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‘”Buscai em primeiro lugar o reino de Deus, e a sua justiça, e tudo o mais virá por acréscimo” Mt. 6,33

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Agradeço:

- à Cristo Jesus, por ter entrado em minha vida e comprovado que n’Ele vale a pena confiar;

- à minha dedicada esposa Fernanda, aos nossos filhos Felipe e Gabriel, por todo amor e carinho, que constituem a minha maior riqueza;

- aos meus pais, João e Iracema, por nunca mediram esforços na tentativa de me ensinar os mais importantes valores;

- aos colaboradores Daniel Limonti Naldi, Saulo Gonçalves Duarte e Érica Sampaio Martins, alunos esforçados cujo auxílio nesta obra demonstra que são jovens de futuro brilhante; - ao advogado e amigo Gustavo Martiniano Basso, pelo empenho e parceria no nosso escritório; - Aos Drs. Francisco de Lúcio Tersi, Euclides Celso Berardo e Wellington José Tristão, pelo incentivo acadêmico, e Ziná Consuelo Silveira, cujo exemplo me motivou a escolher a advocacia.

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PREFÁCIO

Foi com grande satisfação que recebi o convite de Marcelo Augusto da Silveira para fazer esta breve introdução do seu Manual dos Recursos Cíveis, ora publicado pela Editora Lemos e Cruz. Primeiro, pela sólida amizade construída durante os aproximados 10 (dez) anos em que lecionei com o autor, dividindo as cadeiras de Direito Processual Civil tanto na Faculdade de Direito de Franca (Municipal) quanto na Universidade de Franca (UNIFRAN). Segundo, em virtude da admiração pelo homem por detrás da obra, exemplo de marido, pai e pessoa cordata, verdadeiro ser vocacionado à prática e à pregação do bem.

Apresentemos o autor.

Marcelo Augusto da Silveira é bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Franca, tendo se graduado no ano de 1994. Logo após a Faculdade se iniciou na advocacia, atividade que com afinco e dedicação exerce há mais de 15 (quinze) anos, sendo, sem dúvida alguma, um dos melhores e mais competentes advogados de Franca/SP e região. Em 1999 deu início à sua atividade acadêmica, iniciando seu Mestrado em Direito Empresarial pela Universidade de Franca - UNIFRAN, onde concomitantemente começou a lecionar Direito Processual Civil. Com a conclusão do Mestrado em 2002 com a dissertação Matéria argüíveis em

exceção de pré-executividade (inédita), elaborada sob a orientação do Professor

Willis Santiago Guerra Filho, o autor alçou vôos mais altos. Em 2006, por aprovação em concurso público de provas e títulos, assumiu a titularidade da cadeira de Direito Processual Civil do 3º ano da Faculdade de Direito de Franca (Municipal), onde até hoje exerce ativamente a docência. Na vida familiar é casado desde muito jovem com a doce Fernanda Mattos Gosuen da Silveira, cujos frutos (Felipe e o Gabriel) são o verdadeiro retrato da sagração familiar.

Agora a obra.

Os recursos sempre foram vistos como um dos principais – se não o principal – fator de letargia da prestação jurisdicional, especialmente em época que a celeridade da tutela é garantia constitucional explícita (art. 5º, LXXVIII, da CF).

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Diversamente do que muitos imaginam esta constatação não é recente. As exposições de motivos dos dois últimos Códigos de Processo Civil (o revogado CPC/39 e o vigente CPC/73) revelam a preocupação do então legislador reformador com a lentidão da tutela e a contribuição que o excessivo número de recursos previstos em lei tem para isto.

Esta é a razão pela qual é cada vez mais comum encontrarmos pseudo profetas judiciais e legislativos anunciando soluções simplistas para um problema que, pelo contrário, não é nada fácil de ser resolvido. Da colocação de magistrados sob grilhões, passando por uma insuportável proliferação de leis, até a pregação do simples extermínio dos recursos cíveis, busca-se, como em um passe de mágica, a solução para um mal que não é recente e, tampouco, atinge apenas o desestruturado e mal aparelhado sistema judicial brasileiro (esta sim uma verdade).

Certamente, por não se iludir com estes anúncios apocalípticos, que a obra de Marcelo Augusto da Silveira merece destaque. Ao partir da análise do recurso não como vilão da cena processual, mas sim como indispensável instrumento de aperfeiçoamento dos serviços judiciários, o autor, nos cinco capítulos que compõem o Tomo I de sua obra, apresenta aquilo que se convencionou chamar

Teoria Geral dos Recursos, pondo em destaque os conceitos básicos sobre

princípios, juízo de admissibilidade e de mérito, efeitos dos recursos, etc., sem os quais o leitor não será capaz de compreender os capítulos posteriores. Especial atenção merece os itens que tratam da natureza dos provimentos judiciais após o advento da Lei 11.232/2005 – onde é feita importantíssima distinção entre sentença e decisão interlocutória (de 1º e 2º graus) – bem como o aquele em que se relaciona, ainda que de modo sucinto, outros remédios contra as decisões judiciais além dos recursos (sucedâneos recursais e ações impugnativas autônomas).

O Tomo II da obra é exclusivamente dedicado ao trato pormenorizado dos

Recursos em espécie (apelação, agravo, embargos infringentes, embargos de

declaração, recurso ordinário constitucional, recurso especial, recurso extraordinário e embargos de divergência). Apesar da invejável capacidade de

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síntese do autor, assuntos polêmicos não deixaram de ser enfrentados com técnica e clareza, especialmente os relacionados ao novo modelo de processo constitucional brasileiro, centrado na concentração do poder decisório nas cortes superiores (súmulas vinculantes e súmulas impeditivas de recursos) e no julgamento dos recursos por amostragem (repercussão geral e recursos especiais repetitivos).

O cuidado do autor com o trato da matéria, especialmente voltada para acadêmicos de Direito, ainda é completado pela criteriosa seleção de questionários de fixação de conteúdo e testes de respeitados concursos públicos. Além disso, para facilitar a leitura e o aprendizado, o autor procurou lançar em nota de rodapé bibliografia complementar e os próprios textos normativos referidos.

Por fim, o que resta a ser anunciado a título de encerramento é que este manual certamente servirá (e muito bem) ao propósito para o qual lançado. Para a editora Lemos e Cruz os meus sinceros cumprimentos. E para o autor os votos de sucesso, na esperança que este seja apenas a primeira de muitas outras obras que virão.

Franca. Verão de 2010.

FERNANDO DA FONSECA GAJARDONI

Professor Doutor de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da USP - Ribeirão Preto (FDRP-USP). Doutor e Mestre em Direito Processual pela

Faculdade de Direito da USP. Professor do programa de Mestrado da Universidade de Itaúna-MG. Professor convidado de direito processual civil e

difusos e coletivos dos cursos preparatórios para carreiras jurídicas e de especialização a Rede LFG, PUC-SP/COGEAE, FGV/Law, FAAP e EPM. Membro

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SUMÁRIO

Tomo I

Teoria Geral dos Recursos

Capítulo I Noções Gerais 1. Excertos iniciais.

1.1 Distinções entre processo e procedimento.

2. Atos processuais.

2.1 Pronunciamentos judiciais passíveis de recurso (arts. 162 a 165/CPC).

2.1.1 Sentença.

2.1.2 Decisão interlocutória. 2.1.3 Despachos.

2.1.4 Atos meramente ordinatórios.

2.1.5 Pronunciamentos proferidos nos tribunais.

3. Conceito de Recurso.

4. Natureza Jurídica.

5. Finalidade dos Recursos.

6. O órgão revisor e o processamento do recurso

7. Espécies e classificações dos recursos cíveis.

8. Recurso adesivo

9. Reexame necessário (remessa ex officio).

10. Nomenclatura

11. Pedido de Reconsideração.

Capítulo II

Princípios Norteadores da Sistemática Recursal

1. Princípio do duplo grau de jurisdição.

1.1 O duplo grau é princípio ou garantia constitucional?

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2.1 Princípio da reserva de plenário.

3. Princípio da taxatividade recursal.

4. Princípio da unirrecorribilidade (ou da unicidade, ou da singularidade).

5. Princípio da correlação (ou da tipicidade ou cabimento ou adequação).

6. Princípio da fungibilidade recursal.

7. Princípio da dialeticidade.

8. Princípio da proibição da reformatio in pejus.

9. Princípio da ampla defesa e contraditório.

Capítulo III

Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito 1. Considerações Iniciais

2. Distinções entre o juízo de admissibilidade e o juízo de mérito recursal

3. Mérito da causa e mérito do recurso

4. Competência para o juízo de admissibilidade recursal

5. Requisitos de admissibilidade

5.1 Cabimento

5.2 Legitimidade para recorrer 5.2.1 Parte vencida

5.2.1.1 O assistente simples 5.2.2 Terceiro prejudicado 5.2.3 Ministério Público

5.2.4 Legitimados não expressamente previstos

5.3 Interesse em recorrer

5.3.1 Interesse recursal na cumulação de pedidos

5.4 Tempestividade

5.4.1 Prazos especiais

5.4.2 Meios peculiares de interposição de recurso e consequências para o prazo recursal

5.4.3 A (in)tempestividade do “recurso prematuro”

5.4.4 Ausência de publicação da decisão em nome do advogado indicado pela parte

5.5 Regularidade formal

5.6 Preparo

(8)

6. Requisitos de admissibilidade dos “recursos extraordinários” lato sensu

6.1 Reflexos da admissibilidade dos “recursos extraordinários” lato sensu na competência para o julgamento da ação rescisória

7. Juízo de mérito.

Capítulo IV

Efeitos dos Recursos

1. Efeito devolutivo

2. Efeito regressivo (ou de retratação)

3. Efeito diferido (ou condicionado)

4. Efeito substitutivo

5. Efeito expansivo

5.1 Efeito expansivo objetivo

5.2 Efeito expansivo subjetivo (ou extensão subjetiva dos efeitos do julgamento)

6. Efeito translativo

7. Efeito suspensivo

7.1 Efeito suspensivo ope legis vs. periculum in mora

8. Execução provisória.

Capítulo V

Sucedâneos Recursais

1.Recursos e ações autônomas de impugnação

1.1 Ação anulatória (querella nullitatis insanabilis)

1.2 Ação Rescisória

1.3 Mandado de Segurança

2. Espécies de Sucedâneos Recursais

2.1 Reclamação

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Tomo II

Recursos em Espécie

Capítulo I Apelação

1. A Lei 11.232/05 e a insuficiência do conceito legal de “sentença”

2. Cabimento

2.1 Recurso inominado contra sentença nos Juizados Especiais (Lei 9.099/95 e 10.259/01)

2.2 Embargos infringentes de alçada contra sentenças proferidas em execução fiscal de até 50 ORTN (Lei 6.830/80)

2.3 Causas internacionais (art. 539, II, “b”/CPC c/c Arts. 36 e 37/Lei 8038-90)

2.4 Sentença decretatória de falência (Lei 11.101/05)

2.5 Sentenças agraváveis (doutrina e jurisprudência)

3. Legitimidade para apelar

4. Fundamentos que podem ser alegados

5. Procedimento no juízo a quo

6. Procedimento no juízo ad quem

7. Requisitos da petição de apelação (art. 514/CPC)

8. Preparo

9. Efeitos

10. Art. 515, §3º/CPC

10.1 Art. 515, §3º/CPC vs. duplo grau de jurisdição

10.2 O art. 515, §3º – ex officio ou a requerimento da parte?

10.3 O art. 515, §3º como hipótese excepcional de reformatio in pejus

11. Alegação de novos fatos

12. Hipóteses excepcionais do juízo de retratação de sentença.

Capítulo II Agravo

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1. Conceito e cabimento

2. Modalidades de agravo

2.1 Agravo retido

2.1.1 Procedimento

2.1.1.1 Interesse recursal quanto à matéria de ordem pública 2.1.1.2 Agravo retido em audiência (art. 523, §3º/CPC)

2.2 Agravo de instrumento

2.2.1 Procedimento

2.2.2 A formação do “instrumento” 2.2.2.1 Peças “obrigatórias”

2.2.2.2 Peças “facultativas” e peças “essenciais”

2.2.3 Comunicação da interposição do juízo a quo (art. 526/CPC) 2.2.4 Decisões interlocutórias com conteúdo de sentença

2.2.5 Decisões interlocutórias proferidas após a sentença 2.2.6 Poderes do relator (art. 527/CPC)

2.2.6.1 Art. 527, parágrafo único – a irrecorribilidade da decisão do relator

2.2.7 Superveniência de sentença enquanto pendente agravo de instrumento

2.3 Agravo interno (ou agravo regimental ou “agravinho”)

2.4 O agravo do art. 544/CPC.

Capítulo III

Embargos de Declaração 1. Conceito e cabimento

1.1 O art. 463/CPC

2. Efeitos infringentes ou modificativos

3. Procedimento

4. Efeitos

5. Embargos manifestamente protelatórios

6. Embargos de declaração prequestionadores.

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Embargos Infringentes 1. Conceito

2. Cabimento

2.1 Acórdão não-unânime que houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito.

2.1.1 Reexame necessário vs. embargos infringentes 2.1.2 Art. 515, §3º vs. embargos infringentes

2.1.3 Casos específicos sumulados

2.2 Acórdão não-unânime que houver julgado procedente a ação rescisória

3. Procedimento

4. Efeitos

5. Embargos infringentes e recursos especial e extraordinário

5.1 O esgotamento da via ordinária e a existência de “dúvida objetiva”

Capítulo V Recurso Ordinário 1. Conceito 2. Cabimento 3. Procedimento. Capítulo VI

Recurso Extraordinário e Recurso Especial 1. Considerações iniciais.

2. Recurso extraordinário.

2.1 Previsão legal.

2.2 Requisitos de admissibilidade.

2.2.1 Prévio exaurimento da via ordinária.

2.2.2 Existência de questão federal constitucional. 2.2.3 Prequestionamento.

2.2.4 Repercussão geral.

2.3 Julgamento por amostragem de recursos extraordinários repetitivos (art. 543-B/CPC).

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2.4 Súmula vincunlante (art. 103-A/CF)

3. Recurso especial. 3.1 Previsão legal.

3.2 Requisitos de admissibilidade.

3.2.1 Prévio exaurimento da via ordinária.

3.2.2 Existência de questão federal infraconstitucional. 3.2.3 Prequestionamento.

3.3 Julgamento por amostragem de recursos especiais repetitivos (art. 543-C/CPC).

3.3.1 Desistência do recurso paradigmático – (im)possibilidade

4. Procedimento no juízo a quo.

5. Juízo de admissibilidade no juízo a quo.

6. Agravo de instrumento do art. 544/CPC e o procedimento no juízo ad quem.

7. Concomitância de interposição dos dois recursos excepcionais.

8. Recurso extraordinário e/ou especial retido (art. 542, §3º/CPC).

8.1. A lacunosidade da redação do art. 542, § 3º.

8.2 O procedimento.

8.3 A falta de interesse em entrar com recurso especial ou recurso extraordinário.

8.4 Decisão interlocutória suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação e suas consequências procedimentais.

8.5 Comentários finais. Capítulo VII Embargos de Divergência 1. Conceito 2. Hipóteses de cabimento 3. Procedimento

(13)

Introdução

Este livro dispõe sobre a Teoria Geral dos Recursos e Recursos em

espécie, de acordo com as recentes atualizações legislativas, utilizando uma

linguagem prática e objetiva, sem perda da profundidade, capaz de aduzir conhecimentos precisos e necessários ao bom entendimento da matéria.

Sua elaboração se deu a partir da experiência do autor em mais de quinze anos na advocacia, dentre os quais, dez no magistério superior e cursinhos preparatórios às carreiras jurídicas, com ênfase nos ensinamentos de Direito Processual Civil, mediante a participação efetiva de alunos que puderam partilhar suas necessidades no tocante a doutrina processual, de maneira peculiar sobre a matéria recursos cíveis. Visa ainda, extrapolar os anseios acadêmicos e atender aos profissionais das carreiras jurídicas, por meio de um manual de abordagem didática, sem prejuízo da abrangência, que responda às mais freqüentes indagações do cotidiano forense-processual,e, portanto, atenda os interesses do leitor sobre temática tão complexa.

Cada capítulo compõe-se de uma explicação detalhada e clara do assunto estudado, com espeque na mais atual e abalizada doutrina, questões processuais controvertidas e ainda julgados recentes, que visam demonstrar o entendimento não só doutrinário como também dos Tribunais. A obra também insere no rodapé cada artigo citado no corpo do texto, com a inclusão de uma série de súmulas dos Tribunais Superiores relativas à matéria recursal, fluxogramas e quadros sinóticos ao final de cada capítulo, facilitando sobremaneira o estudo da matéria.

Adentrando ao tema, o recurso é uma consequência direta do princípio da falibilidade humana.

O juiz não é imune a erros. E à parte inconformada não pode ser negado o direito de ter a sua pretensão revista, seja por outro julgador, ou, em casos excepcionais, pelo próprio prolator da decisão.

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Entretanto, na busca de promover esse direito taxativamente assegurado, o legislador acabou por permitir, ao longo da evolução do ordenamento jurídico pátrio, uma série de recursos cíveis, o que fez com que um processo pudesse perdurar muito tempo. De certa forma, sobrepôs-se o direito de recorrer àquele de obter uma prestação jurisdicional efetiva.

De nada adianta uma decisão que discuta todas as nuances possíveis de uma pretensão se ela não chegar tempestivamente, como já afirmava Rui Barbosa: “Justiça tardia não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”. Com o advento das recentes leis 11.187/05, 11.276/06, 11.277/06, 11.341/06, 11.417/06, 11.418/06, 11.672/08, 11.969/09, 12.016/09, 12.153/09, 12.322/10, dentre outras, o legislador alterou significativamente a sistemática recursal, com o intuito de evitar, tanto quanto possível, a obstrução do bom andamento da marcha processual com incidentes de somenos importância, o que, no mais das vezes, findavam por irrelevantes para o julgamento final da causa, no louvável propósito de romper com a anterior sistemática que inviabilizava uma resposta tempestiva do Estado.

Hodiernamente, vem sendo discutida a elaboração de um novo Código de Processo Civil, por uma comissão de juristas presidida por Luiz Fux, Ministro do Superior Tribunal de Justiça, e cuja redação ficou a cargo da Doutora Teresa Arruda Alvim Wambier. No final de setembro de 2009, foi nomeada pelo Presidente do Senado, uma Comissão de juristas encarregada de elaborar um projeto de novo Código do Processo Civil, visando, nos dizeres do senador Jose Sarney: “simplicidade da linguagem e da ação processual, a celeridade do processo e a efetividade do resultado da ação, além do estímulo à inovação e à modernização de procedimentos, garantindo o respeito ao devido processo.”

A Comissão de Juristas, liderada pelo então Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Luiz Fux , realizou 8 audiências públicas em 5 regiões do Brasil, objetivando uma ampla discussão acerca das mudanças, para que o processo de criação fosse o mais participativo possível.

Em junho de 2010, foi entregue ao Senado o texto do Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil, que foi transformado no Projeto de Lei nº 166/10.

(15)

Para a análise desse projeto, foi criada a Comissão temporária da reforma do Novo Código de Processo Civil, constituída por onze senadores titulares e o mesmo número de suplentes, presidida por Demóstenes Torres, que também presidia a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).

Após analisar 106 emendas de senadores, 667 sugestões populares recebidas pela internet, 58 projetos de lei que tramitavam no Senado visando modificar o atual código, e, documentos enviados por universidades, tribunais e outras instituições de Direito, foi aprovado pela comissão especial, em novembro de 2010, o relatório do senador Valter Pereira sobre o novo texto do Código de Processo Civil. O documento recebeu alterações, aumentando o número de artigos para 1008, contra os 970 artigos existentes no Anteprojeto originariamente apresentado.

O relatório apresentado como o substitutivo ao projeto foi apreciado pelo Plenário do Senado Federal e votado em três turnos. Na noite do dia 15.12.2010, foi aprovado o projeto de lei que altera o código de processo civil. Como não houve apresentação de emendas, a matéria foi automaticamente considerada aprovada no turno suplementar que foi realizado na mesma noite, uma vez que os interstícios foram dispensados.

O Projeto de Lei, que recebeu o nº 8046/10, que disciplina o Código de Processo Civil, aguarda votação na Câmara dos Deputados. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse que vai entregar até o próximo dia 26 de fevereiro de 2012 o seu relatório ao projeto do novo Código de Processo Civil. Com isso, os debates na comissão especial que analisa a proposta só deverão ser retomados em março. “Fiz uma rodada de discussão com os juristas e acredito que já há uma coesão no meio acadêmico em torno do projeto”, declarou Teixeira.

Digna de nota a iniciativa e, com certeza, trará bons frutos. Contudo, os recursos não podem ser vistos como os únicos “vilões” a causar a lentidão da prestação jurisdicional.

O País possui uma das legislações processuais mais avançadas do século XXI, inclusive, e principalmente, no que diz respeito à sistemática recursal. Evidente que, quanto maior o número de recursos, mais demorada a resposta

(16)

para a questão posta à Juízo. Mas a diversidade de recursos ainda existente não autoriza a assertiva de que os recursos são os maiores responsáveis pela morosidade que conspurca a solução dos processos, uma vez que – estreme de dúvidas – o maior gargalo consiste na falta de investimentos em estrutura e pessoal que paira sobre o Judiciário já de longa data. Antes do advento das referidas leis, os recursos poderiam até ser considerados, numa visão mais extremista, os maiores entraves, mas as recentes reformas suavizaram esse paradigma.

Portanto, urge acabar com esse mito de que os recursos são “os

vilões” do Código de Processo Civil Brasileiro, no que concerne à excessiva

duração de uma demanda, mas obviamente, sem deixar de aperceber que nesta dimensão as várias espécies recursais prestam seu contributo a letargia processual. Nesse propósito, indispensável se faz uma abordagem criteriosa e sistemática destes, o que só um estudo bem direcionado pode intentar.

Espera-se que a obra seja de grande auxílio e enriqueça os conhecimentos jurídicos do prezado leitor, seja ele aluno ou um profissional do vasto campo de carreiras jurídicas hoje existentes.

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Tomo I

Teoria Geral dos Recursos

Capítulo I

Noções Gerais

1. Excertos iniciais. 1.1 Distinções entre processo e procedimento. 2. Atos processuais. 2.1 Pronunciamentos judiciais passíveis de recurso (arts. 162 a 165/CPC). 2.1.1 Sentença. 2.1.2 Decisão interlocutória. 2.1.3 Despachos. 2.1.4 Atos meramente ordinatórios. 2.1.5 Pronunciamentos proferidos nos tribunais. 3. Conceito de Recurso. 4. Natureza Jurídica. 5. Finalidade dos Recursos. 6. O órgão revisor e o processamento do recurso 7. Espécies e classificações dos recursos cíveis. 8. Recurso adesivo 9. Reexame necessário (remessa ex officio). 10. Nomenclatura 11. Pedido de Reconsideração.

1. Excertos iniciais

O ordenamento jurídico brasileiro determina que o Estado tem o dever exercer o papel de julgador das lides. É o Estado que deve solucionar os conflitos que a ele são levados através do direito de ação exercido pelo autor do processo.

Ao exercer o direito de ação, o autor provoca o Estado a solucionar seu conflito de forma justa, dando início a formação do processo que se desenvolverá por meio de um procedimento.

No intuito de assegurar o ideal de justiça que deve emanar de seus julgados e tendo em consideração o inconformismo inerente ao ser humano, o legislador confere ao vencido o direito de recorrer das decisões proferidas no processo. Assim, tem ele a chance de ver sua posição alterada.

(18)

Chama-se de recorrente aquele que, visando o reexame de uma decisão judicial, apresenta as razões de recurso e, de recorrido, aquele que com a intenção de defender-se do recurso interposto, apresenta as contrarrazões de recurso.

1.1 Distinções entre processo e procedimento

O processo é o meio pelo qual se resolve a lide, utilizando-se do

direito material, formando uma relação processual “actum trium personarum”, isto

é, entre autor, réu e juiz. Já o procedimento é a forma pelo qual o processo irá se desenvolver. É a seqüência de atos que dão andamento ao processo.

Desenvolve-se o procedimento por meios que se dividem em: comum (ordinário ou sumário), especial, ou ainda pelo meio sumaríssimo.

Inicia-se com a provocação do Estado pelo autor, marcada pela distribuição da petição inicial e documentos, seguida por toda a tramitação do processo até a prolação da decisão final.

A Constituição Federal de 1988 atribuiu competência exclusiva à União para legislar sobre processo, conforme determina o seu art. 22, inciso I1. Já o procedimento compete de forma concorrente à União, aos Estados e ao Distrito Federal, ex vi art. 24, inciso XI2 da Carta Magna.

2. Atos processuais

Atos de toda ordem são realizados durante a relação jurídica processual. Estes atos podem ser praticados pelas partes, pelos peritos, pelos serventuários da Justiça em geral, por terceiros e pelo juiz.

Dentre esses, somente os atos do juiz, e, especificamente,

alguns dos atos deste, podem ser objeto de recurso.

1

Art. 22/CF – “Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; [...]”

2

Art. 24/CF – “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: XI – procedimentos em matéria processual; [...]”

(19)

Conforme art. 162, caput, do Código de Processo Civil, “os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos”. Somente dos dois primeiros caberá recurso, quais sejam, de sentença e de decisão

interlocutória.

Há previsão legal expressa no sentido de não ser cabível recurso contra despacho. É o que se extrai do art. 504/CPC3, justamente pelo fato de que, em regra, ele não tem cunho decisório.

Entretanto, não é somente pelo fato de haver no ordenamento jurídico um preceito tão claro como o artigo em comento, que iniba qualquer hipótese de interpretação diversa da literal, que não é permitido recurso contra despacho. Há uma razão muito lógica para a defesa da regra: basta que se pense no despacho como o único dos três atos do juiz que não possui conteúdo decisório. Aquilo que não possui conteúdo decisório não pode causar prejuízo para uma das partes. A análise dos pronunciamentos judiciais tornará mais clara a compreensão do que foi exposto, e em caráter peculiar, no exame da natureza jurídica de atos judiciais que embora tenham formato de despacho, avançam na deliberação da questão.

2.1 Pronunciamentos4 judiciais passíveis de recurso (arts. 162 a 165/CPC)

2.1.1 Sentença

O parágrafo 1° do art. 162 do CPC aduz à sentença como sendo: “o ato do juiz que implica em alguma das situações previstas nos Arts. 267

e 269”.

Conforme se verá no estudo da apelação, a Lei 11.232/05 veio com o objetivo de alterar substancialmente o procedimento do CPC, a fim de que

3

Art. 504/CPC – “Dos despachos não cabe recurso.” 4

Não se deve confundir pronunciamentos judiciais com atos judiciais. É caso em que o legislador dixit plus quam voluit, posto que estes não são os únicos atos praticados pelo juiz. Pratica ele diversos outros como, por exemplo, os praticados durante a fase instrutória. O rol que se extrai dos Arts. 162 a 165/CPC consiste nos pronunciamentos do juiz, apenas uma categoria dos atos praticados por este. (Cf. MEDINA, José Miguel Garcia, WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recursos e ações autônomas de impugnação. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 35)

(20)

a sentença não colocasse fim ao processo, mas sim que este prosseguisse para eventual liquidação e execução, que deixariam de exigir a formação de nova relação jurídica processual para se tornarem fases5 de um processo sincrético.

Desta maneira, tornou-se necessária a adaptação do conceito de sentença à nova sistemática trazida por esta Lei, o que resultou na redação atual do dispositivo:

Art. 162, §1º/CPC – “Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei.” Percebe-se que dele fora retirada a expressão “põe termo ao

processo”. Houve substituição do critério para definição de sentença: do formal

(finalístico) – “por termo ao processo” – para o material (conteúdo) – implicar em

uma das situações dos arts. 267 e 2696.

Nessa concepção, afirma Araken de Assis que a sentença é o

pronunciamento do juiz que contém a resolução final do processo7.

Ultrapassada a questão da definição, pode-se extrair a típica classificação das sentenças em:

a) Sentença terminativa: é aquela que extingue o processo sem

julgamento de mérito. É proferida na ocorrência de alguma das hipóteses

elencadas no art. 267/CPC, hipóteses essas que se traduzem no reconhecimento pelo Estado da inadmissibilidade da tutela jurisdicional nas circunstâncias em que fora invocada pela parte8.

Uma vez caracterizada a incidência de alguma das hipóteses do referido artigo, caso o vício não possa ser sanado, ou, podendo, a parte não o tenha feito no prazo assinalado pelo juiz, este não poderá inovar no processo, posto que qualquer comentário ou apreciação em torno da lide só é legítima e

5

Daí resultaram importantes reflexos, como a não-necessidade de nova citação, bastando apenas a intimação do vencido, que já estava ciente da existência de título executivo judicial (sentença) contra si. A citação nada mais fazia que protelar injustificadamente a satisfação da já reconhecida pretensão do vencedor da causa, o que não se coadunava com a celeridade do processo moderno (Art. 5º, LXXVIII/CF).

6

CORTEZ, Cláudia Helena Poggio. O novo conceito de sentença visto pelos tribunais. RePro 171/285. São Paulo: Ed. RT, mai. 2009.

7

ASSIS, Araken de. Cumprimento da sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p.20. 8

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. v.1. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 495.

(21)

autorizada pela lei quando o processo for hígido, isto é, quando presentes todos os pressupostos e condições reclamados para validade e plena eficácia da relação processual (art. 262 a 266/CPC)9.

Com o trânsito em julgado dessa espécie de sentença, se aperfeiçoará a coisa julgada formal, momento no qual restará consolidado o efeito da sentença prolatada, qual seja: a extinção do processo, impedindo a rediscussão do objeto da lide no mesmo processo, mas sem impedir, quando possível escoimar o defeito, a rediscussão em outro processo com a renovação da ação, na esteira do art. 268 do CPC10.

Eventual recurso interposto pela parte no prazo de que dispõe buscará tão-só derrubar o fundamento de que se valera o juiz para extingui-lo. Caso obtenha sucesso, a causa retomará seu curso e o mérito será apreciado, posto que a causa que o inviabilizara fora infirmada. Antes disso, como já dito, inviável a pretensão.

b) Sentença definitiva: É aquela que aprecia o mérito, total ou parcialmente. Será proferida na ocorrência de uma das situações enumeradas no art. 269/CPC. Representa o alcance do escopo da jurisdição11, que é compor a lide.

Como visto, com o advento da Lei 11.232/0512, a sentença definitiva passou a ser vista como aquela que põe fim a uma das fases do processo sincrético, e não a este. Somente em casos excepcionais, como nas hipóteses de decadência, prescrição e renúncia (art. 269, IV e V), uma vez transitada em julgado, seja por inexistência de recurso ou esgotamento das instâncias, a decisão [sentença] tornar-se-á coisa julgada e extinguirá o processo, pois não haverá necessidade de qualquer fase posterior, como a executiva, a não ser para execução de verbas sucumbenciais.

9

FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 678. 10

Art. 268/CPC – “Salvo o disposto no art. 267, V, a extinção do processo não obsta a que o autor intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado.”

11

WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo; ALMEIDA, Flávio Renato Correia. Curso Avançado de Processo Civil. 7ª ed.: RT, 2005. p.183.

12

A reforma trazida pela Lei 11.232/05 e suas consequências no plano recursal serão tratadas com maior vagar no Capítulo I, item 1 do Tomo II deste Livro.

(22)

Elucidativa a lição do Professor Antônio Cláudio da Costa Machado13, sintetizando todo o raciocínio:

“[...] a sentença, no processo civil brasileiro, não é mais necessariamente o ato do juiz que põe fim ao processo, por que nos casos de procedência do pedido, reconhecimento jurídico e transação (art. 269, I a III), nas hipóteses de ação de condenatórias ou mandamentais, é apenas ato decisório de transação da fase cognitiva para a fase executiva do processo de conhecimento [...] Contudo, nas hipóteses de decadência, prescrição e renúncia (art. 269, IV e V) e nas elencadas nos onze incisos deste art. 267, a sentença continua sendo ato de extinção do processo [...].”

Assim sendo, a sentença definitiva é aquela que impede a rediscussão do objeto da lide no mesmo processo ou em qualquer outro, impedindo, outrossim, a renovação da ação, resultando de tal contexto a formação da coisa julgada material, pois já definitivamente apreciada e julgada a lide.

Por fim, anota-se que da sentença – terminativa ou definitiva – caberão somente os recursos de apelação e de embargos declaratórios (este último cabível de toda e qualquer decisão judicial).

2.1.2 Decisão interlocutória

O parágrafo 2° do art. 162 do CPC define decisão interlocutória como “o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente”.

É pronunciamento jurisdicional que tende a resolver uma questão surgida no transcorrer do processo e que se traduza em óbice para a apreciação do mérito da causa. A rigor14, será este o objeto de decisão interlocutória.

13

MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. Código de processo civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo; 6 ed. rev. e atual. Barueri: Manole, 2007. p. 253.

14

Há exceções. Segundo Teresa Arruda Alvim Wambier e José Miguel Garcia Medina, “[...] nem todas as decisões interlocutórias são proferidas para se resolver questões incidentes [...] Assim, não se pode, de regra, falar de decisões interlocutórias resolvendo propriamente questões quando são proferidas de ofício, v.g., a decisão que toma o juiz fazendo uso de seu poder geral de cautela [...]” (Cf. MEDINA, José Miguel Garcia, WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recursos e ações autônomas de impugnação. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 37)

(23)

Não é possível um rol exaustivo das decisões interlocutórias, porque toda e qualquer questão surgida no desenrolar do processo acaba por suscitar uma decisão judicial15.

Decisão interlocutória jamais extingue o processo, pois trata apenas de questões de matéria processual, não decidindo questões de direito material, uma vez que resolve, como o próprio nome já diz, incidentes. Incidente é tudo aquilo que tem caráter acessório, secundário, que sobrevém. Não adentra, portanto, o mérito da causa (principal).

Através desse provimento, por exemplo, o juiz pode conceder tutela antecipada (art. 273/CPC), determinar a suspensão do processo, a realização de prova pericial etc.

A rigor, desta espécie de decisão, exsurgirá o direito da parte que entender prejudicada a interposição do recurso de agravo, retido ou por instrumento, além dos embargos declaratórios, nas suas precisas hipóteses de cabimento, a serem estudadas à frente.

2.1.3 Despachos

Conforme o art. 162 do CPC, §3°, “são despachos todos os

demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cuja respeito a lei não estabelece outra forma”. Despacho nada mais é do que o

ato do juiz que impulsiona o processo – em atenção ao princípio do impulso oficial – sem nenhum conteúdo decisório. Ante a ausência de decisão, não há como se ventilar prejuízo à parte.

Que dano causaria um despacho que determina a intimação do perito ou que designa data para audiência? Nenhum. Os despachos são responsáveis unicamente pela movimentação do processo, em observância ao

15

WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo; ALMEIDA, Flávio Renato Correia. Curso Avançado de Processo Civil. 8ª ed.: RT, 2006. p. 172.

(24)

princípio do impulso oficial16. Logo, claro fica que um equívoco seria, senão uma ilogicidade, a possibilidade de recurso contra esse ato.

No entanto, cabe anotar que há posicionamento na doutrina17 e jurisprudência18 no sentido do cabimento de agravo contra despachos errados,

que causem prejuízo às partes. A ratio dessa medida, a despeito da literalidade do

art. 504/CPC, é a de que o despacho não pode causar prejuízo às partes; destarte, fazendo-o, perde a sua natureza jurídica de ato que visa tão-só impulsionar o processo para adquirir natureza de ato decisório, capaz de causar gravame, contra o qual, a rigor, não se pode privar a parte da possibilidade de recorrer.

2.1.4 Atos meramente ordinatórios19

O art. 162, § 4° define como ato meramente ordinatório aquele que deve ser praticados de ofício pelo servidor e revisto pelo juiz quando necessário. São os atos determinados por lei e devem ser cumpridos de ofício, independentemente de despacho, como a juntada e a vista obrigatória do processo. Pela leitura do dispositivo, resta tão evidente a falta de conteúdo decisório que o ato é delegado a servidor do juízo, e como ato de cunho decisório

16

Art. 262/CPC – “O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial.”

17

MEDINA, José Miguel Garcia, WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recursos e ações autônomas de impugnação. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 156.

18

“1. Os atos jurídicos praticados pelo juiz consubstanciam-se dentre outros em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. Estes últimos, quando assumem a natureza de despachos de mero expediente, ou seja, aqueles que apenas impulsionam a marcha processual, sem prejudicar ou favorecer qualquer das partes, não são suscetíveis de impugnação por recurso. 2. A decisão do juízo singular, determinando à exeqüente que compatibilize o valor constante da inicial com os valores insertos na CDA, ultrapassa os limites do mero impulso oficial, revelando o potencial de ensejar prejuízos à parte, por isso perfeitamente admissível sua impugnação pela via recursal do agravo de instrumento (Precedentes: REsp n.º 891.671/ES, Rel. Min. Castro Meira, DJU de 15/03/2007; e REsp n.º 907.303/ES, Rel. Mi. José Delgado, DJU de 13/08/2007)” (STJ, 2ªT., REsp 891.671/ES, rel. Min. Castro Meira, j. 06.03.2007, DJ 15.03.2007, p. 303)

19

Os atos meramente ordinatórios não fazem parte dos pronunciamentos judiciais. São atos que caberiam, em tese, ao juiz, mas que, em virtude da Lei 8.952/94, foram delegados aos servidores do juízo. Caberão ao escrivão ou secretário, que os praticará ex officio. Entretanto, em virtude do fato de constarem do Art. 162 – que enuncia os provimentos jurisdicionais – e de serem passíveis de revisão pelo juiz quando necessário, são aqui analisados a fim de espancar qualquer dúvida que paire sobre estes.

(25)

só pode ser praticado pelo juiz, tem-se que o ato é desprovido de resolução. Não necessitara a lei, in casu, de disposição expressa como fez no art. 504/CPC retro mencionado.

Desse modo, vale para os atos meramente ordinatórios o mesmo que se aplica aos despachos: contra eles não caberá recurso20.

O §4º fora incluído no art. 162/CPC pela Lei 8.952/94, já em vigência, portanto, há mais de quinze anos. Contudo, não é por demais acrescentar que a disposição foi reforçada pela Emenda Constitucional nº 45/2004 (Reforma do Judiciário) que acrescentou o inciso XIV ao art. 93 da Constituição Federal, determinando que se torne regra nos juízos a delegação aos servidores de “atos de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório”.

A partir dessa Emenda, os despachos a que se refere o art. 162, §3º/CPC passaram a ser, em regra, atos de rotina das secretarias judiciais21, evidentemente passíveis de revisão pelo magistrado, quando necessário, até mesmo porque os despachos são submetidos obrigatoriamente ao crivo do juiz, no momento de apor sua assinatura para a regular marcha processual.

2.1.5 Pronunciamentos proferidos nos tribunais

Em instância superior, não são proferidas sentenças ou decisões interlocutórias. Estes são atos do juiz de primeiro grau. Os julgadores dos tribunais proferem atos análogos àqueles, respectivamente, acórdãos22 e decisões

monocráticas.

O acórdão é aquele que aprecia a pretensão recursal (o pedido que o vencido fizera na petição do recurso). O que distingue claramente acórdão da sentença é que, ao passo em que esta é proferida por juiz singular, aquele

20

“[...] São irrecorríveis os atos praticados pelo escrivão por conta de delegação do magistrado (Art. 162, §4º; CF/88, Art. 93, XIV) – tais atos podem ser revistos pelo próprio magistrado, a partir de provocação feita nos autos, sem maiores formalidades.” (DIDIER JR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais. 5ª.ed. Salvador: JusPodivm, 2008. p. 35)

21

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. v.1. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 231.

22

(26)

caracteriza-se por ser decisão colegiada, ou seja, proferida por mais de um julgador23.

Além dos embargos de declaração, que caberá contra qualquer decisão judicial, pode o acórdão desafiar os seguintes recursos: embargos infringentes, recurso extraordinário, recurso especial, embargos de divergência e recurso ordinário constitucional.

Por sua vez, as decisões monocráticas, como indica, de antemão, o vocábulo mono, são proferidas por um só juiz. Essas decisões, em regra, não apreciam a pretensão recursal, mas sim questões outras como, por exemplo, com que efeitos será recebido o recurso24. Podem elas ser proferidas pelo relator ou pelo Presidente (ou Vice-Presidente) do Tribunal, em causas que são da sua competência.

Tanto o acórdão como a decisão monocrática possuem a aptidão de encerrar ou não o procedimento, não sendo esse o aspecto que as diferencia25. Ambas as decisões podem ser, portanto, interlocutórias ou finais.

São diversas as decisões monocráticas, e consequentemente, diversos serão os recursos cabíveis contra estas, que deverão ser escolhidos pela parte que pretenda recorrer de acordo com o seu respectivo objeto.

Dentre outros, cabíveis serão os seguintes recursos26: o agravo contra o indeferimento de recurso, pelo relator (art. 557/CPC)27; o agravo contra o

23

A rigor, todo acórdão de segundo grau é proferido por um colegiado de três juízes (há exceções, que hão de ser expressamente previstas no regimento destes, como é o caso dos embargos infringentes, que, no Tribunal de Justiça de São Paulo, é julgado por cinco desembargadores, cf. art. 39/RITJSP). Entretanto, já em Tribunais Superiores, o número dependerá de qual o Tribunal e do que dispõe o seu regimento. A título exemplificativo, um acórdão da Turma do STF tem a apreciação e votação de cinco juízes.

24

Os efeitos do recursos serão estudados mais adiante. 25

SOUZA, Bernardo Pimental. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. 2. ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2001. p. 34 apud DIDIER JR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais. 5ª.ed. Salvador: JusPodivm, 2008. p. 35.

26

MEDINA, José Miguel Garcia, WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recursos e ações autônomas de impugnação. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 41.

27

Art. 557/CPC – “O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. § 1º-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso. § 1º Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do

(27)

indeferimento do recurso extraordinário ou especial pelo Presidente do Tribunal de que emanou o acórdão recorrido (art. 544/CPC28); o agravo contra decisão do Presidente de Seção, de Turma ou de relator, no STF e STJ (art. 39/Lei 8038/90).

3. Conceito de Recurso

É correto afirmar que, durante o curso do processo, várias decisões podem ser proferidas, tais como decisões interlocutórias, sentença e acórdão. Estas decisões podem prejudicar umas das partes, nascendo daí o direito de revisão das mesmas em atenção ao princípio do duplo grau de jurisdição, que é exercido através de uma série de recursos previstos na legislação brasileira.

Na acepção de Amaral Santos: “Recurso, é, pois, o poder de

provocar o reexame de uma decisão, pela mesma autoridade judiciária, ou por outra, hierarquicamente superior, visando obter a sua reforma ou modificação”29.

Segundo a origem etimológica – no latim, recursos, us – significa

a repetição de um caminho já utilizado. Na lição de Barbosa Moreira, o recurso

deve ser entendido, “no direito processual civil brasileiro, como o remédio

voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”30.

Voluntário, pois não pode ser exercido “ex oficio”, isto é, o juiz

não pode pretender reformar de ofício a própria decisão, salvo nos casos previstos em lei, utilizando-se da revisão (art. 463, inciso I do CPC), uma vez que vale recurso, e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o recurso terá seguimento.

28

Art. 544/CPC – “Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo de instrumento, no prazo de 10 (dez) dias, para o Supremo Tribunal Federal ou para o Superior Tribunal de Justiça, conforme o caso.”

29

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, 3° volume, 24. ed. rev. e atual por Maria Beatriz Amaral Santos Kohnen, São Paulo,: Saraiva, 2010. p. 84.

30

Cf. MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Recursos no processo civil. 6. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2009. p. 2. Cita o referido autor a acepção de Nelson Nery Jr: “Num sentido amplo, o recurso é o remédio processual que a lei coloca à disposição das partes, do Ministério Público ou de um terceiro, a fim de que a decisão judicial possa ser submetida a um novo julgamento, por órgão de jurisdição hierarquicamente superior, em regra, àquele que a proferiu”.

(28)

também para o direito de recorrer o que se aplica ao direito de ação: só haverá recurso por iniciativa da parte. Não há recurso ex officio. Ao não recorrer, o vencido assume implicitamente que se conforma com a decisão proferida.

Já quanto ao fim almejado pelo recorrente, os recursos podem objetivar:

a) a invalidação, quando o recorrente tem a intenção de desconstituir ou anular a decisão com fundamento no “error in procedendo”, ou seja, alegando que o juiz não observara o procedimento da forma devida (vícios, falta de condições da ação, de pressupostos processuais, entre outros);

b) a reforma, nos casos em que o recorrente crê que o juiz tenha agido com “error in judicando”, isto é, que não tenha julgado a sua pretensão com o devido acertamento. Visa obter um pronunciamento mais favorável a si;

c) o esclarecimento, quando a decisão judicial for proferida de forma obscura, omissa ou contraditória, ou seja, ocorre quando o recorrente deseja a reforma da decisão a fim de tornar mais claro o seu entendimento ou com intuito de ser apreciado pelo juiz algum pedido que este deixou de apreciar por omissão. Nesse caso, será cabível os embargos de declaração (art. 535/CPC), que será analisado mais adiante.

Por fim, os recursos só podem ser criados por lei, em observância ao princípio da taxatividade recursal e respeitados o artigo 22, inciso I e artigo 24, inciso XI da Constituição Federal.

4. Natureza Jurídica

Pode-se definir a natureza jurídica dos recursos como uma

extensão do direito de ação, da ampla defesa e do contraditório. Nelson Luiz Pinto

afirma que o recurso “é uma extensão do direito de ação ou de defesa, e,

portanto, apenas prolonga a vida do processo e a litispendência existente, dentro da mesma relação processual”31.

31

PINTO, Nelson Luiz. Manual dos recursos cíveis. 2. ed. item 9.3.1. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 27.

(29)

Com ele, a parte pleiteia uma nova pretensão: a reapreciação da matéria que foi julgada de maneira desfavorável para o recorrente, também nos casos em que a decisão necessita de esclarecimentos, ou ainda quando parte do pedido não fora apreciado (direito de ação). Ao mesmo tempo, tem uma nova oportunidade de se defender, embora não possa ampliar os limites de sua defesa32 (ampla defesa e contraditório). Por exemplo, se a parte não alegou culpa exclusiva da vítima em lide que verse sobre a prática de ato ilícito, não poderá fazê-lo em sede recursal, posto que o ordenamento não lhe permite alterar os limites objetivos – o pedido e a causa petendi – que fixara ao interpor a inicial.

É ainda tido como ônus processual (e não um dever), uma vez que a parte não é obrigada a recorrer, mas caso permaneça inerte se submeterá as conseqüências do trânsito em julgado, com a obrigação de se submeter peremptoriamente o que determinado pelo julgador.

Neste contexto, entende-se o ônus processual como todo aquele ato que a lei “recomenda” que a parte pratique para que ela possa tutelá-lo. Aplicando esse conceito in casu, se a parte recorre, o Judiciário reapreciará o seu pedido. Por outro lado, se não recorrer, consolidam-se os efeitos da decisão com o trânsito em julgado (se sentença), ou com a preclusão (se decisão interlocutória), e o vencido fica privado da tutela que o ordenamento processual lhe permitia obter.

5. Finalidade dos Recursos

Os recursos têm por finalidade atender à necessidade humana, que sempre busca a certeza e o resultado definitivo para sua questão jurídica, ante ao inconformismo natural da parte vencida, bem como evitar a possibilidade de erro de um único julgamento, levando-se em conta a falibilidade do ser humano, e ainda, privar as partes de ocasional má-fé ou abuso de poder do julgador.

32

Essa vedação não é absoluta. A parte poderá pleitear a procedência de seu pedido com outro fundamento que não aquele aduzido em primeiro grau se matéria de ordem pública ou fato superveniente.

(30)

A existência de graus de jurisdição no Poder Judiciário33 dá-se pela necessidade de uma visão mais ampla e coletiva da lide. Ademais, o que se espera de julgadores de instâncias hierarquicamente superiores é que tenham mais expertise, o que saliente-se, não se afirma como uma regra. Além disso, a visão dos juízes de primeiro grau pode ser embaraçada por eventual influência da proximidade com as partes envolvidas no caso – calor dos fatos – ou pela pressão da mídia local, o que pode não resultar em julgamento de forma totalmente imparcial, de tal modo que esse sistema recursal serve até mesmo como uma espécie de freio para esses juízes, e por outro lado, acaba por impelir à constante reciclagem de conhecimentos dos magistrados, cientes de que suas ideias e conhecimentos jurídicos serão rediscutidos por outros membros do judiciário.

Tal fato nos leva a crer que este princípio torna os juízes mais cuidadosos na elaboração de suas decisões, enquanto os Tribunais – em tese – farão uma análise baseada apenas nos fatos, nas provas e no Direito, e, por consectário, de forma mais isenta e desprovida de paixão34, além do fato de que a existência de mais de um grau de julgamento atende ao princípio da pluralidade de jurisdição, que não permite que um juízo singular seja a única opção às partes.

6. O órgão revisor e o processamento do recurso

33

Art. 92/CF – “São órgãos do Poder Judiciário: I – o Supremo Tribunal Federal; I-A o Conselho Nacional de Justiça; II – o Superior Tribunal de Justiça; III – os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV – os Tribunais e Juízes do Trabalho; V – os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI – os Tribunais e Juízes Militares; VII – os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.”

34

Como se verá adiante, no estudo do princípio do duplo grau de jurisdição, o distanciamento dos fatos também é visto como ponto desfavorável, uma vez que: a) O juiz de segundo grau não tem qualquer contato com as partes e com a produção da prova. Logo, embora mais antigo, não se pode dizer que esteja em melhores condições de julgar (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Op. cit., p. 507/508). Além do que, ocorre a inutilização do procedimento oral, dado que a decisão que verdadeiramente prevalecerá, a rigor, será aquela do órgão de segundo grau, com base em um procedimento (reduzido a) escrito, e não a do juiz de primeiro grau, que participou do processo e teve contato direto com a produção de provas, o que, inegavelmente, atribui-lhe melhores condições de extrair a verdade dos fatos. Resta, assim, prejudicada a busca da oralidade tão proclamada pelo sistema processual, que tem por grande vantagem a valorização da percepção do julgador (Cf. LASPRO, Orestes Nestor de Souza. Duplo grau de jurisdição no direito processual civil. São Paulo: RT, 1995, p. 133).

(31)

A pretensão poderá ser revista pelo mesmo órgão julgador ou por outro hierarquicamente superior, dentro de um processo já existente e sempre antes da formação da coisa julgada. Logo, não dá origem a nova relação processual.

O fato de o recurso se desenvolver dentro do mesmo processo não significa que ele estará sempre dentro dos mesmos autos, pois haverá casos em que o recurso subirá ao Tribunal em autos próprios, enquanto o processo principal prosseguirá no juízo a quo. É o que ocorre, por exemplo, nos embargos infringentes e no agravo de instrumento.

7. Espécies e classificações dos recursos cíveis

Uma série de recursos cíveis são permitidos pela legislação brasileira. O Código de Processo Civil, em seu art. 496/CPC traz as seguintes espécies:

I – apelação; II – agravo;

III – embargos infringentes; IV – embargos de declaração; V – recurso ordinário;

Vl – recurso especial; Vll – recurso extraordinário;

VIII – embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário. Entretanto, esse rol não é taxativo. O ordenamento prevê outros recursos que constam de legislação extravagante, tais como os embargos

infringentes da Lei 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal) – que não se confundem

com os embargos infringentes do CPC – e o recurso inominado da Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais).

(32)

a) Quanto ao objeto35: recursos “ordinários” e “extraordinários” lato sensu (ou excepcionais)

Os recursos ordinários seriam aqueles que o recorrente interpõe no intuito de que seja reapreciado pelo Poder Judiciário um direito seu, subjetivo.

Já nos recursos tidos por extraordinários, o recorrente, logicamente, quer defender um direito seu, todavia, o faz de forma indireta. Em outras palavras, alega que o ordenamento jurídico, como um todo, fora ferido36. Aduz que uma norma desse sistema fora violada pelo julgador de sua causa, e busca defendê-la para indiretamente inverter o resultado do julgamento e obter êxito na demanda.

Age desta forma porque, se obtiver êxito defendendo-a, o fundamento de que se valera o juiz – fundamento esse que o recorrente alega que ofendera o ordenamento – cairá por terra, logo, não podendo subsistir, inclusive, e principalmente, contra o seu direito subjetivo, que será assim, indiretamente, tutelado.

b) Quanto à fundamentação: recursos de fundamentação livre e de fundamentação vinculada

Nos recursos de fundamentação livre, a parte poderá invocar qualquer tipo de vício na decisão prolatada. É o que ocorre, p. ex., na apelação. Não há, in casu, norma que restrinja as razões que a parte possa deduzir.

Os recursos de fundamentação vinculada, por outro lado, são aqueles em que há norma no sistema que impede a parte de se valer de qualquer fundamento, restringindo seu campo de defesa a algumas hipóteses enumeradas taxativamente. Só poderá o recorrente se valer dos embargos de declaração, por exemplo, conforme dispõe o art. 535/CPC37, nas hipóteses em que a decisão judicial houver sido proferida de forma obscura, contraditória ou omissa.

35

ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 29/30. 36

Conforme será estudado com mais vagar no capítulo correspondente a esses recursos, quando a parte interpõe Recurso Extraordinário no STF, alega ele ofensa à Constituição Federal. Já quando apresenta Recurso Especial perante o STJ, alega ofensa à legislação infraconstitucional. 37

Art. 535/CPC – “Cabem embargos de declaração quando: I – houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; II – for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal.”

(33)

c) Quanto à devolutividade: recursos devolutivos (ou reiterados) e recursos não-devolutivos (ou iterativos)

Os recursos devolutivos (ou reiterados) são aqueles em que a questão é devolvida (transferida) pelo juiz da causa a outro juiz ou tribunal (juiz do recurso). Ex. apelação;

Já os recursos não-devolutivos (ou iterativos) consistem naqueles que são julgados pelo mesmo juiz que proferiu a decisão recorrida. Ex. embargos de declaração e embargos infringentes.

8. Recurso adesivo

O recurso adesivo não é espécie de recurso, mas modo de

interposição do recurso38.

Antes de sua introdução no ordenamento pátrio, não raro ocorria de, havendo a sucumbência recíproca, o litigante que já havia se conformado com a decisão, preferindo seu resultado ao invés de estender ainda mais o processo, tivesse de recorrer unicamente para não correr o risco de que o seu adversário o fizesse e ele não dispusesse de prazo excedente para também o fazer39. Este já havia se conformado com a decisão, desde que seu adversário observasse

comportamento idêntico. Os mais prudentes, para afastar esse risco, buscavam

acordar a renúncia recíproca ao direito de recorrer. No entanto, estes que estabeleciam acordos-renúncia eram minoria, o que fazia com que os tribunais

38

Cf. GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. vol. 2. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 319.

39

“Ora, podia acontecer que alguma das partes, embora não totalmente satisfeita, se sentisse inclinada, por qualquer razão, a conformar-se com o julgamento, v.g., para evitar ulteriores incômodos e despesas. Se, entretanto, não interpusesse o recurso no prazo comum, sujeitava-se a ver prosseguir o feito, apesar disso, em virtude da interposição pela parte contrária, talvez no último instante do prazo. Tomada assim de surpresa, sofria, afinal de contas, dupla frustração: abstivera-se de recorrer por achar que o encerramento imediato do processo era compensação bastante para a renúncia à tentativa de alcançar integral satisfação, e no entanto a compensação lhe escapava; pior ainda, já não dispunha de meio idôneo para, retificando a posição primitiva, ir buscar no juízo recursal o que deixara de conseguir no grau inferior de jurisdição.” (BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao código de processo civil. v. 5. n.169. Rio de Janeiro: Forense, 2006)

(34)

recebessem uma carga de recursos que não necessitaria de existir, posto que ausente um verdadeiro interesse em recorrer.

Com a introdução do recurso adesivo pelo CPC/1973, aquele que sucumbiu parcialmente deixou de ter essa preocupação, uma vez que a forma adesiva permite a abertura de prazo para que aquele que havia se conformado

com a decisão possa também recorrer caso o adversário o faça primeiro. Evita-se,

assim, recursos desnecessários que superlotavam os tribunais e retardavam o restabelecimento da paz social.

O litigante continuará com o direito de interpor recurso

independentemente, mas também poderá fazê-lo adesivamente, uma vez

observadas as regras do art. 500/CPC, que regula esse forma específica de

interposição:

Art. 500/CPC – “Cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e se rege pelas disposições seguintes:

I – será interposto perante a autoridade competente para admitir o recurso principal, no prazo de que a parte dispõe para responder;

II – será admissível na apelação, nos embargos infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial;

III – não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto.

Parágrafo único. Ao recurso adesivo se aplicam as mesmas regras do recurso independente, quanto às condições de admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal superior.”

De sua leitura, verifica-se qual o órgão competente, os

legitimados a interpô-lo, o prazo para a sua interposição e início de sua contagem,

as espécies recursais em que será cabível, a dependência em relação ao recurso

principal e as normas em geral a ele aplicáveis.

a) órgão competente – É caso de competência (funcional) absoluta. O recurso há de ser interposto perante o mesmo que recebera o recurso principal. Ambos serão apreciados e julgados pelo juízo ad quem na mesma sessão.

(35)

b) legitimados para a interposição do recurso adesivo – Apenas as partes são legitimadas a interpô-lo, conforme a redação do “caput”, o que exclui o MP e o terceiro prejudicado40, sendo ainda necessário que ambas sejam sucumbentes, no qual as partes contrárias sejam ao mesmo tempo vencedora e vencida.

c) prazo para a sua interposição e início de sua contagem – O prazo será aquele “de que a parte dispõe para responder” ao recurso interposto pela outra parte.

No recurso adesivo, será este sempre de 15 (quinze) dias, uma vez que é este o prazo de que a parte poderá se valer para interpor as espécies recursais constantes do inciso II do artigo 500/CPC, conforme se extrai do art. 508/CPC. Em suma, o prazo de contrarrazões dos recursos que permitem a forma adesiva é sempre de 15 (quinze) dias, e é neste prazo que o recorrido poderá apresentar além das contrarrazões, o seu recurso adesivamente.

d) espécies recursais em que será cabível – Será cabível o recurso adesivo “na apelação, nos embargos infringentes, no recurso

extraordinário e no recurso especial”. É rol taxativo (numerus clausus), ou seja,

não caberá em nenhuma outra espécie recursal.

e) dependência em relação ao recurso principal – O

conhecimento do recurso principal é verdadeira questão prejudicial ao

conhecimento do recurso adesivo, de tal forma que se o primeiro não for

conhecido, o conhecimento do recurso adesivo restará prejudicado. Todavia, conhecido o principal, ainda que improvido, o adesivo poderá ou não ser conhecido – de acordo com o preenchimento dos seus requisitos de

admissibilidade41.

O recurso adesivo é, portanto, um acessório do recurso principal, por isso também chamado de recurso subordinado. Não conhecido o principal, o

40

FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 806-807. 41

O juízo de admissibilidade será estudado no Capítulo III deste Livro. Entretanto, a fim de possibilitar o entendimento do recurso adesivo, basta entender o juízo de admissibilidade como o correspondente, em sede recursal, às condições da ação e pressupostos processuais da fase inicial do conhecimento. São requisitos que devem ser observados para que o juiz esteja autorizado a proferir um julgamento de mérito. Assim também é com os recursos: o não preenchimento dos requisitos de admissibilidade impede o juiz de julgar o seu mérito.

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