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Procedimento no juízo ad quem

No documento Manual de Recursos.pdf (páginas 179-182)

Recursos em Espécie

6. Procedimento no juízo ad quem

Proferido o juízo positivo de admissibilidade pelo juízo a quo, os autos são remetidos ao juízo ad quem, no qual será distribuído mediante critérios abstratos e predeterminados (princípio do juiz natural) a um juiz que será o relator

da causa.

É a ele atribuída essa denominação pelo fato de que é responsável pela elaboração do relatório da causa, documento com base no qual ele e os demais componentes do colegiado julgarão a apelação.

Também é conferida ao relator a realização do juízo de admissibilidade recursal na instância superior. Este juízo não se vincula àquele proferido pelo juízo da origem.

Resta indiscutível que a competência para a verificação dos requisitos de admissibilidade do recurso é daquele que o julgará definitivamente, ou seja, do colegiado. No entanto, essa competência é delegada ex vi legis ao relator, para fins de otimização dos trabalhos no âmbito dos Tribunais (rectius:

uma segunda barreira à entrada de recursos que não preencheram as exigências legais, na abarrotada pauta de julgamentos dos colegiados), de tal modo que,

certamente, negado seguimento ao recurso pelo relator, cabível será agravo

interno para o colegiado344.

344

“Conforme já advertiu autorizada doutrina, a possibilidade de julgamento monocrático é inócua, eis que implicará duplo julgamento da mesma matéria pelo relator e pelo colegiado a que este se vincula. É manifesto que quem já recorreu não se conformará com a decisão singular do relator, só porque se trata de um juízo hierarquicamente superior. O benefício temporal com o improvimento ou provimento singular do recurso, além de prejudicado, é revertido, com a análise do agravo interno pelo colegiado” (GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Flexibilização procedimental. São Paulo: Atlas, 2008. p.176/177)

De outra monta, se, analisados os requisitos de admissibilidade, der o relator pelo conhecimento345 do recurso, os autos serão conclusos para

aquele que será o revisor346 da apelação, que após dar o seu “visto” nos autos,

providenciará data347 para julgamento348 (art. 551, §2º/CPC), culminando, posteriormente, na prolação de seu voto, conforme se verá adiante.

A Lei 9.756/98 introduziu no CPC uma série de poderes para que o relator, quando da apreciação da petição recursal, não só possa negar ou dar

seguimento ao recurso, mas, ainda, provê-lo ou improvê-lo monocraticamente,

desde que presentes as hipóteses legais.

Os poderes do relator tem sede no art. 557/CPC, que aduz: Art. 557/CPC – “O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.

§1º-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso.

§1º Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso, e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o recurso terá seguimento.

§2º Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor corrigido da causa,

345

Da decisão que dá seguimento ao recurso, seja a proferida pelo juiz de primeiro grau, seja pelo relator, não caberá recurso, uma vez que ela não causa prejuízo às partes, promovendo tão-só o andar da marcha processual.

346

Art. 551, “caput” e §1º/CPC – “Tratando-se de apelação, de embargos infringentes e de ação rescisória, os autos serão conclusos ao revisor. §1º Será revisor o juiz que se seguir ao relator na ordem descendente de antigüidade.

347

Súmula 117/STJ – “A inobservância do prazo de 48 horas, entre a publicação de pauta e o julgamento sem a presença das partes, acarreta nulidade.”

348

Há hipóteses em que, por disposição legal expressa, não haverá revisor da causa. Nestes casos, caberá ao relator pedir data para julgamento. Essas hipóteses constam do Art. 551, §3º/CPC, que enuncia: – “Nos recursos interpostos nas causas de procedimentos sumários, de despejo e nos casos de indeferimento liminar da petição inicial, não haverá revisor”. Além dessas hipóteses do §3º, não haverá revisor em recurso de apelação em mandado de segurança (STJ, AgRg no Ag 620.149/RJ, 6ªT, j. 16.03.2006, rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, DJ 03.04.2006, p.429).

ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito do respectivo valor.”

Ressalvada a decisão do relator que dá seguimento ao recurso,

em qualquer dessas hipóteses – não-conhecimento, provimento ou improvimento – cabível será agravo interno no prazo de cinco dias para o colegiado. Agravada a decisão monocrática, será dada oportunidade ao relator para retratar-se. Se ainda assim ele mantiver o seu posicionamento, apresentará o processo ao colegiado já proferindo o seu voto. Eventualmente, se o colegiado decidir prover o agravo (não o recurso que fora inadmitido!), a apelação terá seguimento. (art. 557, §1º/CPC)

Assim, uma vez admitida a apelação – portanto, não sendo hipótese de aplicação do art. 557/CPC – a causa vai a julgamento pelo colegiado na data aprazada. Nessa ocasião, inicialmente deverá o relator ler o seu relatório da causa (que também consiste num dos votos). Constatando a existência de alegações tanto de error in procedendo quanto de error in judicando, a apreciação da primeira precederá à segunda, pelos motivos já expostos no Cap. III, item 6 do Tomo I deste Livro. Ainda, será facultado ao apelante e apelado sustentar

oralmente suas razões pelo prazo de 15 (quinze) minutos cada qual (art.

554/CPC349), o que será seguido da colheita imediata350 dos votos, culminando na lavratura do acórdão, decisão que põe fim ao julgamento da apelação.

Por fim, publicado o dispositivo do acórdão, inicia-se o prazo para que o vencido (agora, vencido na apelação, que pode ou não ser o apelante), recorra do acórdão, o que será possível desde que presentes os pressupostos específicos da espécie recursal de que pretenda se valer, dentre aquelas cabíveis contra essa decisão, quais sejam: embargos declaratórios, embargos infringentes,

recurso extraordinário e recurso especial.

349

Art. 554/CPC – “Na sessão de julgamento, depois de feita a exposição da causa pelo relator, o presidente, se o recurso não for de embargos declaratórios ou de agravo de instrumento, dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente e ao recorrido, pelo prazo improrrogável de 15 (quinze) minutos para cada um, a fim de sustentarem as razões do recurso.”

350

Art. 555, §2º/CPC – “Não se considerando habilitado a proferir imediatamente seu voto, a qualquer juiz é facultado pedir vista do processo, devendo devolvê-lo no prazo de 10 (dez) dias, contados da data em que o recebeu; o julgamento prosseguirá na 1ª (primeira) sessão ordinária subseqüente à devolução, dispensada nova publicação em pauta.”

No documento Manual de Recursos.pdf (páginas 179-182)