administração na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2008, p.30-31.

contrata a offshore de sua titularidade para buscar novos mercados estrangeiros e a contraprestação é pactuada por um contrato registrado na CACEX (Carteira de Comércio Exterior), pela qual tendo ou não o serviço sido prestado, o credor estrangeiro (offshore) emite uma fatura comercial e o pagamento não é tributado no destino, sendo um meio de fácil aportes para o exterior.401

Quando o desonesto não quer ultrapassar fronteiras, pode desvirtuar as normas dos regimes de bens com o uso de holdings, empresas diferentes das demais, pois ao invés de se preocuparem com o mercado em que atuam, são voltadas para interesses internos, como o próprio nome diz (to hold – segurar, controlar, guardar), é uma companhia cuja finalidade é manter os bens que a compõe, sejam eles móveis, imóveis ou quotas societárias.402 Essas empresas, quando constituídas antes do casamento celebrado pelo regime da comunhão parcial de bens, são utilizadas como guardiãs do patrimônio adquirido durante o matrimônio, principalmente investimentos financeiros e participações de empresas constituídas após o início da relação, sendo comum, quando não muito evidente a fraude, os julgadores excluírem das partilhas de bens sem a devida averiguação simplesmente por sua constituição ter ocorrido em data anterior à celebração das núpcias. Durante o casamento, as holdings são constituídas em nome de terceiros, normalmente filhos do relacionamento anterior, irmãos ou genitores, e de igual forma excluídas da partilha de bens, pois pertencentes, ao menos de forma aparente, a terceiros.

Desta feita, quando presente nos processos de divórcio offshore’s, ou holdings, ou ainda um emaranhado de empresas criado para frustrar a partilha de bens conjugais, deve o magistrado ter maior atenção, e sem hesitar, possibilitar uma profunda investigação das sociedades envolvidas, ainda que em nome de pessoas estranhas ao processo, pois muitas vezes somente com estudos técnicos é possível identificar a fraude e aclarar as mazelas societárias arquitetadas pelo cônjuge fraudador.

No documento Marina Pacheco Cardoso.pdf (páginas 124-126)

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