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Os ambientalistas Danielle Tetü Rodrigues e Laerte Fernando Levai defendem que os animais devem ser tratados como sujeitos de direitos e não como objetos de direito, devendo ser representados pelo Ministério Público.

59 BECHARA, Erika. op. cit. p.44. 60 MILARÉ, Édis. op. cit. p.173.

Danielle Tetü Rodrigues preceitua que:

[...] cumpre uma severa revisão do conceito de sujeitos de direito, da propriedade e titularidade dos sujeitos sobre as coisas, bem como da revisão principiológica do Direito em vigor, a permitir que, independentemente de novas leis que venham a vigorar futuramente em favor da fauna, o sistema jurídico atual abrigue o direito subjetivo e abstrato de todos os seres vivos.61

Argumenta referida autora, que a palavra “pessoa” conceituada sob o prisma jurídico, importa no ente suscetível de direitos e obrigações, ou seja, sujeito de direitos e titular das relações jurídicas e não em ser homem, assim, os animais por serem titulares de relações jurídicas podem ser considerados sujeitos de direitos, sendo incluídos na categoria de pessoas, possuindo o Ministério Público legitimidade para substituí-los em juízo.62

Laerte Fernando Levai, ao refletir sobre esta questão, entende que:

O reconhecimento de que existe um direito dos animais, a par do direito dos homens, não se restringe a divagações de cunho abstrato ou sentimental. Ao contrário, é de uma evidência que salta aos olhos e se projeta no campo da razão. Ainda que nosso ordenamento jurídico aparentemente defira apenas ao ser humano a capacidade de assumir direitos e deveres (no âmbito civil) e de figurar no pólo passivo da ação (no âmbito penal) - como se as pessoas, tão-somente elas, fossem capazes de integrar a relação processual na condição de sujeitos de direito - podem ser identificados imperativos éticos que, além da perspectiva biocêntrica, se relacionam ao bem-estar dos animais. O mandamento do artigo 225 § 1º, inciso VII, da Constituição Federal, não se limita a garantir a variedade das espécies ou a função ecológica da fauna. Adentrou no campo da moral. Ao impor expressa vedação à crueldade, permite considerar os animais como sujeitos jurídicos.63

Para ele, “o discurso ético em favor dos animais decorre não apenas da dogmática inserida neste ou naquele dispositivo legal protetor, mas dos princípios

morais que devem nortear as ações humanas.”64

61 RODRIGUES, Danielle Tetü. O direito & os animais. Curitiba: Juruá, 2006. p.110. 62 Ibidem. p.125-126.

63 LEVAI, Laerte Fernando. Direito dos animais. Campos do Jordão, SP: Mantiqueira, 2004. p.137. 64 Ibidem. p.137.

E conclui entendendo que:

Aqueles que sustentam a visão antropocêntrica do direito constitucional, que vêem o homem como único destinatário das normas legais, que vinculam ao bem-estar da espécie dominante o respeito à vida, que defendem a função recreativa ou cultural da fauna e que consideram os animais ora coisas, ora bens ambientais, afastando sua realidade sensível, rendem - deste modo - uma infeliz homenagem à intolerância, à insensatez e ao egoísmo. Porque o Direito não deve ser interpretado como mero instrumento de controle social, que garante interesses particulares e que divide bens. Deve projetar-se além da perspectiva privada, buscando a retidão, a solidariedade e a virtude, para que se torne generoso e justo.65

Em sentido contrário, encontramos a lição de Erika Bechara afirmando que:

Por mais que o reconhecimento dos direitos da natureza afigure-se atitude das mais nobres e das menos reacionárias, nós, cientistas do direito, antes de nos posicionarmos, devemos nos ater principalmente ao tratamento que o ordenamento jurídico dispensa aos entes naturais, i.e, qual a vertente adotada pelo sistema legal com relação à proteção do meio ambiente: a natureza é sujeito de direitos e obrigações ou é objeto de direito, fazendo porém, jus a proteção constitucional e legal na exata medida em que preserva a vida humana?

Ficamos com a segunda posição.

Por mais que esta visão tenha uma aparência egoísta, somos obrigados a reconhecer que nosso ordenamento jurídico não confere direitos à natureza, aos bens ambientais. São eles, dessa forma, tratados como objetos de direito, não como sujeitos. São objetos que atendem a uma gama de interesses dos sujeitos – os seres humanos.66

Para respaldar sua opinião referida autora cita a Constituição Federal, a Declaração de Estocolmo de 1972 e a Declaração do Rio de Janeiro de 1992, onde impera a visão antropocêntrica, onde a proteção do meio ambiente é apenas um meio de se alcançar o objetivo maior que é a proteção da vida humana.67

65 LEVAI, Laerte Fernando. op. cit. p.138. 66 BECHARA, Erika. op. cit. p.72.

Cita ainda, Erika Bechara, alguns doutrinadores que compartilham de sua opinião como Álvaro Luiz Valery Mirra, Nestor José Forster e Paulo Affonso Leme Machado, merecendo destaque o ensinamento deste último que, ao alegar que o homem está no centro das preocupações do desenvolvimento sustentado, afirma que:

Onde há centro, há periferia. O fato de o homem estar no centro das preocupações como afirma o mencionado princípio nº 1 (da Declaração do Rio de Janeiro) não pode significar um homem desligado e sem compromissos com as partes periféricas ou mais distantes de si mesmo. Não é o homem isolado ou fora do ecossistema, nem o homem agressor desse ecossistema.68

Com razão os autores que defendem que a fauna é objeto e não sujeito de direitos. Embora no campo moral e ético, possamos ter uma relação de igualdade com os animais, tratando-os como “pessoas”, juridicamente isso não é possível. Não podemos considerar os animais como sujeitos de direito, pois tal entendimento não se coaduna com a legislação de proteção da fauna existente em nosso ordenamento jurídico, onde a preocupação com os animais tem como objetivo maior o alcance da sadia qualidade de vida do homem.

No entanto, a tendência ambiental é considerar o animal como sujeito e não objeto de direitos.

Nesse sentido, por exemplo, pode-se traçar um paralelo entre um animal, que não possui o uso da razão e uma pessoa interditada, qual seria a diferença entre ambos? A pessoa interditada para a legislação vigente é um sujeito de direitos, sendo representada pelo seu curador, assim o animal também seria um sujeito de direitos e poderia ser representado pelo Ministério Público, na função de curador do

meio ambiente? Cabe lembrar que os seres humanos, que possuem o uso da razão, são os curadores do meio ambiente, tendo o dever de zelar por ele.

Esta é uma questão aberta que somente o tempo, com a evolução da legislação e da doutrina, trará a solução.