• Nenhum resultado encontrado

Partilha de bens litigiosa

No documento Marina Pacheco Cardoso.pdf (páginas 81-84)

5 PARTILHA DE BENS NA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 1 Conceito de partilha de bens

5.2 Espécies de partilha de bens 1 Partilha de bens consensual

5.2.2 Partilha de bens litigiosa

Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, poderão optar pelo processo arbitral, se já assim não fizeram na escritura do pacto antenupcial, ou proceder à divisão patrimonial no Poder Judiciário, aplicando os princípios genéricos252 e as regras materiais e processuais do sobrepartilha de bens em inventário, conforme o parágrafo único do art.1.121 do Código de Processo Civil de 1973 substituído pelo parágrafo único do art.731 da nova Lei Processual, cujo dispositivo faz a mesma remissão, ao dispor: “se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta depois de homologado o divórcio, na forma estabelecida nos arts.647 a 658.”

Largamente utilizada no direito empresarial, a arbitragem é uma alternativa viável para a solução dos conflitos gerados pela partilha de bens do casamento, pois consabido ser a questão patrimonial um direito disponível, é passível, portanto a escolha pelo procedimento arbitral pelos cônjuges antes do litígio, ou em momento anterior por meio de cláusula compromissória no pacto antenupcial. Conforme afirma Fabiana Domingues Cardoso, são diversas as razões para se adotar a arbitragem nos litígios patrimoniais advindos do casamento ou união estável, principalmente, pela agilidade na condução do processo, pois no Poder Judiciário não é nada incomum ações de partilha de bens ficarem décadas para serem solucionadas. Na arbitragem, em regra, o árbitro deve proferir o laudo no prazo de seis meses, não sendo esta decisão passível de recurso.253 Francisco Cahali, igualmente, defende a viabilidade da adoção da arbitragem nas relações familiares, e ressalva que o procedimento arbitral “permite aos interessados obter, com maior presteza, e por vezes, com custo reduzido, a definição de litígios sem percorrer sinuosos caminhos do Poder Judiciário.”254

Porém se os cônjuges não tiveram sucesso no acordo, nem na instauração da arbitragem, terão de enfrentar o pesado processo judicial, cuja partilha se processa perante o juiz nos moldes do inventário e da partilha pertinente ao Direito das Sucessões, como remetem o art.1.121 do Código de Processo Civil de 1972 e o art.731 da Lei nº13.105/2015.

252 MADALENO, Rolf Hanssen. Curso de direito de família. 4.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p.229. 253 CARDOSO, Fabiana Domingues. Regime de bens e pacto antenupcial. São Paulo: Método, 2010, p.173. 254 CAHALI, Francisco José. Contrato de convivência na união estável. São Paulo: Saraiva, 2002, p.250.

Apesar de importante parte da doutrina entender que a remissão legal seja exclusivamente no tocante à forma e ao procedimento do inventário255, por certo que inclusive as normas de direito material do Direito Sucessório, referente ao inventário, devem ser aplicadas à partilhas decorrentes do divórcio, pois como bem salientou o Ministro Ruy Rosado de Aguiar, no julgamento do Recurso Especial nº46.626256, somente assim poderá ser atendido o princípio insculpido no art.2.017 do Código Civil, da equidade e da igualdade na divisão patrimonial que regem toda e qualquer espécie de divisão de bens.

Aliás, com igual, ou inclusive maior rigor, devem ser aplicadas todas as regras que visem zelar pela igualdade da partilha e enraizar a boa-fé objetiva nas relações patrimoniais familiares, mormente quando decorrentes do divórcio, onde largamente maior e mais complexas são as fraudes cometidas. Não havendo como imaginar qualquer restrição ao inventário procedido pelos cônjuges, pois se a partilha judicial, conforme afirma Yussef Cahali, deve seguir em linhas gerais, o mesmo ritual da partilha sucessória, inclusive quanto à remoção de inventariante e remessa das partes às vias ordinárias, quando envolver questões de alta indagação, não há razão para que não seja aplicada todas as demais orientações, restrições, penalizações previstas para alcançar a mais justa e equânime divisão de bens, cuja regra de natureza material não diverge a doutrina, nem a jurisprudência em aplicar as partilhas decorrentes da dissolução do vínculo familiar.

Dito isto, em que pese remeter o Código de Processo Civil ao procedimento de inventário e partilha do Título I, Capítulo IX do Livro IV, convém sejam aplicadas aos inventários decorrentes do fim do casamento, as regras previstas no arts.1.991 a 2.027 do Código Civil,

255 Nesse sentido: Remissão existe, sim, no art.1.121, parágrafo único; não, porém, tal que abranja a disciplina na anulação da

partilha. O que aí se estatui é que, “se os cônjuges não acordarem sobre a partilha de bens, far-se-á esta, depois de homologado o desquite” (hoje “separação”), “na forma estabelecida neste Livro, Título I, Capítulo IX”. Abstraindo-se de quaisquer considerações atinentes à cláusula inicial – a hipótese dos autos é a de terem os cônjuges acordado sobre a partilha –, cuja letra sugere restrição talvez passível de ser superada em sede interpretativa, um ponto fica assente: compreendem-se na remissão unicamente as disposições que, no capítulo relativo ao inventário em sucessão mortis causa, disciplinem a forma da partilhada. Ora, o art.1.029 nada, absolutamente nada, tem que ver com a forma: trata-se de regra atinente à anulabilidade de partilha já realizada. A rigor, a norma é de direito material, heterotopicamente inserta no Código de Processo Civil. Situa-se, por conseguinte, fora do âmbito da remissão, à qual a lei de 1973, que poderia tê-la concebido em termos genéricos e irrestritos, preferiu, bem ou mal, fixar contorno apertado. A opção legislativa é clara, inequívoca, e diante dela não resta ao julgador senão curvar-se. (MOREIRA, José Carlos Barbosa. Direito aplicado I. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.47).

256 SEPARAÇÃO JUDICIAL. PARTILHA. DIVERGÊNCIA. INEXISTINDO CONSENSO ENTRE OS CÔNJUGES SOBRE A

PARTILHA DOS BENS, AINDA NÃO AVALIADOS, APLICA-SE A REGRA DO ART.1121 DO CPC. RECURSO CONHECIDO EM PARTE E PROVIDO PARA EXCLUIR DA SENTENÇA A PARTILHA DOS BENS. No mesmo sentido: (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça de São Paulo. AgRg no REsp: 1171641 2009/0239825-7. Terceira Turma, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Des.convocado do TJ/RS), j.07/04/2011, DJe: 14/04/2011 (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp: 46626 PI 1994/0010361-1. Quarta Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j.30/08/1994, DJ: 26/09/1994, p. 25656 RSTJ v.65 p.461 DJ 26.09.1994 p.25656 RSTJ v.65, p.461).

como inclusive deveriam todas as disposições sobre inventário (bens sonegados, colação, partilha, garantias de quinhões hereditários e anulação de partilha) ser tratadas em um único diploma legal, para evitar dispersão legislativa, conforme afirma Euclides de Oliveira.257

Exatamente este é o procedimento adotado em Portugal, como explica Tomé d’Almeida Ramião ao afirmar que “qualquer dos ex-cônjuges tem o direito a exigir a partilha dos bens, a qual pode ser feita extrajudicialmente, por acordo, ou em processo de inventário, no caso contrário, como flui dos arts.2.102º/1 do Código Civil, e 1.404.º do Cód.Proc.Civil.”258 Um

exemplo nítido dos portugueses de aplicação de regras de natureza material do inventário na partilha de bens é o momento de avaliação dos bens de acordo com a regra prevista para a atualização das doações sujeitas a colação (CC Português, art.2.019, 3º).259

Aliás, este também é o entendimento aplicado no ordenamento jurídico brasileiro, como ressalta Rolf Madaleno ao tratar do prazo de decadência ânuo da anulatória da partilha de bens: “embora o art.2.027 integre o quinto livro do Código Civil, pertinente ao Direito das Sucessões, Título IV, do inventário e da partilha, suas regras são aplicáveis às partilhas de bens conjugais e da união estável.”260

Como inequívoco podem as partilhas advindas do fim do matrimônio obedecer às regras simplificadas do arrolamento (CPC 1973, arts.1.031 a 1.038 e CPC 2015, arts.659 a 667).261

Enfim, é inquestionável que, em se tratando de divórcio, a partilha litigiosa que vier a suceder deverá filiar-se ao procedimento do inventário post mortem. Todavia, a dificuldade se apresenta quando se trata na aplicação da pena de sonegados às partilhas decorrentes da dissolução conjugal, pois conforme analisaremos no Capítulo 8 desta dissertação, a maior dificuldade está em verificar que na realidade não se trata de uma lacuna do direito ou de uma aplicação analógica, mas de uma remissão às regras do instituto como um todo, pois independente de sua origem, a partilha tem uma única finalidade: dividir e individualizar os bens de acordo com o princípio da equidade e da igualdade na divisão de bens, inerente as mais amplas espécies de divisão patrimonial.

257 AMORIM, Sebastião; OLIVEIRA, Euclides. Inventários e partilhas. 20.ed. São Paulo: Universitária de Direito, 2006, p.432. 258 RAMIÃO, Tomé d’Almeida. O divórcio e questões conexas – regime jurídico atual. 2.ed. Lisboa: Quid Juris, 2010, p.104. 259RAMIÃO, Tomé d’Almeida. O divórcio e questões conexas – regime jurídico atual. 2.ed. Lisboa: Quid Juris, 2010, p.109. 260 MADALENO, Rolf Hanssen. Curso de direito de família. 4.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p.339.

261 MALHEIROS FILHO, Fernando. O procedimento de partilha na separação judicial. In: CAHALI, Francisco José; CAHALI,

No documento Marina Pacheco Cardoso.pdf (páginas 81-84)

Documentos relacionados