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Principais causas de extinção das espécies animais

Erika Bechara cita estudos desenvolvidos por G. Caughey, que traz como principais fatores relacionados à extinção das espécies: a) fragmentação e destruição dos habitats; b) a caça excessiva e o comércio ilegal; c) o impacto de espécies introduzidas em ecossistemas estranhos a ela e d) a extinção em cadeia, quando a extinção de uma espécie conduz a extinção da outra.69

1.8.1 Fragmentação e destruição de habitats

Habitat, segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, é o “lugar de vida de

um organismo ou o total de características ecológicas do lugar específico habitado por um organismo ou população.”70

A Convenção sobre Diversidade Biológica, da qual o Brasil é signatário, define habitat, como sendo o “lugar ou tipo de local onde um organismo ou população ocorre naturalmente.”71

Segundo Erika Bechara, os habitats dos animais e plantas são determinados pela própria natureza, o que dificulta a sobrevivência das espécies fora dele, motivo

69 BECHARA, Erika. op. cit. p.57.

70 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. op. cit. p.1020.

pelo qual o desmatamento de florestas, matas e poluição dos rios gera a extinção de várias espécies.72

Ressalta a autora, que não apenas as espécies originariamente ocupantes do

habitat destruído são vítimas da extinção, mas também as espécies migratórias que

vivem no habitat em determinadas épocas do ano, estão sujeitas aos riscos da extinção.73

Continua analisando os diplomas legais presentes em nosso ordenamento jurídico para a proteção da biodiversidade, como a Convenção da Biodiversidade, ratificada pelo Brasil, que orienta os países signatários a praticarem, além da conservação ex situ, que é a conservação de componentes da diversidade biológica fora de seus habitats naturais, a conservação in situ, que significa a conservação de ecossistemas e habitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades características.74

Cita, ainda, a importância da Constituição Federal para a conservação da biodiversidade biológica, uma vez que ela veda práticas que a comprometam e impõe ao Poder Público medidas preventivas, como a criação de espaços territoriais especialmente protegidos.75

1.8.2 Introdução de espécies exóticas

Todas as espécies possuem seu papel específico dentro do ecossistema fazendo com que este funcione de forma equilibrada e harmônica. Ao se introduzir

72 BECHARA, Erika. op. cit. p.59. 73 Ibidem. p.59.

74 Ibidem. p.60. 75 Ibidem. p.60.

uma espécie exótica nesse ecossistema, esta certamente gerará um desequilíbrio, pois irá competir com as espécies nativas ocasionando prejuízo a estas.

Nos dizeres de Erika Bechara:

Qualquer elemento estranho acaba por abalar a sintonia ótima em que se encontram os seres animados e inanimados do conjunto, seja porque competem com as espécies nativas - e muitas vezes tomam- lhe o lugar - seja porque destroem seus habitats, seja ainda porque apresentam-se-lhe como seus predadores.76

Vladimir de Passos Freitas e Gilberto de Passos Freitas, a respeito do assunto, citam o que ocorreu na Austrália em 1859, onde foram introduzidos 24 coelhos trazidos no navio Lightning e soltos perto de Greelong, no Estado de Vitória, que se proliferaram enormemente causando a destruição da vegetação, a erosão do solo para a construção de seus covis e a eliminação, quase total, dos marsupiais (mamíferos naturais da Austrália).77

Assim, para proteger as espécies nativas de uma eventual dizimação gerada pela introdução de espécies exóticas a Lei de Proteção da Fauna, em seu artigo 4º proibiu a introdução no país de qualquer espécie, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida na forma da lei.

Tal conduta, também, foi abarcada pela Lei 9.605/98 que em seu artigo 31 pune aquele que introduz espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente, com pena de detenção de três 3 meses a um ano e multa e pelo Decreto 3.179/99 que em seu artigo 12 considera ilícito administrativo tal conduta.

Importante observação é feita por Erika Bechara, ao trazer para a discussão sobre a introdução das espécies exóticas como um fator que pode ameaçar as

76 BECHARA, Erika. op. cit. p.64.

espécies nativas, os transgênicos, uma vez que esses, por possuírem um código genético próprio e diferente de qualquer outra espécie então existente, são uma nova espécie e como tal deve receber as mesmas cautelas e ressalvas das espécies exóticas, já que podem dizimar as espécies nativas pela exclusão competitiva ou pelo desequilíbrio e destruição de seus habitats naturais.78

1.8.3 Extinção em cadeia

Conforme já falado, cada espécie possui uma função específica no ecossistema e representa um elo na cadeia alimentar. A extinção de uma delas, gerará a extinção da espécie que dela necessita para sobreviver, resultando na extinção em cadeia das espécies e conseqüentemente no desequilíbrio ambiental.

Nos dizeres de Erika Bechara:

A eliminação de um nível trófico da cadeia induz, invariavelmente, à eliminação do nível trófico que lhe antecede e assim sucessivamente. Assim, se uma espécie animal que serve de presa a uma outra espécie é extinta, esta segunda espécie não tem mais como prover sua subsistência. Se não conseguir substituir sua “alimentação” por outros produtos existentes no respectivo habitat, certamente sucumbirá. E junto sucumbirá a biodiversidade e demais valores tão importantes para o homem.79

78 BECHARA, Erika. op. cit. p.66-67.

1.8.4 Caça e comércio ilegal

O comércio ilegal de animais silvestres acaba incentivando a caça ilegal desses animais. Os caçadores motivados pela procura de determinadas espécies da fauna silvestre, inclusive algumas ameaçadas de extinção, e munidos pela ganância, ignoram a função ecológica que esses animais desempenham, e os capturam de seu habitat gerando o desequilíbrio do meio ambiente e a conseqüente extinção da espécie capturada, bem como de outras que dela dependem.

Nesse sentido, Erika Bechara leciona que:

O caçador não tem a menor preocupação com a função ecológica que os espécimes capturados cumprem no ecossistema e com o desequilíbrio ambiental que a retirada dessa engrenagem pode causar. Não respeita os ciclos de reprodução dos animais nem mesmo as etapas de desenvolvimento. Essa irracionalidade, misturada à ganância, é que impede a renovação do estoque de exemplares de uma espécie e provoca, por fim, a sua extinção.80

Para Paulo Affonso Leme Machado, a caça incontrolada tem causado a extinção de espécies e ameaça a fauna silvestre não só no Brasil como de grande parte de países, no entanto, comenta que como o consumo de determinados animais está inserido na cadeia alimentar, na qual o homem faz parte, é necessário classificar a caça em suas diversas modalidades para se saber o que é permitido e o que é proibido.81

Embora o comércio e a caça profissional e predatória sejam proibidos, pelas leis que cuidam da proteção da fauna, como a Lei 5.197/67 e a Lei 9.605/98, tais condutas estão sendo praticadas de forma crescente, o que faz do tráfico de animais

80 BECHARA, Erika. op. cit. p.80.

silvestres o terceiro maior do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas.

Essas questões serão mais aprofundadas no capítulo referente ao tráfico de animais silvestres no Brasil.