Sucedâneos Recursais
1. Recursos e ações autônomas de impugnação
1.2 Ação Rescisória
É ação que visa desconstituir a coisa julgada material, ao contrário da ação anulatória, que jamais a desafia269. Cabível nas hipóteses taxativas do art. 485 CPC. Não se trata de um recurso, mas de uma ação autônoma de impugnação, pois o seu ajuizamento ocorre após o trânsito em julgado e provoca a instauração de um novo processo.
Em regra, a sentença que faz coisa julgada material não pode ser mais discutida, porque se torna imutável, primeiro porque contra ela não é mais cabível recurso, e segundo, por causa da necessidade da segurança jurídica para que não haja a perpetuação dos litígios. Todavia, existem exceções contra a coisa julgada, o que a torna relativa , não absoluta.
Atualmente, com a modernização dos meios de provas, e principalmente nas ações de investigação de paternidade, vem se admidindo de forma mais acentuada a relativização da coisa julgada, visando garantir valores de maior importância em detrimento da segunrança jurídica.
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No caso concreto, nem sempre é fácil distinguir quando da decisão será cabível ação anulatória ou ação rescisória. Para maiores elucidações: BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de
direito processual civil. v.5.: recursos, processos e incidentes nos tribunais, sucedâneos recursais: técnicas de controle das decisões jurisdicionais. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 405-411.
É cristalino que a segurança jurídica é fundamental para a busca da pacificação social, no entanto, esta não deve ser imunizada a ponto de desprezar valores éticos ou jurídicos, e dessa forma, deve ser utilizada somente em casos excepcionais.
O problema surge ao se verificar o que seria caso excepcional, com destaque para duas situações em que a relativização da coisa julgada vem sendo utilizada: a) investigação de paternidade e, b) desapropriações que tiveram indenizações extraordinariamente elevadas, porque fundadas em laudos periciais tidos por fraudulentos.
Para o Ministro Aldir Passarinho Junior, esse instituto somente poderia ser utilizado nos casos de fraude ou cerceamente de defesa no processo, não se admitindo a sua utilização a cada inovação tecnológica.
No Superior Tribunal de Justiça, há entendimento pacificado na Segunda Corte no sentido de que deve prevalecer a segurança jurídica, contudo o mesmo é criticado, porque teria sido adotada essa linha de pensamento como meio de evitar a proliferação de ações.
Dessa forma, a relativização da coisa julgada não possui ainda um entendimento doutrinário e jurisprudencial majoritário, o que recomenda a sua utilização de forma cautelosa, haja vista a grande repercussão que o tema pode trazer.
Nesse âmbito, como exceção à coisa julgada material, se insere a ação rescisória, que visa garantir que a sentença de mérito tenha sido proferida de maneira legal e válida. Em síntese, o ajuizamento dessa ação nos dizeres de Cássio Scapinella Bueno, “significa formular, perante o órgão jurisdicional
competente, pedido de tutela jurisdicional consistente no desfazimento da coisa julgada material formada ao arrepio do art.485 e, se for o caso, de rejulgamento do pedido originalmente feito”. 270
1.1 Requisitos
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BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil, recursos, processos
e incidentes nos tribunais, sucedâneos recursais: técnicas de controle das decisões jurisdicionais. São Paulo, Saraiva: 2008. p. 322.
As condições da ação e os pressupostos processuais devem ser preenchidos, pois a natureza da ação rescisória é desconstitutiva. Dessa forma, a falta de qualquer destes requisitos levaria à consequência natural da do iter processual, a extinção do processo sem resolução do mérito.
No entanto, é necessária, além desses requisitos gerais, a observância dos seguintes requisitos específicos: decisão de mérito transitada em julgado; propositura dentro do prazo decadencial de 2 anos; incidência de uma das hipóteses do art. 485/CPC, e o recolhimento de multa prévia.
A ação rescisória somente é cabível contra decisão de mérito, ou seja, decisão que o juiz tenha examinado a pretensão que consta na petição inicial. De maneira mais simples, a rescisória será cabível quando a sentença a ser atacada se amoldar, a uma das hipóteses do art. 269/CPC.271 Porém, não são todas as decisões que aceitam a ação rescisória, é o caso do art. 59 da Lei 9.099/95, que não a admite no âmbito dos Juizados Especiais; o art. 26 da Lei 9.868/99 nas decisões de Adin, Adecon e art.12 da Lei 9.882/99 nas decisões de ADPF. 272
Além de uma decisão de mérito, exige-se que esta tenha
transitado em julgado e criado coisa julgada material, independente de haver ou
não ocorrido o esgotamento das instâncias recursais, conforme Súmula 514 do STF273. É necessária a criação de coisa julgada material, não se admitindo a interposição de ação rescisória contra coisa julgada formal, uma vez que ao autor haveria a possibilidade de renovação da ação.
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Art.269/CPC – Haverá resolução de mérito: I – quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor; II- quando o réu reconhecer a procedência do pedido; III – quando as partes transigirem; IV – quando o juiz pronunciar a decadência ou prescrição; V – quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação.
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Tradicionalmente, diz-se que as sentenças proferidas em procedimento de jurisdição voluntária não produzem coisa julgada material e, assim, não poderiam ser alvo de ação rescisória. Essa é a orientação predominante. DIDIER JR.,Fredie; CUNHA, Leonard José Carneiro da. Curso de processo civil: meios de impugnação as decisões judiciais e processo nos tribunais. Vl.3, 5ed. Jus Povivm, 2008.
273
Sumula 514 STF – “Admite-se ação rescisória contra sentença transitada em julgado, ainda que contra ela não se tenham esgotados todos os recursos.”
Caso ocorra o ajuizamento da ação rescisória antes de ocorrer o trânsito em julgado, ela estará prejudicada e não será conhecida, uma vez que um de seus requisitos não foi observado.
De acordo com o art. 495/CPC, “o direito de propor ação
rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão”, e como consectário da inobservância deste prazo a decisão adquirirá a
qualidade de coisa soberanamente julgada, da qual, em respeito ao ideal de segurança jurídica, indispensável às relações humanas, não caberá recurso algum, e obviamente descartada a via da propositura da ação rescisória.274
Por ser um prazo decadencial não se interrompe, não se suspende e nem se prorroga, iniciando-se do trânsito em julgado da decisão. A questão que surge é: se a sentença for parcialmente impugnada, tal prazo iniciará para a matéria que não foi impugnada? Segundo entendimento da Súmula 100 n. II do TST “Havendo recurso parcial no processo principal, o trânsito em julgado
dá-se em momentos e em tribunais diferentes, contando-se o prazo decadencial para a ação rescisória do trânsito em julgado de cada decisão, salvo se o recurso tratar de preliminar ou prejudicial que possa tornar insubsistente a decisão recorrida, hipótese em que flui a decadência a partir do transito em julgado da decisão que julgar o recurso parcial”.
Não obstante, o STJ sumulou outro entendimento, que nos parece mais condizente com a regra processual, de que o prazo somente se inicia após o esgotamento da possibilidade de interposição de qualquer recurso, mesmo nos casos de recurso parcial, conforme texto da súmula 401 do STJ.275
274
Não raro se encontra na doutrina posicionamentos a favor (e contra) da chamada relativização da coisa julgada. Esta consiste em nada mais do que se permitir a rescisão da coisa soberanamente julgada, isto é, sua rescisão após o transcurso do prazo para a ação rescisória. Aqueles que propugnam a sua admissibilidade fazem-na alegando que há valores constitucionamente protegidos que, no caso concreto, suplantam o ideal da segurança jurídica, como é o caso, por exemplo, de exame de DNA posterior que comprove a paternidade negada judicialmente em ação que correra antes do surgimento do referido exame. É tema muito controverso na doutrina e que exige maiores divagações, o que foge aos objetivos deste Livro. Recomenda-se: DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo civil. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 220-266.
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Súmula 401/STJ - O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial.
No âmbito da Fazenda Pública, não se aplica o disposto no art. 188 com relação à ampliação do prazo de dois anos, pois a ação rescisória não é um recurso e nem uma contestação, não devendo este ser interpretada a norma de maneira extensiva.
Com o propósito de se evitar a proliferação de infundadas ações rescisórias, foi criado o inciso II do artigo 488, que impõe o prévio recolhimento de 5% do valor da causa, a título de multa quando a rescisória for proposta. Tal importância será revertida em benefício do réu quando esta não for admitida ou julgada improcedente por unanimidade, entretanto, se a ação for julgada procedente, o tribunal rescindirá a sentença e restituirá o valor depositado ao autor (art. 494 276). A falta do depósito leva ao indeferimento da petição inicial conforme inciso II do artigo 490 do CPC277, contudo não se exige tal recolhimento da União, do Estado, Municípios e Ministério Público (parágrafo único do art. 488/CPC 278), entes públicos e beneficiários da Justiça gratuita.
Deve-se ainda comprovar a existência ao menos de uma das hipóteses do art. 485 do CPC, caso contrário, a ação rescisória não será admitida. Cada inciso desse dispositivo traz mais de uma hipótese de cabimento, assim é permitida a cumulação de situações na mesma rescisória, ou a interposição sucessiva, desde que observado o prazo legal.
O art. 485 traz um rol taxativo de causas de pedir para a ação rescisória e o autor deve fazer constar de maneira clara em sua petição inicial ao menos uma das causas de rescindibilidade descrita no dispositivo, não se exigindo a indicação do inciso.
Diante o exposto, conclui-se que a ação rescisória somente será admitida, se:
a) Proposta contra uma decisão de mérito transitada em julgado;
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Art. 494 - Julgando procedente a ação, o tribunal rescindirá a sentença, proferirá, se for o caso, novo julgamento e determinará a restituição do depósito; declarando inadmissível ou improcedente a ação, a importância do depósito reverterá a favor do réu, sem prejuízo do disposto no art. 20. 277
Art. 490. Será indeferida a petição inicial: II - quando não efetuado o depósito, exigido pelo art. 488, II.
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Art.488 §ú - Não se aplica o disposto no inciso II, à União, ao Estado, ao Município e ao Ministério Público.
b) Presente ao menos uma das hipóteses do art. 485/CPC; c) Observado o prazo decadencial de dois anos.
d) Houver o recolhimento de multa prévia.