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2.2 A proteção da fauna silvestre

2.2.2 Sobre a pesca

2.2.2.2 As modalidades de pesca

O artigo 2º do Decreto-Lei 221/67 classifica a pesca de acordo com sua finalidade em três categorias: comercial, desportiva e científica.

a) Pesca comercial

A pesca comercial é a que tem por finalidade realizar atos de comércio na forma da legislação em vigor (artigo 2º, § 1º do Decreto-Lei 221/67). Essa modalidade de pesca é tratada com mais detalhes no Capítulo II Decreto-Lei 221/67 que dispõe em seu título I, sobre as Embarcações Pesqueiras (artigos 5º a 17), em seu título II, sobre as Empresas Pesqueiras (artigos 18 a 21), em seu título III, sobre a Organização do Trabalho a Bordo das Embarcações de Pesca (artigos 22 a 25) e no título IV, sobre os Pescadores Profissionais.

b) Pesca Científica

A pesca científica é a exercida com a unicamente com fins de pesquisas por instituições ou pessoas devidamente habilitadas para esse fim (artigo 2º, § 3º do Decreto-Lei 221/67).

O artigo 32 do Decreto-Lei 221/67, preceitua que serão concedidas licenças permanentes especiais gratuitas aos cientistas das instituições nacionais que tenham por lei a atribuição de coletar material biológico para fins científicos.

Percebe-se que o cientista de instituição estrangeira não foi contemplado pelo Decreto-lei 221/67.

A lei não esclarece o que seria “licença permanente especial”.

A expressão “permanente” é um tanto perigosa, pois a coleta contínua e não controlada de material biológico poderá gerar seu esgotamento e o desequilíbrio do ecossistema em que faz parte. Assim deve o órgão ambiental competente fiscalizar essa coleta, verificando se ela está sendo feita de forma responsável e se realmente ela é necessária.

c) Pesca desportiva

A pesca desportiva é a que se pratica com linha de mão, por meio de aparelhos de mergulho ou quaisquer outros permitidos pela autoridade competente, e que em nenhuma hipótese venha a importar em atividade comercial (artigo 2º, § 2º do Decreto-Lei 221/67).

Aplica-se à pesca desportiva as mesmas observações feitas para a caça esportiva. Como já discutido, a violação à proteção da fauna, só se justifica se ela for imprescindível à sobrevivência ou à qualidade de vida do homem, o que não ocorre com a pesca esportiva, cujo principal objetivo é o lazer dos pescadores, que pode ser alcançada com outras atividades menos agressivas à fauna.

Erika Bechara ao comparar a pesca esportiva com a caça esportiva, conclui que, no tocante ao critério da necessidade, ambas são iguais, já que “não há nada que indique que a pesca esportiva - que tem os mesmos objetivos de lazer, competição, diversão da caça amadora - seja imprescindível ao bem-estar e qualidade de vida do ser humano.”151

Para ela, porém, na ótica do consentimento geral, a conclusão é diversa, entendendo que:

[...] a pesca de peixes, crustáceos e moluscos por esporte parece não ferir aqueles valores que a Constituição Federal, ao proibir a submissão dos animais a crueldade, busca velar. As pessoas em geral não se sentem feridas em seus sentimentos de compaixão e de piedade para com os animais por conta da “perseguição” e morte de determinados animais aquáticos. Talvez porque os peixes, crustáceos e moluscos não exteriorizem suas dores e sofrimentos da mesma forma que os demais animais, de forma a sensibilizar os humanos; talvez porque estejam acostumadas e condescendentes com esta prática já tão arraigada em nossos hábitos e em nossa cultura. O fato é que a pesca esportiva não é vista como prática cruel e violenta, mas, pelo contrário, prática socialmente consentida, principalmente se pensarmos que os animais pescados são consumidos pelos pescadores e convivas, indicando que a prática

não existe de per si, com o fito exclusivo de proporcionar diversão pela morte “alheia” (é como se o indivíduo que fosse comprar os frutos do mar na peixaria mais próxima invertesse o procedimento e capturasse-os no rio ou no mar ele próprio). Se aderirmos ao entendimento de que as práticas cultural e socialmente aceitas afastam a incidência do art. 225, § 1º, inciso VII, in fine da Carta Maior, então não vislumbraremos inconstitucionalidade na pesca desportiva.152

Discordo do entendimento da autora de que a pesca esportiva não se enquadraria na submissão dos animais aquáticos à crueldade, prática proibida pelo artigo 225, § 1º, inciso VII, in fine da Constituição Federal.

Embora concorde que as pessoas, em geral, aceitem mais facilmente a morte dos animais aquáticos, como expõe sabiamente Erika Bechara, devido a forma pouco expressiva de demonstrarem seus sentimentos e dores e a pesca ser considerada uma prática consentida, tais fatos não justificam distinguir a crueldade praticada no ato da pesca esportiva da crueldade praticada no ato da caça esportiva contra a fauna terrestre, em ambas as práticas tem-se a violação injustificável da proteção da vida do animal.

d) Pesca de subsistência

Embora não disciplinada pelo artigo 2º do Decreto-Lei 221/67, podemos afirmar que a pesca de subsistência é uma modalidade de pesca tão ou mais praticada que as demais modalidades acima citadas, já que é comumente realizada pelas populações indígenas e interioranas.

A pesca de subsistência é aquela praticada em pequena escala, cujo produto é destinado para saciar a fome do pescador e de sua família.

Visa-se com a pesca de subsistência, não o lazer e a diversão como ocorre

na pesca desportiva, mas o alimento para a sobrevivência do homem, motivo pelo

qual, sua prática, diferentemente do que exposto quando da análise da pesca desportiva não caracteriza submissão dos animais aquáticos à crueldade, prática vedada pelo artigo 225, § 1º, inciso VII, in fine da Constituição Federal. Tanto que a pesca de subsistência encontra respaldo no artigo 37, inciso I, da Lei 9.605/98 que não considera crime o abate de animal, incluindo os aquáticos, quando realizado em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família.

No mais, vale para a pesca de subsistência todas as considerações feitas quando da análise da caça de subsistência.