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As infrações contra a fauna aquática

2.2 A proteção da fauna silvestre

2.2.2 Sobre a pesca

2.2.2.4 As infrações contra a fauna aquática

Importante destacar, para o presente trabalho, que alguns comportamentos que prejudicam a fauna aquática são punidos pela legislação vigente.

Preceitua o artigo 34 do Decreto-Lei 221/67 que “é proibida a importação ou a exportação de quaisquer espécies aquáticas, em qualquer estágio de evolução, bem como a introdução de espécies nativas ou exóticas nas águas interiores, sem autorização da SUDEPE.”

Pelo artigo 56 do mesmo Decreto-Lei, aquele que pratica a conduta acima descrita será punido com multa de um décimo até um salário-mínimo vigente, dobrando-se a multa na reincidência.

Mais recentemente, o artigo 23 do Decreto 3.179/99 regulamentou na esfera administrativa a conduta do artigo 34 do Decreto–lei 221/67, estabelecendo para o infrator, multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais).

As condutas de “exportar” e “introduzir” também são consideradas ilícitos penais pela Lei 9.605/98, e como os dispositivos legais que tratam do assunto não fazem distinção em relação à espécie animal protegida, a fauna aquática está abrangida por eles, estando os infratores sujeito às sanções penais e administrativas.

Pelo artigo 29, § 1º, inciso III, da Lei 9.605/98, aquele que exporta larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, será apenado com detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.

Já pelo artigo 31 da Lei 9.605/98, aquele que introduzir espécimes animais no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente, será punindo na esfera penal com pena de detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.

As condutas acima também foram regulamentadas pelo Decreto 3.179/99 que estipula em seu artigo 11, § 1º, inciso III:

Multa de R$ 500,00 (quinhentos reais), por unidade com acréscimo por exemplar excedente de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por unidade de espécie constante da lista oficial de fauna brasileira ameaçada de extinção e do Anexo I da CITES; e II - R$ 3.000,00 (três mil reais), por unidade de espécie constante da lista oficial de fauna brasileira ameaçada de extinção e do Anexo II da CITES.

Para aqueles que cometem a infração descrita no artigo 29, § 1º, inciso III, da Lei 9.605/98 e em seu artigo 12, é prevista:

Multa de R$ 2.000,00 (dois mil reais), com acréscimo por exemplar excedente de R$ 200,00 (duzentos reais) por unidade; II - R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por unidade de espécie constante da lista oficial de fauna brasileira ameaçada de extinção e do Anexo I da CITES; e III - R$ 3.000,00 (três mil reais), por unidade de espécie constante da lista oficial de fauna brasileira ameaçada de extinção e do Anexo II da CITES.

Já, o artigo 35 do Decreto-Lei 221/67, dispõe que:

É proibido pescar:

a) nos lugares e épocas interditados pelo órgão competente;

b) em locais onde o exercício da pesca cause embaraço à navegação;

c) com dinamite e outros explosivos comuns ou com substâncias que em contato com a água, possam agir de forma explosiva;

d) com substâncias tóxicas;

e) a menos de 500 metros das saídas de esgotos.

§ 1º. As proibições das alíneas "c" e "d" deste artigo não se aplicam aos trabalhos executados pelo Poder Público, que se destinem ao extermínio de espécies consideradas nocivas.

§ 2º. Fica dispensado da proibição prevista na alínea a deste artigo o pescador artesanal que utiliza, para o exercício da pesca, linha de mão ou vara, linha e anzol.

A violação às alíneas a e b do artigo 35 do Decreto-lei 221/67 ocasiona multa de 1/10 (um décimo) até 1 salário mínimo vigente (artigo 56 do Decreto-Lei 221/67). Já a violação à alínea e do artigo 35 do Decreto-lei 221/67 gera multa de 1/10 (um décimo) até metade de um salário mínimo (artigo 55 do Decreto-Lei 221/67). Ainda, caso o agente pratique a pesca nos termos das alíneas c e d do artigo 35 do Decreto-Lei 221/67 é estipulado multa de 1 (um) a 2 (dois) salários mínimos (artigo 57do Decreto-Lei 221/67).

Também a Lei 5.197/67 (Lei de Proteção da Fauna), traz em seu bojo, dispositivos que visam à proteção da fauna aquática.

As penas referentes às violações dos dispositivos da Lei 5.197/67 sofreram modificações pela Lei 7.653/88 de 12 de Fevereiro de 1988 que alterou a redação dos artigos 18, 27, 33 e 34 da Lei 5.197/67, estipulando penas mais severas e tornando os crimes inafiançáveis.

No tocante à proteção da fauna aquática, a Lei 7.653/88 introduziu ao artigo 27 da Lei 5.197/67, os parágrafos 2º, 3º e 4º.

Pelo § 2º do artigo 27 da Lei 5.197/67, aquele que provocar, pelo uso direto ou indireto de agrotóxicos ou de qualquer outra substância química, o perecimento de espécimes da fauna ictiológica existente em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou mar territorial brasileiro, será punido com pena de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

No § 3º do artigo 27 da Lei 5.197/67, está previsto que aquele que praticar pesca predatória, usando instrumento proibido, explosivo, erva ou substância química de qualquer natureza, estará sujeito à pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos.

E o § 4º do artigo 27 da Lei 5.197/67 estipula a proibição de pescar no período em que ocorre a piracema, de 1º de outubro a 30 de janeiro, nos cursos d'água ou em água parada ou mar territorial, no período em que tem lugar a desova e/ou a reprodução dos peixes; estando aquele que infringir esta norma sujeito à pena de multa de 5 (cinco) a 20 (vinte) Obrigações do Tesouro Nacional - OTN e suspensão da atividade profissional por um período de 30 (trinta) a 90 (noventa) dias, se pescador profissional; multa de 100 (cem) a 500 (quinhentas) Obrigações de Tesouro Nacional - OTN e suspensão de suas atividades por um período de 30 (trinta) a 60 (sessenta) dias, se empresa que explora a pesca e multa de 20 (vinte) a 80 (oitenta) Obrigações do Tesouro Nacional - OTN e perda de todos os instrumentos e equipamentos usados na pescaria, se pescador amador.

Muitos foram os protestos por parte dos pescadores, principalmente quanto à proibição da pesca no período da desova ou reprodução dos peixes (piracema). As associações de pescadores profissionais alegavam que o período varia de acordo com a região e que tal vedação de forma genérica levaria à miséria milhares de pescadores.155

Assim foi promulgada a Lei 7.679/88 que revogou expressamente em seu artigo 11, o § 4º do artigo 27 da Lei 5.197/67 (que havia sido incluído pela Lei 7.653/88), estabelecendo em seu artigo 2º que:

O Poder Executivo fixará, por meio de atos normativos do órgão competente, os períodos de proibição da pesca, atendendo às peculiaridades regionais e para a proteção da fauna e flora aquáticas, incluindo a relação de espécies, bem como as demais medidas necessárias ao ordenamento pesqueiro.

Agiu acertadamente o legislador ao estabelecer que os períodos de proibição da pesca, irão variar de acordo com a região. Nada mais justo, já que cada região possui seus peixes característicos, com ciclos de reprodução específicos.

A Lei 7.679/88 também elencou em seu artigo 1º as proibições referentes à pesca:

Fica proibido pescar:

I - em cursos d'água, nos períodos em que ocorrem fenômenos migratórios para reprodução e, em água parada ou mar territorial, nos períodos de desova, de reprodução ou de defeso;

II - espécies que devam ser preservadas ou indivíduos com tamanhos inferiores aos permitidos;

III - quantidades superiores às permitidas; IV - mediante a utilização de:

a) explosivos ou de substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante;

b) substâncias tóxicas;

c) aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos; V - em época e nos locais interditados pelo órgão competente;

VI - sem inscrição, autorização, licença, permissão ou concessão do órgão competente.

§ 1º Ficam excluídos da proibição prevista no item I deste artigo os pescadores artesanais e amadores que utilizem, para o exercício da pesca, linha de mão ou vara, linha e anzol.

§ 2º É vedado o transporte, a comercialização, o beneficiamento e a industrialização de espécimes provenientes da pesca proibida.

Pelo artigo 8º de referida lei, a violação do disposto nas alíneas a e b do item IV do artigo 1º é punível com pena de reclusão de três meses a um ano.

Mais recentemente, a Lei 9.605/98 no capítulo referente aos Crimes Ambientais, na seção destinada aos crimes contra a fauna, descreveu em seus artigos 33 a 35, condutas delituosas visando à proteção da fauna aquática, motivo pelo qual, os delitos contra a fauna aquática previstos pelas leis acima citadas, cuja conduta seja idêntica à descrita nos dispositivos penais referidos, foram revogados tacitamente pela Lei 9.605/98.

Dispõe o artigo 33 da Lei 9.605/98 que:

Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas:

I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de aqüicultura de domínio público;

II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licença, permissão ou autorização da autoridade competente;

III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica.

A conduta acima descrita também é ilícito administrativo regulamentada no artigo 18 do Decreto 3.179/99, que estipula multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) para os infratores.

Já o artigo 34 da Lei 9.605/98 estabelece que:

Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:

I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos permitidos;

II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;

III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas.

Observa-se que para se verificar se ocorreu ou não o crime do artigo 34 será necessário socorrer-se de normas administrativas, provenientes dos órgãos ambientais competentes. Estes é que irão fornecer as informações para se saber quais os locais proibidos para a pesca, quais as espécies a serem preservadas, qual o tamanho das espécies que podem ser pescadas, qual a quantidade de pesca permitida, dentre outras. Importante lembrar que tais normas irão variar de acordo com a região.

De forma clara, ensina Paulo Affonso Leme Machado

O crime do art. 34 faz parte das normas penais em branco. Ele não se concretiza a não ser com a adição de normas administrativas. O Direito Penal Administrativo fica na dependência de normas claras e que antecipem às condutas predatórias da fauna aquática. Os órgãos públicos ambientais federais e estaduais é que vão definir qual o período em que a pesca é proibida, os lugares de pesca interdita, as espécies que devem ser preservadas, os tamanhos mínimos dos espécimes a serem pescados, a quantidade de pesca permitida e os aparelhos, petrechos, técnicas e métodos proibidos e/ou admitidos.156

A conduta do artigo 34 também é regulamentada na esfera administrativa, pelo artigo 19 do Decreto 3.179/99, cominando ao infrator multa de R$ 700,00 (setecentos reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), com acréscimo de R$ 10,00 (dez reais), por quilo do produto da pescaria.

Ainda sobre a pesca, temos o artigo 35 da Lei 9.605/98 dispondo que: “pescar mediante a utilização de: I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante; II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente: Pena - reclusão de um ano a cinco anos.”

Percebe-se pela interpretação do conteúdo do artigo acima que seu objetivo foi penalizar mais severamente a pesca praticada com a utilização de explosivos e substâncias tóxicas, já que seus efeitos são muito mais maléficos ao meio ambiente afetando não só a fauna ictiológica, mas todo ecossistema atingido.

Esse artigo revogou tacitamente o artigo 8º da Lei 7.679/88.

Na esfera administrativa, a conduta do artigo 35 está regulamentada pelo artigo 20 do Decreto 3.179/99 que impõe ao infrator multa de R$ 700,00 (setecentos reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), com acréscimo de R$ 10,00 (dez reais), por quilo do produto da pescaria.

Pelo exposto, constata-se que a proteção legal da fauna aquática é um tanto confusa, gerando uma certa dificuldade em identificar quais os dispositivos que estão em vigor e quais as penalidades impostas.

Pela leitura e comparação dos dispositivos acima, pode-se concluir que além do artigo 8º da Lei 7.679/88, outros dispositivos também foram revogados. A Lei 9.0605/98 ao reproduzir em seus artigos 34 e 35 as proibições relativas à pesca previstas no artigo 1º da Lei 7.679/88, acabou revogando tacitamente este artigo, bem como, os § 2º e § 3º do artigo 27 da Lei 5.197/67 introduzidos pela Lei 7.653/88.