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Em Cuba existiram outras associações formadas por negros que tiveram um papel importante na influência da cultura afro e na divulgação de idéias anti- racistas no país. Um exemplo é a divulgação das idéias de Marcus Garvey e de seu movimento o Universal Negro Improvement Association (Associação de Melhoria para Negros Unidos), cuja influência em Cuba se deu através dos imigrantes de fala inglesa a partir da década de 1920.

A influência do pensamento de Marcus Garvey através do movimento Universal Negro Improvement Asociation nos Estados Unidos e no Caribe, era uma preocupação das companhias norte-americanas uma vez que a UFC já havia tido contato com a ação do pensamento garveysta na comunidade de trabalhadores anglófonos também denominados de West Indians que trabalhavam para a companhia na região de Limón, na Costa Rica, visitada por Garvey em 191049.

49 Para saber mais sobre a influência do pensamento de Marcus Garvey na América Central e Caribe ler: HARPELLE, Ronald N. Radicalism and Accomodation: Garveyism in a United Fruit Company Enclave. In: Jilas – Journal of Iberian and Latin American Studies. La Trobe University, v. 6, nº 1, july 2000; MAcLEOD, Marc C. Garveyism in Cuba: 1920-1940. In: Journal of Caribbean History, v. 30, 1999; STEIN, Judith. The World of Marcus Garvey: Race and Class in Modern Society, Baton Rouge: Louisiana State University Press, 1991; BOURGOIS, Philippe. Ethnicity at Work: Divided Labor on a Central American Banana Plantation. Baltimore: The John Hopkins University Press, 1989.

Cuba foi o segundo país onde o pensamento do líder negro fincou suas mais profundas raízes, principalmente depois de sua visita em 1921. Acreditamos que a influência de seu pensamento na América Central, especialmente entre os imigrantes de língua inglesa como aconteceu no Panamá tenha alertado as empresas norte-americanas instaladas em Cuba para esse fato levando-as através da hereterogeneidade de seus trabalhadores impedirem que o pensamento de Garvey ganhasse força entre seus empregados.

Um exemplo do envolvimento dos afro-cubanos na UNIA, é o caso de Maria de los Reyes Castillo Bueno, apelidada de Reyita, que narra através de suas memórias, compiladas por sua filha Daisy Rubiera Castillo, sua participação nas atividades da UNIA quando era jovem nas províncias de Oriente e sua interação com os jamaicanos, com quem compartia o interesse divulgado pelo movimento de retornar à África e assim escapar da discriminação racial imperante em Cuba (RUBIERA CASTILLO,1997, p.22-27 APUD GURIDY,2003,p.117).

A ação da UNIA em Cuba também é descrita em momentos de tensão como no período de repatriação dos imigrantes em que estes ficavam a mercê das autoridades sem verem sua situação solucionada como demonstra a carta abaixo,

British Consulate Santiago de Cuba 18 de Septiembre, 1921 Señor

Tengo el honor de poner en su conocimiento que, segun informes recibidas en este Consulado, de algunos de los nombres de mayor confianza entre los 700 braceros quienes hace como dos meses estan esperando aqui el buque que les ha de repatriar, estos pretenden en su gran mayoria organizar en la mañana de lunes dia 19 del corriente mes, una demonstración de protesta ante este Consulado, el edifício de Santiago, cuya demostración tendrá lugar se cree, entre las horas de 8 y 10 A.M.

No daria gran importancia a esa acta por si, pero es el caso que mis informantes además aseguran que, aunque la masa de los hombres son pacíficos, hay un grupito que, incitados por los directores de la llamada Universal Negro Improvement Association que existe en esta Ciudad, tienen la malsana intención de tratar de alterar la orden y, cumpliendo con un deber de ayudar las Altas Autoridades en este asunto, apurome avisar á Ud. para los fines que estime convenientes.

Aprovecho esta oportunidad para expresar mi gratitud por su cortés atención a mi solicitud del dia nueve del corriente mes, al efecto que un vigilante estuviese puesto en la puerta del Consulado y, durante los tres días que fue prestado este servicio reino una orden admirable, no así al retirarse el vigilante por motivos desconocidos, pues en varias ocasiones he tenido que apelar a la policia del puesto mas cercano para poder inducir los braceros a retirarse.

Me permito insinuar a Ud. que probablemente creerá conveniente ordenar el servicio de algun policia al pronto alcance del Consulado durante la mañana del dia 19, para evitar con su simple presencia que los agitadores provoquen algun desorden.

Con la expresión de mi mayor respecto y consideración quedo de Ud. Muy atentamente,

Señor Alcalde Municipal Consul de S.M.B

Santiago de Cuba (ARCHIVO PROVINCIAL DE SANTIAGO DE CUBA, AÑO 1921, LEG.311, SIG.20)

O documento é uma prova de que a ação da UNIA não era algo ocasional, mas um indicativo de que esse movimento se expandia entre os negros, projetava- se nos momentos cruciais da história do negro antilhano em Cuba. O autor Jorge Giovannetti (2001, p. 114) diz que a UNIA teve uma ação atuante em Cuba junto às indústrias de açúcar denunciando os abusos de seus administradores contra os trabalhadores negros antilhanos: jamaicanos, jamaiquinos, haitianos.

Os estudos sobre esse movimento em Cuba – o interesse pelo tema é recente, tornando-se um aspecto da história do negro cubano e do Caribe ainda para ser aprofundado – lançam luzes sobre a relação entre os negros antilhanos e o negro cubano. Neste trabalho não foi nossa intenção aprofundar sobre a influência da UNIA em Cuba, mas apontar para uma conexão que existiu entre os negros do Caribe e os negros cubanos e que sem sombra de dúvida contribuiu para a formação de uma consciência negra no país.

Os livros da Logia Catalina, localizada em Guantánamo, oferecem informações sobre a atuação da UNIA nesta província. A UNIA utilizou ao longo de sua existência, quizá até 1932, o local da loja Catalina para a realização de suas atividades e ouve uma forte representatividade dos membros das lojas na consolidação do movimento.

Os documentos emitidos pela embaixada britânica em Cuba nos anos de 1930, dão conta da influência do garveismo entre os anglo-antilhanos que participaram nas greves espontâneas e tomada de centrais açucareiros, juntamente com os cubanos e haitianos. Igualmente, existem estudos sobre a magnitude dessas greves e ocupações de propiedades das grandes empresas radicadas em Cuba, como protesto pela extrema depauperação dos níveis de vida dos trabalhadores e o incremento do desemprego, que resultou da repercusão em Cuba da grande depressão da década de 1930.

A ninguém lhe ocorre negar que as Antilhas são o crisol no qual se encontraram as mais diversas etnias da humanidade, fenômeno que levou a não

poucos prestigiosos intelectuais a considerar a existência de uma identidade caribenha. Dentre todas as ilhas que conformam o arquipélago antilhano, Cuba, em especial e sua região oriental, constitue uma das que com maior intensidade expressa a profundidade do processo de interfecundação que o singulariza. As igrejas e lojas fundadas pelos imigrantes anglo-antilhanos e seus descendentes na maior das Antilhas, guardam um extraordinário leque das contribuições que fizeram e fazem o componente antilhano à identidade nacional cubana.

A visita de Marcus Garvey a Cuba no ano de 1921 em que se reuniu com partidários de suas idéias e de seu movimento pela conscientização do negro marca um capítulo da história da influência de seu pensamento em Cuba, introduzido pelos jamaicanos e que não tem sido estudado atentamente. Muitos dos seus partidários eram imigrantes do Caribe que estavam tentando melhorar sua condição de trabalho e moradia em Cuba (GODFRIED,2000, p.9).

O que fica claro quando se fala da influência deste pensamento especialmente nos imigrantes antilhanos que migravam para Cuba é que sua organização em torno de uma conscientização do papel do negro em uma sociedade em que o poder político e econômico estava sob controle dos brancos, gera uma gradual conscientização. Por isso a região oriental é tão importante no processo de integração do negro na sociedade cubana, seja o negro nacional ou o imigrante.

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