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F IGURA 4 – O RGANOGRAMA SÓCIO ECONÔMICO DAS TRÊS PRIMEIRAS DÉCADAS DA REPÚBLICA CUBANA 17

As conseqüências econômicas e sociais dessa medida tiveram impácto no projeto nacional formulado para Cuba pelos seus representantes políticos, herdeiros do pensamento autonomista do século XIX que queriam uma Cuba branca e criolla. A migração antilhana composta basicamente de negros, como já destacamos, provocou uma reação naqueles que acreditavam que essa medida significaria um retrocesso da nação. As prerrogativas que levaram as grandes empresas açucareiras a contratar a mão-de-obra antilhana serão discutidas nos próximos capítulos, o que queremos destacar aqui é que essa medida esbarra em um interesse particular da elite criolla cubana, que tinha como objetivo um projeto nacional fincado nas raízes de ideais racistas, que priorizava os valores implantados por séculos pela colonização espanhola, que mesmo a violenta Guerra de Açúcar Governo cubano Burguesia comercial e industrial Contratação de trabalhadores (Imigração)

Independência contra sua metrópole, não pôde mudar. O branco continuava sendo o símbolo de civilização, progresso e prosperidade e o negro, símbolo do atraso, de tudo que era negativo para o desenvolvimento pleno do país. Esse pensamento da burguesia nacionalista cubana vai ser exposto durante o debate sobre a necessidade de se contratar trabalhadores estrangeiros para as safras da cana. Ao classificar a migração antilhana de temporária ou golondrina, poderíamos perguntar porque a burguesia cubana temia que a entrada desses trabalhadores em Cuba interferisse no Projeto Nacional, contribuindo para o aumento da porcentagem de negros. Embora fosse uma migração temporária, muitos desses imigrantes por diversos fatores permaneciam em Cuba depois das safras, como veremos nos próximos capítulos e mesmo aqueles que retornavam para seus países, viajavam a Cuba nas safras seguintes.

A contratação dos trabalhadores antilhanos sofrerá uma acirrada oposição dessa burguesia, que infere argumentos discriminatórios expostos pela imprensa, baseados em critérios sanitários e criminológicos18 para impedir a entrada deles em Cuba.

Embora classificados como ‘migração indesejável’ veremos que esses imigrantes lograram inserir-se na sociedade cubana e sua presença na região oriental de Cuba foi fundamental para a reavaliação das questões raciais existentes no país. A relação entre esses imigrantes e os trabalhadores cubanos, no entanto, deve ser analisada considerando-se que as próprias empresas contratantes dessa mão-de-obra também empregavam internamente em suas instalações, parâmetros raciais para separar os trabalhadores, e essa divisão colocava negros cubanos e

18 A criminologia como ciência teve como precurssores a César Lombroso, Rafael Garófalo e Enrico Ferri, teóricos da Scuola Positiva ou Nuova Scuola. César Lombroso, nasceu em Verona, Itália, em 6 de novembro de 1835, de familia com posses teve uma infância fácil e cheia de gratificações. Estudou medicina e realizou sua tese de doutorado sob o titulo “Studio su Cretinismo en la Lombardia”. No ano de 1871, ocorre um acontecimento importante que produz uma mudança não somente na vida de Lombroso, mas também na ciência e na humanidade; estando observando o crâneo de um delinqüente, Lombroso, observou uma série de anomalias que lhe fez pensar que o criminoso o é por certas deformidades craneanas, e por sua similitude com certas espécies animais. Lombroso queria encontrar um critério que diferenciasse um enfermo mental do delinqüente, porém ao deparar-se com este descobrimento, começou a elaborar o que ele mesmo chamaria: “Antropologia Criminal”. Seu pensamento e o de Enrico Ferri influenciaram a Fernando Ortiz precurssor dos estudos sobre o negro em Cuba, tanto que seus primeiros livros narram o caráter criminal dos negros, descritos por ele na trilogia “La Hampa afrocubana”. O pensamento cientifíco difundido pelos teóricos da Scuola Nuova, foi utilizado em Cuba para justificar a inferioridade do negro e imputar-lhes um caráter também de inferioridade. Sobre o pensamento de Lombroso e dos outros teóricos ver em: www.todoelderecho.com/Apuntes/Penal/criminologia.htm.

antilhanos sob um mesmo grau de exploração, sendo que dentro dessa homogeneização do negro enquanto trabalhador, as diferenças eram estabelecidas por critérios educacionais, de comportamento e de nacionalidade.

Sua presença em Cuba realimentou a cultura do país com novos elementos, contribuiu para a prosperidade da indústria açucareira na região oriental, re-orientou o debate acerca da incorporação do negro na sociedade cubana. E por outro lado, a experiência vivenciada em Cuba possibilitou que esses imigrantes incentivassem a criação de organizações trabalhistas nos seus países de origem.

No entanto, a visão negativa sobre haitianos e jamaicanos despertava um discurso pautado pelo temor em ver a Nação cubana sujeita a invasão de doenças e costumes viciosos, como destaca o Dr. Presno, ao alertar as entidades açucareiras sobre o perigo de se introduzir em Cuba esse tipo de trabalhador: “la responsabilidad que contraen ante la nación, por ser éstos, portadores de enfermedades transmisibles y vectores de costumbres viciosas y criminales” (LE ROY

CASSÁ,1929,p.24-25).

Afirmar que as relações estabelecidas entre os imigrantes antilhanos e a sociedade cubana foram somente de antagonismo, fortalecido pelo racismo que imperava entre seus membros é um erro, e dizer que estes foram aceitos e recebidos com total falta de enfrentamento também não é verdade. No entanto, esse embate ocasiona uma reavaliação sobre os parâmetros étnico-raciais vigentes, pela própria visão que a elite cubana tinha do negro como já dissemos. A condição de trabalhadores sujeitos à exploração das companhias e aos mais baixos salários, despertou na classe trabalhadora cubana uma avaliação das condições a que eram submetidos os imigrantes antilhanos.

A contratação desses trabalhadores além de ser uma forma de garantir o sucesso das safras, também foi utilizada pelas grandes companies como uma estratégia de influência sobre o governo cubano para garantir a manutenção de seus negócios, inclusive se utilizavam de meios ilícitos para conseguir que o governo atendesse suas reivindicações.

Solamente se obtuveron 60 trabajadores de los 75 que ordené a la Habana. El Sr. Silveira me comunicó que nuestros agentes de trabajo están laborando allí al arribar algún barco, para contratar los trabajadores que lleguen; aunque en esto, como en la mayoría de los asuntos de este gobierno, hay una gran cantidad de chanchullos, y para poder obtener

Silveira dijo que él se encargaba de ésto (...) tratando de resolver sin comprometermos a nosotros... (Harty e Preston, 15 de junio de 1905, Managers Letter Book, p. 831 y 832).

Portanto, esses imigrantes na primeira década do séc. XX, também vão servir aos interesses das companies para desestabilizar a organização dos trabalhadores nacionais. O congresso trabalhista realizado durante o período republicano (28, 29 e 30 de agosto de 1914), organizado pela Asociación Cubana para la Protección Legal del Trabajo, indica que nesse período a classe trabalhista cubana ainda vivia um estágio de pouca consciência classista (TELLERÍA,1973, p.52). O Congresso teve como característica o apoio do governo de Menocal para a sua realização, este fato provocou uma reação dos participantes como pode ser verificado nesta nota publicada no jornal El Día “por una parte, se bien al comienzo de las sesiones muchos asistieron de buena fé, a las ultimas sesiones ya no iba casi nadie... Durante varias sesiones, parte del público obrero y hasta algunas delegaciones, manifestaron su protesta negándole representación al congreso” (El Día, 31 de agosto de 1914). As principais manifestações trabalhistas neste ano aconteceram a partir de outubro com a atividade dos anarcosindicalistas que fizeram circular seus manifestos em Camajuaní, Camaguey e outras localidades.

O incremento da indústria açucareira após 1899 foi o fator mais importante para seu pleno desenvolvimento nas primeiras décadas do séc. XX, a transformação dos engenhos em colossais centrais, com tecnologia moderna e com maior capacidade de produção, provocou mudanças significativas no país.

En 1899, según el censo de ese año, había 207 ingenios en condiciones de moler. Aunque la producción azucarera ha llegado a sextuplicar las cifras más altas de la época colonial, el número de centrales en la época republicana nunca ha sido superior a 200. La reconstrucción de la industria se efectuó fomentando gigantescos centrales, provistos de redes ferroviárias próprias y rodeados de grandes latifúndios lo que les colocaba en condiciones de dominar al colono, restándole independencia. Además se comenzó a importar millares de braceros antillanos para las tareas más duras de la zafra. Este proceso se fué agravando desde 1899 hasta 1933. A partir de este año, una serie de medidas de carácter nacionalista y social, unidas a la fuerte crisis azucarera de 1929 a 1934, han modificado la orientación de la industria azucarera, cuyo sesgo en la década de los 20 era marcadamente peligroso para los altos intereses nacionales (MARRERO, 1973, p. 211).

A indústria açucareira foi a coluna dorsal do desenvolvimento econômico cubano nas três primeiras décadas após a independência. Os incrementos tecnológicos possibilitaram a reativação dos antigos engenhos transformando-os em

gigantescas indústrias. É em torno do açúcar que a política e a sociedade cubana dá os seus primeiros passos republicanos. As imagens a seguir revelam que o emprego da nova tecnologia foi essencial para o ressurgimento da indústria açucareira a partir do início do século XX. De técnicas manuais, a indústria mediante o investimento do capital estrangeiro dá um salto significativo de qualidade e em produção.

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