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1.10 Instrumentos processuais de proteção à fauna

1.10.1 Ação civil pública

A ação civil pública tem como objetivo a reparação de danos morais e patrimoniais causados ao meio-ambiente; ao consumidor; à ordem urbanística; a

bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; por infração da ordem econômica e da economia popular; à ordem urbanística. (artigo 1º, da Lei nº 7.347/85).

Assim, como instrumento para a proteção do meio ambiente, e conseqüentemente da fauna, na esfera civil, temos a ação civil pública.

Nos termos do artigo 3º da Lei 7.347/85, a ação civil pública tem como objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.

Nos dizeres de Édis Milaré, “o objeto da ação vem a ser o pedido de providência jurisdicional que se formula para a proteção de determinado bem da vida.”82

Para referido autor, a condenação em dinheiro na ação civil pública ambiental, só faz sentido quando a reconstituição do bem ambiental danificado não é viável, fática ou tecnicamente. A regra consiste em buscar, por todos os meios razoáveis, a fruição do bem ambiental; assim, se a ação visar à condenação em obrigação de fazer (p.ex., plantar árvores nas áreas de preservação permanente; realizar reformas necessárias à conservação do bem tombado) ou de não fazer (p.ex., parar a exploração de recursos naturais em unidades de conservação; estancar o lançamento de efluentes industriais em um rio), o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva.83

A ação civil pública deve ser proposta no local onde ocorreu o dano ambiental (artigo 2º da Lei 7.347/85), podendo ser proposta pelo Ministério Público; Defensoria Pública; União, Estados, Distrito Federal e Municípios; autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista e associação desde que esta esteja

82 MILARÉ, Édis. op. cit. p.510. 83 Ibidem. p.511.

constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil e inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (artigo 5º da Lei 7.347/85).

No caso da ação civil pública ser proposta por associação, o Juiz poderá dispensar o requisito da pré-constituição, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (artigo 5º, § 4º da Lei 7.347/85).

Caso o Ministério Público não intervir no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei (artigo 5, § 1º da Lei 7.347/85).

Nos termos do artigo 5º, § 3º da Lei 7.347/85, havendo desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

A Lei 7.347/85 criou com exclusividade para o Ministério Público, na primeira parte do § 1º do artigo 8º, o instrumento do inquérito civil para a colheita de provas antes da propositura da ação civil pública, ao preceituar: “O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.”

Percebe-se pela leitura do dispositivo acima que a instauração do inquérito civil não é obrigatória, podendo o Ministério Publico propor de imediato a ação civil pública.

Pelo disposto no artigo 9º “caput” da Lei 7.347/85 se o Ministério Público, após de esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente. Nesse caso, os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público (§ 1º), que poderá homologar o pedido de arquivamento ou designar outro do Ministério Público para o ajuizamento da ação (§ 4º).

Importante consignar que pelo artigo 10 da Lei 7.347/85, constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.

Destaca-se ainda na Lei 7.347/85, o § 6º do artigo 5º, incluído pela Lei 8.078/90 (Código do Consumidor) que dispõe que “os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.”

Para Paulo Affonso Leme Machado, o termo “ajustamento” não significa transigência no cumprimento das obrigações legais, não podendo o Ministério Público fazer concessões de “interesses sociais e individuais indisponíveis” (artigo 127, caput, da CF), sendo inadmissível por parte do Ministério Público, dispor ou renunciar às obrigações legais.84

No entendimento de referido autor, o ajustamento refere-se a “obrigações legais”, onde se incluem comportamentos vinculados e discricionários, sendo que nos comportamentos vinculados não pode haver opção sobre sua exigibilidade imediata (a não ser que a legislação preveja prazos) e nos comportamentos discricionários, na análise da conveniência e oportunidade por parte da Administração Ambiental ou do Ministério Público, deverá ser levado em conta o interesse ambiental.85

Por fim, cumpre salientar o artigo 13, “caput”, da mesma norma legal, estabelecendo que “havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados.”

No entendimento de Paulo Affonso Leme Machado, o artigo acima transcrito foi uma das inovações da Lei da Ação Civil Pública, criando um fundo em que os recursos não advêm do Poder Executivo, mas das condenações judiciais, visando a recomposição dos bens e interesses lesados.86

De acordo com Laerte Fernando Levai87, em relação à proteção da fauna

podemos citar alguns exemplos de ações civis públicas propostas pelo Ministério Público, visando:

a) impedir rodeios, devido a utilização de instrumentos e métodos que causam dor e sofrimento aos animais, caracterizando maus tratos e crueldade;

85 MACHADO, Paulo Affonso Leme. op. cit. p.375. 86 Ibidem. p.377.

b) impedir apresentação de animais em circo, quando estas caracterizam abusos contra os animais;

c) impedir o abate de animais com métodos vedados por lei, por ocasionarem sofrimento a estes;

d) impedir a utilização irregular de animais silvestres em circos, dentre outras.