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Dos imigrantes jamaicanos ou jamaiquinos que chegavam a Cuba, só 23% eram casados, 85% sabiam ler, a proporção entre homens e mulheres era de 600 homens por 100 mulheres. Entre os haitianos a proporção era 12,7% de analfabetos, 9,3% eram casados e o índice de masculinidade de 2.500 homens por 100 mulheres.

O total do grupo de trabalhadores antilhanos era composto por homens na faixa etária de 14 a 45 anos (CHAILLOUX,2002, p.55).

A espiritualidade dos antilhanos jamaiquinos esteve fortemente enraizada em suas práticas religiosas e fraternais, as celebrações se concentravam, em suas igrejas e lojas. Das lojas saíam seus membros em procissão, portando suas insígnias e seus estandartes até a igreja, onde se reuniam todos os membros para a cerimônia. No caso dos funerais, a máxima aspiração de um imigrante, era receber as honras correspondentes na loja e na igreja, acompanhado dos sons dos sinos.

Os imigrantes antilhanos introduzem outros elementos culturais em Cuba: o vodu, prática religiosa dos haitianos, o congrí, o Bande rará, o jogo de cricket. Todos esses elementos são condutores de relações, onde o mesmo e diverso se chocam e se encontram a todo o momento.

O “Mesmo”, segundo explica Glissant em Le discours antillais é um conceito que se relaciona com o de identidade, “quando a identidade está fechada sobre si mesma, formando um discurso homogêneo que se torna hegemônico por se considerar o único possuidor da verdade, negando assim a diferença” (GLISSANT, 1981, p.190-201). O conceito de Mesmo está ligado ao que Glissant chama de identidade-raiz, que por onde passa destroe aos demais. Quanto ao Diverso, este se opõe ao Mesmo; está associado ao conceito de identidade-rizoma, “é uma raiz múltipla que se propaga sem prejudicar as outras plantas” (GLISSANT,p.190-201).

Podemos equiparar estes dois conceitos com o que se processa em Cuba entre o que ocorre com a cultura nacional, de onde são retirados os valores hegemônicos aos quais toda cultura exterior teria que se enquadrar, nessa relação os elementos que favorecem a manutenção do Mesmo é bem-vindo, por isso em nossa opinião se discutiu sobre a viabilidade e a aprovação de determinadas correntes migratórias e a recusa por outras como a chinesa e a antilhana.

Os imigrantes antilhanos reconstruíram as práticas sociais próprias de suas sociedades de origem. A fundação de igrejas, lojas, associações de ajuda mútua e recreação, escolas, a reprodução de normas de relacionamento, etc. expressaram a vontade dos recém chegados de criar espaços desde os quais pudessem conservar e fazer crescer sua vida material e espiritual. As duas formas mais transcendentes, e intimamente relacionadas, que adquiriu a associatividade dos antilhanos anglofónos nas zonas que povoaram – as antigas províncias de

Camaguey e Oriente – foram a Igreja episcopal anglicana e as lojas; principalmente, as da Orden Odd Fellows.

A senhora Sybil Corby, descendente de jamaicanos residente em Las Tunas, em entrevista disse que seus pais e sogros imigraram buscando uma vida melhor “mis padres y suegros inmigraron buscando mejoría de sus condiciones de vida. Mi suegro tuvo la casa independiente por su condición social como pastor. Él y mi suegra eran también jamaicanos, pastor y pianista de la iglesia episcopal, respectivamente. Eran gente muy humanas. Tenían um horno de ladrillos refratários donde hacian dulces – “bonne” para brindar a los amigos y visitas” (SYBIL CORBY. ENTREVISTA CONCEDIDA À EQUIPE DE HISTORIADORES ORAIS DE CUBA.LAS TUNAS,15 DE MAIO DE 1992).

Estas associações foram espaços para a recreação da espiritualidade de uma comunidade de imigrantes que, por sua condição de pobre, negra e estrangeira, requeria de entidades em que pudessem enfrentar e resistir ao preconceito da rígida estrutura social e étnica cubana.

O crescimento do protestantismo em Cuba desde o início do século XX, muito se deve à presença dos anglo-antilhanos no país. A igreja episcopal, particularmente, havia desempenhado nas ilhas anglofónas um importante papel na vida espiritual e cultural da população. Ela foi a responsável pelo alto índice de escolarização dos imigrantes que chegaram em Cuba. Por isso, nas antigas províncias de Camaguey e Oriente, eles seguem sendo maioria e os ritos se desenvolvem em inglês e espanhol: “en la igreja episcopal sólo frecuentaban los jamaicanos, sin embargo no era prohibidos a otros. El culto era en inglés, ahora se hace en español porque los jóvenes decendientes no practican más el idioma de sus padres” (SYBIL CORBY.ENTREVISTA CONCEDIDA À EQUIPE DE HISTORIADORES ORAIS DE CUBA. LAS TUNAS,15 DE MAIO DE 1992).

Paralelo em importância, à Igreja episcopal estão as lojas massônicas entre as entidades fundamentais para a associatividade dos antilhanos anglofónos. A primeira loja fundada pela imigração antilhana em Guantánamo foi a Catalina Lodge Número 6.651, da Orden de Odd Fellows, quisá a mais antiga das lojas oddfélicas no país. Nela agruparam imigrantes procedentes de Jamaica, Barbados, Saint Kitts e Nevis. A loja Catalina também é conhecida como loja mãe. Dela

derivaram outras com sede nas diferentes localidades onde se assentaram anglo- antilhanos.

Os haitianos por sua vez, contribuíram culturalmente com a introdução de seus costumes culinários, com as festas religiosas, com os jogos (briga de galos) e com móveis. Dentre todos os grupos do Caribe, os haitianos mantiveram uma maior coesão social, se reuniam em diversas datas comemorativas nos assentamentos rurais recebiam companheiros de outros centrais ou colônias, com muita música, comida e rum, principalmente no natal e na semana santa, em função de suas crenças e rituais (GUANCHE; MORENO, 1988, p.99). Os haitianos também criaram sua própria associação, para preservar seus costumes e sua relação com o Haití; essa associação teve um caráter integrador de sua comunidade, com intuito educativo e patriótico.

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