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1. os servidores estatutários, sujeitos ao regime estatutário e ocupantes de cargos públicos; 2 os empregados públicos, contratados sob o regime

2.5 REGIME JURÍDICO FUNCIONAL: CONCEITUAÇÃO DOGMÁTICA E SUA

2.5.3 Regime trabalhista

Regime trabalhista é o conjunto de normas que regulam a relação jurídica entre o Estado e seus empregados públicos. Assim, o regime aplicável é o da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei n.º 5.452, de 1.º de maio de 1943.

Carlos Borges de Castro afirma que, a partir do instante em que se socorre da Consolidação das Leis do Trabalho, o Estado (em sentido lato) é equiparado ao empregador, definido pelo artigo 2.º da mesma CLT, pois que assalaria o pessoal que admite na condição de empregado (definido pelo artigo 3.º), o que caracteriza a relação empregatícia105.

José dos Santos Carvalho Filho identifica duas características do regime trabalhista: o princípio da unicidade normativa e a natureza contratual da relação jurídica estatutária106. Para respeitar o princípio da unicidade normativa, o conjunto das normas reguladoras encontra-se em um único diploma legal, que é a Consolidação das Leis do Trabalho. Isso significa que todas as pessoas federativas que adotem esse regime deverão guiar-se pelas regras desse único diploma. José dos Santos Carvalho Filho ressalta que, sendo o empregador o Estado, algumas normas de direito público incidem na relação trabalhista. Tais normas, porém, não podem desfigurar o regime básico da Consolidação das Leis do Trabalho, que é aquele que deve ser observado e que tem natureza contratual.

Quanto à segunda característica, ao contrário do que ocorre no regime estatutário, no regime trabalhista, a relação jurídica é de natureza contratual. Logo, o Estado e seu

105 CASTRO, 1981, p. 120.

servidor trabalhista celebram efetivamente um contrato de trabalho nos mesmos moldes adotados para a disciplina das relações gerais entre capital e trabalho107.

É importante ressaltar que, mesmo nas contratações pelo regime trabalhista, impõem-se à relação jurídica de trabalho normas de Direito Público, como, por exemplo, a exigência de aprovação em concurso público, a vedação de acumulação de cargos e empregos, a remuneração etc.108.

Carlos Borges de Castro aponta diferenças acentuadas entre o contratado pelos órgãos públicos (“celetista público”) e aquele que é admitido pela empresa particular (“celetista privado”), todas elas provocadas pelo fato de a Administração agir em função do interesse coletivo, buscando o atendimento das necessidades públicas que sobrelevam os interesses individuais109.

A contratação de pessoal que, sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho, servirá nos quadros administrativos depende de aprovação prévia em processo seletivo. Até aí, nada difere da empresa moderna, que, também, promove o recrutamento e a seleção na busca do trabalhador que reúna qualidades para o exercício de certo emprego110.

Segundo o artigo 442 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o contrato individual de trabalho “é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego”. O artigo 443 da Consolidação das Leis do Trabalho dispõe que o ajuste “poderá ser acordado tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito e por prazo determinado ou indeterminado”.

Ressalta Carlos Borges de Castro:

Bem por isso, a faculdade do Estado em determinar o regime jurídico de natureza estatutária mantida com o funcionário público (que, já vimos à saciedade, proporciona a modificação das condições originalmente estabelecidas, sem ofensa a qualquer direito subjetivo) não prevalece em relação ao celetista. O Estado deve cumprir as cláusulas ajustadas, não

107 José dos Santos Carvalho Filho chama o empregado público “servidor trabalhista”. 108 CAVALCANTE; JORGE NETO, 2002, p. 56.

109 CASTRO, 1981, p. 120.

110 Quatro peculiaridades da Administração Pública são citadas. A primeira diz respeito aos recursos

orçamentários disponíveis, visto que, antes de qualquer providência administrativa, impõe-se verificar a existência de verba apropriada para a admissão. Aliás, a realização da despesa pública só pode ocorrer após a indicação dos recursos orçamentários correspondentes, consoante explícito mandamento constitucional. A segunda é a seleção pública: em nome da democratização de oportunidades, é indispensável a realização de processo seletivo de provas ou de provas e títulos para que se concretize a admissão. A terceira é a publicidade. Com efeito, a publicidade de atos administrativos é procedimento dominante e, até mesmo, imperativo na Administração Pública. Dessa maneira, a seleção deve ser antecedida de ampla divulgação, seja pela afixação de edital em recinto acessível ao público, seja por publicações em jornais oficiais, ou não. A quarta é a obediência à classificação: a admissão será feita com rigorosa observância da ordem de classificação dos candidatos. Como se vê, essa diferença é a mais importante em relação à empresa privada, que, por não estar obrigada a admitir aquele que obteve as maiores notas, tem a faculdade de aquilatar as qualidades pessoais do trabalhador por meio de entrevista (CASTRO, 1981, p. 121-122).

lhe sendo lícito impor nem mesmo condições mais favoráveis; estas, mesmo que identificadas em lei extravagante, só terão eficácia se transplantadas para o contrato de trabalho, o que, em última análise, significa o mútuo consentimento a que se refere o art. 468 da CLT. Tal comando, em síntese, denota que nas leis do trabalho o traço comum é o caráter bilateral da relação de emprego111.

Outrossim, convém lembrar que o contrato escrito não dispensa a Carteira de Trabalho e Previdência Social112.

A Lei n.º 9.962, de 22 de fevereiro de 2000, passou a disciplinar, no âmbito da União, o chamado regime de emprego público. Prevê a admissão de pessoal como empregado público e a transformação dos atuais cargos em empregos na forma da legislação especial, com vedação expressa apenas para os cargos de provimento em comissão.

O artigo 3.º da Lei n.º 9.962/2000 trata da extinção do contrato de trabalho por ato unilateral da Administração Pública nos seguintes casos: prática de falta grave (artigo 482 da Consolidação das Leis do Trabalho), acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas, necessidade de redução de quadro de pessoal por excesso de despesas e, por fim, insuficiência de desempenho, apurada em procedimento administrativo do qual caiba pelo menos um recurso.

José dos Santos Carvalho Filho, ao comentar a Lei n.º 9.962/2000, observa:

111 CASTRO, 1981, p. 123, grifos do autor.

112 A Carteira de Trabalho e Previdência Social é documento probante da existência do ajuste expresso (CLT,

art. 446). Subsidiariamente é documento de identificação do trabalhador, equivalente a qualquer outro documento de identidade. É obrigatória para o exercício de qualquer emprego (CLT, art. 13, caput). Nela são registrados os acidentes do trabalho sofridos (CLT, art. 30). Presta-se a outros assentamentos, como férias gozadas, alterações salariais, inscrições no PIS/PASEP (CASTRO, 1981. p. 123). Em síntese, Carlos Borges de Castro aponta as seguintes diferenças entre o celetista público e o celetista privado: “O contratado sob o regime das leis trabalhistas não é, de modo absoluto, celetista ou funcionário: é um ‘fronteiriço’. Não é empregado ‘puro’ porque as derrogações entre celetista público e celetista privado são notórias. Há direitos ‘exclusivos’ do trabalhador comum: reajustes semestrais; liberdade para ter mais de um emprego, para fazer greve (exceto em atividades essenciais na lei); para sindicalizar-se etc. Também não é funcionário ‘puro’, seja em razão do regime jurídico a que está submetido, seja em razão de prerrogativas próprias dos estatutários. Por exemplo: não faz jus aos adicionais por tempo de serviço denominados quarta e sexta partes; pode ter seu contrato de trabalho rescindido a qualquer tempo; não tem aposentadoria com proventos integrais etc. É um tertium genus que se aproxima ora do celetista privado, ora do funcionário público. Goza de direitos desconhecidos da pessoa física a que se refere o art. 3.º da CLT, como, apenas para exemplificar, o direito subjetivo à admissão, durante o prazo de validade do processo seletivo em que foi habilitado; conta, para determinados fins, o tempo de serviço, no momento em que passa a ser estatutário; se servidor paulista, aufere das vantagens outorgadas pela Lei Complementar n.º 180/78. Usufrui de regalias que ao funcionário são interditas. A principal: inalterabilidade de seu contrato de trabalho, exceto se com a alteração concordar e, assim mesmo, se desse consentimento não resultarem prejuízos (CLT, art. 468). Repise-se que a relação jurídica entre o Estado e o funcionário é administrativa e, por consequência, direitos e deveres são estabelecidos unilateralmente pelo Poder Público. Mas não é só. A irredutibilidade de salário, a incorporação de gratificações concedidas com habitualidade, a impossibilidade de sobrestamento de férias, por necessidade de serviço, o abono de permanência em serviço, a indenização por ruptura contratual sem justa causa são direitos que o celetista público conhece e que o funcionário público ignora” (CASTRO, 1981. p. 174).

A lei é federal e, portanto, incide apenas no âmbito da administração federal direta, autárquica e fundacional, estando excluídas as empresas públicas e as sociedades de economia mista. Prevê que o regime de emprego público será regido pela CLT (Decreto-Lei n.º 5.452/1943) e pela legislação trabalhista correlata, considerando-as aplicáveis naquilo

que a lei não dispuser em contrário (art. 1.º). Dessa ressalva, infere-se

que a Lei n.º 9.962 é a legislação básica e que as demais haverão de ter caráter subsidiário: só prevalecem se forem compatíveis com aquela113. Luísa Cristina Pinto e Netto é defensora da contratualização da função pública:

Conclui-se, assim, pela compatibilidade e melhor adequação do modelo contratual com o arcabouço constitucional gizado para a função pública, compatibilidade esta instrumentalizada pela conjugação de disciplina legal e consensual, garantindo-se, por um lado, as exigências impostas pelo interesse público e, por outro, a necessidade de saturar a relação de função pública de elementos consensuais consentâneos com o Estado Democrático de Direito114.

Dessa forma, é importante ressaltar que a competência para a resolução de litígios entre o Estado e empregados públicos é da Justiça do Trabalho.

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