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A proteção da fauna nas unidades de conservação

A lei 9.985/00 veio regulamentar o artigo 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, instituindo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC.

As Unidades de Conservação integrantes do SNUC dividem-se em dois grandes grupos com características específicas: I – Unidades de Proteção Integral e II - Unidades de Uso Sustentável (artigo 7º).

O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais (§ 1º do artigo 7º), enquanto o das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais (§ 2º do artigo 7º).

Dentre as várias categorias de Unidades de Conservação, interessa para o presente, por tratarem mais especificamente sobre a proteção da fauna, analisar duas categorias: Refúgio da Vida Silvestre (pertencente ao grupo das Unidades de Conservação de Proteção Integral) e Reserva da Fauna (pertencente ao grupo das Unidades de Conservação de Uso Sustentável).

A categoria do Refúgio da Vida Silvestre está disciplinada no artigo 13, sendo seu objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a

existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.

Pode ser constituída por áreas particulares desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários (§ 1º, artigo 13).

Caso não haja compatibilidade entre os objetivos estabelecidos para o Refúgio de Vida Silvestre e as atividades privadas ou o proprietário não concorde com as condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência desta com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada (§ 2º, artigo 13).

A visitação pública é permitida, mas está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, bem como àquelas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e em regulamento (§ 3º, artigo 13).

A pesquisa científica também é permitida, porém depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento (§ 4º, artigo 13).

A categoria da Reserva da Fauna é definida pelo “caput” do artigo 19, como “uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos”.

É uma unidade de conservação de posse e domínio públicos, assim caso haja áreas particulares incluídas em seus limites estas devem ser desapropriadas (§ 1º, artigo 19).

Permite-se a visitação pública, desde que compatível com o manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração (§ 2º, artigo 19).

A caça amadorística e a profissional são proibidas (§ 3º, artigo 19).

Os produtos e subprodutos resultantes da pesquisa poderão ser comercializados, desde que obedeçam ao disposto nas leis sobre fauna e os regulamentos (§ 4º, artigo 19).

Para José Eduardo Ramos Rodrigues, essa categoria de unidade de conservação é a mais mal regulamentada pela lei do SNUC. Ele argumenta que:

Embora seu objetivo fundamental seja a pesquisa científica, não existe um dispositivo específico para tratar do assunto, como se observa em todas as outras, salvo as Áreas de Relevante Interesse Ecológico. Assim, é de se aplicar a regra geral contida no § 2º do art. 32, que prescreve ser a realização de pesquisas científicas dependente de aprovação prévia e sujeita à fiscalização do órgão responsável por sua administração, respeitado o Plano de Manejo e seus regulamentos (art.28).228

Com relação à caça, merece registro a observação feita por José Affonso da Silva, que adverte que embora a lei proíba qualquer tipo de caça não proíbe expressamente a pesca, embora a fauna aquática faça parte da Reserva da Fauna, devendo então a disciplina da pesca ser regida pelo Decreto-lei 221 e pelas leis 7.643/87 e 7.679/88.229

Observa-se que enquanto na categoria do Refúgio da Vida Silvestre tem-se a proteção da flora e da fauna, na categoria da Reserva da Fauna, tem-se a proteção somente da fauna.

228 RODRIGUES, José Eduardo Ramos. O Refúgio da Vida Silvestre e a Reserva da Fauna:

Integrantes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Revista de Direitos Difusos. São Paulo: Esplanada-ADCOAS, fev. de 2002. p.1453.

Embora com algumas falhas, como as apontadas pelos autores citados, merece aplauso a intenção do legislador em estabelecer essas categorias, já que servem como mais um instrumento para a proteção de nossa fauna.

Ao finalizar este capítulo conclui-se que embora haja vários diplomas legais de proteção da fauna eles encontram-se esparsos, havendo, inclusive alguns dispositivos revogados, o que dificulta a aplicação efetiva dessa legislação.

3 A PROTEÇÃO DA FAUNA NA CONVENÇÃO SOBRE COMÉRCIO INTERNACIONAL DAS ESPÉCIES DA FLORA E FAUNA SELVAGEM EM PERIGO DE EXTINÇÃO – CITES

As catástrofes ambientais vêm anunciando a impotência do homem diante da destruição do meio ambiente e suas conseqüências, despertando uma preocupação mundial com a sobrevivência do planeta.

Tendo em vista que a fauna é um dos importantes elementos para o equilíbrio do meio ambiente e vem sofrendo uma constante exploração desordenada, este capítulo tem como objetivo um breve panorama das medidas internacionais existentes para sua proteção, em especial, no tocante ao comércio internacional das espécies da fauna em perigo de extinção

Muitas são as normas internacionais de proteção da fauna em que o Brasil é signatário, sendo uma das mais importantes e relevantes para o presente trabalho, a Convenção Sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagem em Perigo de Extinção - CITES.

Segundo Paulo de Bessa Antunes, dentro do contexto da perda de diversidade biológica, um dos elementos mais importantes é o tráfico internacional de espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção, motivo pelo qual a comunidade internacional dedicou-lhe a “Convenção sobre o Comércio internacional das espécies da flora e da fauna selvagem em perigo de extinção.”230

Estima-se que anualmente o comércio internacional da vida silvestre movimenta milhares de milhões de dólares e afeta centenas de milhares de espécimes de animais e plantas. O comércio é muito diverso, desde animais e

plantas vivos, até uma vasta gama de produtos deles derivados como produtos alimentícios, artigos de couro, madeira, produtos medicinais e outros.231

Os níveis de exploração de alguns animais e plantas são elevados e seu comércio, junto com outros fatores, como a destruição de seus habitats, são capazes de diminuir consideravelmente suas populações, levando-as ao perigo de extinção.232

Sabendo-se que o comércio internacional de animais e plantas silvestres ultrapassa a fronteira dos países, seria necessária a cooperação internacional para proteger certas espécies da exploração excessiva. Este espírito de cooperação está presente na CITES, que nasceu como resultado de uma reunião dos membros da IUCN (The World Conservation Union - União Mundial para a Conservação da Natureza) celebrada em 1963, sendo que seu texto foi aprovado por representantes de 80 países, em Washington, em março de 1973 e entrou em vigor em 1º de julho de 1975. Atualmente a CITES, conta com 172 membros, sendo um dos acordos

ambientais que tem o maior número de membros.233

Os países interessados aderem voluntariamente à CITES e a partir do momento que é feita a adesão, passam a ser denominados Partes da Convenção, sendo sua aplicação obrigatória. Cada parte deve promulgar sua própria legislação nacional para garantir que a CITES seja aplicada em nível nacional.234

O Brasil é signatário da CITES, tendo esta sido aprovada mediante o Decreto Legislativo nº 54 em 24 de junho de 1975 e promulgado pelo Decreto 76.623, em 17 de novembro de 1975.235

231 Disponível em: <http://www.cites.org/esp/disc/what.shtml>. Acesso em: 1 out. 2007. 232 Idem. Acesso em: 1 out. 2007.

233 Idem. Acesso em: 1 out. 2007. 234 Idem. Acesso em: 1 out. 2007.

Além dos decretos já referidos, responsáveis pela inserção da CITES, no ordenamento jurídico brasileiro, outros diplomas legais foram elaborados para complementá-los, entre eles, destaca-se o Decreto 3.607 de 21 de setembro de 2000 que dispõe sobre a implementação dessa importante Convenção, adaptando seus dispositivos à nossa legislação e à estrutura administrativa de nossos órgãos ambientais.