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A AÇÃO DOS CONTRATISTAS , ENCARREGADOS DE RECRUTAR TRABALHADORES DENTRO DO

CARIBE

As companhias possuíam no seu quadro de empregados homens que exerciam o ofício de buscar e contratar trabalhadores, que recebiam o valor de $100,00 mensais. Para esse exercício era necessário ter uma certificação do governo cubano. Haitianos também se dedicavam a contratar trabalhadores em seu país, o efetivo pago aos contratistas haitianos era o mesmo pago aos cubanos.

Cuban Canadian Sugar Company S.A. Ingenio de Cauto

Oriente, Cuba Nov. 25 de 1927

Sr. Gobernador de la Província de Oriente Muy estimado Sr.:

Conste por la presente que el Sr. Odelon Plácido, de 32 años de edad, natural de Haiti, soltero, dedicado a los trabajos de campo, está empleado por esta compañia em buscar cortadores de caña.

El Sr. Plácido se presenta para conseguir el certificado correspondiente, y con gracias anticipadas por su ayuda al efecto, quedo.

De Vd. Muy atentamente,

Um recurso usado, pelos contratistas para destituir os trabalhadores negros do Caribe de sua identidade original era o emprego de nomes cubanos assim que esses trabalhadores chegavam às empresas.

A desapropriação do nome original também foi uma estratégia utilizada pelos escravistas no passado para destituir o escravo de sua identidade original e submetê-lo à sua nova realidade, despersonificando-o, destituindo-o de seus valores originários.

Embora essa prática fosse feita pelos contratistas, na memória dos outros trabalhadores a idéia que se tinha era de que os próprios haitianos se auto- nominavam, como podemos ver neste depoimento,

R: Yo recuerdo a uno que se llamaba Domplín - ellos se ponían nombres al llegar aquí a Cuba, había quien se ponía - un ejemplo un colono, yo conocí a un colono que se llamaba Eladio Taño y llegaron unos haitianos de allá afuera y hubo uno que se puso Eladio Taño, se quitó el nombre y dondequiera que iba era Eladio Taño. A ellos les gustaban los nombres de los cubanos pero de los cubanos que eran gentes de posibilidades, si, de los patronos vinculados al negocio (RAFAEL CEDEÑO VERDECIA. ENTREVISTA CONCEDIDA À OLGA CABRERA.GRANMA,16 DE MAIO DE 1992).

Alguns contratistas por serem haitianos, como podemos verificar no documento abaixo, exploravam seus concidadãos, alguns se aproveitavam do fato dos trabalhadores desconhecerem as regras dos contratos formulados pelas empresas e cobravam uma porcentagem sobre os salários dos trabalhadores haitianos pelo simples fato de conseguir-lhes emprego.

TERCERA ORDEN PUBLICO

FERNANDO CUESTA Y MORA, SECRETARIO DE LA ADMINISTRACIÓN PROVINCIAL DE ORIENTE

Certifico: que según escrito dirigido al señor Gobernador por el señor Sub-Administrador del ingenio Rio Cauto, Cuban Canadian Sugar Company S.A. el señor Odelon Plácido, natural de Haiti, mayor de edad, es empleado de la referida finca y se encuentra autorizado para la contratación y condución de braceros para las labores de la zafra entrante para el mencionado ingenio.

Y a fin de que por los Agentes de la Autoridad de la Província, se le ofrezca la garantia necesaria, de orden del Sr. Gobernador, expido, sello y firmo la presente, en Santiago de Cuba, a los ventinueve dias del mes de noviembre del mil novecientos ventisiete (ARCHIVO PROVINCIAL DE SANTIAGO DE CUBA, AÑO 1927, LEG.310, SIG.3).

Em resposta a este pedido é expedida uma ordem pública que autoriza ao contratista exercer seu ofício, este era responsável pelos gastos com o transporte e a alimentação dos trabalhadores. Também era de sua responsabilidade transportar de volta os trabalhadores aos seus paises quando a safra terminava; os gastos com o transporte eram subsidiados pelas companhias açucareiras, mas nem sempre esse acordo era cumprido e ao final das safras vários imigrantes haitianos e jamaicanos eram abandonados pelas empresas, tendo que permanecer em Cuba por não ter como retornar ao seu país de origem. Parte desse contingente se dirigia para as lavouras de café, e demais atividades agrícolas, outros que não conseguiam emprego perambulavam pelos campos e pelas ruas.

As autoridades provinciais recorriam às empresas que contratavam os trabalhadores antilhanos para que essas providenciassem uma solução para a situação dos antilhanos, mas as empresas tão pouco se empenhavam para solucionar o problema, pois os imigrantes que permaneciam na região serviam para o trabalho nas safras seguintes, tornando-se assim uma mão-de-obra de reserva para as companhias, que economizavam com o fato de não transportá-los de volta aos seus países e assim ter que novamente contratá-los na safra seguinte.

Segundo os documentos do Gobierno Provincial, esses casos não eram isolados, ou seja, acontecia sempre por ocasião do fim da safra. A posição das empresas açucareiras em não cumprir com o contrato deixava claro que era obrigação das empresas transportarem de volta os imigrantes antilhanos contratados, nos leva a duas conclusões, a primeira de que para as empresas era mais lucrativo manter parte desses imigrantes, mesmo que de forma “não intencional”, em Cuba, pois assim teria um exército de reserva para as safras seguintes diminuindo desta forma os gastos com todo o processo na contratação desses trabalhadores e segundo, destinaria para o próprio governo cubano o gasto com o transporte da repatriação dos mesmos. O fato é que os documentos demonstram que o Gobierno Provincial era quem tinha que intermediar entre contratistas e empresas açucareiras o meio viável para resolver a situação dos haitianos e jamaicanos que mendigavam pelas ruas da capital, Santiago de Cuba.

Era habitual ler na imprensa os assaltos às lojas de animais, etc., dos quais eram acusados somente os haitianos. O temor de maior complicação na ordem social motivou para que empreendessem com todo rigor a repressão por

parte do exército e da Guarda Rural. Em realidade, para muitos haitianos e jamaicanos e camponeses cubanos empobrecidos, aquela era uma reação lógica das massas famintas às escassas vias existentes para poder subsistir na encruzilhada em que estavam presos. O espanhol recebia uma ajuda decisiva de seus compatriotas e em particular do Consulado Espanhol de Havana. De igual modo, atuavam em seu favor poderosos interesses econômicos espanhóis que controlavam o comércio mayorista e minorista; de maneira similar. O Diário de la Marina, órgão da imprensa à serviço da burguesia, e os setores mais conservadores da igreja Católica, realizaram uma notória campanha publicitária em favor dos desocupados espanhóis; a mesma conseguiu em poucas semanas a cifra de 50.000 pesos; asseguravam com isso a repatriação de milhares de trabalhadores espanhóis (PRIMELES,1955, P.404). Para o resto da massa trabalhadora a situação era diferente.

A crise no preço do açúcar nos anos vinte se interpõe na relação dos imigrantes antilhanos com as empresas açucareiras que por essa razão se vêem descompromissadas com a repatriação; um fato ocorrido no mês de outubro de 1920 no Central Preston de propriedade da UFC, serve como exemplo do tratamento inumano e da violência com que eram tratados haitianos e outros imigrantes das Antilhas Menores, onde cerca de 2.000 imigrantes haitianos reivindicaram da empresa – baseados conforme o estabelecido nas leis cubanas de imigração – que fossem repatriados para o Haiti, a gerência do central através de sua guarda particular reagiu violentamente ao protesto e vários desses imigrantes foram mortos (PRIMELLES, 1955, p. 241).

CAPÍTULO V

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