• Nenhum resultado encontrado

O negro foi o agente mais importante para o desenvolvimento econômico das sociedades escravistas e continuou depois de livre, a ser uma mão-de-obra explorada. Em Cuba, o negro tem um papel fundamental como bem ressaltam a epígrafe de Fernando Ortiz e o provérbio popular escritos acima, não só pelo seu trabalho, mas principalmente pela influência cultural que legou ao país. A música, as danças e a sua religiosidade tem sido tema de vários estudos, tanto de historiadores como de etnógrafos que buscaram e buscam através da análise da cultura afro- cubana, explicações para entender a identidade nacional.

O negro em Cuba, segundo apresenta a historiografia, sempre esteve submetido à ambigüidade dos intereses políticos nacionais. Sua participação foi enaltecida em momentos cruciais para a história do país, caso da Guerra de Independência, e em outros rechaçado, retaliado e excluído de suas decisões, como aconteceu após a implantação da República.

Ortiz foi um dos primeiros intelectuais em reconhecer a importância da contribuição africana ao que ele denominou de cubanidad. A influência dos negros cubanos apontou Ortiz, “puede ser advertida en los alimentos, en la cocina, en el vocabulário, la verbosidad, en la oratória, en la amorosidad, en el maternalismo, en la descreencia infantil, en esa reacción social que es el choteo, etc., pero sobre todo en el arte, en la religión y en el tono de la emotividad” (ORTIZ,1940, p.24).

Mais recentemente, Antônio Benítez Rojo trabalhou sobre estas questões e escreveu que as influências culturais africanas em Cuba – racialmente uma das nações menos africanas do Caribe – são mais fortes que em quase qualquer outra ilha do arquipélago, “las creencias religiosas, la musica, el baile, la pintura, la literatura, y el folklore cubanos presentan una influencia africana no igualada en ninguna otra nación antillana excepto Haiti”. Benítez Rojo também escreveu sobre a distinção entre cultura e raça, acrescentando que em Cuba, “aún aquel que pueda situar sus cuatro abuelos en províncias de Europa, sabe que su madre cultural, su Gran Madre, es oriunda de África” (BENÍTEZ-ROJO,2002, p.2).

A negação do negro era uma das estratégias da burguesia e da aristocracia, idealizadoras de um projeto de Nação onde o branco ocupava o lugar principal. Os negros viviam em péssimas condições econômicas, especialmente na região oriental da ilha, onde a maioria deles estava concentrada e onde os conflitos sociais ao iniciar o século XX foram mais evidentes.

Um fator a ser considerado no agravamento do preconceito e discriminação para com a população negra no campo foi o surgimento de assentamentos de imigrantes haitianos, com um idioma e costumes diferentes, e que eram percebidos como uma ameaça pela população autóctona. Esta situação repercutiu desfavoravelmente no negro cubano, uma vez que o grupo branco majoritário não estabelecia diferenciação étnica entre negros cubanos, haitianos e jamaicanos, que dizia englobar a todos como resultado da construção de identidade, de homogeneização que se produz durante a comparação como exogrupo.

Em plena crise econômica e política, durante a Primeira Conferência Nacional de Obreros da indústria açucareira, realizada clandestinamente em Santa Clara nos dias 26 e 27 de dezembro de 1932, se aprovou um manifesto que revelava as condições em que se encontravam os trabalhadores açucareiros, incluindo haitianos e jamaicanos:

De zafra en zafra nuestras condiciones de vida y de trabajo se empeoran más y más. En la pasada zafra fueron rebajados los jornales a un nível de 20, 15 y hasta 10 centavos, para los macheteros y carreteros, por el corte y tiro de cien arrobas de caña, bajo el “componente” (obligarlos a tomar purgante: aceite de risino, si se negaban a trabajar) y “plan de machete” (la guardia rural o el capataz golpeaba con el canto del machete a quienes se rebelaran) nos hicieron trabajar 12, 14 y 16 horas diárias, pagándonos en vales y fichas (que sólo tenían valor en las tiendas del central azucarero); los precios de las tiendas de los centrales fueron altísimos y en muchos casos dejaron de pagarnos los

jornales, como en el central “América”, cuyo propietario, el banquero y dirigente de la oposición burguesa latifundista Pedroso, explota terriblemente a los obreros; vivimos en barracones inmundos, sin luz, sin aire, llenos de piojos, chinches y pulgas, amontonadas como esclavos con el cuerpo muerto por el trabajo (INSTITUTO DE HISTORIA DEL

MOVIMIENTO OBRERO,1977, p.307).

E mais adiante se pronunciaram “contra toda discriminación, en el salário y en el trato a los negros, jamaicanos y haitianos. Salário igual por trabajo y derecho a ocupar cualquier empleo, para los negros jamaicanos y haitianos” (IBDEM).

No campo, os trabalhadores negros cubanos, os haitianos e os jamaicanos constituíam os núcleos mais explorados dos trabalhadores açucareiros, razão pela quais suas condições de vida eram lamentáveis, e uma grande maioria dos trabalhadores brancos estavam conscientes desta situação (GONZÁLEZ SUÁREZ,

1987,p.9).

O Sindicato Nacional de Obreros de la Industria Azucarera (SNOIA), ao denunciar a brutal discriminação exercida pelos empresários a esses setores de trabalhadores, expunha o que acreditava ser o propósito que perseguiam as companhias açucareiras com estes jornaleros: reduzir o custo de produção, e manter uma massa de desempregados que pressiona a diminuição do preço da força de trabalho de forma que abaixavam os salários e pioravam as condições de vida do trabalhador no campo.

O problema da discriminação do negro se apresentava em vários níveis. Entre eles merece destacar o adotado pela organização sindical, que se ajustava aos valores sociais predominantes: igual no acesso às oportunidades, fraternidade entre os seres humanos, e solidariedade com os mais infortunados. Neste sentido, o sindicato reivindicava, entre suas demandas, o que considerava ser a solução do problema dos negros cubanos e dos imigrantes, exigindo igualdade de salários e de tratamento para negros, jamaicanos e haitianos, também se pronunciavam contra toda discriminação.

La complejidad de las relaciones intergrupales e interpersonales se hacia evidente. Se podia ser prejuicioso y a la vez tener buenos amigos negros. Se podia defender los intereses de los negros y mantener la distancia social con el grupo. Se podia ser tolerante y no tener problemas en las relaciones interpersonales. Se podia ser racista y tener problemas con el grupo negro.

Una muestra de ello ocurrió durante una revuelta política conocida como la Guerrita de

Legación Britanica exigió al gobierno cubano indemnización en metálico por la vida de los súbditos ingleses, y además, que se hiciese un consejo de guerra a los oficiales cubanos acusados de ese asesinato (GONZÁLEZ SUÁREZ, 1987, p. 9-10).

Documentos relacionados