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a ação ou omissão deve ser antijurídica e típica, ou seja, corresponder ao tipo, ao modelo de conduta definido na lei penal como crime ou

3 RESPONSABILIDADE DO SERVIDOR PÚBLICO TEMPORÁRIO 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE RESPONSABILIDADE

1. a ação ou omissão deve ser antijurídica e típica, ou seja, corresponder ao tipo, ao modelo de conduta definido na lei penal como crime ou

contravenção; 2. dolo ou culpa, sem possibilidade de haver hipótese de responsabilidade objetiva; 3. relação de causalidade; 4. dano ou perigo de dano: nem sempre é necessário que o dano se concretize; basta haver o risco de dano, como ocorre na tentativa e em determinados tipos de crime que põem em risco a incolumidade pública313.

Diogenes Gasparini, ao tratar da responsabilidade penal, esclarece:

Implica a condenação penal o reconhecimento da responsabilidade civil e da responsabilidade administrativa, se decorrentes do mesmo ato, vez que a infração penal funcional é mais que suas congêneres. [...] Alerte-se, no entanto, que a condenação no âmbito criminal, por si só, não enseja punição administrativa. Aquela somente dá ensejo a esta se a infração também for havida como ilícito administrativo314.

No ilícito penal, o autor é colocado em oposição à sociedade. No direito penal, faz- se necessário definir de forma exata no direito positivo o comportamento condenado pela sociedade. Trata-se do princípio da tipicidade, que é o enquadramento da conduta do agente no tipo descrito pela lei penal. A ação penal não depende da responsabilização ou

313 DI PIETRO, 2013, p. 675, grifos da autora. 314 GASPARINI, 2012, p. 296.

não em outra esfera, em decorrência dos princípios da oficialidade315 e da indisponibilidade316.

Ao praticar um ilícito administrativo definido na legislação estatutária, o servidor está sujeito à responsabilidade administrativa.

Nas palavras de Hely Lopes Meirelles, a responsabilidade administrativa “resulta da violação de normas internas da Administração, pelo servidor sujeito ao Estatuto e disposições complementares, estabelecidas em lei, decreto ou qualquer outro provimento regulamentar da função pública”317.

Edmir Netto de Araújo apresenta o conceito de responsabilidade administrativa em sentido amplo e em sentido estrito:

Assim, em sentido amplo, responsabilidade administrativa é aquela à qual está sujeito o agente público por qualquer ato praticado no exercício de suas atribuições legais (e, em certos casos, até mesmo fora delas), infringente das normas administrativas, podendo ocorrer ou não a qualificação penal adicional e, não raro, a responsabilidade patrimonial (civil) decorrente. Já em sentido estrito, significa a obrigação de responder perante a Administração pela prática de ilícito administrativo na infração de regras de conduta relacionadas à função pública, desdobrando-se em ilícito disciplinar e funcional318.

Para o referido autor, quando a falta estiver relacionada à hierarquia, haverá responsabilidade disciplinar propriamente dita. Exemplo: falta por desobediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico. Do contrário, se a falta for um ilícito administrativo, não relacionado à hierarquia, há responsabilidade administrativa não disciplinar ou funcional, visto que se refere à conduta do agente, mas está relacionada apenas a sua função ou atribuições, sem estar vinculada ao poder hierárquico ou disciplinar. Como exemplo, cita-se a infração por não assiduidade e pontualidade no serviço ou por falta de urbanidade com os companheiros de serviço ou os administrados, em seu atendimento319.

O ilícito administrativo puro, ou seja, quando inexiste a tipificação penal para o comportamento do agente, terá a responsabilidade apurada na esfera administrativa.

Tal responsabilização tem por objetivo a tutela e a proteção da ordem interna dos serviços, do bom funcionamento da máquina administrativa, ou seja, do serviço público.

315 Diante de uma infração, o Estado, por intermédio do Ministério Público, deve agir de ofício, promovendo

a ação penal.

316 O Ministério Público não pode dispor da ação penal que pertence ao Estado. 317 MEIRELLES, 2012, p. 555.

318 ARAÚJO, 1994, p. 55-56, grifos do autor. 319 ARAÚJO, 1994, p. 56.

A responsabilidade administrativa deve ser apurada pela própria Administração Pública mediante processo administrativo, sendo assegurada ao servidor ampla defesa e contraditório, nos termos do artigo 5.º, LV, da Constituição Federal.

Comprovada a prática do ilícito administrativo pelo servidor, será aplicada a sanção correspondente. A responsabilidade administrativa do agente público decorre de sua submissão ao poder sancionatório disciplinar do Estado.

Adverte Maria Sylvia Zanella Di Pietro que não há, com relação ao ilícito administrativo, a mesma tipicidade que caracteriza o ilícito penal.

A maior parte das infrações não é definida com precisão, limitando-se a lei, em regra, a falar em falta do cumprimento dos deveres, falta de exação no cumprimento do dever, insubordinação grave, procedimento irregular, incontinência pública; poucas são as infrações definidas, como abandono de cargo ou os ilícitos que correspondem a crimes ou contravenções. Isso significa que a Administração dispõe de certa margem de apreciação no enquadramento da falta dentre os ilícitos previstos em lei, o que não significa possibilidade de decisão arbitrária, já que são previstos critérios a serem observados obrigatoriamente320

É importante a motivação da penalidade imposta para demonstrar adequação entre a infração e a pena escolhida e impedir o arbítrio da Administração.

Em razão disso, Edmir Netto de Araújo chega a dizer que a infração disciplinar é atípica, concluindo pela desnecessidade da rigorosa anterioridade da lei “tipificando” a conduta e mesmo de uma relação taxativa de faltas que possam ser punidas como ilícito administrativo, reservando-se uma larga faixa discricionária ao superior hierárquico na apreciação da falta disciplinar321.

Quando o servidor público, dolosamente ou culposamente, por um comportamento comissivo ou omissivo, causa um dano à Administração ou a um terceiro, surge a obrigação de reparar o dano, gerando a responsabilidade subjetiva ou com culpa, ou seja, a responsabilidade civil.

A responsabilidade civil do servidor público é a que decorre da prática ou da omissão, dolosa ou culposa, de atos e fatos que lhe são atribuídos e que causaram um dano à entidade a que se liga ou a terceiro. É essencial, para sua caracterização, que o comportamento desse servidor seja doloso ou culposo e determinante do dano patrimonial causado à entidade a que está vinculado ou a terceiro. Sem tal comportamento e sem a

320 DI PIETRO, 2013, p. 674. 321 ARAÚJO, 2014, p. 950-951.

ocorrência do dano, não se pode falar em responsabilidade civil. Não se trata, pois, de responsabilidade objetiva. É a aplicação do disposto no artigo 186 do Código Civil322.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro, após afirmar que a responsabilidade civil é de ordem patrimonial, analisa o artigo 186 do Código Civil e verifica que, para configurar-se o ilícito civil, exige-se:

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