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A inexigibilidade constitucional de realização de concurso público, nos termos do artigo 37, II, da Constituição Federal

1. os servidores estatutários, sujeitos ao regime estatutário e ocupantes de cargos públicos; 2 os empregados públicos, contratados sob o regime

2.6 A NORMA-MATRIZ DA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA: O ARTIGO 37, IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

2.6.5 A inexigibilidade constitucional de realização de concurso público, nos termos do artigo 37, II, da Constituição Federal

Ao abordar a questão da inexigibilidade constitucional de realização de concurso público, nos termos do artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, devem ser feitos alguns comentários. Preliminarmente, faz-se necessário estabelecer os seguintes pressupostos:

a) a contratação temporária deve (ou deveria) ser utilizada apenas excepcionalmente;

b) os servidores temporários não ocupam cargo ou emprego público; c) os servidores temporários exercem função pública de caráter temporário. Em razão das premissas acima, não se aplica a determinação constitucional do concurso público (artigo 37, II, da Constituição Federal), sendo utilizado, às vezes, um processo de seleção simplificada.

Para Márcio Barbosa Maia e Ronaldo Pinheiro de Queiroz, o concurso público é a forma mais democrática e legítima de buscar as melhores e mais bem qualificadas pessoas, entre as que participaram do certame, para ingressar no serviço público195.

O concurso permite que, nas mesmas condições, todos tenham oportunidades iguais para ingressar na Administração Pública, pois há a observância dos princípios da legalidade, da igualdade, da impessoalidade, da eficiência e da moralidade.

Ao definir concurso público, Cármen Lúcia Antunes Rocha afirma:

194 MELLO, 1991, p. 82-83. 195 MAIA; QUEIROZ, 2007, p. 42.

É o processo administrativo pelo qual se avalia o merecimento de candidatos à investidura em cargo ou emprego público, considerando-se suas características e a qualidade das funções que lhes são inerentes. É pelo concurso público que se concretiza a igualdade de oportunidades administrativas e a impessoalidade na seleção do servidor, impedindo-se tanto a pessoalidade quanto a imoralidade administrativa196.

Márcio Barbosa Maia e Ronaldo Pinheiro de Queiroz explicam a diferença entre concurso público e processo de seleção pública:

Não se pode confundir concurso público com processo de seleção pública. O concurso volta-se à seleção de pessoas para assumir cargos efetivos ou empregos públicos permanentes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas entidades autárquicas e fundacionais, das empresas públicas e sociedade de economia mista. O processo de seleção pública, à sua vez, aplica-se às pessoas jurídicas de direito público e às pessoas jurídicas de direito privado vinculadas aos princípios da Administração, ainda que não integrantes do Poder Público, relativamente às contratações de pessoal não sujeitas ao prévio concurso público197.

Como exemplo de processo seletivo aplicado pelas entidades públicas no âmbito federal, é citada a contratação temporária para atender excepcional interesse público (artigo 37, IX, da Constituição Federal e artigo 3.º da Lei n.º 8.745). Segundo Márcio Barbosa Maia e Ronaldo Pinheiro de Queiroz, as entidades privadas detentoras de privilégios estatais, ainda que não integrantes da administração indireta, mas que recebam expressivos recursos públicos e que mantenham vínculo jurídico com o Estado, estão sujeitas ao processo de seleção pública, em decorrência dos princípios da impessoalidade, da moralidade e da isonomia:

Do ponto de vista formal, assinala-se que o concurso público, diante de seu escopo, é dotado de inúmeras formalidades sacramentais, no afã de preservar a isonomia entre os administrados. O processo de seleção, à sua vez, embora sujeito aos princípios da Administração, pode ser simplificado (Lei n.º 8.745/93, art. 3.º) e, em situações excepcionais, até mesmo dispensado. O concurso público é sempre de provas ou de provas e títulos, nos termos do art. 37, II, da CF/88. Em contrapartida, nada impede que o processo seletivo seja apenas de títulos, desde que pautado em critérios objetivos e razoáveis198.

Vale lembrar que não são todos os cargos que exigem o concurso público, apenas os cargos vitalícios e efetivos.

Estabelece o inciso II do artigo 37 que “a investidura em cargos ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas e de provas e títulos,

196 ROCHA, 1999, p. 201.

197 MAIA; QUEIROZ, 2007, p. 15-16. 198 MAIA; QUEIROZ, 2007, p. 17-18.

de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração”. Está-se diante do princípio da obrigatoriedade do concurso público, o qual só poderá ser dispensado nas hipóteses adiante enumeradas.

1) Contratação temporária para atender a excepcional interesse público, nos termos do artigo 37, IX, da CF/88:

Como a CF, no art. 37, II, não exige concurso para o provimento de

funções, a designação para estas, originária ou derivadamente, pode

ocorrer de forma direta. É o que acontece, por exemplo, nos casos de “regime especial” (art. 37, IX, CF), disciplinado por lei, nas várias unidades federadas e nas designações para funções em comissão (como, na Administração Federal, a Lei n.º 8.745, de 21/05/1993, alterada pela Lei n.º 9.849, de 26/10/1999). Entretanto, se a CF não exige, também não o proíbe, o que pode envolver a existência de normas de admissão para funções através de provas de seleção, como se vê, por exemplo, no Estado de São Paulo, com admissão de servidores para funções-atividade pela Lei n.º 500/75199.

2) Nomeação para cargos em comissão e funções de confiança, nos termos do artigo 37, II, in fine, da Constituição Federal de 1988.

3) A situação mais comum da inexigibilidade de concurso é a nomeação para cargos em comissão (artigo 37, II e V, da Constituição Federal). Eles devem ser declarados em lei “de livre nomeação e exoneração”. É dada (redação alterada pela EC n.º 19/98) preferência aos ocupantes de cargos de carreira, nos casos, percentuais e condições estabelecidos em lei, destinando-se os cargos em comissão a atribuições de direção, chefia e assessoramento. As funções de confiança só devem ser exercidas por ocupantes de cargos efetivos.

4) Nomeação para determinados cargos vitalícios nas hipóteses constitucionalmente excepcionadas (caso dos Tribunais Superiores – quinto constitucional).

5) Promoção vertical.

6) Execução indireta de serviços licitados (terceirização).

7) Aproveitamento no serviço público de ex-combatente de guerra200:

8) Admissão excepcional de profissionais especializados nas empresas estatais exploradoras de atividade econômica.

199 ARAÚJO, 2014, p. 324, grifo do autor.

200

O artigo 53 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), entre outros direitos, assegura, ao ex-combatente que tenha participado efetivamente (nos termos da Lei n.º 5.315, de 12 de setembro de 1967) de operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial (1939/1945), o direito de “aproveitamento” no serviço público, sem a exigência de concurso e com estabilidade. É, como se vê, situação particular e excepcional, de difícil ou quase impossível ocorrência atualmente (ARAÚJO, 2014, p. 324).

O que mais nos interessa é a dispensa do concurso público em razão da contratação temporária. A justificativa apresentada nesse caso é o fato de que o concurso público não seria viável, em razão das formalidades exigidas que demandariam bastante tempo, servindo como uma barreira ao rápido suprimento de pessoal perante contingências anormais no serviço público.

Assim, o artigo 37, IX, da Constituição Federal é destinado a casos em que a própria atividade a ser desempenhada é temporária, e aí não haveria viabilidade para o concurso público, “que se dispõe a prover cargos e empregos de natureza permanente, ou, mesmo que a atividade seja permanente, o excepcional interesse público demanda que se faça imediato suprimento de uma necessidade temporária, por não haver tempo hábil para realizar o concurso”201.

É importante ressaltar que, embora, em razão da necessidade temporária de excepcional interesse público, não haja tempo para a realização de um concurso público para selecionar pessoas, a contratação não é sem critério nenhum. Cita-se, no âmbito da União, o artigo 3.º da Lei n.º 8.745/93, que preceitua: “o recrutamento do pessoal a ser contratado, nos termos desta Lei, será feito mediante processo seletivo simplificado sujeito a ampla divulgação, inclusive através do Diário Oficial da União, prescindindo de concurso público”.

Márcio Barbosa Maia e Ronaldo Pinheiro de Queiroz salientam que a Administração Pública não poderá deixar de observar a “finalidade e o escopo da contratação temporária, devendo imprimir ao processo de seleção um rito célere e compatível com o interesse público e, se for o caso, dispensar a sua adoção mediante contratação direta”202.

Assim, a Lei Federal n.º 8.745/93, em seu artigo 3.º, § 1.º, prevê hipóteses em que se prescinde de processo seletivo: em determinadas hipóteses excepcionalíssimas, a tutela do interesse público, por conta de risco iminente, revela-se incompatível com a deflagração do processo seletivo, como, por exemplo, nos casos de “calamidade pública, de emergência ambiental e de emergências em saúde pública”.

Em outros casos, utiliza-se o seguinte critério: “notória capacidade técnica ou científica do profissional, mediante análise do curriculum vitae” (§ 2.º do artigo 3.º da Lei n.º 8.745/93). Fazendo uma analogia com os casos de inexigibilidade de licitação, em que a

201 MAIA; QUEIROZ, 2007, p. 43. 202 MAIA; QUEIROZ, 2007, p. 49.

competição é inviável, pode-se dizer que a competição nesse caso demonstra-se inviável, tornando inexigível o processo seletivo.

Frise-se: tudo deve ser devidamente motivado, justificado, devem ser indicados os motivos de fato e de direito do ato, a fim de dar validade ao procedimento e permitir o controle do ato.

Dependendo do caso concreto, da necessidade, da gravidade da situação, pode-se até contratar diretamente, mas desde que esse ato esteja devidamente motivado, fundamentado. O que não se admite é a contratação de qualquer pessoa sem o mínimo de qualificação para o exercício da função.

2.6.6 Concretização do preceito constitucional no exercício da Administração Pública

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