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I NDEPENDIENTES DEL C OLOR , O RGANIZAÇÃO TRABALHISTA E IMIGRAÇÃO ANTILHANA

A presença dos imigrantes antilhanos era vista pela sociedade local como concorrentes desleais pelo fato de se sujeitarem aos baixos salários e submeterem- se às regras de trabalho inumanas impostas pelas empresas açucareiras. Alguns dizem que a presença dos antilhanos era um elemento desagregador da classe trabalhista cubana. Mas essa é só uma versão da história das relações entre os trabalhadores cubanos e os antilhanos; as contradições que podiam existir entre eles foram implantadas pelas companhias açucareiras, e gestionadas pela elite branca como pudemos ver.

Quais seriam os interesses das empresas açucareiras em desestabilizar o movimento trabalhista cubano com a contratação dos trabalhadores antilhanos? Os antilhanos não se integraram ao movimento trabalhista?

A construção do discurso dominante sobre a imigração é ambivalente e se explica em termos étnico-raciais (SIERRA TORRES; ROSÁRIO MOLINA, 2001, p.139). Em

1912, um ano antes de iniciar a entrada maciça de imigrantes antilhanos em Cuba com a aprovação do presidente José Miguel Gomes que consentiu à Nipe Bay Company a contratação de trabalhadores antilhanos, ocorreu um grave conflito envolvendo o movimento denominado Independientes de Color, composto por cidadãos negros, liderado por Evaristo Esteñoz, líder trabalhista e Pedro Ivonet, ex- coronel do Exército Libertador. O movimento foi criado com o objetivo de formar um partido político para participar das eleições de 1910 (YGLESIA MARTINEZ,1998, P.90).

O programa do movimento era composto por várias demandas de benefício social, como: ensino gratuito obrigatório, abolição da pena de morte, jornada de trabalho de 8 horas, nacionalização do trabalho, distribuição de terras, entre outras coisas (YGLESIA MARTÍNEZ,1998,p.90). Ou seja, os benefícios requeridos pelos membros do movimento eram verdadeiras prédicas trabalhistas, e essas mesmas questões seriam reivindicadas durante a realização dos congressos que ocorreram nos anos seguintes, inclusive no que ocorreu em 1914.

Os negros cubanos da região oriental possuíam uma consciência social e política que atropelava os interesses comerciais vigentes na primeira década republicana. Frente à prerrogativa de congregar em torno ao movimento e a criação de um partido sob uma base racial, o senador Martín Morúa Delgado se opôs à sua criação.

O objetivo de tal proibição era não sustentar uma luta política baseada em questões raciais, o que parece uma estratégia irônica uma vez que a diferença entre brancos e negros e principalmente a exclusão destes últimos da política nacional e dos benefícios sociais motivou os seus líderes a organizar o movimento. O historiador Martinez Ortiz diz que “frente a los negros se organizarían los blancos y con la ayuda (...) de los Estados Unidos, no era dudoso averiguar quienes pagarían los platos rotos (...) sobre el apoyo americano no cabían dudas: no tolerarían en las Antillas una nueva república negra” (1929,p.200).

A reflexão de Martinez Ortiz (1929) revela um problema que não estava submetido somente às questões internas da política cubana, era algo mais complexo uma vez que essas questões faziam parte do jogo político do “governo” norte- americano em Cuba que administrava indiretamente a ação dos políticos cubanos.

A discussão entre os políticos sobre a proibição de se formar um partido no país composto somente por negros gerou um debate entre os políticos em que os favoráveis como Salvador Cisneros Betancourt e Lino Dou defenderam o direito dos negros de combater a discriminação racial por meio de um partido político, sempre que este não defendesse uma posição sectária e racista.

Em 1912 Esteñoz reativa o movimento, no mês de março deste ano são detidos seus principais líderes sob acusação de rebelião. Começa então uma reação do movimento principalmente nas províncias de Las Villas e Oriente e a confirmação de que em quatro das seis províncias havia grupos armados, provoca uma reação ostensiva das autoridades que passam a reprimir o movimento com grande violência. Por ordem do presidente José Miguel Gomes, o exército nacional, a Guarda Rural e homens recrutados passaram a agir na região oriental. Administradores de centrais na região como Mario Garcia Menocal, ofereceu ajuda ao governo enviando homens para controlar a rebelião, outros seguiram o seu exemplo, contribuindo com o governo para combater o movimento.

Calcula-se que cerca de 3.000 homens negros tenham sido mortos pelas forças do governo, uma outra grande quantidade de homens ficaram feridos e centenas foram presos (YGLESIA MARTINEZ, 1998, p. 93). O confronto aconteceu por que tanto o governo cubano quanto os empresários açucareiros temiam uma revolta negra em toda a Nação, a memória histórica do que havia ocorrido no Haiti com o poder assumido pelos escravos, também se fazia presente em Cuba neste momento.

De las ‘Sociedades de gente de color’ surgió, como producto de una urgente transformación, el Partido Independiente de Color (PIC), independientemente de los ya existentes partidos burgueses. Su meta era alcanzar la mejoría social, cultural, y económica de las masas negras. Esto demuestra una total ruptura en la confianza hacia la elite y sus instituciones dominantes, una obvia respuesta y denuncia de las tendencias y manifestaciones de la elite dominante neocolonial (GODFRIED,2000,p.7)

O negro cubano reagia ao seu desfavorecimento social e político por parte do governo que ignorava as péssimas condições que ele enfrentava no país. Após praticamente dizimar os que participaram do Movimento Independiente de Color, o governo através do decreto de n° 23 de 10 de janeiro de 1913 autorizou a Nipe Bay

Company a contratar 1.000 trabalhadores antilhanos para o trabalho na safra (PICHARDO,1980, p.78).

O medo ao negro, ou à reação do negro cubano em novas rebeliões se contradiz a essa ação das empresas, de introduzir mais negros em Cuba, principalmente após um momento de conflitividade ocasionado pela manifestação do movimento liderado por Esteñoz. Na verdade, a intenção e a ação das empresas em contratar mão-de-obra antilhana já vinham acontecendo desde os primeiros anos do século XX.

O quadro ao qual as empresas submetia esse grupo de imigrantes era parecido ao que ocorria com os escravos, capturados em diferentes partes da África, funcionava como um fator de “des-articulação” entre os escravos, e no caso da introdução dos antilhanos, principalmente a partir de 1913 quando o fluxo de entrada desses trabalhadores começa a se intensificar em Cuba, seguia a mesma prática. As empresas não só queriam uma mão-de-obra mais barata mas também uma que não oferecesse tanto risco de rebelar-se e que estivesse sob controle, por isso quando iam em Haiti, Jamaica, e em todo Caribe Anglófono (desde San Kitts, Nevis, San Martín, Saba, San Eustacio, Antigua, Guadalupe, Martinica, Dominica, Santa Lucía, San Vicente, Grenada, Trinidad, etc) e das ilhas coloniais holandesas como Curaçau, Aruba e Bonaire a recrutar os trabalhadores formaram um mosaico cultural dentro dos centrais, que dificultou para as primeiras correntes migratórias desses países introduzir-se na sociedade cubana pelo desconhecimento do idioma: o espanhol. Confiantes em que esses trabalhadores pela falta de uma unidade lingüística, não ofereciam perigo de serem influenciados ou influenciarem os trabalhadores cubanos que mesmo de forma ainda pouco unitária já começava a esboçar uma organização enquanto classe.

A outra era reforçar uma imagem deturpada do negro como elemento desaglutinador da Nação, por sua conduta civilizada e contestadora que vinha ganhando força à medida que os negros se aglutinavam em torno de causas sociais que não eram resolvidas pelos políticos brancos.

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