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Sobre os jardins zoológicos

Os jardins zoológicos são regulamentados pela Lei 7.173/83 que traz normas sobre seu estabelecimento e funcionamento.

Segundo essa lei considera-se jardim zoológico qualquer coleção de animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou em semi-liberdade e expostos à visitação pública (artigo 1º).

No tocante à proteção dos animais, merece destaque seu artigo 7º que estabelece que “as dimensões dos jardins zoológicos e as respectivas instalações deverão atender aos requisitos mínimos de habitabilidade, sanidade e segurança de

cada espécie, atendendo às necessidades ecológicas, ao mesmo tempo garantindo a continuidade do manejo e do tratamento indispensáveis à proteção e conforto do público visitante”.

Os alojamentos dos jardins zoológicos estão condicionados ao certificado de "habite-se" que será fornecido após a devida inspeção, pelo IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (artigo 8º), não podendo cada alojamento comportar número maior de exemplares do que aquele estabelecido e aprovado pela autoridade que concedeu o registro (artigo 9º), sendo obrigatório em cada zoológico a assistência profissional permanente de, no mínimo, médico-veterinário e um biologista (artigo 10).

O artigo 11 da lei em estudo preceitua que a “aquisição ou coleta de animais da fauna indígena para os jardins zoológicos dependerá sempre de licença prévia do IBDF, respeitada a legislação vigente.”

Enquanto o artigo 12 do mesmo diploma legal estabelece que “a importação de animais da fauna alienígena para os jardins zoológicos dependerá: a) do cumprimento do artigo 4º da Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967; b) da comprovação de atestado de sanidade fornecido por órgão credenciado do país de origem; c) do atendimento às exigências da quarentena estabelecidas pelo IBDF e d) da obediência à legislação em vigor e aos compromissos internacionais existentes.”

Percebe-se pela análise dos artigos 11 e 12 supracitados que a Lei 7.173/83

faz uma classificação da fauna em indígena e alienígena, terminologia esta que só

aparece nesta lei e são sinônimos, respectivamente, de fauna nativa e exótica. Deveria o legislador ter utilizado esta última denominação mais conhecida e

empregada pelos diplomas legais referentes à proteção da fauna, o que geraria uma maior uniformidade e efetividade na aplicação dessas normas.

Permite-se que os jardins zoológicos vendam seus exemplares da fauna alienígena (artigo 16, “caput”) e excepcionalmente, com autorização prévia do IBDF, vendam seus animais excedentes pertencentes à fauna indígena que tiver comprovadamente nascido em cativeiro nas instalações do jardim zoológico (artigo 16, § 1º), podendo ainda ocorrer permuta desses animais excedentes com indivíduos de instituições afins do país e do exterior (artigo 16, §2º).

Essas transações deverão ser muito bem fiscalizadas pelo órgão ambiental competente para nãofacilitar condutas ilegais, como o comércio e o tráfico ilegal de animais.

Uma das lacunas dessa lei é que embora ela estabeleça alguns requisitos para o estabelecimento e funcionamento dos jardins zoológicos ela não traz, em seu bojo, nenhuma sanção para aquele que não cumpri-los.

Laerte Fernando Levai, critica a Lei 7.1738/83, para ele trata-se de uma lei cruel para com os animais. Argumenta que embora os jardins zoológicos desempenhem um importante papel na formação ecológica e cultural dos povos, apresentando às crianças alguns animais silvestres que compõem a fauna do planeta, são verdadeiras “vitrines vivas.”208

No seu ponto de vista, os jardins zoológicos são muitas vezes precários e de dimensões restritas constituindo prisões perpétuas, já que retiram dos animais seu bem mais precioso, a liberdade. Além disso, vários animais são vítimas de agressões, como aconteceu em 2004, em São Paulo, na Fundação Parque

Zoológico, onde dezenas de animais (elefante, chimpanzés, dromedários, antas, orangotango, bisão, porcos-espinhos, tamanduá, etc) foram envenenados após a ingestão de fluoracetato de sódio (substância tóxica que causa náuseas, vômitos e convulsões, afetando o coração, rins e cérebro).209

Erika Bechara defendia, diante das finalidades imprescindíveis e inadiáveis dos Jardins Zoológicos, que a manutenção dos animais nestes estabelecimentos seria absolutamente necessária, não configurando o tratamento cruel repugnado pelo artigo 225, § 1º, inciso VII, in fine da Lei Máxima. Porém, modificou parcialmente seu entendimento, defendendo que os jardins zoológicos não deveriam ser extintos mas remodelados, uma vez, que da forma como funcionam atualmente, afastam-se totalmente de seus reais objetivos educacionais e recreativos, ficando muito próximos à crueldade dos animais, vedada pela Constituição Federal.210

Para esta autora:

Não há nada de educativo, por exemplo, na visão de animais silvestres, cuja natureza é viver livre e independente numa sintonia peculiar com o ecossistema que habita, aprisionados em jaulas de ferro que em nada lembram seu habitat natural e em nada reproduzem o seu estilo de viver, caçar, reproduzir, relacionar-se com animais da mesma espécie ou de espécies diversas, etc. Também não há nada de prazeroso ou relaxante na observação de animais presos, isolados, privados de liberdade e espaço para movimentação, por vezes apáticos, por vezes estressados, mas quase sempre sofrendo [...].211

Continua argumentando que os zoológicos:

Só se afastariam da crueldade de direito se optassem por modelos inovadores, que primam pela liberdade dos animais e pela reprodução fiel, tanto quanto possível, de seu habitat e de seus hábitos - cuidando sempre, é óbvio, de criar obstáculos naturais (fossos, montes, etc) que

209 LEVAI, Laerte Fernando. op. cit. p.50. 210 BECHARA, Erika. op. cit. p.8.

impeçam que os animais mais audaciosos ataquem os visitantes menos avisados.212

Por fim, expõe que o papel do jardim zoológico, atualmente não é só o de educação e lazer, mas também a reprodução em cativeiro de espécies ameaçadas de extinção.213

Embora concorde em muitos aspectos com a autora, principalmente no que se refere ao modo como os animais são mantidos nos jardins zoológicos, ou seja, enjaulados e em condições muito distantes das de seu habitat natural, é importante lembrar da pouca estrutura e apoio que a maioria dessas instituições possuem. Assim, para alcançar o modelo ideal de jardim zoológico, nos moldes retratado pela autora, ou seja, fiel às condições em que o animal vive em seu habitat natural, é necessário um incentivo financeiro por parte do Poder Público e até mesmo através de empresas privadas, através de parcerias.