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Ação de sonegados

No documento Marina Pacheco Cardoso.pdf (páginas 89-92)

5 PARTILHA DE BENS NA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 1 Conceito de partilha de bens

5.2 Espécies de partilha de bens 1 Partilha de bens consensual

5.3.3 Ação de sonegados

A ação de sonegados deve ser intentada no juízo do inventário e seguir o rito ordinário. Será processada em vias próprias e conexa à primeira, quando não estiver finda a partilha, por se tratar de matéria de alta indagação.

Nos dizeres de Carlos Maximiliano,

considera-se de alta indagação toda disputa referente a sonegados; envolve, sempre, matéria de fato. Por isso, há de ser ventilada e decidida em processo contencioso; com exceção da providência urgente da remoção do inventariante, sobretudo necessária quando, intimado, recalcitre em não descrever certos bens; as penas respectivas só por meio de sentença proferida em ação ordinária, especial, os tribunais impõe; nunca em inventário, no qual se não fazem nem simples justificações comprovativas de que foram desviadas ou ocultas coisas partilháveis. Semelhante ação tanto pode ser proposta antes, como depois de ser concluída a divisão do ativo sucessório.284

No entanto, importante salientar que na prática, a omissão dos bens é resolvida no próprio processo de inventário, não chegando a ser objeto da ação de sonegados, pois os interessados arguem a falta de certos bens que deveriam ser arrolados, mas não foram, e o sonegador ao ser instado a se manifestar e apresentar justificativa pela ausência de descrição, consciente das sanções que poderá sofrer caso continue a insistir na ilicitude, acaba por optar pela inclusão do patrimônio escondido para evitar um mal maior. Este é o principal efeito buscado nas demandas originadas do Direito de Família, a coerção para bem pelo receio do pior.

Quando a ganância e a sensação de impunidade é maior que o medo de ser penalizado, a vítima da ocultação tem o prazo de dez anos a contar do ato irregular para ingressar com a ação de sonegados (CC, art.205).285

A legitimidade ativa para propositura da ação de sonegados é de todos os interessados na partilha dos bens, quer por herdeiro, cônjuge meeiro ou credor (CC, art.1.994). Somente os credores da herança podem mover a ação de sonegados, ou seja, aqueles que têm direito sobre os

284 MAXIMILIANO, Carlos. Direito das sucessões v.III. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1937, p.304.

285 Nesse sentido: AÇÃO DE SONEGADOS – INVENTÁRIO – DOAÇÃO INOFICIOSA TRAVESTIDA DE PRESCRIÇÃO –

PRAZO VINTENÁRIO, CONTADO DA PRÁTICA DE CADA ATO IRREGULAR –. A prescrição, na ação de sonegados, é vintenária, e conta-se a partir do ato irregular. Precedentes. III. (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Terceira Turma. AgRg nos EDcl no REsp: 1196946 RS 2010/0100211-0, Rel. Min. Sidnei Beneti, j.18/11/2010, DJe 21/03/2011).

bens envolvidos na partilha: os legatários, fideicomissários e testamenteiro ou inventariante que não sejam herdeiros. Em outras palavras, não são legitimados à ação de sonegados os credores do falecido, pois estes agem contra o espólio e para garantir eventual dívida, basta indicar para penhora o bem sonegado nos autos do inventário, já que a constrição não exige a declaração da sonegação.286

No tocante à legitimidade passiva, diverge a doutrina sobre a possibilidade de extensão da pena de sonegação ao cônjuge-meeiro que não ocupa a posição de herdeiro, pelo fato de o art.1.992 mencionar tão somente a “herdeiro que sonegar bens da herança”287. Contudo, esta não

parece ser a posição mais adequada, pois além de ser mais comum os casos de sonegação, o entendimento contrário está longe de atender à finalidade da norma, e mais que isto, importa em total afronta ao princípio processual que exige o tratamento isonômico das partes (CPC 1973, art.125, I; CPC 2015, art.139, I), pois, mesmo todos sendo interessados na partilha, somente pelo fato de não ser herdeiro, estaria o cônjuge isento da sanção enquanto os demais sujeitos a tal constrangimento pelo mesmo ato cometido.

Não bastasse, o art.1.993 do Código Civil imputa legitimidade passiva ao inventariante, sendo ou não herdeiro, de sorte que se o cônjuge-meeiro sonegar no exercício da inventariança, dúvida não há que deve ser submetido a ação de sonegados.288 Logo, além da remoção de inventariante, deve o cônjuge-meeiro ser penalizado, pois a mera perda do encargo não constituiria sanção à altura da gravidade da infração. Outra não pode ser a solução, pois poupar o meeiro, que na maioria das vezes é o sonegador, eliminaria ou, no mínimo, estancaria o poderoso estímulo do agir com probidade e boa-fé.289

Portanto, como recentemente consignou o Superior Tribunal de Justiça,

286 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 3ªRegião. Segunda Turma. AC: 26973 SP 2009.03.99.026973-6, Rel. Des. Fed.

Henrique Herkenhoff, j.03/11/2009).

287 Sustenta igualmente este entendimento: Maria Berenice Dias: “O inventariante também se sujeita à ação de sonegados, mas

somente se for herdeiro. Não há como acusá-lo de sonegação, se herdeiro não é. Caso omita descrever bens indicados pelos herdeiros, a hipótese não é de sonegação. Trata-se de ato ilícito e configura delito de apropriação indébita (CP 168). Além da ação indenizatória, por óbvio.” (DIAS, Maria Berenice. Manual das sucessões. São Paulo: RT, 2013, p.624. Jurisprudência: (BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação nº9154904-83.2004.8.26.0000, 3ª Câmara de Direito Privado, Rel. Carlos Alberto Garbi, j.13/09/2011; BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. 6ª Câmara de Direito Privado, DJe: 12/03/2015); BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 74.683/SP, Quarta Turma. Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j.30/10/1995).

288 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil – direito das sucessões. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 1964, p.302. 289 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil – direito das sucessões. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 1964, p. 302.

No mesmo sentido: Carlos Maximiliano (p.388), Silvio Salvo Venosa (p.227), Orlando Gomes (p.282) e Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (p.1.032).

não há dúvida de que todos os bens deixados pelo falecido transmitem-se aos herdeiros na forma da lei. Inclusive aqueles que compõem a meação necessitam ser declarados no inventário para que se saiba sobre o acervo sucessório a fim de se proceder à partilha dos bens. Havendo ocultação de bens, pode o sonegador ter de responder a ação de sonegação com as consequências a ela inerentes, entre as quais a restituição do bem ao montante, perdas e danos e perda do direito sobre o bem não declarado. [...] Ora, o fato de ser meeira não exime a inventariante de apresentar os bens a fim de que sejam partilhados, ato no qual será, evidentemente, respeitada a meação.290

Por se tratar de uma ação personalíssima e por nenhuma pena poder passar da pessoa do condenado, na hipótese de falecimento do sonegador do decurso do inventário, seus sucessores estarão livres da sanção, e receberão a parte que caberia ao morto do bem sonegado.291 No entanto, se a morte ocorrer depois do trânsito em julgado da sentença, os herdeiros do sonegador deixaram de receber o quinhão que ele perdeu em consequência da fraude cometida.292

Em face da universalidade da herança, a sentença na ação de sonegados é aproveitada por todos os demais interessados, independentemente de quem tenha assumido a legitimidade ativa da demanda.293 Conforme escreve Clóvis do Couto e Silva, a ação de sonegados é oblíqua, a medida que o autor não pede para si, mas o retorno do bem para ser partilhado entre os coerdeiros, excluindo o sonegador.294

A sentença tem dupla carga eficacial, constitutiva e condenatória, pois além de determinar a perda do direito sobre o bem ocultado, a sentença ordena a restituição do bem sonegado ou o do respectivo valor ao acervo comum, quando o bem não puder ser restituído. Porém, se o bem tiver perecido por caso fortuito ou força maior, o sonegador estará exonerado do dever de pagar o valor da coisa sonegada, pois neste caso não há a configuração do enriquecimento indevido.295 Em se tratando de desvio de dinheiro dos bens comuns para aquisição de algum bem, o sonegador deve ser compelido a repor a quantia desviada e não a coisa adquirida.296

290 BRASIL. REsp: 1267264 RJ 2011/0108267-7, Terceira Turma. Rel. Min. João Otávio de Noronha, j.19/05/2015, DJe:

25/05/2015).

291 CAHALI, Francisco José Cahali; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das sucessões. 3.ed. São Paulo:

RT, 2007, p.401.

292 MAXIMILIANO, Carlos. Direito das sucessões v.III. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1937, p.390.

293 VELOSO, Zeno. (Coord.) AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Comentários ao Código Civil. v.21.São Paulo: Saraiva, 2003,

p.399.

294 SILVA, Clóvis do Couto e Silva. Comentários ao Código de Processo Civil. v. XI, TI. São Paulo: RT, 1977, p.354. 295 GOMES, Orlando. Sucessões. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p.283.

6 DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO NA PARTILHA DE BENS

No documento Marina Pacheco Cardoso.pdf (páginas 89-92)

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